Palavras novas e velhas

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Jesus, o nazareno. Um socialista libertário



«Uma estrada entre as estradas, mas tu por ela não andarás, e não construirás um templo, outros o construirão sobre o teu sangue e sa tuas entranhas», José Saramago: O evangelho segundo Jesus Cristo.

«Cuando un líder del pueblo toma el poder, no es el pueblo el que triunfa, sino sus mediadores, como los sacerdotes del templo. Desde el poder el líder ya no piensa en la utopía, sino en el posibilismo. Lo dijo Felipe González, también el polaco Lech Walesa, líder de Solidaridad, le ocurre ahora a Lula, el sindicalista que a conseguido gobernar en Brasil, los sindicatos consiguieron sus parcelas de poder y la lucha obrera está paralizada. Sucedió anteriormente con el movimiento cristiano, una vez que sus líderes aceptaron gobernar el templo de Roma.

La mujeres, como el resto de los discípulos, esperaban la resurrección de un mesías triunfador que

había luchado por el pueblo. Pero lo que se encuentran es una tumba vacía con un mensaje: Volved a Galilea y allí me encontrareis. A Galilea, al lugar de la lucha, a seguir realizando los gestos liberadores, a comprobar que la utopía es posible», Henrique de Castro, La fé y la estafa.



Se Jesus vivera hoje lembraria-nos aquilo de “ai do que faga mal a um destes pequenos!”. Esses pequenos da Terra por sempre oprimidos: os pobres, os operários, as mulheres, os nenos, os novos escravos e servos da nossa era. E assinalaria com o dedo acusador aos tiranos a que a sua Igreja e o seu clero lhe dam a comunhom. Botaria de certo do templo a um títere vestido de branco que di ser o sumo pontífice do seu credo, el que nunca nada escreveu nem ergueu dogmas nem credos.

No entanto, a herança de Jesus é o amor pola natureza e a fé no home e, portanto, na utopia. Galileu, dominara para além do materno arameu – língua minorizada na altura –, o grego e o latim e apreendeu o domínio das escrituras nas covas de Qunram onde contactou com várias seitas independentistas, que eram cisons do judaismo oficial, aliado com o imperialismo de Roma.

Radical nas acçons e no discurso, pacifista e independentista foi o primeiro protosocialista da história e predicava o amor ao próximo: o comunismo, todo é de todos, quiçais pola sobrevivência das estruturas gentis ainda dentro do patriarcado semita. Defendeu a aboliçom da escravatura e o reparto da riqueza da que umha caste fechada se aproveitada por conta da força de trabalho da maioria. Aí é onde se insire tamém a sua defesa da igualdade entre a mulher e o home que tam habilmente apagárom os seus supostos sucessores. Judas Iscariote é um símbolo que representa a milheiros de traidores.

A sua companheira, Maria de Magdala, enclave comercial com os gregos, seria a mai do seu único filho, prematuramente morto segundo um ossário nom fai muito achado e de seguida tapado polo governo israelita. Porém os seus três ossarios seguem descansando juntos, no nazi-sionista Estado de Israel parte dessa nova Roma chamada Imperialismo, a espera de que os tempos sejam chegados e o véu do templo volte esgaçar-se em dous para que o que tenha ouvidos ouça:


«Jesus, lançando um forte grito, expirou, e o véu do santuário rachou em dous, de abaixo arriba» (MC 15, 37- 38).

«Nom está escrito: “A minha casa será casa de oraçom para todos os povos? Pois vós tede-la convertida numha cova de bandidos» (MC 11, 15-18).


Aguardamos com el a que os explorados vejam e caminhem, erguendo-se contra os poderosos e agindo umha e outra vez até alcançar a utopia, onde reside a justiça que Jesus predicava, a fé no futuro da humanidade sem aparatos nem coerçons.. O deus de Jesus nom está num templo, porque cada pessoa é um templo em si mesma, o único templo que deve existir, e por isso o deus de Jesus nom pode recolher-se em lei, dogma ou moral nengumha, porque é liberdade, futuro, a revoluçom permanente de Trosky. Por isso «o meu reino nom é deste mundo», senom desse um outro mundo possível e necessário. Urgente.


Palestina em tempos de Jesus

Após a invasom grega em tempos de Alexandre Magno, Palestina ficou numha encruzilhada onde sírios e egípcios tentavam anexioná-la. No século -III obedecem aos ptolomeos e no -II a Antíoco III de Síria. Antíoco IV começara no -167 umha perseguiçom contra os judeus, o que levará a muitos a renegar da sua religiom. Os asideus (“piadosos”) resistem a tortura ou fogem e os macabeos iniciam a luita armada, como recolhe o livro do AT do mesmo nome (Mac.).

