Palavras novas e velhas

segunda-feira, 28 de junho de 2010

O abábano

Na image, o que na Galiza se conhece como abelhom, abeouro e besouro. O abábano tem umha figura mais estilizada e é de maior tamanho. Enquanto o besouro semelha-se a umha abelha, o abábano é umha avéspora ou vespa gigante. Noutros lugares da lusofonia, no entanto, o termo besouro fai referência a variados escavaravelhos, desde o besouro brasileiro até cascudas, o escaravelho peloteiro ou, inclusive o que na Galiza denominamos como vaca-loura e que em espanhol se denomina ciervo volante.

*****

Já ficam poucas folhas para que esmoreça este caderno e topo-me aqui na aldeia sem saber muito que escrever nesta noite de domingo com um abábano zumbando na janela, atraído pola mesma luz que me permite a mim escrever. Abábanos. Tamém lhes chamam e nom devem confundir-se com os abesouros (besouro mais ao sul), mas pequenos e grossos, nem muito menos com a abelha macha, o zángao. Um insecto coleóptero, por vezes quase tam grande como o dedo maininho, que se deixa ver, principalmente, nos ácios de uvas maduras alá polo mês da vindima e nom nos chucha-meles como os seus coirmaos, os besouros.

Se o abábano chegara a esta luz decataria-se que nom é para tanto, mas como provavelmente nunca o faga a luz da lámpada será para o abábano fé, será esperança, será utopia. “A media luz” como aquel tango do Carlos Gardel. A luz da lámpada que empurra a milheiros de subsaarianos a vendê-lo todo, que bem pouco é infelizmente, e dixar a família para entregar-se à máfia, para afogar no mar ou para ficar sem nada perante umha vala em Ceutal ou Melilha, nesse muro da vergonha, coma todos os muros, até os valados das nossas fincas, que coidamos que sempre estivérom aí, mas que nos lembram o refinamento progressivo da propriedade privada a partir do antigo direito gentil e tribal de possessom. Oh a propriedade, essa génese de estórias de injustiça e barbárie na história!

O Ser Humano e a Terra. E talvez mesmo cómico que ande agora matinando nestas cosas quando onte destas horas andava choutando enchoupado em suor na apresentaçom do Castanhaço-rock, umha explosom cósmica do eco dumha palavra quiçais já morta: bravú no ocidente da Galiza, no nosso magulhado interior simplesmente bravio: o cheiro da carne sem castrar. Somos capazes sempre como espécie e como indivíduos do melhor e do pior, de criar monumentos mais perenes ca o bronze e até de autodestruir-nos em estériles confrontos entre estados... Oh o Estado essa caixa de ressonáncia da aristocracia romana e da bancocracia globalizada actual! E por isso mesmo, todavia, as mulheres e os homes somos maravilhosos, já que somos seres elegantemente imperfeitos. Perdoe senhora que nom me levante; cesse tudo o que a antiga musa canta que outro poder mais grande se alevanta!

Manhá colherei as malas e voltarei a minha pétrea capital a iniciar o último curso da licenciatura. Nota-se que me gorenta aquilo. Vive-se bem para que enganar-se. Se podemos somos nugalhaos, até Heracles de quem se contam os doze trabalhos, mas nom os anos que logo descansaria entre ninfas e odres de vinho. Oh os guerreiros! Nom som esses homes que vam armados com uniformes e que venhem em grilheiras levando por diante a velhos, mulheres e crianças. Esses som os inconscientes, os mercenários, os que caminham com as grelhas da escravatura e a servidume sem saberem que as levam postas.. Os guerreiros som as pessoas que se organizam, que agem no médio social em que vivem e que tratam de melhorá-lo, porque tenhem fé e acreditam no Ser Humano como algo maravilhoso. Os que o fam toda umha vida, esses som os revolucionários, que luitam contra as ratas pola utopia dia-a-dia, com a inocência da vontade imprópria dos idosos e dos safados. Os guerreiros som os bons e generosos que ainda sabem o significado de palavras tam viciadas como democracia ou liberdade. Os guerreiros som filhos do povo trabalhador e vam aonde o povo trabalhador os leve, sem soldada, sem que ninguém os compreenda, porque nom é pobre o que decide mesmo ser pobre. A fé no home, a esperança na humanidade e no futuro, a utopia da igualdade e a liberade... a luz da lámpada.

2 comentários:

Anónimo disse...

A fé no home novo, essa é a fé nossa e pode que umha entre muitas. Pode que o final abussemos da fé e esqueçamos como o Nietzsche nos quijo fazer ver que a verdadeira fé está na vida dia a dia como bem ti dis aquim na experiencia e na superaçom das nossas debilidades para convertermonos em superhomes ( O que Nietzsche queria dizer com superhome e nom o que lhe apugerom.)

Caro Garcia, nas nossas sociedades a juventude de hoje somos os ababános buscando a luz da bombilha, adorando-a. Perdidos na inmesidade dum mar que perdeu a calma e no que semelha impossível regressar a Itaca, coma se a terra enteira se afundira e nom queda-se máis que vagar a deriva eternamente. E difícil hoje colhermos o temom mas nom devemos temer faze-lo. É duro colhe-lo mas há que arrimar-se.

Umha aperta!

Xan disse...

Non sei si ainda cabe un acto de fé no home. Estos días outros traballadores pedían como Esperanza Aguirre medidas contra os conductores do metro de Madrid.....
Unha aperta