Palavras novas e velhas

domingo, 13 de dezembro de 2009

Mocidade e participaçom política. Estado da mocidade nacionalista organizada em Galiza Nova e algumhas chaves para a compreensom do divórcio entre moc


Nota bene: o presente texto é um desenvolvimento dalgumhas questons argüidas por mim na palestra E ti porque passas da política?, organizada pola Mocidade Socialista Galega (MSG) a quinta-feira, dez de Dezembro de 2009 na sala 4 da Faculdade de Medicina com motivo do centenário da licenciatura de Afonso Daniel Rodrigues Castelao.



Em linhas gerais é aplicável à mocidade nacionalista galega o que se lia no artigo “Compremetidos y sobradamente preparados” aparecido semanas atrás no jornal basco Gara com motivo da detençom de moças e moços da esquerda abertxale aos que só podo expressar-lhes desde aqui a minha solidariedade.
Estes detidos eram a ponta de lança das luitas sociais do seu entorno, a maioria cursárom estudos com normalidade e, para além da sua abnegada militáncia política, trabalhavam em diversas associaçons e movimentos sociais.
Estes detidos som os que nom agocham as suas ideias, espalhando-as ao falar freqüentemente de política e com 61'6% da mocidade abertxale integrada nalgumha associaçom, sendo os mais informados e os menos materialistas. Som, portando, os mais perigosos para qualquer sistema que propugne o individualismo e a desinformaçom como garantes da alienaçom.
Estes detidos na Galiza seriamos nós, os arredistas galegos, como fôrom os maiores artífices do tecido social em 1939, inundando as “cunetas” da nossa naçom.

A segunda questom que queria comentar entronca com a dúvida de se devemos desde o nacionalismo emancipador galego fazer umha revisom da situaçom da sociedade galega e nomeadamente da mocidade, assunto que hoje ocupa a nossa atençom como integrantes da organizaçom juvenil Galiza Nova. A resposta de cabeça é sempre, seja qual for o momento, um rotundo si, se queremos que as nossas acçons políticas se adaptem às necessidades da nossa naçom e aos desejos da esquerda social e transformadora da nossa naçom, a Galiza.
Dentro desta análise semelha enquadrar-se, em minha opiniom, o acto de hoje, que projecta no fundo que nom avondou o debate produzido na assembleia de Galiza Nova para reflexionar sobre a situaçom da mocidade. Quiçais seja assi porque a aplicaçom de cronómetros e maiorias-rodilho sobre o confronto e o debate de ideias convertem a elaboraçom duns textos teóricos em simples artifício retórico, sem conseqüências sobre a praxe política... e a cousa vem infelizmente de longe.
Caberia perguntar-se pola produtividade, aliás, deste debate se nom somos capazes de que isto seja um primeiro passo para a elaboraçom dum programa de acordos e mobilizaçons consensuadas, desde umha análise plural e no possível ecléctica para possibilitar uns acordos programáticos que preencham a Galiza Nova dum ar novo. A contrário pode nom passar de simples “auto-bombo” para as posiçons críticas com a direcçom que seguirá aplicando a frialdade aritmética para a implementaçom da acçom e a direcçom políticas da organizaçom.
Em todo caso, a orfandade e a desorientaçom da Galiza Nova actual necessita de actos de reflexom colectiva e urgente, orientados a toda a militáncia e ainda a simpatizantes e a outros colectivos arredistas e da esquerda social, canalizando-os desde as comarcas, para que exista umha verdadeira retroalimentaçom, premissa que exige horizontalidade e nom verticalidade. Umha horizontalidade que deveria situar-nos novamente numha posiçom de força entre a mocidade da Galiza para as vindouras eleiçons municipais.
Os bandaços políticos e a supeditaçom ao BNG-governo de Galiza Nova conduzírom a um divórcio mais ca evidente com grande parte da mocidade, enquanto desde o Olimpo se falava de projectos, projectos e mais projectos e mais projectos para o 2030... sem mobilizaçons contundentes contra a situaçom laboral da mocidade ou o Plano Bolonha, desilusionando à mocidade que acabou em parte escorando-se fora do BNG ou caindo na passividade imposta polo discurso da II Restauraçom bourbónica.

