Palavras novas e velhas

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Nacionalismo, constitucionalismo e outras misérias da celtibéria


Nom som poucos os todólogos, esses que opinam como espertos sobre qualquer tema nos mass média e nom entendem realmente de nada – para além do que lhe ditam os poderes fácticos aos que servem–, que declaram com veemência que eles nom som “nacionalistas” que som “constitucionalistas”. Certamente, algum alienígena talvez poda acreditar que um produto social, como é um texto político-jurídico, é feito por homes-bons adscritos à naçom do universo e da fraternidade, sem comenências nacionais nem de classe. Mulheres e homes nobres, esterilizadas e pasteurizadas capazes de elaborar umha “carta magna” sem responder ao interesse nem a ideologia de nengum país. Constitucionalistas, já. O resto somos parvos ou que? Constitucionalismo feito em 1975, quando havia pouco que a espichara o marrao de tromboflebite. Com o exército tutelando que se cumprira a derradeira vontade do tirano “que todo quede atado y bien atado”, como reflecte o artigo oitavo, tam do gosto de Manuel Fraga Iribarne:

ARTÍCULO 8.- 1.- Las Fuerzas Armadas, constituidas por el Ejército de Tierra, la Armada y el Ejército del Aire, tienen como misión garantizar la soberanía e independencia de España, defender su integridad territorial y el ordenamiento constitucional[1].

Poderia pensar-se que este artigo responde apenas a defesa perante um ataque exterior mas semelha claro que, coma no 36, o inimigo, o estrangeiro, o anti-espanhol, nom vem de fora senom de dentro, ou seja, que como dizia Aznar “no andan en montañas muy remotas, ni en desiertos muy lejanos”:

ARTÍCULO 1.- 1.- España se constituye en un Estado social y democrático de derecho, que propugna como valores superiores de su ordenamiento jurídico la libertad, la justicia, la igualdad y el pluralismo político. 2.- La soberanía nacional reside en el pueblo español, del que emanan los poderes del Estado. 3.- La forma política del Estado español es la monarquía parlamentaria.

ARTÍCULO 2.- La Constitución se fundamenta en la indisoluble unidad de la nación española, patria común e indivisible de todos los españoles, y reconoce y garantiza el derecho a la autonomía de las nacionalidades y regiones que la integran y la solidaridad entre todas ellas.

ARTÍCULO 3.- 1.- El castellano es la lengua oficial del Estado. Todos los españoles tienen el deber de conocerla y el derecho de usarla. 2.- Las demás lenguas españolas serán también oficiales en las respectivas Comunidades Autónomas de acuerdo con sus estatutos. 3.- La riqueza de las distintas modalidades lingüísticas de España es un patrimonio cultural que será objecto de especial respecto y protección.

Dariam muito de que falar estes artigos, por nom mentar já outros que se incumprem sistematicamente e que respondêrom a conflituosidade operária daqueles anos, começando polo “pluralismo político” que passa por ser bem pequeno nesta II Restauraçom bourbónica por mor dumha alternáncia PSOE-PP, agora com um acicate ideológico e criador de “sentido comum reaccionário” chamado UPyD e que representa a melhor versom do neo-falangismo canhi. Um “pluralismo político” que é bom sempre que encaixe dentro dos interesses da burguesia e do capital espanhóis, que aceita o autonomismo tépido e “sam” de CiU ou do PNV, mas nom o da esquerda arredista: a anti-espanha.

A anti-espanha que justifica umha caça de bruxas e um estado de excepçom permanente em Euskal Herria contra a esquerda abertxale e um regime de incomunicaçom e dispersom de presos políticos denunciado por diversos organismos internacionais. A anti-espanha que justificou preencher os caminhos da nossa naçom de cadáveres, cadáveres das mulheres e dos homes que sustentavam o daquela incipiente tecido social da Galiza. Entom, coma hoje, o tecido social e as luitas da classe operária eram molestas para os interesses e objectivos da burguesia e de grandes capas sociais. A maior eiva daquel tempo foi precisamente isso a castraçom da sociedade: a inoculaçom da auto-xenreira no povo galego, o esborralhamento da imaginaçom e da nossa cultura nacional.

Noutras palavras, fazer-nos acreditar aos galegos que Galiza, que a naçom galega, é umha elucubraçom de radicais visionários, ou seja, que só existe Galicia, apêndice de Espanha. Esta condiçom de apêndice é perfeitamente visível quando analisamos o que o discurso central afirma sobre a nossa História e a nossa língua, os piares mais visíveis de qualquer naçom.

