Palavras novas e velhas

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

GALIZA e os países de língua portuguesa no foro social mundial

Intróito

Polo presente crónica faremos umha síntese das achegas de Camilo Nogueira, ex parlamentário europeu polo BNG; Ugia Senlhe, música de reconhecido prestigio; e Elias Torres Feijoo, vice-reitor da USC e professor do departamento de Filologia Portuguesa no primeiro Foro Social Galego celebrado os dias 5, 6 e 7 de Dezembro de 2008 na Faculdade de Filologia e no Auditório de Galiza de Compostela.

Mas, que é que é o FSGal? O Foro Social Galego procurou, procura e procurará ubicar a Galiza no contexto dos Foros Sociais Mundiais (FSM), cuja próxima ediçom será no estado de Pará (Brasil) o vindouro 2009, à vez que tenta pensar e construir alternativas desde Galiza, de jeito que a acçom local das entidades sociais poda exercer umha pressom coordenada contra a vaga neliberal e afundar nas alternativas ao sistema assassino denominado capitalismo, na fase mais desenvolvida do Imperialismo, já retratado por Lenine a começos de século XX. Os FSGal é um espaço de debate democrático onde os diversos movimentos sociais podam trocar experiências e ideias para responder à urgente pergunta do que fazer. As suas principais senhas de identidade som a pluralidade e a diversidade, polo que nem é confessional, nem governamental, nem partidário.

Camilo Nogueira

A diversidade nacional foi-se incorporando ao altermundismo e incorporou-se de cheio ao Foro Social Europeio celebrado em Mälmo (2008) e entrará tamém no próximo FSM de Belém (Pará, Brasil). Isto trai consigo radicar a Galiza no mundo como naçom e nom como um simples apêndice do Estado espanhol, co que rem tem a ver a nossa história e a nossa cultura, e que tam só contribui a esluir os nossos traços nacionais, incómodos para os interesses da classe burguesa espanholista, forma peninsular do Imperialismo mundial.

Galiza é hoje a primeira exportadora e importadora de Portugal e tem mais relaçom co país luso do que co resto de qualquer parte do Estado espanhol. Historicamente, Galiza nom tem nada a ver coa mitologia historiográfica do Estado espanhol e os laços culturais com Portugal som igualmente indubitáveis sendo galego e português duas variantes dum mesmo diassistema lingüístico.

Um dos países emergentes hogano é Brasil, centro de vários Foros Sociais Mundiais o que eliminou qualquer atranco na comunicaçom para Galiza e a sua representaçom. O espanholismo está por detrás das mentalidades isolacionistas que destrói a unidade e a capacidade de intercomunicaçom e umha arma valiosa para balizar e defender a nossa língua. Assí, o galego nom pode considerar-se umha língua minoritária, senom que está no mundo como língua intercontinental, só resta que o próprio povo galego assuma a missom de voltar topar-se coas suas raízes para achar o seu futuro.

Ugia Senlhe

Devemos reconhecer-nos dentro da língua comum, do espaço da lusofonia, e a música é umha boa arma para conseguí-lo. Ainda que em Portugal nom admitem a unidade lingüística polos preconceitos de pertencer Galiza ao Estado espanhol, cujo imperialismo ameaçou a soberania lusa[1], o certo é que revela-se necessário ir-se “confundindo”, como dizia Castelao, e superando velhos anátemas que surgem do desconhecimento.

Cantos na Maré[2], festival da lusofonia celebrado em Ponte Vedra, é um jeito concreto de apostar polo intercámbio artístico e cultural co que a Galiza só pode ganhar. Já som seis anos desta experiência cumha programaçom activa que possibilita a projecçom da Galiza para a lusofonia e como espaço humano e nacional aberto ao mundo. Zeca Afonso foi, neste sentido, um activista que tendeu pontes entre a Galiza e a república de Portugal. Actualmente, estám-se dando importantes passos de achegamento, sobretodo, co Norte do país vizinho.

A cultura galega adquire assí novos horizontes e projecçons e só tem a ganhar, rem a perder. Guardando deste modo os nossos valores identitários e situando-os no mundo.

