Palavras novas e velhas

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Os movimentos sociais e a esquerda anticapitalista no contexto da crise do neoliberalismo capitalista


25-4-09

Adro

No aniversário da Revoluçom dos Cravos é um bom momento para analisar e calibrar a situaçom da esquerda a nível mundial e na Galiza. A presente reflexom nasce das anotaçons tomadas durante a palestra intitulada, se mal nom lembro, «Movimentos sociais perante a crise neoliberal» organizado por AGIR e que contou com a presença do professor da faculdade de História Bermejo, com umha representante da Marcha Mundial das Mulheres e mais com um membro da formaçom da esquerda soberanista Nós Unidade Popular.

1.1.- Umha crise anunciada, umha coarctada para avançar na depauperaçom das classes trabalhadoras do primeiro mundo

«Os pés de Yang Huanyi foram atrofiados na infáncia. Aos golpes caminhou a sua vida. Finou no outono do ano 2004, quando rondava o século de vida.

Era a derradeira conhecedora do Nushu, a linguage secreta das mulheres chinesas.

Este código feminino vinha de tempos antigos. Expulsas do idioma masculino, que elas nom podiam escrever, fundárom o seu próprio idioma, clandestino, proibido aos homes. Nascidas para ser analfabetas, inventárom o seu próprio alfabeto, feito de signos que simulavam ser adornos e eram indecifráveis para os olhos dos seus amos.

As mulheres debuxavam as suas palavras em roupas e abanos. As maos que as bordavam nom eram livres. Os signos si», Eduardo Galeano.

Quando após a II Guerra Mundial se consolida a estrutura mundial em blocos Europa fica entre os dous mundos: o primeiro capitalista e o segundo socialista, cada um sob a bota dum imperialismo, ora o usamericano, ora o russo baixo a camuflage dumha federaçom de repúblicas socialistas.

Durante a ocupaçom nazi as forças reaccionárias dos países ocupados tinham-se situado a prol do fascismo, enquanto os comunistas morriam a centos na resistência. Este facto conduziu a que os PC tivessem um grande apoio entre a populaçom. Aginha o bloco Ocidental se esmerou em conjurar o «perigo comunista» e Churchil foi o primeiro em falar dum telom de aceiro, metáfora comenenciuda, que conduziu à Guerra Fria (Cold War) e a conflitos de «baixa intensidade» em Grécia, Coreia, Vietname, Camboia, Nicarágua, etc. preferindo-se um Trujillo a um «Castro» em palavras de Kenendy[1].

Por todo isto, a existência da URSS e o peso específico dos PC em Europa, os estados europeus apostárom polo welfare state (estado do bem-estar) que permitisse a «pax social» e evitasse a expansom do comunismo, ou seja, que o modelo usamericano nom se pudo aplicar simultaneamente a um outro lado do Atlántico para evitar a quebra do bloco capitalista se toda Europa passava a órbita soviética. Incluso durante a crise do petróleo na década de setenta do passado século a Europa capitalista seguiu advogando polo estado do bem-estar, ao tempo que no Chile de Pinochet se aplicava a primeira grande experiência do neoliberalismo capitalista.

Porém, a partir da quebra em 1990 do bloco soviético e do passo dum capitalismo sem capitalistas a um capitalismo concentrado na antiga burocracia – avivando os nacionalismo para impor governos de Direita e debilitando a força da Federaçom Russa-, o centro do Império tivo maos livres para exportar com garantias o seu modelo a Europa[2]. A actual «crise», em certo modo um invento da grande banca e o capital, já veremos porque, arrincou muito antes.

Nos noventa os ordenados começam a descer e as garantias laborais precarizam-se ao tempo ao tempo que se privatizavam as empresas estatais, o que justifica – no caso espanhol- como umha medida para sanear as contas públicas e assi acadar o deficit cero e entrar em zona euro. As reformas educativas sucedem-se e as humanidades sofrem um contínuo menoscabo à vez que os média se concentram em cada vez menos maos.

