Palavras novas e velhas

domingo, 16 de maio de 2010

Língua, economia e paradigma







Na dialéctica entre a res pública e o privi legium, onde o segundo é hegemónico hogano, insire-se o novo decreto do galego e a nova estrategia da glotofaxia da caverna celtibérica. Os mesmos que clamam contra a politizaçom da língua subvertem e denunciam umha "ditadura lingüística" subvertem o carácter social univóco da linguage argüindo que nom existem direitos colectivos, mas apenas o privi legium. Politizam a língua e ainda se atrevem a dilucidar que devem decidir os pais individualmente a educaçom colectiva e pública dos seus filhos.

Que decidam os pais e que decidam bem. O carácter público da educaçom deve ficar supeditado à vontade privada dos pais ou, melhor dito, de grupos de poder glotofáxicos como o Clube financeiro de Vigo ou Galicia bilingüe. Na retórica ultraliberal parte-se dumha interesada confusom: os ataques contra a liberdade só venhem por parte do Estado - do imperium - e nunca no seio da vida social, quer dizer, das relaçons de poder que se dam na sociedade - o dominium. Porém, a pouco que a realidade seja analisada esta afirmaçom olhamos de contado que é falsa. O ultraliberalismo procura adelgaçar o estado - o imperium - precisamente para permitir que as relaçons de poder que se estabelecem entre particulares beneficiem particularmente sempre aos mesmos: os patronos, os banqueiros, os espanholistas da caverna celtibérica e o seu direito sagrado à ignoráncia.

A vida social inclui no seu interior assimetrias de poder que nutrem relaçons de dependência que estám na base do domínio dos uns sobre os outros. Estas existem em qualquer espaço geográfico e em qualquer tempo histórico (materialismo histórico-geográfico), por muito que a ontologia social que emprega o liberalismo negue que no mundo exista dominium, estabelecendo um dogma insustentável do ponto de vista científico, mas que se acha instalado no horizonte de expectativas de grande parte da sociedade galega, porque a hegemonia, em termos gramscianos, é deles e nom dos que procuramos um outro mundo possível. Como é possível sem o dominium explicar que enquanto um banqueiro bebe champanha de 3000€, centos de pessoas durmam sem teito? E como é possível com um imperium supeditado ao, teoricamente, dominium inexistente garantir o direito consitucional a um teito?

A ditadura do dominium dumha minoria impom-se a todo o corpo social, toda vez que o imperium se reduze simplesmente a favorecer as comenências das forças globais de mercado e a uniformizaçom e autocolonizaçom global. Precisamente esta primacia do dominium, do privado e privativo, nom tem conduzido à obtençom de mais liberdade, mas, a contrário, por toda a parte conduziu para estabelecer mais pobreza material, cultural, etc.

A negativa a reconhecer direitos colectivos e simplesmente fazer fincapé nos direitos individuais -algo claríssimo nas línguas- vai na única direcçom de favorecer as línguas fortes, as multinacionais, e esfarelar por canibalismo lingüístico a 90% das línguas que hoje existem no planeta. Neste sentido, a esquerda mundial e o altermundismo deveriam para já pôr acarom do ecologismo o ecolingüismo que autores como David Crystal levam tempo e tempo defendendo. Claro que isto é para o pensamento global. No local, os actores mais conscientes devemos ir ao que Henri Boyer denominava o nacionalismo lingüístico, mas nom deve confundir-se isto com retóricas maximalistas que trunquem o desenvolvimento de estratégias comunicativas que permitam reverter a situaçom actual da língua, pois, mal que bem, seguirá pertencendo ao sistema Occidental só se incorpora a um bom número de neofalantes e mantém os falantes que hoje tem.

O galego tem que ser desde já um direito é um dever pois todo cidadao da Galiza deve poder desfrutar dum produto social histórico gerado colectivamente como povo e, portanto, inalienável desde supostas "libertades individuales" que som associais. Porém é preciso fazê-lo com inteligência para poder incorporar ao máximo número de sujeitos, desde abaixo operando em redes abertas (nom fechadas) e densas (nom disperas e anónimas) em que a língua se associe com outros valores positivos desenvolvidos por esses colectivos que actuam a prol da língua.


A prédica canibal do bilingüismo equilibrado nasce da lógica do livre mercado ultraliberal aplicado às línguas: umha língua A e outra língua B competem em desigualdade de condiçons num mercado sem aranceis nem proteccionismos e os oprimidos devemos aguardar a que a mao invisível do mercado o regule todo. Claro que esta ideologia perversa do nacionalismo lingüístico espanhol, que tam luzidamente denunciou Moreno Cabrera por certo, comporta-se bem diferente quando é o inglês o que ataca os territórios do império em muletas em Porto Rico. O o chauvinismo espanholista mais ranço e retrógrado disfarçado de constitucionalismo está em voga.