Comecemos pola língua. Castelao, que morreu longe da Galiza escapando das gadoupas da morte, defendia no seu Sempre em Galiza que o galego era umha língua internacional. Porém com o franquismo o paradigma da lingüística moveu-se no espanholismo canhi e hiperideológico de Menéndez Pidal, que defendia que o castelhano e Castela som um destino no universal que se remonta aos povos pré-romanos, enquanto o catalám, o eúskara e o astur-llionês som acidentes ou anedotas de uso doméstico, como accidente foi a “ocupaçom” árabe que durou 700 anos no que eles chamam “reconquista”. Vaites, vaites. Daquela, o galego é umha língua distinta do português que apenas serve para “andar por casa” e que se começou a escrever fai dous dias, como se a Idade Média jamais tivera existido. Daquela, o máximo traço identitário da Galiza nom passa de ser algo específico, mas quase pitoresco ou regional, negando-se-nos poder formar parte dumha língua internacional.

A reconstruçom do galego fixo-se dentro do paradigma da universidade franquista, do centro madrileno desde logo, com um esquema ideológico onde o limite som as fronteiras do indivisível Estado espanhol e a historia oficial de Espanha, em resumo: umha “fala de andar por casa” e dependente do espanhol que deve, portanto, escrever-se com a ortografia nacional espanhola: com a “ñ” como máximo símbolo da dependência, insígnia do Instituto Cervantes.

Sigamos agora pola história. Semelha que a catedral mais grande do románico e um dos grandes centros de perigrinaçom da cristandade se estabeleceu na periferia, dependendo do reino de Asturies primeiro e logo de Castela. Qualquer pessoa que estude com um mínimo de rigor a história de qualquer território irradiador de cultura, poder económico e poder político sabe que esse território é centro e nom periferia, é soberano e nom dependente.

Polo visto todos esses reis que falavam galego passam a ser “leoneses”, “cristaos”, “asturianos”... eufemismos de “castelhanos” para entender-nos. O que nas crónicas europeias e árabes aparece como Galiza traduze-se na historiografia oficial como Reino de Leom ou de Asturies, o que nom vai além de fabricar mitologia espanholista. No entanto, esta historiografia espanholista ataca com veemência os mitos da naçom galega e da historiografia na hipócrita defesa de que “todos los nacionalismos son mito y literatura”. Aqui entra a “desceltizaçom”, premissa básica de qualquer faculdade de história da universidade espanhola na Galiza.

Enquanto se agocha que em Tolosa estivo a capital do Reino visigodo, para eles já Espanha, afirma-se que na Gallaecia romana só existiam os “castrejos”. Nom se trata aqui de cair no celtismo decimonónico de Murguia ou de Vicetto, apenas de afirmar que essa cultura diversa, mas com traços comuns a que em toda a Europa se denomina celta, na Galiza se denomina castreja porque Ibéria já era como Espanha “una grande y libre”. Pola contra, nom se duvida da homogeneidade dos “íberos” que coabitárom com fenícios, gregos, mas nom se misturárom e defende-se sem base científica algumha que esses povoadores chegárom de África e conformárom umha cultura única e comum. O certo é que, como demostram as cidades-estado de Tartessos e outros territórios nom existiu tal unidade, eram povos diversos com um fundo cultural comum – o mesmo fundo cultural comum que se lhe nega a Galiza a respeito do resto do Ocidente europeu.

Tenhamos claro que a história de Vicetto e Murguia era umha construçom de identidade, umha afirmaçom da naçom galega sem base científica, como tampouco o tinha a história do liberalismo decimonónico espanhol, essa que da existência dum “Principado de Asturies” fabricou um reino em que enquadrar a molesta Galiza, essa historiografia que segue a ser a mesma de hoje ainda que com diferentes manhas: umha história apologética ao serviço do estado-naçom. Daquela, esses historiadores que tanto atacam os mitos da história galega e afirmam ser científicos som logo os máximos exponentes da fabricaçom de mitos que conheço.

Desde a Constituiçom de 1812, a “Pepa”, começa a configurar-se, embora com imperfecçons, retardos e contestaçons desde a periferia, a revoluçom democrático-burguesa espanhola que exige, mal que bem, a conformaçom dum estado-naçom. O Estado converte-se entom num tecido de estradas e de vias férreas, de escolas e jornais, de telégrafos e outros muitos poderes fácticos que som fórmulas de expasom ideológica. Simultaneamente, começa a advogar-se com renovados fôlegos pola promoçom do espanhol, com a intençom de fazer prevalecer a língua nacional, na linha de criar um Estado que seja já nacional e nom apenas nacionalitário – se bem no caso espanhol isto ainda nom se atingiu no século XXI, envolvendo na pesada massa dumha identidade comum toda umha naçom que fecha em si própria classes sociais e contém eventuais minorias tidas por estrangeiras, entre elas os galegos que vindicamos os nossos direitos nacionais, entre estes o exercício da livre determinaçom.