Países coma Alemanha sofrem brutais reconversons industriais – desenhadas na anarquia do livre mercado que favorece ao grande capital e à concentraçom do mesmo- e a pequena e mediana indústria liquida-se favorecendo umha concentraçom de capital similar a que sucede em todas as crises (1929, crise do petróleo, etc.). O paro inça-se e milheiros de polacos entram no país e embora o governo de Helmut Kölh os combatesse oficialmente (Polónia ainda nom era da UE) realmente essa mao de obra desesperada contribuía para baixar os ordenados a níveis ínfimos e rematar com os postos de trabalho estáveis e impor um novo modelo onde a precaridade e a incertidume laboral foram normas.

Agora bem, a banca e o grande capital paliárom a descida do nível aquisitivo da classe obreira – evitando umha brutal quebra da demanda- mediante as prestaçons sociais de desemprego – cobridas com os impostos dos trabalhadores-, os contrato-lixo legislados polos governos e, sobretodo, com a galinha dos ovos de ouro: as hipotecas.

O fenómeno das hipotecas nom vai além de provocar que o banco crie dinheiro da nada e que logo o receba do ordenado dos trabalhadores. Qualquer economista minimamente lúcido, incluso os defensores do neoliberalismo capitalista, sabiam da deflagraçom social que isto provocaria, mas como o grande capital controla as democracias de votar e calar sabia qual seria a reacçom dos estados. E qual foi a reacçom dos estados? Pois inventar o plusvalor do plusvalor, o que eles chamam «socializaçom das perdas», ou seja, que a classe trabalhadora sustém com os seus impostos as perdas da banca.

Porém a jogada magistral nom fica aí. Este roubo leva aparelhado que a dívida pública medre até níveis preocupantes, engaiolando aos estados no cárcere da dívida pública, quer dizer, que o seu carcereiro será o mesmo que agora «resgatam». Deste jeito, a banca e o grande capital afundarám no controlo dos governos, debilitarám as condiçons laborais, privatizarám a sanidade e a educaçom[3] e, o melhor de todo, a sociedade demandará-o após as pertinentes mensages alienadoras dos média. Melhor impossível, até um começa a admirar tam grandes arquitectos do verdadeiro Matrix que encobre o governo na sombra.

Todo isto no maravilhoso primeiro mundo, onde Bolonha supom proletarizar aos universitários e apagar a última leira que poda rachar a monolítica mensage do capitalismo vendida com carautas de diferentes cores. Permitam-me falar de leiras ainda que a muitos da Esquerda, incluso da nacionalista, nom lhes goste o minifundismo num curioso pánico a umha massa de pequenos proprietários que até os noventa viviam das suas exploraçons ordenando o território e conservando a cultura entre outras cousas, mas aqui preferimos a terra-tenentes numha curiosa aberraçom de análise de sectores da nossa esquerda.

Daquela, assistimos à vorágine e ao caos. Foi Iñaki Gil de San Vicente o que reformulava aquilo de «socialismo ou barbárie» para «socialismo ou caos» e a maior concentraçom do capital mais nos aproximamos a um único governo mundial na sombra que esquilme e explore à humanidade e aos seus recursos. Bem é sabido que as catástrofes afectam mais ao mundo pobre ou que no Catrina de Nova Orleans finárom pobres e excluídos nom executivos. Assi pois a fronteira Norte-Sul desdebuxa-se cada vez mais para deixar ver com toda claridade o conflito de classes e o abismo, cada vez mais grande, entre o clube dos privilegiados e o dos trabalhadores. O supostamente novo keynessianismo ou o novo New Dehal – que tam só aplicou em parte as receitas de Keiness- nom tem nada a ver com as fórmulas implantadas após a quinta-feira preta de 1929[4]. Aqui nom se «resgata» nada, pois o capital de AIG ou General Motors tem tentáculos em outras muitas empresas que nom quebrarám. Em minha opiniom, é outro xeque-pastor à desinformada sociedade Ocidental, que nada fai tampouco em muitos casos por informar-se por ser um esforço incómodo, o definitivo assalto aos estados que enquanto recortam em gasto social inçam o orçamento militar e dos corpos repressivos para garantir a «orde», ou seja, a ditadura da burguesia auto-denominada «democracia».

