Palavras novas e velhas

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Destruir o templo para sair da incubadora II

Fago umha descriçom suscinta da teoria da incubadora, que agora nom tenho tempo para desenvolver mais polo miúdo, mas que tampouco é algo fechado e está aberta a quem lhe veja algo de sentido e nom pense simplesmente que é necessário ingressar-me nalgum manicómio. Vou fazer umha tentativa do elógio da loucura como o Erasmo.

Recentemente fixo-se famosa a última amostra do narcisismo com o que o ultraliberalismo fabrica umha anti-sociedade: um formato na rede em que a pessoa vai rotando cada poucos minutos de contertúlio arredor do globo. É a fabricaçom do supereu, o narcisismo extremo. Perde-se de vista a condiçom de associado e passa-se a ficar sem consciecia para viver na inconsciência dumha autarquia egoista em que o indivíduo se sente desligado do resto dos seus semelhantes, quando está dentro dumha incubadora que o mantém vivo, mas completamente passivo e escravo. Lembrades-vos daquela seqüência de Matrix onde as pessoas ficavam numhas cápsulas de por vida enquanto tiravam deles a energia e sonhavam umha maravilhosa vida em Matrix? Essa é umha boa metáfora da incubadora. Esse é o debujo de Nós "só sonham quando dormem".

O filósofo esloveno Slovaj Zizek fala do tamagochi como objecto interpassivo. Interactuar com o meio nom sendo um consumidor passivo simplesmente mas actuando através doutro actor, com o que se creia a ficçom de interactividade quando em verdade o sujeito fica sentado e passivo limitando-se a observar o jogo. Entronca isto com a desinformaçom por sobreinformaçom do pós-modernismo, a passividade por hiperactividade. O tamagochi é um ritual obsessivo e baleiro(ou o cara-livro mesmo) em que assumimos gestos de lamento para nom experimentar a verdadeira dor. Por outras palavras o indivíduo supera falsamente o antagonismo de nom ser um sócio livre na anti-sociedade pós-modernista situando-se falsamente por cima dos demais, dessassociando-se ingenuamente no seu supereu remata por ficar passivamente subaleterno. Escraviza-se.

Neste sentido, o tamgochi, o cara-livro ou qualquer um dos fetiches, sendo o pós-modernismo a incubadora-fetiche por excelência do ego conduzem a umha terrível e trágica conseqüência de que Zizej adverte com extrema lucidez no livro Em defesa da intoleráncia: Deus é o tamgochi definitivo fabricado polo nosso incosciente e que nos bombardeia com exigências inexoráveis anulando o nosso eu para fabricar umha image falsa dum próprio em relaçom com a sociedade. Eis o nostoi tragicocómico em que voltamos a caverna de Platom.

A incubadora pós-modernista, o fetiche, permite-nos fazer da interpassividade algo mecánico para superar a nossa necessidade de amar ao prójimo que é inerente à natureza social do ser humano:

"o que a ética tradicional tinha como a expressom mais alta da humanidade dumha pessoa - a necessidade compassiva de preocupar-se polo prójimo - fica reduzida a umha indecente e idiosincrásica [idiotisincrásica diria eu] patologia que deve resolver-se na esfera privada [a politizaçom do familiar, e a familiarizaçom do público em que as coordenadas que dá Loic Wacqant som a cúspide do icebergue sendo o estado a família superior, o líquido amiótico da incubadora passando do cidadao ao súbdito], sem molestar aos semelhantes aos coetáneos.
(...)
A característica distintiva da interpassividade refire-se, nom a umha situaçom na que um outro me substitui, fai algo no meu lugar, mas à situaçom oposta, em que estou permanentemente activo e alimento a minha actividade coma passividade do outro.
(...)
O ámbito das relaçons capitalistas de mercado constitui a 'outra cena' da suposta repolitizaçom da sociedade civil defendida polos partidários das 'políticas identitárias' e de outras formas pós-modernas de politizaçom: todo esse discurso sobre essas novas formas da política que surgem por toda a parte encol questons particulares (...) toda essa incesante activdade das identidadess fluídas, oscilantes, das múltiplas coaligaçons ad hoc em continua reelaboraçom, etc., todo isso tem algo de produndamente inauténtico e remete-nos para, em definitiva, o neurótico obsessivo que ou bem fala sem cesar ou bem está em permanete actividade, precisamente com o propósito de segurar-se de que algo - o que importa de verdade [o consenso ultraliberal, o pensamento único, o capitalismo mesmo] nom seja molestado e siga imutável. O principal problema da actual pós-política, em definitiva, é que é fundamentalmente interpassiva".