Estas som as misérias da celtibéria, do nacionalismo espanhol agora denominado constitucionalismo. Porém conviria nom esquecer que a colonizaçom é apenas um aspecto da dominaçom que o centro exerce, ou seja, que ainda que a Galiza nom esteja hoje em dia sob umha colonizaçom clássica segue submetida a um centro externo, política, cultural e economicamente falando. De facto, em qualquer processo colonizador, a acumulaçom de capital nom tarda em tecer novas ligaçons propriamente imperialistas, de que a banca e as bolsas, os mestres e os jornalistas, o clero e a burocracia autóctone som os agentes, muito mais discretos que a polícia e os exércitos. O pior é que as misérias da Galiza som as mesmas porque grande parte dos seus povoadores odeiam a sua cultura e a dos seus devanceiros, ou seja, pola ausência dumha classe dirigente autóctone. Nom hai umha burguesia galega, apenas burgueses espanhóis (nados ou nom na Galiza) radicados aqui ou de passo:

Os senhoritos, esses pailáns acomplexados que coidam que Madrid é umha grande metrópole simplesmente porque som ignorantes e desconhecem o mundo, e que se viajam levam, como os burrinhos, as orelheiras madrilenas postas. E por debaixo dos senhoritos estám ainda os senhoritinhos, que som os seus servidores. Gente que nom som amos, mas que querem servir os amos, o seu sol, e desprezam os vizinhos do país, “esos gallegos”. Essa tropa é o chanço mais baixo da pailanada, a sua ignoráncia e a sua auto-xenreira cai já na caricatura, som a caricatura choqueira dos seus amos, que já som umha caricatura.

(...) Que pensar da inteligência, cultura, maneiras dum alcaide que logo de escuitar o Rei falar em galego, de escuitar o Presidente estrangeiro dum organismo internacional dizer palavras nossas com cortesia impecável, nada mais sabe dizer palavras castelhanas? Pode ser que tenha vergonha de ser alcaide de Vigo, tam só, e suspire secretamente por ser alcaide de Burgos, Segóvia, Madrid, Guadalajara, Ayacucho, Guanajuato, Ávila... Pode ser isso, que nom esteja orgulhoso de ser alcaide da maior cidade galega.

Ou bem na sua cabeça só tem lugar para um idioma, e esse idioma tem que ser concretamente de todos os idiomas do mundo o castelhano. Pobre se viaja a Lisboa, Brasília, Londres, Paris..., ali a pobre gente sabe mui pouco castelhano. Pobre, e como pedirá de comer num restaurante? Por gestos, claro[2].

A estes senhoritos e senhoritinhos de caldo à merenda já vo-los apresentei noutra ocasiom: som os analfabetos e os hanalfabetos e entre os dous somem a Galiza na desilusom e matam a esperança dumha sociedade verdadeiramente nacional e livre, o que exige umha Galiza formada, conhecedora do seu passado e capaz de tracejar o horizonte colectivo do seu porvir. Essa Galiza será umha Galiza plural, porque existem tantos nacionalismos como pessoas, será umha Galiza fachendosa do seu passado e do seu presente e, já que logo, será umha Galiza celtista e regeneracionista; ibérica e europeia; dos galegos e do mundo. Galiza, célula de universalidade. Pobres dos paifocos de siso afumado e vontade sumida no circuito esperpéntico e chocalheiro do madrilenismo, esses mais lhes vale emigrar com Glória Lago, Feijoo e a máfia de Pescanova à frente. Dixem.


Outeiro, Santa Cruz de Viana, XVI séculos despois da constituiçom do Reino Suevo.



[1] O sublinhado é nosso.

[2] De Toro, Suso (2008), Outra Galiza, Xerais, Vigo: 26-27.

3 comentários:

xOsse dorrío disse...

Logo de máis de 30 anos resulta ridículo, e ata ofensivo, dicir que esa constitución 'é a de todos' como fan estes analistos aos que te refires, cando a maioría dos que hoxe vivimos nunca a votamos [persoas comprendidas entre idades de 0 a 50 anos (32+18)] e dos que si tiveron a opción de facelo unha parte importante non votou e outra fixo en contra [persoas entre 50 e 200 anoa]

Rosalía Fernández Rial disse...

gústame a forza desta entrada, a magna forza da utopía...

E alégrame volver a comprobar que sempre me deixas pensando.

Unha aperta, bardo.

Xan disse...

Para simplificar os constitucionalistas, son os de España unha grande e libre. Viva Franco e agora ou mesmo Viva o rei. Como dicia Castelao son os mesmos cans pero con diferentes colares. "La Sacrosanta indivisible nación española"
Unha aperta