Fai hoje um ano que colhia a caneta tamém para escrever, com esta mágoa e saudade que sempre me percorre, esta vontade de nom ser ninguém para seguir sendo eu próprio. Entre “Pálpitos Partilhados” entom, entre latejos partilhados ainda hoje.
Agora olho para o meu corpo nu por ver se topo algo daquel tempo, mas o tempo nom deixa na pele mais senhas que as da idade. O que eu procurava devia estar no coraçom... «abaixo e a esquerda», mas o coraçom só é um músculo, vital, mas apenas isso. Estaria zangado comigo mesmo? O cérebro, a memória, «sinais de fogo» e a lumieira de Sam Joám ardendo enquanto as músicas da orquestra penetram no meu quarto. Espido, despindo-me com palavras polos tempos idos, som saudades ou é que apenas se trata de recordos já quase caducos?
Pobre de mim, poeta sem fortuna e «os homes se despedem», despedem-se com um riso todas as «Señoras do pasado» e olho à lua coma o Cibrám de A Esmorga na procura de dó e libertaçom. Latejos partilhados em beijos dos que perdim o rasto e o perfume. Procuro despir-me em silêncio, que ninguém ouça a minha dor, enfeitando-a com palavras próprias e alheias. E a covardia fecha as portas que os beijos e os alouminhos tantas vezes abriram, o medo a partilhar com os demais esse sentimento que «nom é alegria esta dor que me consome». Acuso aos poetas covardes por inventar mundos e fugir do nosso, acuso-me quando me surpreendo riscando versos em papéis, eu que nunca fum poeta e jamais quigem sê-lo; eu que nunca quigem ser Eu, «pai, afasta de mim este cálice».
Pai afasta de mim este cálice
Saudade das cacharelas / e as Senhoras do passado
purificadoras de Sam Joám, / olham a umha lua que está
abaixo e à esquerda / despindo-se em silêncio
Sinais de fogo / os homes se despedem
exaustos e tranqüilos / destas cinzas frias
e olhando para os beijos / nom é alegria nem dor
esta dor que me consome: / covardia, poesia e eu?
Esse comboio de corda ao que chamam coraçom!
6 comentários:
As lumieiras purificadoras sempre foran para min o verdadeiro alumbramento do ano, o dia por que guiarse pra decir cando un ciclo remata e outra empeza.
Unha entrada verdadeiramente fermosa.
ben escrito
Texto interessante... Isso é Galego Português, não é?
Desculpe a minha ignorância e a minha vontade de aprender...
Beijo
Si, esta é a língua que compartilhamos toda a lusofonia e que nasceu na Idade Média na Galiza e que vocês levárom "por mares nunca navegados". Culturalmente somos irmaos, e nós desde a Galiza seguimos dizendo como o Pessoa "esse combio de corda ao que chamam coraçom".
Umha aperta (abraço) irmandinha
Si é galego-português, é sua língua só que com mui pequenas variaçons, como as que pode haver entre o português de Portugal e o do Brasil. Recomendo-che este artigo:
http://www.adigal.org.ar/brasilfala.htm
Todo está abajo e a esquerda.
Este verám prepara-te para plantar-lhe lume os curutos e crer na libertá dos sonhos irmao.
Umha aperta!
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