Pode-se estar ou nom de acordo, mas dá para pensar e muito, sobre um próprio em primeiro lugar e pola anti-sociedade pós-moderna logo. Um outro apontamento que ficará para melhor ocasiom: a maioria do que hoje se chama ciência fundamenta-se sobre esse machacom apoliticismo e pós-política e, portanto, antisocial.

Entom, podemos dizer que fundamentalmente a ciência actual vem ocupar o oco da religiom, é ciência religiosa e nom ciência republicana, ateia, libertária. Se a base sobre a que se ergue o edifício cognitivo dumha hipótese é falsa a hipótese mesma fica automaticamente refutada. Se a sócio-lingüística defende a despolitizaçom da língua, a sócio-lingüísitica óbvia a condiçom social, o inatismo que propugnou Chomsky, da linguage e, daquela, essa sócio-lingüística e falsa e dificilmente as suas diagnoses podem ser acertadas nem aplicáveis sem criar disfunçons insalváveis (a própria ideia de língua como a de naçom som construtos sociais como sublinha verazmente Moreno Cabrera). Assume-se o pós-modernismo em todos os campos, a assume-se o pensamento único e remata-se por fazer da ciência em geral, e das ciências socias em particular, simples dogma religioso. Hai que acreditar na fim da história porque assi no-lo dixo Fukuyama. Diredes-me que Fukuyama foi superado e refutado. Mas ú-la história feita desde o socialismo científico na actualidade? e a lingüística? Ou o marxismo e demais propostas do socialismo científico nom som um instrumento útil para fazer ciência (como dim que nom é a psicanálise mas logo usam-na nos EUA de corrido) ou o "consenso" nunca é nem por acaso nem na sua concepçom inocente... Destruir o templo para sair da incubadora... a tarefa é gigantesca, mas como dizia Castelao nesta obra hai sítio para todas e todos. Nom lhe ponhades chatas até que esteja rematada.

5 comentários:

AFP disse...

Para umha outra visom, em minha opiniom complementar e nom antagónica, recomendo com veemência este artigo intitulado "Suxeito post-post" de David Rodrigues:

http://ofunambulistacoxo.blogspot.com/2010/03/post-post.html

Katanga-Koruña disse...

Moitísims grazas por entrar no noso espazo katangueiro. Ademais, vexo que temos amizades comúns....Verémonos na próxima Rolda de REBELDÍA, espero. Saúdos katangueiros!!!!

Xan disse...

Unha teoria moi interesante(á da incubadora) e unha profundización con aportacions lucidas das motivacions, das causas, e das consecuencias do pensamento uneco.
Unha aperta

Anónimo disse...

Umha boa reflexom Garcia, mas acho que tes que melhorar o final da mesma porque nele resume-se muitas coussas que tenhem mal resumo xD
A sociedade actual segue o caminho histórico marcado polo capiltalismo quando nos seus albores foi chamado liberalismo: um caminho no que baixo o pretexto da liberdade individual se cercena a liberdade dos sujeitos em si mesma, porque o famoso pacto social nom é tal...

Boa aportaçom, tes que desenvolve-la máis!

O rumor do vento disse...

Hola, Antón, son Diego.

Non sei qué pasa no blog do desmembro. Non atopo o lugar para postear os poemas.

Por favor, faino ti por min, ¿vale?. Postea o último poema.

Obrigado.