Elias Torres Feijoo

A Galiza vive umha autarquia moi precária, sobretodo, no mundo cultural que tam só se palia através do mundo cultural espanhol. Isto por vezes nem tam sequer se dilucida por estar a situaçom já interiorizada pola ocupaçom secular da nossa naçom.

Esse espanholismo tem efeitos sobre a nossa identidade, sobre o que nos somos, e tem efeitos sobre a nossa concepçom do mundo que vemos quase com lentes espanhóis: ordenamos o tempo e construímos a realidade desde as directrizes do mundo cultural espanhol. Existem incluso subtis proibiçons para evitar iniciativas ou capacidades de interrelaçom cos países da lusofonia. Subvencionam-se jornais quase integramente em castelhano por apresentar algum que outro paragrafo marginal em galego grafado à espanhola, enquanto o Novas da Galiza nom recebe um peso por apostar pola ortografia históricista.

Hai crenças que a força de serem repetidas acabam interiorizando-se. A norma regeneracionista utiliza todos os instrumentos do nosso diassistema galego e mesmamente foi e é gerada no seio da própria Galiza, umha norma dinámica e dialéctica, carregada de futuro, que se afasta do estatismo e do «separatismo das aldeias»[3] proclamada como sacrossanta, qual constituiçom espanhola, polo binómio autonomista RAG-ILG e o espanholismo personificado primeiro na UCD, logo em Aliança Popular e ainda hoje sob o PSOE fijo todo o possível para frenar qualquer tentativa de permissividade os debate a sério entre isolacionistas e reintegracionistas.

Resulta nesta altura evidente que hai um centro de domínio cultural que os poderes nom querem de nengumha maneira abandonar, pois suporia abrir caminhos e horizontes para Galiza e as suas gentes. Temos de aprender os extraordinários benefícios que pode supor ser a cabeça de ponte da África lusófona e do Brasil em Europa, junto a já assentada relaçom galego-portuguesa.

Só regenerando a nossa língua e inserindo-nos no nosso próprio diassistema podemos superar a nossa autarquia cultural.

Bate-papo

Cumpre umha prática de pedagogia política que faga ver à cidadania que ou reintegramos e regeneramos a língua ou a desintegramos e a patoizamos a respeito do espanhol, como salientava Carvalho Calero. O lusismo é pôr de manifesto como a espanholizaçom fai negar à própria Galiza o seu carácter, de aí a resistência da Galiza e a resistência incluso de Portugal.

O galego moderno, culto, mais cultivado é o português. No novo Estatuto de naçom deveria-se incluir que nas relaçons internacionais se deverá empregar o português cos PALOP's, algo perfeitamente possível no actual marco legal, junto à recepçom das televisons portuguesas na Galiza; no entanto, duvidamos que mesmo o BNG tenha isto como algo urgente na sua agenda política, pois a impostura e a desorientaçom dominam a sua postura perante a língua[4].

Aliás, 17% do PIB português tem relaçom directa coa língua comum, o qual repercutiria positivamente na nossa economia, algo que bate com realidades irrisórias como que na TVG se legendem as intervençons de portugueses e brasileiros. Como tem assinalado o Alexandre Barros «as balizas mais importantes hoje do espanholismo estám nas elites da Galiza».

Camilo Nogueira

A identificaçom entre o galego e o português, já defendida por homes como Murguia ou Castelao, tem como benefício a auto-estima e favoreceria umhas relaçons em galego português e nom em castelhano e isso traduze-se em conseqüências económicas sem depender permanentemente da metrópole. A regeneraçom e a reintegraçom espertaria aos galegos e às galegas e Galiza pensaria-se a si própria e assinalaria-se no mundo sem fazê-lo permanente como província ou colónia espanhola.

O galego é a língua nacional da Galiza e o português é a forma internacional da nossa própria língua, embora sendo iguais sejamos diferentes com traços de nosso. A RAG deveria reconhecer que Brasil e Portugal falam galego (e vice-versa) e hoje nas palestras de língua galega deveriam ensinar-se divergências e semelhanças entre a norma galega e o padrom do Acordo Ortográfico.

