Palavras novas e velhas

segunda-feira, 15 de março de 2010

A Galiza sem esquerda

"As revoluçons só tenhem eficácia para derogar os princípios mais modernos, enquanto confirmam os mais antiguos. Portanto, o mal que nos dana é anterior a todas as revoluçons", Pierre Joseph Proudhon, Que é que é a propriedade?

Semelha que por vez primeira desde as revoltas irmandinhas imos ser pioneiros nisto das revoluçons. A enésima involuçom sócio-política adiantou-se na Galiza e no horizonte da Moncloa já podem ver-se as gaivotas que terám um interesante teste nas eleiçons municipais de 2011. Rem muda no panorama dos partidos dinásticos da II Restauraçom bourbónica, matrimónio encuberto PSOE-PP alternante e sem alternativa para a classe trabalhadora onde UPyD actua como a válvula que direitiza o voto pseudosocialista para forçar a "centrar-se" (ainda mais?) ao PSOE. A monarquia e os seus braços políticos seguem com a ideia da Espanha imperialista e nacional-católica do franquismo: centralista, monolingüe e católica (acofensional como lhe dim hoje); de patrons e senhoritos; de touros, flamenco e futebol nos domingos. Unidade de destino no universalmente ranço e retrógrado, quase nada.

As políticas sociais seguem sendo classistas como na etapa Aznar, mas o pior do ultraliberalismo está por chegar ao conjunto do Estado através do PP, totalmente entregue ao lobby de poder que o apoia por meio da demagogia e a intoxicaçom mediática. Aliás, o PSOE escora-se cada vez mais nos posicionamentos do PP e os discursos alternativos do nacionalismo emancipador som demonizados polo máximo comum denominador de PP e PSOE: o nacionalismo opressor da caverna celtibérica, a ideia da Espanha como "una, grande y libre" cárcere e assassina da pluralidade, a liberdade e os povos".

Volverám as escuras andurinhas à Moncloa como chegárom a Sam Caetano, com mao-de-ferro e luva de sede, vendendo actas de patriocidade como Aznar ou como Franco - que tempos!, pensarám os nostálgicos quando ainda nom o condenárom - fazendo das televisons e jornais como La Voz do Povo Galego (LVPG) um outro NO-DO com novos "urdacis", voltando a educaçom confessional e elitista, aos sindicatos verticais propriedade da patronal, aos gandeiros que mantenhem a vaca para que outros levem o leite... volvemos aos pequenos 23-F que dia-a-dia permitírom que na Galiza hoje as rendas do capital superem as rendas do trabalho, que fam que o poder aquisitivo da classe operária desça de dia para dia e que o direito elementar ao trabalho seja um privilégio, isso si, com míseras condiçons laborais e salarais. Volve o Proudhon a minha cachola:

"todos os homes, em efeito, acreditam e sintem que a igualdade de condiçons é idéntica à igualdade de direitos: que propriedade e roubo som termos sinónimos; que toda preeminência social outorgada, ou melhor dito, usurpada ao pretexto de superioridade do talento e do serviço, é iniquidade e latrocínio: todos os homes, afirmo eu, som depositários destas verdades na intimidade da sua alma; trata-se simplesmente de fazer qu as advirtam".

Para que remate esta vergonha e fundamental decatar-nos de que a luita de classes existe, e que só vencem os povos que luitam. Voltemos à esquerda. A Marx, ao socialismo, sem complexos, desde o diálogo e as assembleias de trabalhadores. Refundemos as armas de luita pola emancipaçom mancional e social da Galiza: que os partidos políticos deixem de ser aparatos e se convertam em vozeiros efectivos do povo; que os sindicatos sejam tomados polos trabalhadores, tirem as pejas das subvençons estatais e se lancem à necessária GREVE GERAL INDEFINIDA onde o agro, o metal, os trabalhadores afectados por ERE'S, os desempregados e o estudantado afectado polo Plano Bolonha se deam a mao marcando metas concretas e irrenunciáveis que lhe mostrem a burguesia e aos banqueiros que isto nom se arranja entre todos e que somos mais e estamos fartos.