A terceira questom, já adiantada em parte na análise de GN vai encaminhada à configuraçom do sistema político actual, as organizaçons que nel operam e a necessária ruptura com el mediante alavancas horizontais, dinámicas e plurais.
A sociedade galega de hoje fica, na sua maior parte, instalada na desorientaçom e no vazio ideológico, a mercê da política-mercadotécnia e das campanhas goebbelsianas do binómio político-mediático da II Restauraçom bourbónica, sem capacidade nem referentes críticos para reagir.
O processo de convergência dos partidos políticos de corte tradicional acelerou umha espiral de ignoráncia, em que se deturpam cada vez mais os conteúdos para fazê-los assimiláveis, mediante a demagogia e a reiteraçom, para todas as classes sociais, que acabam votando (no caso dos trabalhadores) contra os seus próprios interesses, através da camuflage da perda de prestaçons públicas e liberdades, por meio dum discurso furibundamente individualista, da família nacional-católica e dum nacionalismo estatal ultramontano que pretende acochar a luita de classes valendo-se tamém de think thank como as FAES e ainda de associaçons cívicas orientadas contra o aborto e outros direitos colectivos, entre eles os lingüísticos – Galicia bilingüe-.
O arredismo galego é o único que está em condiçons de oferecer umha alternativa a esta perigosa direitizaçom de Europa. O nosso nacionalismo emancipador contrapom-se ao seu nacionalismo opressor e como expressava o Lenine na sua obra O direito dos povos à autodeterminaçom o nosso particular “povo russo” ibérico nunca será verdadeiramente livre enquanto continue oprimindo sujeitos colectivos de soberania como a Galiza, Asturies, Aragom, os Països Catalans ou Euskal Herria.
A missom é clara, o “todos os políticos som iguais” vai encaminhado a destruir a esperança, desmantelar a política real – a feita na base da sociedade civil, para implementar o “poliqueio” numha democracia apenas formal, que permita ao Imperialismo capitalista, na sua fasquia actual da globalizaçom descendente ultraliberal, atingir todos os seus alvos, ainda a custa do planeta.
Umha poliarquia, em fim, onde a elite económica transnacional dirige e os servos ratificam na democracia de votar e calar ou bem sofrem as conseqüências do “truísmo” ocidental. Este modelo permite que o centro absorva os recursos da periferia até situar o planeta nas postrimérias dumha Idade Média, como as que se dam no colapso das civilizaçons nucleadas por impérios ao longo da história, ou, ainda pior, radicará-nos a toda a humanidade no fim do viver e no início do sobreviver, situaçom que já padece grande parte da populaçom mundial.
De facto, 80% das riquezas e dos recursos naturais som usufructadas por 20% da populaçom. Agora que seica estám de moda os piratas podemos lembrar que a pesca desde 1950 passou de 18 a 100 milhons de toneladas métricas por ano e ¾ dos caladoiros estám esgotados ou em vias de esgotar-se. 50 % é já património de 2% da populaçom no maior genocídio da história com um milhom de vidas em jogo pola fame. A dicotomia é clara: “socialismo ou caos”.
A criaçom dumha esquerda real e transformadora com vontade hegemónica, antissistémica por definiçom e coerente com o seu horizonte revolucionário, exige superar as tentativas que tivo o BNG de converter-se numha força sistémica mais, ainda que local dentro do paradigma espanhol da II Restauraçom bourbónica, tentando absorver a um eleitorado historicamente refractário ao BNG e que, com certeza, o seguirá sendo se nom se mudam os horizontes de expectativas da sociedade.
Pola contra este modelo caught all afastou a esquerda social do BNG e o seguidismo e a supetitaçom de GN como o BNG-governo escorrentou definitivamente à maioria da mocidade galega da nossa organizaçom. É mais, no caso de GN é ainda mais grave do que para o BNG, já que mentres este se segue a ver, entre amplos sectores da populaçom – ainda que a cada passo mais constritos polas razons aduzidas, como um instrumento útil e umha força política genuinamente de esquerda; Galiza Nova semelha ferida pola endogamia, a falta de projecçom social e um distanciamento constatável até com a mocidade nacionalista ou quando menos favorável com o seu discurso. Enquanto isto ocorre, seguimos actuando com os mecanismo que a psicologia descreve de grupaloides, incapazes de partir desde análises internas e externas correctas que permitam voltar ser um referente juvenil.
Galiza Nova só servirá como instrumento de emancipaçom nacional e social se muda completamente o seu esquema de acçom para converter-se na voz das demandas reais da esquerda social e, como veículo desta, fazer convergir a cidadania em fluxos cada vez mais amplos da sociedade civil com consciência de classe, algo muito diferente a procurar apenas “nichos de voto”. Só desde a horizontalidade e a esquerda social podemos, como esquerda política, desenvolver a armadilha em que caia esganado, trepado e botado por terra o espanholismo no alvor dumha Galiza independente e socialista.

A quarta e última questom pretende achegar algumhas reflexons epistemológicas para a análise da situaçom da mocidade e o decisório elemento que a afasta, em minha opiniom, da política: a alienaçom implementada polos média da actual democracia formal.