Daquela, a actual crise bem pode ser a enésima estratégia do Imperialismo para a concentraçom de capital-dinheiro em cada vez menos maos, um novo catecismo para justificar fusons e monopólios, recortes das condiçons de vida da maioria da humanidade (aos que ainda lhes resta algo por recortar)... A esquerda europeia acredita em que o sistema está fraco e isto é umha asneira de crianças. Um sistema com milheiros de cérebros e arquitectos com todos os meios aos seus favor provoca estas situaçons para retroalimentar-se e para apresentar-se oma o melhor dos sistemas umha vez superada a crise numha espiral continuada de ciclos económicos depressivos, cada vez mais curtos como froito de que 90% da economia mundial seja fumo afastado da economia produtiva real[5].

1.2.- A classe obreira europeia e usamericana como garante do sistema mundial

Para além do dito e como Chomsky aponta já em 1986 a classe operária Ocidental financia aos ricaços do terceiro mundo e, daquela, as suas tiranias, pois apenas deste jeito é possível manter o ritmo do espólio mundial das multinacionais do Império. Este é o verdadeiro motivo polo que Chávez, Fidel Castro Ruíz, Evo Morales ou Correa som inimigos number one do sistema que ensalma a «democratas» como Álvaro Uribe e fai heroínas tam cativeiras como a Ingrid Bentancourt, mas nom me vou passar nom vaia ser que me apliquem algumha sançom por incumprir aquela advertência de Mariano José de Larra e que cito de memória (perdoe-se-me o atrevimento e se mudo algum vocábulo):

«Em España hai libertad de expresión. Mientras se duerme».

Assi pois, o suposto sistema em crise apenas se lhe nota outros sintomas que a blindage do seu sistema imunitário, nom o seu debilitamento, mas oculta-o num verniz que a espiral de ignoráncia que imponhem os meios de incomunicaçom anovada dia-a-dia. A banca e os média som duas caras da mesma moeda[6], instigando aos governos a apoiar à empresa privada:

«Som “privadas” estas empresas no senso de que as ganáncias som privadas ao tempo que a poboación debe pagar os custes de investigación, desenvolvimento, protección dos mercados de exportación e aceso ás materias primas, un nível de produción (xeralmente de armamentos) dabondo para dar umha marxe para as empresas em períodos de declínio económico, etc. Este sistema de subsídios públicos obrigatórios controlados polo Estado é o que se chama “Libre empresa” segundo as formulacións ideolóxicas de Ocidente»[7].

No tocante ao que denantes apontamos para a classe obreira europeia como garante da «orde» mundial, Chomsky é igual de talhante (e brilhante):

«A sonada débeda latinoamericana, agora tema de importante preocupación internacional, é aproximadamente comparábel en proporción as reservas de capital estranxeiro dos super-ricos de América Latina.De novo vemos unha das realidades da axuda estranxeira: é un medio polo que os pobres das sociedades ricas pagan aos ricos das sociedades pobres polos servizos que estes lles prestan aos ricos das sociedades ricas (p.111).

(...) a imaxe propagandística que fora coidadosamente construída polo sistema ideolóxico de Estados Unidos [fala de Nicaragua]. (...) Foi preciso respostar [aos sandinistas] como sempre: co terrorismo internacional, o embargo, presións sobre as institucións e aliados intenacionais para que eles non presten axuda, unha enorme campaña de propaganda e desinformación, manobras militares e vóos ameazantes (113).

Os asesores do presidente [Ronal Reagan] podian ter completa confianza de que os média no ian descubrir o fraude e que seguian a cumprir a sua función nun momento crítico, como asi fixeron, o que representou outra testemuña magnífica das glórias da Prensa Libre (116)»[8].

No meio deste binómio político-mediático situam-se pseudo-economistas (mercenários conscientes ou inconscientes do sistema) que fam análises económicas de pré-escolar na casa e nom podem (nom querem mais bem) oferecer soluçons à quebra do sistema porque suporia reconhecer a necessidade dumha alternativa. Os média, a manipulaçom da linguage que tam bem denúncia Vicente Romano (“danos coletarais”, “crescimento negativo”, “emprendedores”) som a universidade do grande capital, o novo «ópio do povo».

