Palavras novas e velhas

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

A impostura e a desorientaçom no desenho e aplicaçom do Plano Bolonha. As eivas na resposta do estudantado


Tomando como empréstimo o título do moi recomendável livro de José Manuel Sarilhe[1] podemos afirmar que o que predomina no denominado processo de Bolonha é a impostura e a desorientaçom, afectando a mesma aos níveis mais insuspeitados e com conseqüências nem sempre previsíveis nem por isso menos traumáticas. Nom será esta umha análise a fundo do Plano, nem tampouco a visom dum experto conhecedor do novo plano. Nom é essa, desde logo, a nossa pretensom e ainda que assí fosse o nosso desconhecimento evitaria qualquer possibilidade de atingir sucesso em tal empresa. Portanto, as reflexons que aqui se vam verquer sobre Bolonha som simplesmente observaçons como membro da cadeia do sistema educativo nesta altura em que o processo nasce e, sobretodo, som consideraçons obrigadas como cidadao e pola ética de esquerdas que nos leva a rejeitar o Plano Bolonha na sua formulaçom actual que é a que passará a materializar-se. Por isso mesmo, corre o risco de nom gostar a ninguém o que aqui se exponha porque as carências, as mentiras e a ficçom atravessam todas as camadas da engranage política e académica chegando até o coraçom mesmo do estudantado, mas vaiamos a modinho.

Nengumha pessoa que julgue o Plano cum mínimo de rigor e objectividade pode deixar de topar luzes e sombras. Efectivamente, e isto deve ficar bem claro, Bolonha tem cousas boas ou possibilidades que de reformarem-se ou explorar-se atinadamente dariam moito de si e significariam um grande progresso. Algumhas som a tam publicitada convergência europeia, a racionalizaçom dos horários e os conteúdos ou umha maior achega ao mercado de trabalho. Mas entom, de que é que nos queijamos? Nom vou aqui a desenvolver nengumha virtude do Plano porque disso já se encarrega o binómio político-mediático da II Restauraçom e a maioria dos reitores que procuram legitimar a reforma. Só se dá a conhecer o que interessa e do modo mais adoçado possível, enquanto se oculta a «universidade à bolonhesa» da que falava no Galicia Hoxe Miguel Anjo Fernám-Velho.

A convergência exigirá planejar umha maior presença dos idiomas, nomeadamente do inglês nas carreiras, já que mobilidade laboral[2] e convergência som o mesmo e aí já hai dous problemas a priori, como é que responderám os nacionalismos lingüísticos dalguns estados perante a preeminência absoluta do inglês e como é que as línguas minorizadas e minoritárias podem ficar com direitos e presença veicular no ensino (algo que na Galiza o galego-português desde logo nom tem polo de pronto). A racionalizaçom dos horários trairá consigo a impossibilidade de compaginar trabalhos e estudos e os préstimos-bolsa veremos como se outorgam e em que quantidade, mas de saída suporám contrair umha dívida desde os dezoito anos cumha entidade bancária, para além de supor um aforro para o Estado que deixa e nom dá, o qual dá ideia da grande importáncia que no Ocidente tem a educaçom. Quanto aos conteúdos, a reestruturaçom trairá como conseqüência imediata a falha de garantia de oferecer docência nos dous planos, esperpentos como o da faculdade de políticas, froito da irresponsabilidade da decana, e a longo-meio prazo o recorte dos plantéis docentes e nom docentes em todos os centros universitários. Por último, achegar-se ao mercado laboral, que em princípio é bom, evidência mais umha vez a preeminência na educaçom de formar mao de obra mais ou menos qualificada e o desleixo contínuo das humanidades... mesmo pode concluir numha universidade subalterna aos interesses e directrizes do grande capital. Em todo caso, quere-se fazer ver que nem todo é tam formoso como o vendem nem o processo garante passos para umha educaçom universal, pública e de qualidade[3].

Em primeiro lugar, conviria dizer que a impostura e a desorientaçom som, em minha opiniom, umha constante que se dá numha tripla dimensom: na classe política, na docência – equipas reitoras nomeadamente- e no estudantado, mal que nos pese. No geral, cumpre assinalar que o processo de Bolonha é na forma e no fundo umha reviravolta coerente co neoliberalismo salvage e, daquela, nom passa de ser umha reconversom industrial aplicada ao ensino, de aí o mutismo, o silêncio e os adoçantes em meio de verdades a meias para tapar umha nova forma de elitismo para o ensino por meio dumha jogada duplamente magistral: dumha banda, apresenta-se como modelo insuperável de democratizaçom pola convergência europeia, que veremos até onde fica garantida, e doutra aplica-se a privatizaçom ao ensino com custe cero para as arcas do Estado espanhol. Melhor impossível. Portanto, é dever das camadas mais conscientizadas advertir das conseqüências do Plano, mas tamém da ideologia que a sustenta, a mesma que socializa as perdas da banca e liquida aos poucos o estado do bem-estar que o imperialismo criara para evitar a conflituosidade entre classes.