Elias Torres

O movimento reintegracionista é um movimento unificador, o isolacionista desagregador, pois tam só afunda nas diferenças e que fai dos geolectalismos a sua bandeira. Os próprio galegos forçam a brasileiros e portugueses a considerar a sua língua como nom válida na Galiza, ao serem tratados em espanhol e como estrangeiros nom apenas nacionais, mas tamém culturais. Na Galiza nom existem estudos da cultura e o seu influxo na economia, porque nom som promovidos. Nos estudos elaborados desde a resistência vê-se como a mentalidade espanholizante reside fortemente na Galiza. Umha comunidade tem umha séria de recursos, a sua energia, e os destinados à cultura autárquica de pouparem-se poderiam inverter-se em publicitar produtos e obter milhons de euros em contrapartida. No entanto, o governo galego nom se tem interessado por estes estudos nem os vai promover, embora sejam essenciais para alentar o bem-estar da nossa naçom.

Galiza hoje poderia promocionar autores literários, musicais, etc. para toda Europa e actura assí como cabeça de ponte cultural e, aliás, ampliar isto logo a todos os produtos dum país emergente como é o gigantesco Brasil, para o que é inevitável desprazar e substituir aos beneficiários da autarquia cultural galega e, já que logo, existe umha desconexom entre as instituiçons da Galiza e a realidade social, cultural e histórica que só paliará a regeneraçom conclusa da língua.

Aliás, na Galiza o problema é duplo, ora a falha de visualizaçom de produtos culturais da lusofonia, ora a falha de recepçom desses produtos vivendo de costas aos sotaques brasileiros, portugueses, moçambicanos, caboverdianos, angolanos, timorenses, etc. e resultando-nos alheia a nossa ortografia comum enquanto abraçamos a estranha. No fundo, o desprezo ao português parte na Galiza da auto-xenreira que os próprios galegos sentimos cara nós mesmos.

Camilo Nogueira

A nom recepçom das televisons portuguesas parte da própria mentalidade do Estado e desde o nascimento dos estado-naçom estes artelham e articulam as mentalidades e combatem pola cima umha UE democrática e dos povos e pola base os direitos nacionais das naçons sem estado, para manter as cadeiras douradas do Imperialismo burguês. O espanholismo nom pode permitir que Galiza tenha por si mesma capacidade de situar-se e relacionar-se co mundo por mor dumha língua comum.

O achegamento deveria fazer-se paulatinamente e sem perseguiçons nem imposiçons sobre os que quigerem continuar a empregar a norma actual. Neste sentido, desde a metrópole acutará-se com energia contra o regeneracionismo, como se desprende do terrível artigo II da Constituiçom espanhola em que se resume todo o espanholismo herdado do liberalismo burguês do XIX acrescentado polos deixes e achegas fascistas do franquismo.



[1] Estes preconceitos nom existem no Brasil ou noutros PALOP's, para a construçom do padrom português veja-se o livro de Fernando Vasques Corredoira: A construção do português frente ao castelhano. O galego como exemplo a contrário, Laiovento, Compostela.

[2] A ediçom 2008 celebrará-se mais umha vez em Ponte Vedra neste mesmo mês de Dezembro, o dia treze às 21:00h

[3] Etiqueta empregada num artigo por Rafael Dieste em que advoga por umha língua franca galego-portuguesa.

[4] Sarilhe, José Manuel (2007), A impostura e a desorientaçom na normalizaçom lingüística, Candeia Editora, Compostela, pp. 37-51.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

A impostura e a desorientaçom no desenho e aplicaçom do Plano Bolonha. As eivas na resposta do estudantado


Tomando como empréstimo o título do moi recomendável livro de José Manuel Sarilhe[1] podemos afirmar que o que predomina no denominado processo de Bolonha é a impostura e a desorientaçom, afectando a mesma aos níveis mais insuspeitados e com conseqüências nem sempre previsíveis nem por isso menos traumáticas. Nom será esta umha análise a fundo do Plano, nem tampouco a visom dum experto conhecedor do novo plano. Nom é essa, desde logo, a nossa pretensom e ainda que assí fosse o nosso desconhecimento evitaria qualquer possibilidade de atingir sucesso em tal empresa. Portanto, as reflexons que aqui se vam verquer sobre Bolonha som simplesmente observaçons como membro da cadeia do sistema educativo nesta altura em que o processo nasce e, sobretodo, som consideraçons obrigadas como cidadao e pola ética de esquerdas que nos leva a rejeitar o Plano Bolonha na sua formulaçom actual que é a que passará a materializar-se. Por isso mesmo, corre o risco de nom gostar a ninguém o que aqui se exponha porque as carências, as mentiras e a ficçom atravessam todas as camadas da engranage política e académica chegando até o coraçom mesmo do estudantado, mas vaiamos a modinho.