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http://xgaliza.blogspot.com/2010/03/galiza-sem-esquerda.html
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A morte dum deus

"Muitos mortais, entregado à larpeirada e a cama, incultos e analfabetos, recorrem a vida como vagabundos: certamente a estes, contra natura, o corpo serviu-lhes de vontade e a alma de fardo. Eu estimo por igual a sua vida e a sua morte, já que descansam em ambas", Sallustio.

Em tempos de Stáline ou Brezner o povo russo e as demais naçons da URSS padeciam umha grande opressom, nascida de ditaminar a escravatura do campesinhado a respeito do tzar e dos popes. Hoje Rússia é umha caricatura da Uniom Soviética governada polas máfias e com umhas diferenças abismais entre ricos e pobres, ou seja, que agora dim-nos que sem opressom os recursos da Mai Rússia pertencem a Gaspron e quatro ou cinco senhores de gravata, mais altos e guapos que aqueles escuros burócratas "comunistas". Ninguém lembra já que a URSS passou em vinte anos, e no contexto do bloqueio internacional e as grandes guerras do século XX, de país pré-capitalista e atrasado a potência de primeiro orde, quase nada.

Agora hai liberdade, de mercado por suposto, já que um universitário cobrará, quando trabalhe, um ordenado que apenas lhe chegará para sustentar a família. A URSS foi mais que nada a utopia sonhada de muitos operários e homes de esquerda, porque conheciam só o que a propaganda lhes deixava ver, a URSS foi o motor, o espelho e a estrela Polar da esquerda europeia longo tempo e, de facto, ainda nom se subrepujo da sua queda e ficam muitos nostálgicos do Kalashnikov e o esturiom. URSS foi deus, foi religiom de que agora todas e todos renegárom... podemos ser ou nom crentes, mas no conto da URSS, como na fábula espanhola, nom está bem que nos deixemos manipular nem por uns nem por outros. Aquilo nom era democracia nem comunismo, certo. Apenas um infumável socialismo de estado que esmagou constantemente à sociedade civil e seqüestrou a Revoluçom de Outubro num capitalismo sem capitalistas. O que hai hoje tampouco ou ainda menos: maos-de-aço e luva branca, ou seja, demofarsa.

segunda-feira, 1 de março de 2010

DEMOCRACIA E DEMOCRACIAS


Actualmente vivemos no mundo do engano e a desinformaçom por sobreinformaçom, especialmente notória em capas cada vez mais amplas da sociedade, especialmente da mocidade, que podemos qualificar sem risco de excesso como “analfabetos funcionais”.

Fai afora um tempo que o “terrorista”, “delinqüente” e “ditador” Hugo Chávez nos fora apresentado como o novo Estaline quando consultou ao povo para poder ser reelegido como presidente o que requeria modificar a Constituiçom, essa carta de deveres e direitos que sistematicamente é violada em todos os países, incluso na nossa – sua – exemplar “democracia”.

A marge do que em situaçons normais é positivo (a rotaçom de cargos institucionais) o certo é que a autointitulada revoluçom bolivariana nom se sustentaria hoje por hoje sem o carisma de Chávez.

No entanto, o binómio político-mediático nom nos dixo nada estes dias de que a Constituiçom colombiana de 1991 só permite umha reeleiçom. Porém, Uribe já deixou claro que opta à reeleiçom, entom vai consultar este “demócrata” ao povo como fixo o “tirano” Chávez? Porque Uribe segundo as FARC-EP é o chefe do narcotráfico – os próprios EUA tinham-no na listage de narcocriminosos até que foi eleito presidente –, mas segundo El País, La Voz de Galicia e demais imprensa “democrática”, “independente” e “rigorosa” é um “presidente exemplar”, o adalide da “democracia” e a “liberdade” no celeiro norteamearicano. Fica resolver se tamém sabe fazer peinetas tam bem coma o “humanista” José Maria Aznar.

É de supor que a maioria nom terá notícia disto. A libérrima e democrática opçom de Uribe foi consultar aos magistrados da Corte Constitucional para votar a Lei do Referendo e amalhoar no poder a Uribe, enquanto assassina a sindicalistas um mês si e outro tamém.