Do -160 a -143 dá-se o reinado de Jonatam, primer chefe após a vitória macabea, que inícia um cesaropapismo ao unificar a autoridade política com a religiosa (1Mac, 10-21). Porém os asideus nom aceitam isto e um grupo, o dos Essénios, refugia-se em Qunram numha comunidade jerárquica liderada por um Mestre de Justiça, encarregada de velar pola Lei da Pureza. Outro grupo de asideus, nom obstante, todos eles segrais, optam por tomar a Lei da Pureza como brújula vital e denominarám-se a eles próprios fariseus (“separados”) desprezando ao povo por nom entender a lei e ser entom impuros (Jn, 7:49).

Quando Jesus nasce a maioria do povo pertence ao campesinhado vivendo sob o jugo romano e numha misérrimas condiçons. A terra, como acontece com os foros da Galiza, é propriedade das classes privilegiadas: a corte de Herodes, a nobreza laica e a nobreza sacerdotal, ou seja, os judeus que colaboravam com as forças de ocupaçom romanas. Os jornaleiros e os esmoleiros preenchem as ruas e vam em aumento polas cargas fiscais dos impostos civis e religiosos do Estado (para por sua vez mantê-los a raia): a “Pax romana”, o dezmo, os de Herones os animais para os sacrifícios do templo e as cargas e tributos para a manutençom das sinagogas.

Assi, o poder imperial, representado polo governador Pôncio Pilato, concedia esta “autonomia” ou “autoanémia” ao povo judeu através do Sanedrim, encarregado dos assuntos ordinários, e dum rei títere na figura de Herodes Antipas, rei de Galileia e Pereia. A nobreza parasitária concentra-se em Jerusalém enquanto os camponeses malvivem, sobretodo, em Galileia e Samaria. Os galileus som considerados impuros e os samaritanos hereges.

Neste contexto a resistência armada nom se fai esperar por meio dos zelotes, entre os que se topavam Barrabás – que era um preso político e nom um delinqüente comum por isso simpatizavam com el o povo – e alguns dos discípulos de Jesus. Acredito em que o próprio Jesus se deveu formar em Qunram em estreito contacto com estes arredistas e opostos ao pago de taxas a Roma como a negaçom do direito romano sobre Israel e oposiçom ao domínio exclusivo de deus. Na sua doutrina o apocalíptico e mesiánico era capital.

Porém, junto aos zelotes mantinham-se os partidos político-religiosos dos fariseus e os saduceus, que se proclamavam com únicos e verdadeiros guardarores da tradiçom religiosa. Os primeiros eram de nível cultural meio-alto e negavam a preeminência dos sacerdotes seguindo a lei da Torá ao pé da letra, no que hoje se denominaria integrismo, com um carácter ritualista e hipócrita como denúncia Jesus. Os saduceus eram nobres endinheirados e sumos pontífices, um lobby económico ao jeito actual do Opus Dei, extremadamente reaccionários e colaboracionistas com o poder romano que em troca lhes garantia os seus privilégios. Controlavam o templo de Jerusalém e com el o monopólio do cámbio de moeda e a trata de animais para sacrifícios. A religiom espelhava, pois, a luita de classes.

Nesta conjuntura adversa, dum povo abandonado – agás polos zelotas – polas suas classes dirigentes e assolagado pola miséria, as promessas bíblicas dum mesias avivavam-se e os “profetas” surgiam de corrido para manter viva a chama da esperança. Um destes foi Joám o Baptista, talvez mestre ou companheiro de formaçom de Jesus, embora logo se confrontárom por discrepáncias ideológicas.

Mas, no fundo, a mensage de Joám e a de Jesus som bastante equiparáveis. Os dous oponhem-se à Lei da Pureza que gabam os fariseus e saduceus (as classes dirigentes) e tentam restabelecer o contacto directo entre o indivíduo e deus, quer dizer, sem intermediários. No entanto, o baptista predica voltar à orige do judaísmo, enquanto Jesus proclama a ruptura radical: a revoluçom político-religiosa total. Eis um exemplo do pensamento de Joám (Lc 3, 10-14):

    « -.Quê é que temos que fazer? El contestou:

    -. O que tenha duas túnicas, que as reparta com o que nom tem e o que tenha de comer que faga o mesmo. Fôrom tamém a baptizar-se uns recaudadores, que lhe perguntárom:

    -. Mestre, quê é que temos que fazer? El contestou-lhes:

    -. Nom exijades mais de que tendes estabelecido. Uns guardas perguntárom-lhe:

    -. E nós, quê é que temos que fazer nós? El diz-lhes:

    -. Nom fagades dano ou mal a ninguém nom tiredes quartos ao povo; conformai-vos com o vosso salário».