A casta política espanhola entom, limita-se aplicar as directrizes da UE, a Europa dos estados e do mercado como se pode comprovar ao ler a Carta Magna, fanada na letra, mas nom na aplicaçom. Desorientado, limita-se a privatizar o ensino e reconvertê-lo sem gastar um peso e deixando no ar aspectos fundamentais. Vai-se aplicar umha das reformas mais profundas e brutais sobre o ensino a custe cero e sem que nengum partido político erga a voz, no meio do silêncio e a mentira cumha sociedade desconhecedora do alcance, a magnitude e as repercussons da, permita-se-nos a palavra, estadunizaçom de Europa... e nom falo dos Estados Unidos de Europa que o bom olfacto político de Castelao vaticinara anos antes do Tratado de Roma. Para o ensino e a educaçom nom hai quartos, para tapar os despropósitos da banca e o grande capital sobram. É umha pena que os nossos reitores nom podam ir de paparota a Mónaco e pagar 3000 € por garfo, coma os banqueiros porque aqui nom se injecta liquidez nem hai nada que celebrar. O seguinte será a sanidade? Já ninguém duvidará que só se querem formar operários e nom cidadaos cum sempre aceso espírito crítico, criar um vazio ideológico ainda maior do já existe. A elitizaçom do ensino permite amais recortar o número de pessoas com intitulamentos universitárias e permite, aliás, potenciar os ciclos meios e superiores, já que na maioria dos casos estes intitulados podem cobrir as praças, ponhamos por caso dum engenheiro, recebendo um ordenado moito menor. Um passo mais na democracia de votar e calar, onde a comercializaçom da universidade supom a sua morte como advertiu Federico Mayor Zaragoza[4].

Logo estám os docentes e as equipas reitoras. Recebem ordes, acatam e aplicam, hai bons e generosos que ainda nom tragam toda a lama que lhes botam, completando o verniz oficialista, sem elevar apenas nengumha objecçom. Onde hai mais sorte, e neste sentido filologia nom se pode queijar, tenta-se que o trago seja o menos traumático possível e professores coma Bermejo ou a decana de História em todo momento se opugérom ao Plano; onde nom é tam assí geraçons de estudantes ficam paralisados e desorientados perante a aplicaçom da noite para o dia dum Plano sobre o que pouca ou nula informaçom recebêrom e, por vezes, mesmo perdendo cursos inteiros, veja-se o acontecido em Ciências Políticas. Nos últimos cinco anos pouca ou nengumha informaçom foi pública, e por pública entende-se transmitida aos afectados nom publicada em recantos e às agachadas, e o estudantado ficou e fica, em grande parte, no desconcerto e o desconhecimento mais absoluto. Umha espiral perversa de ignoráncia que já só pola falta de transparência e acesso a fontes diversas e plurais fai desconfiar ao mais inocente e confiado.

Destarte, a universidade perde umha oportunidade para exigir, amparando-se na nova reforma, a auto-suficiência financeira da instituiçom e prolonga a sua precaridade económica coa possibilidade de ficar perigosamente supeditada ao lucro e os interesses do capital e, portanto, perdendo o espírito crítico do que historicamente fixo gala[5].

Infelizmente, é impossível rematar este percurso sem reflexionar sobre nós mesmos, o estudantado que se ergue contra o Plano e o que nom o fai porque ou bem nom quere ou bem a cousa semelha nom ir com el. Aqui a desorientaçom e a impostura som igualmente nítidas e agravosas, roçando até o ridículo por duro que seja dizê-lo. A maioria do estudantado fica na alienaçom do ni fu ni fa à toa, sem reconhecer as origes do problema e apenas visualizando problemas imediatos e apêndices do sistema, confundindo o que é Bolonha, co que é o novo master em pedagogia para poder departir aulas, o novo CAP, froito dumha Lei da etapa Aznar, etc. A sua frustraçom manifesta-se, como aconteceu na Praça Roxa neste mesmo 2008, em concentraçons de madrugada polo feche às seis da madrugada dumha discoteca, enquanto as concentraçons contra Bolonha contavam cumha presença testemunhal. Ver para crer. As jornadas de greve som umha excusa para fazer ponte, nada de ladainhas reivindicativas. E somos em teoria a camada melhor formada da sociedade... os futuros educadores, científicos, directivos, etc. da sociedade; já deitaremos as maos à cabeça quando nom haja marcha atrás.