1.3.- A Galiza na UE do livre mercado. Etnocídio e perspectivas. A esquerda na encruzilhada

«Ditosos os pobres porque deles será o reino dos céus», Jesus de Nazareth.

No estado espanhol a crise tem-se visto reforçada por um modelo económico que foi traçado no franquismo e que nengum governo mudou no franquismo sem Franco da II Restauraçom bourbónica. Ainda mais, como assinalou o professor Bermejo, o «milagre económico» de Rodrigo Rato na etapa Aznar nom passou de esquilmar o pouco que ficava do sector público e mais por profundar no turismo de sol e praia e na construçom. A curto prazo a construçom fixo possível o crescimento do emprego em mui diversos sectores e permitiu, ao nom pôr-lhe cotas à especulaçom, amassar grandes fortunas ao tempo que a classe operária era enganada pola publicidade para impulsá-los a endividar-se com os bancos. Essa é a grande política económica do esanholismo mais ranço e cavernário.

Pola sua banda, a representante da Marcha Mundial das Mulheres apontava que o paro operário feminino cresceu nos últimos tempos exponencialmente ao deterioro da situaçom económica, muito mais grande se consideramos o alto número das mulheres titulares ou co-titulares de exploraçons de gado vacum já que os maridos trabalham numha segunda actividade (para além das empregadas na extracçom no mar). Ao tempo a UE, ao serviço do mercado e dos seus beneficiários, advoga polo etnocídio e a queima dos sectores produtivos em conivência com o Estado espanhol. Se desaparece o sector agrário o impacto meio ambiental será gravíssimo, ao tempo que a Galiza rural e galego-falante finará e a mocidade será, mais umha vez, puxada a emigrar e servir de mao de obra barata para o Estado espanhol, ao que Fidel Castro denominou recentemente como «imperio en muletas». De novo caminhamos para um claro regime de colónia onde Galiza forneça apenas matérias primas e mao de obra ao capital parasitário espanhol. Este é o destino da periferia dentro da periferia da UE.

A problemática do etnocídio do nosso agro arrinca em 1986 com Felipe González e segue hogano com ainda maior intensidade. O dumping produze a quebra de numerosas exploraçom e atira-se ou regala-se o leite galego enquanto se merca no estrangeiro os excedentes, nom deve primar a soberania alimentar? Para o capital, que nom entende de ética e escrúpulos, resulta evidente que nom.

Por outra banda, o sindicalismo topa-se apodrecido e cooptado polos estados e as formaçons políticas do sistema. Contodo, a UE advoga por debilitá-lo ainda mais, dinamitando a jornada laboral de 8 horas ao negociar as 65 horas semanais com os chefes, ou seja, em condiçons mui desfavoráveis e puxados polo deterioro da situaçom económica da classe operária, que cada vez deverá fazer mais horas por menos quartos.

A contínua precarizaçom do emprego e a proletarizaçom das classes meias é umha oportunidade para a esquerda, mas tamém para os totalitarismos, nomeadamente o de corte fascista. A meio-longo prazo a olhada dos arquitectos do neoliberalismo capitalista passa polo modelo chinês, com mao de obra barata quando nom escrava. Pessoas que apenas vivam para trabalhar e consumir enquanto o terceiro mundo conta cada vez com mais excluídos por causa do proteccionismo do centro do Império (que tanto combatem os EUA, o FMI e o Banco Mundial em governos do terceiro mundo).

Neste terrível panorama é previsível que as mulheres e as crianças recebam a pior parte. Agora já se enxerga a proletarizaçom do estudantado e denantes da chegada do Plano Bolonha já som 300.000 os licenciados desempregados no Estado espanhol. Nota-se igualmente nos ordanados das fêmeas, muito inferiores aos dos varons. No terceiro mundo mulheres e crianças vendem até a vida, quando é o último do que o capitalismo pode tirar proveito, através da economia submergida que o grande capital controla nas suas múltiplas ramificaçons.