Joám, como profeta apocalíptico pretendia que o povo judeu voltara ao deserto, ou seja, ao ponto de encontro com deus, onde os libertara da escravatura egípcia e lhes outorgara a descoberta da Terra prometida. O símbolo deste retorno som as augas do rio Jordan. No entanto esta volta as origes nom é do gosto dos que detectavam na altura o monopólio político-religioso: os saduceus e os fariseus nom duvidam em pactar para pôr fim a vida de Joám primeiro e a de Jesus despois. A destruiçom do clero era a anarquia.

A diferença fundamental entre o um e o outro é que Joám exige-lhe ao povo a volta as origes, a Lei Mosaica, e Jesus, simplesmente, predica o amor, a liberdade e a igualdade dos seres humanos e compartilha mesa e vida com os excluídos, contra os poderosos, coma os zelotes, mas sem o peso abafante da lei e a tradiçom:

«-. Nom necessitam de médico os sans, mas si os enfermos. Ide e apreendei o significado de “coraçom quero e nom sacrifícios” porque nom vinhem a convidar aos justos, apenas aos pecadores».


Os justos eram os que guardavam a lei por eles ditada, os pecadores todos os explorados do povo considerados impuros polo poder. Os fariseus e os saduceus nom aguardavam nengum mesias, os discípulos de Joám si, toda vez que o cumprimento da lei nom avonda para mudar o mundo em que o povo vive. Entom é necessário redescobrir a fé no home e, daquela, a fé na utopia e na revoluçom e essa descoberta legará-a Jesus aos seus discípulos até que estes voltem estabelecer o clero que Jesus tentara para suprimir por sempre, quer dizer, rematar como o poder (político e religioso) para alcançar umha Palestina livre e de mulheres e homes iguais. Independência e socialismo libertário desde umha óptica filosófica por isso mesmo revolucionária: sem escravatura, sem povos nem sujeitos oprimidos; sem patriarcado; sem recaudadores, publicanos e leprosos, ou seja, sem excluídos:

«Quem som a minha mai e os meus irmaos?» pergunta-se o nazareno. A força do home está por cima de todo rito ou culto e a família cristá é a família humana, sem vencelhos de sangue nem submissom1, baseada no amor, a igualdade e o perdom polo que os marginais e excluídos som, de certo, o centro da criaçom.


Santa Cruz de Viana, 9 de Fevereiro de 2010.

1Ficava em pé ainda a gens e os rescoldos do direito gentil. Vid. Engels: A orige da família, a propriedade privada e o estado.

3 comentários:

Nair disse...

Acho muito bom o texto, parabéns.

Xan disse...

Xesús foi un home do seu pobo, un nacionalista que loito contra os invasores romanos, era un socialista que propugnaba unha repartición xusta da riqueza. Expulso aos especuladores do mercado. Os romanos axusticiarono como o que era, un político, clavandoo nun madeiro en forma de crúz que era o habitual. Os fariseos e o poder establecido conviirtierono nun deus para trucar a verdader historia.
Una aperta

Paula Verao disse...

Á marxe da existencia ou non de Xesús coma personaxe histórica (unha tese de doutoramento titulada El puzle de Jesús, de EARL DOHERTY , dá argumentos para rexeitar a súa historicidade; estou pendente de lela), concordo con que as ideas que certo cristianismo primitivo - ou, deberamos dicir, cristianismos, ou grupos de xudeos afastados da ortodoxia - recolleu, enlazando con tradicións da India (existe a tese de que Xesús fuxiu á India, non?), Mesopotamia e Exipto, son liberadoras para o ser humano e se poden inserir na tradición, digamos, libertaria que o Anarquismo reivindica como útil, xa que, ao non ser dogmática, esta corrente política fai súa calquera aportación do pensamento da Humanidade que tenda cara a liberdade humana.
Mais, para min, o primeiro proto-socialista libertario, sería Epicuro, por aquelo que di de que a única ética que precisamos é ser libres, e que esa liberdade implica non cohartar a liberdade dos demais (resumo made in Paula), o rexeitamento dos deuses, o concepto de liberdade ligado á responsabilidade (os placeres producen dor). Non sei, quizais non exista data de inicio do pensamento libertario porque é algo inherente á Humanidade, en tanto que Humanidade mesma. Para min só hai dous camiños: tender cara a liberdade ou tender cara a tiranía; e só hai dos tipos de persoas, como di Erich Fromm: as constructivas e as destructivas. A partir de aí, todas as denominacións políticas que queiramos darnos son accesorias (non estou dicindo que non existan nin que non sexa útiles).
Alguén pode dicirse de esquerdas, pero ser destructivo e tender cara a tiranía, aínda que apele a un suposto estado de liberdade no futuro (como soa iso a relixión), mais, como di unha das mellores ensinanzas dese suposto carpinteiro galileo: polas obras os coñeceredes.
Coma sempre, unha boa reflexión, Antom.