No tocante, aos que fazemos moito ruído, mas colhemos poucas nozes, ainda que o fagamos de boa-fé, nom pinta moito melhor a cousa. Os estrategas militares conhecem bem aquel dito velho do «divide e vencerás», os que agora implantam Bolonha ficam moi tranqüilos porque sabem que a unidade de acçom entre o estudantado e a dia de hoje impossível. Vários factos apontam nesta direcçom. O ano passado funcionou umha Assembleia Geral que rematou sendo um circo onde cadaquém tentava tirar partido para a sua agra ideológica na naçom dos minifúndios por excelência. Que outros queimem os dedos tirando as castanhas do lume. Debatia-se se era acertado ou nom levar símbolos nacionais ou quem era mais radical e menos amarelo. Em nengum momento se construiu a sério um plano de acçom e se marcárom objectivos políticos claros, o infantilismo político afundou na desorientaçom enquanto os sindicatos fôrom incapazes de dialogar e formular manifestaçons, petiçons e acçons conjuntas co conseguinte descrédito perante a sociedade, entre ela o próprio estudantado, reduzindo as possibilidades de formar e chegar à sociedade e minimizando o impacto dos protestos sobre as instituiçons que em nengum momento se vírom coagidas. Perante as repercussons de Bolonha era tam bem esquecer-se dos horizontes revolucionários de cada um e operar cum mínimo de pragmatismo e solvência, mas a parcelária ainda nom nos colhe na cabeça e tropeçamos de dia para dia por levar os sapatos sem amalhoar e nom olhar para eles.

Igualmente notável é a impostura. Desde alguns sindicatos estudantis atacárom-se elementos superficiais e moitas vezes desligados de Bolonha, o que rebela ou bem limitaçons nas possibilidades de manobra ou bem um desconhecimento que roça o intolerável. Esquecem-se os problemas de fundo, estruturais, e perdem-se em suba de taxas ou em retórica de pseudo-comunismo, de loita de classes ( o disfarce do espanholismo de centro-esquerda) sem oferecer alternativas viáveis e sistemáticas; o perfeito diálogo de surdos que conduze a simples captaçom ideológica, legítima por suposto, mas insuficiente para dar resposta aos problemas cos que se enfrenta o sistema educativo - cada vez menos público, menos galego e de pior qualidade-, enquanto os integrantes do mesmo olhamos cada um para nós na posse narcisista da inconsciência e o derrotismo, alheios a que a felicidade nom é para manhá, mas a infelicidade pode ser para hoje mesmo.

Antom Fente Parada

Na Galiza ocupada a primeiros do Nadal de 2008. Nós Sós!


[1] Sarilhe, José Manuel (2007), A impostura e a desorientación na normalización lingüística, Compostela, Candeia Editora.

[2] Aqui um tamém pode ser mal-pensante. Recentemente o governo espanhol aprovou em Roménia um experimento para evitar a emigraçom massiva desde esse país, o qual se planejava desde o PSOE, contrário ao contrato de emigraçom do PP, como um grande avanço que deveria fazer-se extensível a toda a UE. Se a umha pessoa que gasta em formar-se os melhores anos da sua vida lhe dam praça fora do seu país (porque nom em Quénia e temporal a poder ser?), da sua própria terra, porque nela nom hai simplesmente futuro, isto é um grande avanço? Um Estado forma para pagar-lhe a elite cultural a outro... onte era brain drain hoje flexibilidade laboral e progresso. Aliás, quem pode permitir-se estudar no estrangeiro? Desde logo o grosso do estudantado nom.

[3] Veja-se tamém o artigo de A. Benítez “Sobre la declaración de Bolonia de 1999” do ano 2005 e disponível na rede.

[4] Na IV Conferência Internacional de Educaçom Superior celebrada em 2008 em Barcelona.

[5] Nos acordos da Assembleia Geral de Reitores das Universidades Espanholas (CRUE) rem achei na direcçom de apor impedimentos ao processo nem tentativas de solventar a situaçom financeira amparando-se nas necessidades económicas dumha reestruturaçom. Entre as consultadas topava-se a do 8 de Julho de 2002, intitulada «La declaración de Bolonia y su repercusión en la estructura de las titulaciones en España», onde se recolhe, no entanto, ainda que sem medidas concretas o respeito pola diversidade nacional e lingüística, isso si, do espaço europeu nom do Estado.

3 comentários:

Brais Santomil disse...

Mira ti de onde vinha o de Sub-comandante!!!

Como di o refrão espanhol: nunca te acostarás, sin saber una cosa más.

Bom texto, coma sempre.

Abraço.

Rosalía Fernández Rial disse...

(lin a túa reflexión sobre Boloña pero puxen o meu comentario n actualización seguinte...erros de novata...Aquí cho deixo)


Todo un ensaísta!!

é realmente preocupante a división interna do case inexistente movemento estudiantil, e sobre todo a crise ideolóxica na que está inmersa esta sociedade...

en canto á "deshumanización", privatización e elitismo d ensino...condúceme inevitablemnt a pensar k o sistema se está a mofar de nós.

(e convén non esquecer a responsabilidade d goberno español en todo isto...)

recoñezo a culpa d maioría d estudantado(e creo k m podería incluír na condena)...xa que non existen utopías nin loita sen unha xuventude crítica, activa e mínimamente unida por algún ideal común...
Porque o que teño claro é k se esta xuvntude "espertase d seu soño", só importaríamos de Boloña as "luces" das que falas.

albagal disse...

Bo texto. O estudantado temos que responder. Xa non se ve tanto ese ambiente que houbo anti-Lou..

Un saúdo e noraboa polo blogue :)