No tocante à mercantilizaçom do ensino podemos cotejar o impacto de Bolonha na análise do que acontece nos países com modelos de educaçom neoliberal onde a proletarizaçom do estudantado e os docentes é cada vez mais preocupante, mentres o centro do Império importa investigadores de terceiros países, como a Índia, para poupar em ordenados[9]. Para mostra de tam grave situaçom três títulos apontados polo professor Bermejo durante o bate-papo: A universidade em ruínas, A fogueira das humanidades, Os professores vam-se acabar.

Nom som bons tempos para a poesia, nem som alentadoras as perspectivas. Para a cultura da Galiza, maná da existência da naçom, ainda som piores. Numha sociedade cada vez mais ao mercê dos meios de incomunicaçom som escassas as possibilidades para a língua e, neste sentido nom é por acaso a reactivaçom dos ataques ao galego por parte do espanholismo mais furibundo (La voz de Galicia, Galicia bilingüe ou o filólogo das silveiras Andrês Freire ao serviço de Tan gallego como el gallego, as FAES e Libertad Digital).

Assi pois, ao tempo que a Direita e o neofascismo avançam, ora directamente, ora atra´ves da social-democracia que executa as suas directrizes, a Esquerda, a verdadeira Esquerda, fica coma o Fogar de Breogám dormindo. A comoçom da caída do muro de Berlim ainda nom foi superada e os FSM ainda estám numha fase de reorganizaçom embrionária no amplo abano do altermundismo e com as diversas facçons (anarquismo, socialismo, esquerda capitalista, comunismo, etc.) longe dumha tradiçom de diálogo, retroalimentaçom e apoio. Isto é igualmente notável no estudantado galego.

Dificilmente no meio da crise a esquerda poderá avançar, para o que é fundamental achegar umha linguage desalheada ao povo, ou, polo menos, avançar o suficiente para deter a um sistema que se reforçará umha vez ponha ponto e final à farsa da crise da banca. Emílio Botín seguirá fazendo-se de ouro. A crise é para os cidadaos que perderám o seu fogar e nem assi, em muitos casos, tomarám consciência do seu lugar na luita de classes.

Permita-se-me, pois, e para rematar, mostrar-me céptico com a possibilidade de reagir a esquerda e permita-se-me advertir que o sistema sairá reforçado. Isto nom implica que nom devamos recrudescer a luita, advogando pola auto-organizaçom e a pedagogia social por cima dos partidos políticos que apenas devem ser um meio ou vozeiro dos movimentos sociais, verdadeiro pulso dumha sociedade que pretenda ser democrática e desalheada. Neste sentido a missom do independentismo e encabeçar este processo e apor à demagogia e ao espanholismo, liberdade e socialismo. Nós Sós!

Coda

Para rematar quigera compartilhar com vós umha anedota que conhecim através de Jesus Alonso Montero, numha palestra departida no Telecentro de Chantada e organizada polo Ateneo Republicano de Galicia[10].

Nela contava o professor de literatura, que advertiu do precário futuro do galego hai décadas[11], umha anedota que lhe aconteceu ao socialista e galeguista Rafael Dieste, quando participava das missons pedagógicas da II República.

Rafael Dieste chegou a um lugar da Estremadura espanhola em que trabalhava como inspectora Carmen Muñoz Manzano, a que logo seria a sua costela, pois desde aquel dia dixo que ficara com a boca aberta[12]. O lugar em questom era mui pobre. O analfabetismo e a fame davam-se a mao e a gente viu coma senhoritos a aqueles universitários que lhes vinham falar de cultura, quando o único que aguardavam eram umhas senhoras que ensinassem as pernas por baixo dos joelhos.

Os presentes começárom a esbardalhar e fazer caso omisso dos oradores de Madrid. Nessas Rafael Dieste, grande filho da Galiza, ergue-se e toma a palavra:

- Nosotros hemos venido a aprender de ustedes.