Desta volta o verniz para que traguemos o anzol de algo infumável é o inglês, a "liberdade", o "consenso" e sabe deus que mais. Em aras dum cosmopaifoquismo requintado e exangue. propom-se o etnocídio planificado sobre umha cultura. Nom devêrom ler aquilo de Joám Vicente Biqueira: “A pessoa cosmopolita é aquela que nada humano lhe é alheio, nom aquel que até a sua terra lhe é estranha”.

A economia e a mudança de paradigma da Lingüística Política galega

No entanto, na Galiza podemos optar por explorar umha vantage comparativa com respeito ao català, o astur-llionês, o aragonês ou o basco. Nós nom estamos sós como já advertira Murguia, Castelao, Biqueira, Vilar Ponte ou Ricardo Carvalho Calero - ao que este dia o estudantado organizado na Assembleia de filologia lhe dedica a homenage no centenário do seu natalício que a RAG lhe negou por certo- e contamos com materiais de todo tipo na segunda língua romance com mais falantes: o galego-português.

A estrategia do isolacionismo operou desde os oitenta com um resultado claro e palpável: a desgaleguizaçom contínua e constante da sociedade. É claro que o modelo de normalizaçom lingüística, dominado pola desorientaçom e a impostura em grande parte, nom funcionou e na ciência quando a experiência nega com feitos o método empregado abre-se um período em se lançam e adoptam novas hipóteses e estratégias. Na ciência religiosa de academias e demais templos da língua dependentes do Estado espanhol directa ou indirectamente nom se muda nada, só se perfuma bem a morte do idioma para que a mómia nom apodreça. Por nom falar da galopante dialectalizaçom da língua.

O argumento numérico para as línguas é umha vertente mais da "utilidade", do argumento económico tam do agrado do imperialismo. Nom gosto del e ataco-o, ainda sendo comum dentro do regeneracionismo. Ora bem, dentro das cidades e entre os segmentos mais desgaleguizados a interesse polos galego pode vir desde os mesmos argumentos que nom o fam hoje atractivo: milhons de falantes, possibilidades laborais... Os mesmo que hoje ponhem no curriculum nível de português alto por saberem português som os que se resistem a reconhecer o evidente: que , como dizia o Carvalho, "o galego ou é galego-português ou é galego-castelhano nom há outra opçom. Ou somos umha variante do sistema central ou somos umha variante do sistema ocidental".

Dizia-o o brasileiro Júlio César Barreto Rocha com claridade mais recentemente: "O Brasil fala a língua galega", e o Brasil é umha potência emergente e um mundo de possibilidades económicas e lingüísticas para a Galiza. Enquanto a Junta lhe paga a Microsoft por traduzir para o galego o Windows já que nom hai mercado, num inútil dispéndio, o Brasil pola sua imensidade conta com todo o software em galego. Que é que compensa mais? Nom é melhor centrar a normalizaçom e os seus investimentos em garantir umha educaçom para os galego - falantes que lhes permita sair da escola com segurança lingüística em galego-português e vivendo numha esfera cultural própria e nom alheia? É melhor o modelo dos 50, 70, 25 para todos que nem garante que os que falam galego o falem bem, nem consegue que os que falem castelhano dominem tam sequer minimamente o galego oral? É tempo de mudar o paradigma, é tempo de reflexom.

A Estremadura espanhola implementou em todos os liceus o português e Andaluzia acaba de dar esse mesmo passo. Na Galiza por questons evidentemente políticas tanto estranhos como acomodados negam-se a optar pola que seja quiçais a única via de futuro. Comecemos implantando o português em todos os liceus da Galiza e as televisons portuguesas e ainda brasileiras por todo o território. Recebamos imprensa, livros e filmes na variante extensa da nossa língua. Sejamos galegos, nom parvos.

Muitos empresários galegos começam a ver o galego como ferramenta útil nom tanto com Portugal, mas sobretodo com o Brasil. Empresários castelhano falantes, mas nom som poucas as empresas que estám escolhendo a galegos para operar nestes territórios... cada vez a via a seguir é mais clara. Manoel Santos indicava-o com claridade e dureza:

"Na miña opinión non temos reflexionado dabondo sobre este papel central da economía no galego. Falo, claro, do modelo capitalista, e especialmente o neoliberal, por canto a exterminada economía tradicional familiar e autónoma -disque a dos pailáns- si tiña o galego como idioma vehicular.