Nengumha pessoa que julgue o Plano cum mínimo de rigor e objectividade pode deixar de topar luzes e sombras. Efectivamente, e isto deve ficar bem claro, Bolonha tem cousas boas ou possibilidades que de reformarem-se ou explorar-se atinadamente dariam moito de si e significariam um grande progresso. Algumhas som a tam publicitada convergência europeia, a racionalizaçom dos horários e os conteúdos ou umha maior achega ao mercado de trabalho. Mas entom, de que é que nos queijamos? Nom vou aqui a desenvolver nengumha virtude do Plano porque disso já se encarrega o binómio político-mediático da II Restauraçom e a maioria dos reitores que procuram legitimar a reforma. Só se dá a conhecer o que interessa e do modo mais adoçado possível, enquanto se oculta a «universidade à bolonhesa» da que falava no Galicia Hoxe Miguel Anjo Fernám-Velho.

A convergência exigirá planejar umha maior presença dos idiomas, nomeadamente do inglês nas carreiras, já que mobilidade laboral[2] e convergência som o mesmo e aí já hai dous problemas a priori, como é que responderám os nacionalismos lingüísticos dalguns estados perante a preeminência absoluta do inglês e como é que as línguas minorizadas e minoritárias podem ficar com direitos e presença veicular no ensino (algo que na Galiza o galego-português desde logo nom tem polo de pronto). A racionalizaçom dos horários trairá consigo a impossibilidade de compaginar trabalhos e estudos e os préstimos-bolsa veremos como se outorgam e em que quantidade, mas de saída suporám contrair umha dívida desde os dezoito anos cumha entidade bancária, para além de supor um aforro para o Estado que deixa e nom dá, o qual dá ideia da grande importáncia que no Ocidente tem a educaçom. Quanto aos conteúdos, a reestruturaçom trairá como conseqüência imediata a falha de garantia de oferecer docência nos dous planos, esperpentos como o da faculdade de políticas, froito da irresponsabilidade da decana, e a longo-meio prazo o recorte dos plantéis docentes e nom docentes em todos os centros universitários. Por último, achegar-se ao mercado laboral, que em princípio é bom, evidência mais umha vez a preeminência na educaçom de formar mao de obra mais ou menos qualificada e o desleixo contínuo das humanidades... mesmo pode concluir numha universidade subalterna aos interesses e directrizes do grande capital. Em todo caso, quere-se fazer ver que nem todo é tam formoso como o vendem nem o processo garante passos para umha educaçom universal, pública e de qualidade[3].

Em primeiro lugar, conviria dizer que a impostura e a desorientaçom som, em minha opiniom, umha constante que se dá numha tripla dimensom: na classe política, na docência – equipas reitoras nomeadamente- e no estudantado, mal que nos pese. No geral, cumpre assinalar que o processo de Bolonha é na forma e no fundo umha reviravolta coerente co neoliberalismo salvage e, daquela, nom passa de ser umha reconversom industrial aplicada ao ensino, de aí o mutismo, o silêncio e os adoçantes em meio de verdades a meias para tapar umha nova forma de elitismo para o ensino por meio dumha jogada duplamente magistral: dumha banda, apresenta-se como modelo insuperável de democratizaçom pola convergência europeia, que veremos até onde fica garantida, e doutra aplica-se a privatizaçom ao ensino com custe cero para as arcas do Estado espanhol. Melhor impossível. Portanto, é dever das camadas mais conscientizadas advertir das conseqüências do Plano, mas tamém da ideologia que a sustenta, a mesma que socializa as perdas da banca e liquida aos poucos o estado do bem-estar que o imperialismo criara para evitar a conflituosidade entre classes.