O conceito do horizonte de expectativas (Erwartungshorizont) foi formulado por Jaus no marco da “Estética da Recepçom” como mecanismo para descrever as distintas concretizaçons dumha obra literária ao longo da sua história. Esta teoria desenvolve-se na década de sessenta com a sua efervescência política e bebe de Gadamer, Hurssel e Heidegger, concretizando-se na epistemologia de Karl Popper e na sociologia de Karl Mannhein.
À hora de analisar a desafeiçom da mocidade pola política nom podemos deixar de lado as novas formas de alienaçom que constringem o horizonte de espectativas vital da sociedade galega e ocidental em geral, pola uniformizaçom produzida pola globalizaçom ultraliberal descendente. Mannhein falava dos princípia média, leis mediante as que se estrutura o pensamento dumha sociedade num tempo e num lugar concretos, mas poderiamos aventurar que os “princípia média” passárom nas sociedades actuais a converter-se num ditado ou ditadura do “pensamento único” difundido polos “principais média”.
Entom, como esculcadores da realidade social, devemos identificar e ponderar sistematicamente estes fenómenos de alienaçom: a militarizaçom da mocidade, a penetraçom do discurso espanholista e neofascista, a desgaleguizaçom galopante, a falta de ética e valores políticos, a recrudescência do patriarcado, a cousificaçom do humano (feito fetiche e mercadoria através da propaganda e a publicidade), a desinformaçom generalizada – ausência de hábito leitor, falta de espírito crítico..., as formas de lazer e as drogas, a precarizaçom e a excessiva dependência do “colchom familiar”, a fabricaçom dumha sociedade-passiva, narcisista e escrava do consumismo como arma de perpetuaçom da II Restauraçom bourbónica... Em resumo, novas e velhas formas de violência sobre a mocidade.
Destarte, para o Mannhein umha sociedade inestável destrui o marco precedente de eventos sociais em que se baseava o comportamento anterior abrindo o horizonte de expectativas dessa colectividade. Em períodos de crise e revoluçom, mais ou menos acusada, dá-se no social o que Thomas Kuhn preconizara para o avanço científico, ainda de escassa fortuna para o paradigma das ciências sociais.
No entanto, a esquerda nom conseguiu penetrar no momento actual entre grandes capas da sociedade e ainda nem tam sequer entre capas permeáveis ao seu discurso, como a mocidade, entre outras cousas pola ausências dumha sistematizaçom e identificaçom desse horizonte de expectativas social, identificando as diferenças que se estabelecem entre classes sociais, ámbitos geográficos e de idade... Isto nom se resolve, naturalmente, com a simples estatística, porque do que se trata é de transformar esse horizonte de expectativas e nom apenas de interpretá-lo.
Porém, é igualmente certo que temos por diante umha boa oportunidade para incrementar a nossa base social já que as crises ideológicas nom som concorrentes sempre com as económicas, quer dizer, retrassam-se por vezes e devemos ser capazes de, com a nossa acçom e ética políticas, abrir umha revoluçom quando menos no horizonte de expectativas social da mocidade galega. Só assi poderemos caminhar para a hegemonia da esquerda arredista.

O conceito de redes da sócio-lingüística é igualmente adaptável e tamém muito interessante para o processo que cumpre consolidar com força na vindoura década e que permitirá o incremento da consciência ideológica e da nossa base social, para além dumha correlaçom de forças entre classes.
A implicaçom da mocidade nacionalista nas diversas associaçons e movimentos sociais é vital para apontalar com garantias a nossa base social hoje exígua para GN e ainda notável para o BNG, para assegurar a presença do nosso discurso no magma social. Isto exige antes de mais umha militáncia múltipla desde GN até associaçons vizinhais sem aparente conteúdo político, mas que fam política em redes densas e fechadas ao terem que enfrentar desafios colectivamente.
Devemos optar, em fim, por tecer e conscienciar redes abertas e dispersas. Abertas porque nom serám sempre próximas a nós, ou seja, nom estarám subalternadas e controladas pola elite-clero dumha formaçom política e, neste sentido, serám a base observante e a alavanca para a nossa esculca e análise da realidade, aliás de constituir-se no melhor garante de que as nossas acçons respondam efectivamente a demandas reais da esquerda social. Dispersas porque a a interacçom com todos os membros dessas redes nom será possível directamente como é em associaçons ou movimentos sociais mais restritos. Quer dizer, o papel da esquerda política nom é dar forma nem dirigir, mas coesionar o tecido social actual espalhando-o em círculos sociais cada vez mais amplos e rachando com a pechaçom e o distanciamento dumha GN que segue na sua bola de cristal sem conectar com o pulso do corpo juvenil.
Estas redes de base coesionadas polo arredismo galego deverám contar com a nossa presença para que exista umha retroalimentaçom mútua que dumha parte condicione a acçom institucional do partido político e da outra amplie cada vez mais estas redes de base ao serem vistas como efectivas ferramentas de participaçom cidadá. Estas deveriam ser apenas as células dumha autêntica democracia participativa, as células da revoluçom que permitirám a mudança do sistema actual com a que alguns sonhamos.

O arredismo galego deve caminhar desde o horizonte do socialismo emancipador sustentando-se na auto-gestom, a auto-organizaçom e para ser auto-centrado. Só assi, em minha opiniom, será possível alcançar essa “alba de glória” que lhe permita aos nossos descendentes caminhar “desde o Courel até Compostela por terras libertadas”. Viva Galiza ceive e socialista!

Compostela, no mês da figadeira de 2009.