E moito menos temos desenvolvido unha estratexia seria e acaída para inserir, ou forzar a inserción, da lingua na economía do país, nas súas empresas, nos seus comercios, nos seus números.

E lastimosamente somos unha sociedade máis de números que de persoas que falan linguas. Ou cambiamos a economía, o modelo, ou mudamos, como tristemente xa estamos a facer, de lingua. Mais as dúas cousas non parecen compatíbeis".

A economia e o modelo, o decrescimento, nom é ainda para manhá, mas a assunçom do galego como sistema ou variante do diassistema luso-brasileiro-africano-timorense pode ser para hoje mesmo.

A ortografia poderia manter-se durante um período mais ou menos dilatado e que a sociedade informada e formada decidira e nom os filólogos que tanto mal lhe temos feito ao idioma. Se as normas nom conseguirem ser aceitadas unanimemente, pode até se dar o caso de que podam emergir várias tentativas de codificaçom, como é o caso da Noruega, estado lingüisticamente coabitado polas variedades estándares nynorsk e bokmal após idependizar-se de Dinamarca e as duas som de obrigada aprendizage nas escolas (se bem é a segunda a que mais se emprega em registos cultos). Ora bem, os inimigos da língua e os que se negam a conhecê-la e empregá-la seriam na Galiza os primeiros em atacar esta duplicidade de normativas. Como indicava Goretti Sanmartín Rei a propósito da última modificaçom normativa :

"En que medida a posibilidade de recuperarmos certos trazos xenuínos e de estabelecermos con clareza como principios básicos o achegamento ao portugués influíu no cambio de rumbo a respecto da lingua da posición dunha parte relevante da dereita galega, e non só? (...) Como se están a utilizar preconceptos intrínsicos sobre as linguas para elaborar argumentos contrarios ao emprego do galego?

(...)o galego, e só o galego, é cualificado de artificial e antinatural e en que a defensa da dialectalización da lingua dominada se dá por feita ao se situar sempre no ámbito privado e ao reducir os seus usos permitidos ao rexistro da coloquialidade" (1).

Semelha que os de fora tenhem-no mais claro do que os de dentro. Sem umha burguesia nem umhas instituiçons que prestigiem o idioma só pode caminhar-se para o etnocídio desde um isolamento contra natura. É mais, que tenhem em comum as falas de Estremadura, o galego da Galiza e as zonas espanholas fronteiriças onde os velhos ainda falam português? O documentário Entre Línguas é bastante revelador ao respeito. O comum no sotaque, nos castelansmos, a gheada, etc. indica-nos que o que separa o galego e o português nom é lingüístico - nunca o foi - é político e, em definitiva, tem nomes e apelidos: o Reino da Espanha.

CodaNegrito

Toda lingüística é sóciolingüística, em tanto em quanto, a língua é um produto natural das sociedades e até se identificárom recentemente os genes da fala entre os Neendertais no que parece reforçar o argumento chomskiano. No entanto, desde o estruturalismo a (sócio)lingüística xebrou a língua da sociedade produzindo-se um curioso efeito: um artefacto abstracto e analisável de costas a sua existência, como quando os Chicago boys faziam dogma económica adaptando a realidade económica as suas teorizaçons. O social da língua nom pode xebrar-se nunca do estudo da gramática. A fonética do bairros periféricos das cidades nom é a mesma do que dos seus núcelos e assi seguido.

Aguardemos que este seja o século que lhe dê umha labaçada a um século de idiotizaçom e fragmentaçom artificial das ciências sociais no seu conjunto e tamém da lingüística e a filologia. Ainda mais, para diferenciar a lingüística propriamente dita, a (sócio)lingüística, da rama que se centra nas políticas lingüísticas, análises sociais, etc. (o que hoje se entende por sócio-lingüística) deveriamos empregar o termo Lingüística Política, assi como existe umha economia política, umha história política, ou umha filosofia política (hoje negadas com invençons como as Ciências Políticas xebradas delas).

Os que procuram a morte dos direitos colectivos e dos povos, som os mesmos profetas estafadores da fim da história e da fim da política. A (re)politizaçom da sociedade, o confronto público - privado e o controlo do dominium recuperando o estado para a cidadania som os alvos da esquerda republicana, altermundista e libertária do século XXI, como o fôrom no XIX. Vale.




(1) Goretti Sanmartín Rei (2009) "(Re)Lexitimando a seguranza lingüística. Sobre a necesidade de afianzarmos un modelo culto para o galego" em Sobre o racismo lingüístico, Laiovento: Compostela p. 130

1 comentário:

Raquel disse...

Olá!
Aceito com muito gosto. Manda-me o convite para as poesias. raqueljrbh@hotmail.com

um abraço