A casta política espanhola entom, limita-se aplicar as directrizes da UE, a Europa dos estados e do mercado como se pode comprovar ao ler a Carta Magna, fanada na letra, mas nom na aplicaçom. Desorientado, limita-se a privatizar o ensino e reconvertê-lo sem gastar um peso e deixando no ar aspectos fundamentais. Vai-se aplicar umha das reformas mais profundas e brutais sobre o ensino a custe cero e sem que nengum partido político erga a voz, no meio do silêncio e a mentira cumha sociedade desconhecedora do alcance, a magnitude e as repercussons da, permita-se-nos a palavra, estadunizaçom de Europa... e nom falo dos Estados Unidos de Europa que o bom olfacto político de Castelao vaticinara anos antes do Tratado de Roma. Para o ensino e a educaçom nom hai quartos, para tapar os despropósitos da banca e o grande capital sobram. É umha pena que os nossos reitores nom podam ir de paparota a Mónaco e pagar 3000 € por garfo, coma os banqueiros porque aqui nom se injecta liquidez nem hai nada que celebrar. O seguinte será a sanidade? Já ninguém duvidará que só se querem formar operários e nom cidadaos cum sempre aceso espírito crítico, criar um vazio ideológico ainda maior do já existe. A elitizaçom do ensino permite amais recortar o número de pessoas com intitulamentos universitárias e permite, aliás, potenciar os ciclos meios e superiores, já que na maioria dos casos estes intitulados podem cobrir as praças, ponhamos por caso dum engenheiro, recebendo um ordenado moito menor. Um passo mais na democracia de votar e calar, onde a comercializaçom da universidade supom a sua morte como advertiu Federico Mayor Zaragoza[4].

Logo estám os docentes e as equipas reitoras. Recebem ordes, acatam e aplicam, hai bons e generosos que ainda nom tragam toda a lama que lhes botam, completando o verniz oficialista, sem elevar apenas nengumha objecçom. Onde hai mais sorte, e neste sentido filologia nom se pode queijar, tenta-se que o trago seja o menos traumático possível e professores coma Bermejo ou a decana de História em todo momento se opugérom ao Plano; onde nom é tam assí geraçons de estudantes ficam paralisados e desorientados perante a aplicaçom da noite para o dia dum Plano sobre o que pouca ou nula informaçom recebêrom e, por vezes, mesmo perdendo cursos inteiros, veja-se o acontecido em Ciências Políticas. Nos últimos cinco anos pouca ou nengumha informaçom foi pública, e por pública entende-se transmitida aos afectados nom publicada em recantos e às agachadas, e o estudantado ficou e fica, em grande parte, no desconcerto e o desconhecimento mais absoluto. Umha espiral perversa de ignoráncia que já só pola falta de transparência e acesso a fontes diversas e plurais fai desconfiar ao mais inocente e confiado.

Destarte, a universidade perde umha oportunidade para exigir, amparando-se na nova reforma, a auto-suficiência financeira da instituiçom e prolonga a sua precaridade económica coa possibilidade de ficar perigosamente supeditada ao lucro e os interesses do capital e, portanto, perdendo o espírito crítico do que historicamente fixo gala[5].

Infelizmente, é impossível rematar este percurso sem reflexionar sobre nós mesmos, o estudantado que se ergue contra o Plano e o que nom o fai porque ou bem nom quere ou bem a cousa semelha nom ir com el. Aqui a desorientaçom e a impostura som igualmente nítidas e agravosas, roçando até o ridículo por duro que seja dizê-lo. A maioria do estudantado fica na alienaçom do ni fu ni fa à toa, sem reconhecer as origes do problema e apenas visualizando problemas imediatos e apêndices do sistema, confundindo o que é Bolonha, co que é o novo master em pedagogia para poder departir aulas, o novo CAP, froito dumha Lei da etapa Aznar, etc. A sua frustraçom manifesta-se, como aconteceu na Praça Roxa neste mesmo 2008, em concentraçons de madrugada polo feche às seis da madrugada dumha discoteca, enquanto as concentraçons contra Bolonha contavam cumha presença testemunhal. Ver para crer. As jornadas de greve som umha excusa para fazer ponte, nada de ladainhas reivindicativas. E somos em teoria a camada melhor formada da sociedade... os futuros educadores, científicos, directivos, etc. da sociedade; já deitaremos as maos à cabeça quando nom haja marcha atrás.