Fixo-se o silêncio. Aquelas gentes, com as maos desfeitas polo trabalho, o estômago achicado pola fame e o cérebro sumido pola ignoráncia e o alienante teatro de cabareteiras, nunca foram tidas em conta pola Espanha oficial, mui afastada deles, ficárom emudecidos perante aquelas palavras.

- Digo que hemos venido a aprender de ustedes. Nosotros sabemos de literatura, es cierto, y la literatura es importante, pero de poco valdría sin ustedes que nos sustentan. Nosotros los pasos para hacer el pan los desconocemos, máxime con el arte que ustedes lo hacen. Nosotros somos unos ignorantes en el cultivo del trigo.

Essas missons pedagógicas som o que hoje se deve recuperar, adaptado aos novos tempos, desde os movimentos sociais para sementar um novo espírito crítico e erguer a consciência revolucionária. Hai que voltar ao SAPERE AUDERE da Ilustraçom. Nós Sós!


[1] Noam Chomsky (1993), Sobre o poder e a ideoloxia, Laiovento, Compostela, pp. 79-121. Trujillo foi um sanguinário ditador sustentado polos EUA.

[2] Carlos Taibo (2008), Fendas abertas. Seis ensaios sobre a cuestión nacional, Xerais, Vigo, pp. 147-177.

[3] A conselheira de Sanidade, Pilar Farjas, já advertiu que recorrerá à privada com o pretexto de recortar as listas de espera, nom é possível por acaso atingir isso fazendo mais hospitais públicos e contratando mais médicos? Pola sua banda o governo do nacionalismo central adverte que as pagas (pensons de jubilaçom) devem reduzir-se se baixa o «nível de vida» e, daquela, nom sobe o IPC.

[4] A crise de 1929 parece que foi claramente provocada por banqueiros coma Roquefeller (vejam-se s documentais Zeitgeist ou O dinheiro é dívida). No New Dehal de Rossevelt algo tivo a ver tamém o triunfo em 1917 dim regime socialista no antigo império dos tzares que tentava aplicar a filosofia de Engels e Karl Marx.

[5] Muitas destas questons já as tocou Lénine fai quase um século, em 1917, no seu magnífico livro O Imperialismo, fase superior do capitalismo.

[6] Se bem nom tivem ocasiom de lê-lo, por um artigo sobre el, é recomendável o livro de Eric Toussant Banco Mundial: el golpe de estado permanente (El Viejo Topo, 2006).

[7] Noam Chomsky (1993), Sobre o poder e a ideoloxia, Laiovento, Compostela, p. 144. O autor cita como exemplo os custes de investigaçom dos computadores através do departamento de Defesa dos EUA durante os oitenta.

[8] Op. cit.

[9] A mercantilizaçom do ensino dentro da lógica do livre mercado e o seu impacto na Galiza já foi objecto doutra reflexom publicada neste mesmo blogue sob o título «A língua da Galiza perante o repto dumha educaçom privada e centralizada: as dimensons soterradas de Bolonha como panca do neoliberalismo capitalista e do nacionalismo espanhol».

[10] Como independentista nom me erguim ao sonar o Hino del Riego, mas a presença da bandeira espanhola republicana nom deve impedir o diálogo e as alianças pontuais com a esquerda espanhola mais consciente

[11] Guilherme Rojo, com umha grande contribuiçom ao eido da gramática, criticava daquela a postura alarmista de Alonso Montero. Hoje é membro da RAE e justifica entradas ofensivas para gallego no DRAE já que se empregam acotío. Tamém se di que os madrilenos som chulos e nom se indica no DRAE.

[12] Seria umha figura feminina mui importante no galeguismo do primeiro terço do século XX. Quando Dieste marcha para o frente de Aragom ela toma a direcçom da revista Nova Galiza, a mesma que recolhe o texto de As tres pragas (militarismo, clericalismo e fascismo) de Castelao.

2 comentários:

Xan disse...

Estou dacordo ca maioria do desenrolo do post pero e demasiado extenso para poer opinar algo máis en concreto.
Saúdos

Marco disse...

Gostei moito da súa anâlise. Parabêns!