E porque nom falar de Cuba? Falemos entom de Cuba de Orlando Zapata, ou dos ajustes em matéria sanitária anunciados por Raul Castro, toda vez que 60% do orçamento estatal se dedica a sanidade e educaçom.

As greves de fame som parte da estrategia nova da oposiçom que vê além da melhora das condiçons penitenciárias. E ainda que o castrismo superou antes outras crises importantes como o Mariel, os balseiros em 2004, a execuçom de moços em 2003 ou a Primavera Preta, onde Saramago lançou o “até aqui chegamos”; o certo é que Cuba apresenta cada vez mais sombras e menos luzes de cara ao futura e sublinha as misérias do socialismo de estado que luzidamente o socialismo libertário tem assinalado.

Vaia por diante que Cuba é o país que sofre mais atentados e que o que som terroristas em Cuba som “desidentes” no Estado espanhol, embora em Euskal Herria esses desidentes sejam univocamente “terroristas”. Contodo, nom toda a desidência é terrorista e nom é menos certo que dana mais à causa cubana os defensores da revoluçom com argumentários irrisórios por vezes do que os próprios grevistas.

Duvido que Zapata for o “tonto útil” de Miami e o seu protesto nom era ridículo, entrevendo-se a sobrevivência do racismo dentro da sociedade governada por umha gerontocracia que incapaz de impulsar novamente processos revolucionários ao padecer a esclerose própria dos velenos do aparato e a sua total assimilaçom com o Estado. Dizer que nom se empresta atençom à repressom noutros países é certo, mas clarifica o carácter político dos presos cubanos indirectamente. E que Guantánamo exista nom vale como cortina de fumo, porque o sol nunca se tapou com um dedo.

Umha sociedade livre, forte, e após-capitalista que nom saiba administrar a divergência dentro e fora do estado nom é mais ca umha sociedade pobre, onde o Estado encorseta as manifestaçons da sociedade civil e onde se segue pensando em grandes capas como umha sociedade com valores capitalistas e, portanto, sublinha-se a consigna de Trotski da revoluçom mundial e permanente. Ora bem, nom confundamos isto com o franquismo que padecemos nesta II Restauraçom bourbónica´ e onde a credibilidade do disfarce democrata se baseia no direito à discrepáncia figurada, ocultando-se sistematicamente qualquer tentativa antissitémica a sério. Chomsky tem assinalado como o debate público no binómio político-mediático se encirra contrapondo posturas sempre e quando fiquem dentro dos dogmas do sistema e do “pensamento único” gerado polo “consenso ultraliberal”.

Seguimos lembrando as acusaçons contra “o grande ditador” Chávez por fechar meios de incomunicaçom golpistas – está provado em documentários como War on democracy –. Esquecemos que o Estado espanhol da II Restauraçom bourbónica fechou o Egunkaria por colaboraçom com banda armada – nom hai provas – e subvenciona-se a todos os jornais que nom rompam o “consenso ultraliberal”, algo que si fam, felizmente, publicaçons como o Novas da Galiza ou o Diagonal.

Cuba leva décadas resistindo nas portas do Império, mas a revoluçom estancou-se e fixo-se velha e a sociedade igualitária e libertária atafegou-se e o home novo nom nasceu e o velho quere ser consumista como em Ocidente, embora que quando o castrismo cair, como alguns pretendem, a sanidade e a educaçom públicas esfumarám-se e o cubano meio só poderá consumir até ser consumido, mui longe do sonho americano que é cada vez património de menos pessoas no marco do apartheid global.

A burocracia que criticara o Che Guevara fica lindíssima em Cuba. Nom se pode um contentar com o bipartito na Junta, por foi morno e tíbio, nem tam sequer social-democrata. Tampouco é bom sonhar com paraisos e panaceias que nom som tal. Podemos tirar valiosas liçons de Cuba e ainda de Bolívia, Ecuador ou Venezuela, mas somos periferia próxima e nom longínqua e devemos transformar a nossa realidade tangível e local. Vivemos no mal chamado primeiro mundo e a táctica e a estratégia política tenhem que ser diferentes goste-nos ou nom. Nom vaia ser que tenhamos o punho fechado quando falamos de Hispanoámerica e que essa mao esteja aberta quando da Galiza se trata.


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