No tocante, aos que fazemos moito ruído, mas colhemos poucas nozes, ainda que o fagamos de boa-fé, nom pinta moito melhor a cousa. Os estrategas militares conhecem bem aquel dito velho do «divide e vencerás», os que agora implantam Bolonha ficam moi tranqüilos porque sabem que a unidade de acçom entre o estudantado e a dia de hoje impossível. Vários factos apontam nesta direcçom. O ano passado funcionou umha Assembleia Geral que rematou sendo um circo onde cadaquém tentava tirar partido para a sua agra ideológica na naçom dos minifúndios por excelência. Que outros queimem os dedos tirando as castanhas do lume. Debatia-se se era acertado ou nom levar símbolos nacionais ou quem era mais radical e menos amarelo. Em nengum momento se construiu a sério um plano de acçom e se marcárom objectivos políticos claros, o infantilismo político afundou na desorientaçom enquanto os sindicatos fôrom incapazes de dialogar e formular manifestaçons, petiçons e acçons conjuntas co conseguinte descrédito perante a sociedade, entre ela o próprio estudantado, reduzindo as possibilidades de formar e chegar à sociedade e minimizando o impacto dos protestos sobre as instituiçons que em nengum momento se vírom coagidas. Perante as repercussons de Bolonha era tam bem esquecer-se dos horizontes revolucionários de cada um e operar cum mínimo de pragmatismo e solvência, mas a parcelária ainda nom nos colhe na cabeça e tropeçamos de dia para dia por levar os sapatos sem amalhoar e nom olhar para eles.

Igualmente notável é a impostura. Desde alguns sindicatos estudantis atacárom-se elementos superficiais e moitas vezes desligados de Bolonha, o que rebela ou bem limitaçons nas possibilidades de manobra ou bem um desconhecimento que roça o intolerável. Esquecem-se os problemas de fundo, estruturais, e perdem-se em suba de taxas ou em retórica de pseudo-comunismo, de loita de classes ( o disfarce do espanholismo de centro-esquerda) sem oferecer alternativas viáveis e sistemáticas; o perfeito diálogo de surdos que conduze a simples captaçom ideológica, legítima por suposto, mas insuficiente para dar resposta aos problemas cos que se enfrenta o sistema educativo - cada vez menos público, menos galego e de pior qualidade-, enquanto os integrantes do mesmo olhamos cada um para nós na posse narcisista da inconsciência e o derrotismo, alheios a que a felicidade nom é para manhá, mas a infelicidade pode ser para hoje mesmo.

Antom Fente Parada

Na Galiza ocupada a primeiros do Nadal de 2008. Nós Sós!


[1] Sarilhe, José Manuel (2007), A impostura e a desorientación na normalización lingüística, Compostela, Candeia Editora.

[2] Aqui um tamém pode ser mal-pensante. Recentemente o governo espanhol aprovou em Roménia um experimento para evitar a emigraçom massiva desde esse país, o qual se planejava desde o PSOE, contrário ao contrato de emigraçom do PP, como um grande avanço que deveria fazer-se extensível a toda a UE. Se a umha pessoa que gasta em formar-se os melhores anos da sua vida lhe dam praça fora do seu país (porque nom em Quénia e temporal a poder ser?), da sua própria terra, porque nela nom hai simplesmente futuro, isto é um grande avanço? Um Estado forma para pagar-lhe a elite cultural a outro... onte era brain drain hoje flexibilidade laboral e progresso. Aliás, quem pode permitir-se estudar no estrangeiro? Desde logo o grosso do estudantado nom.

[3] Veja-se tamém o artigo de A. Benítez “Sobre la declaración de Bolonia de 1999” do ano 2005 e disponível na rede.

[4] Na IV Conferência Internacional de Educaçom Superior celebrada em 2008 em Barcelona.

[5] Nos acordos da Assembleia Geral de Reitores das Universidades Espanholas (CRUE) rem achei na direcçom de apor impedimentos ao processo nem tentativas de solventar a situaçom financeira amparando-se nas necessidades económicas dumha reestruturaçom. Entre as consultadas topava-se a do 8 de Julho de 2002, intitulada «La declaración de Bolonia y su repercusión en la estructura de las titulaciones en España», onde se recolhe, no entanto, ainda que sem medidas concretas o respeito pola diversidade nacional e lingüística, isso si, do espaço europeu nom do Estado.