Palavras novas e velhas

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Natal, lume e neve; pedra e povo.

NATAL 25/12/08




«Fijo en el recuerdo,

vi como defiendes,

corazón ausente

del sol, tiempo eterno»,

“Los tres tiempos” em Cántico de Jorge Guillén




A rua deixava-se despir por um feixe de luz

que punha engrávida a revolta da praça

por onde caminham vultos coas maos nos petos

petrificados polo gélido bafo do oco.

No céu choutavam as estrelas

e do seu manto azul caia,

sem piedade, a giada que aterecia

a todo um país: o país das maravilhas;

cheio de luzes de Natal, cheio de vitrinas

cheio de parabéns, cheio de nada e de vazio.



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Salmo 2009 6/1/09

«Quomodo cantabimus canticum Domini/ in terra aliena?», Salmo 136 da Vulgata.

No princípio era a palavra.

E a palavra fixo-se carne,

carne branca, carne preta;

e os povos habitárom a terra.

No princípio era a palavra.

E a palavra fixo-se pedra,

verba escrava de papéis numerados;

e os povos caírom sob os estados.

No princípio era a palavra.

E a palavra fixo-se guerra,

arma branca, morte preta;

e os estados sujárom o planeta.

«Sobo-los rios que vão

por Babilónia me achei,

onde sentado chorei

as lembranças de Sião

e quanto nela passei»[1].

No princípio era a inocência.

E a inocência fixo-se ódio.

E o ódio passou, coma em Egipto,

de geraçom para geraçom:

Israel! Israel!

Para onde vam teus filhos Iavhé?!



[1] Primeira estrofe da versom do Salmo de David para Jeremias (salmo 136) feita por Luís Vaz de Camões e conhecido polo primeiro verso. Para além de jogar coa seu próprio desterro na Índia (através da epopeia do povo judeu em Mesopotámia) emprega tantos versos coma dias do ano e tantas estrofes como meses, completando assí um simbolismo vital inserido numha composiçom grave e de tom moral e filosófico, único exemplo deste calibre nas suas redondilhas de tom, polo geral, amoroso ou jocoso.


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Estrada sem volta

Choutam as estrelas co brilho da geada

e incomodam-se pneumáticos co rechouchio

gélido da sangue coalhada em formol de adeuses.

Assombrado tamiz que congela as paixons

e apreixoa aos paxarinhos inocentes

que caim sob a força de gigantes com arumes!

Nomes. Dai-me nomes que pidam adjectivos

lenes e suaves, formosos nos beiços telúricos

de sonhos enlamados nas augas sólidas do mais alá.

Dai-me as velhas palavras, simples, despidas

como as oucas que alouminham troitas tristes

no crepitar morno das correntes cinzentas.

Para onde caminharám as lembranças,

onde irám de dor tingida as antigas horas?

Vam tirando por vieiros sujos e esquecidos

obscuros e velhos recordos

que cospem fel na cima dos carriços

dum lobo eterno e gris...

Sempre, sempre entre a estadeia

talvez e só talvez às cinco da manhá.


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Circunvoluçom progressista

«Confiemos nas vindouras geraçons

di quem já nom acredita na sua», Sechu Sende.

Canto vida, canto morte,

quase fina a palavra

entre finos beiços de mel.

A eixada chama-se já computador.

A eira pátio.

Os sonhos metal;

o amor obscuras notas.

Mas, canto vida, canto morte,

canto a perda da minha sorte

que se agocha e lisca

entre as dedas de deus

em necrose permanente desde Nietzsche.

Ao carro chamam-lhe «coche».

Ao proletário contribuinte.

Ao engano notícia;

à naçom comunidade.

1 comentário:

A Conxurada disse...

Tes un blogue, (ben uns cantos pero os outros aínda non os vin) moi interresante. As explicacións agradécense. Volverei por estes lares.