Palavras novas e velhas

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Pós-política e pokereconomia

1.1.- Pós-política pós-industrial e pós-modernista ou a negaçom da acumulaçom por desposesom realmente existente

O Prémio Príncipe de Asturies de Comunicaçom e Humanidades acaba de falhar-se em favor de Alain Touraine e de Zygmunt Bauman, exponentes dumha sociologia crítica que resiste a intrumentalizaçom da universidade e do conhecimento por parte do ultraliberalismo.

Segundo Bauman «a única resposta possível é o surgimento dum espaço político igualmente global» que entendemos que deveria surgir desde as posturas altermundialistas. Bauman, como Tourine, criticam com força a forte crise do sistema ultraliberal. Bauman é o autor do sucedido conceito de «modernidade líquida» que vem a dizer que a nossa época é a instabilidade, a da precaridade e a do destruiçom dos laços sociais como expom nas suas obras, por exemplo Vida de consumo (Paidós, 2007) ou Mundo consumo (Paidós, 2010)[1].

Esta destruiçom dos laços sociais permitem a nova vaga de enclousers sobre o público e a hegemonia da contrarreforma ultraliberal, de noraboa trás atingir todos os seus alvos ainda despois de ter-se encetado umha crise sistémica. Precisamente já Naomi Klein em The shock doutrine alertava para este modo operar e como as crises som o motor de novas privatizaçons e ataques contra os direitos da cidadania.

Alain Tourine pola sua banda incidia na necessidade de «impulsar um novo movimento social cidadao» face a globalizaçom económica e a fragmentaçom / hipnotizaçom da sociedade através dum narcisismo compulsivo que desarma a sociedade civil perante as forças de governança global. Tourine tem chamado a atençom para a sociedade pós-industrial e em L'après socialisme chegava a afirmar no seu começo «o socialismo finou». Quanto à era pós-industrial ou ao pós-fordismo devemos inseri-lo nessa mareia de pós-Polt enfermiços, cujo máximo exponente na superestrutura é o pós-modernismo e que tem o máximo eco na pós-história de Fukuyama e na pós-política, ou a «parapolítica» de que Žižej fala, que tanto sucesso tivo nas mentes dos cidadaos do centro.

De facto, as etiquetas centro e periferia, o materialismo histórico – geográfico de que David Harvey torna-se fulcral para refutar este pós-fordismo, sem esquecer a perspectiva da longue durée da escola do sistema – mundo iniciada por Immanuel Wallerstein (nom é por acaso a crise da UE umha manifestaçom nom apenas da financiarizaçom da economia mas tamém umha amostra das rivalidades no centro capitalista?). A etapa atual, portanto, nom é a das sociedades pós-industrias, mas devemos por contra notar umha deslocaçom dos centros industriais desde o centro para o Leste asiático, ou seja, que na etapa atual o capitalismo mostra a mesma flexibilidade do que noutras etapas já que é umha característica intrínseca do sistema capitalista. Por seu lado, Alex Callinicos, para além da sua crítica demolidora do pós-modernismo em Contra o pós-modernismo (traduçom para o galego em Laiovento), tem igualmente assinalado como nas continuidades estruturais entre a fase fordista e a pós-fordista.

Precisamente para entender que é o que se passa atualmente, no tocante a hegemonia do capital-financeiro através das instituiçons de governança global (FMI, BM, BCE, etc.) hai que ter muito em conta dous elementos cruciais. O primeiro o regime dólar-Wall Street (RDWS) que salientava Peter Gowan, e que com tanta fortuna explicou Beiras em mais dum artigo por certo, que permite a hegemonia do dólar e dos agentes financeiros ianques e ingleses. O segundo o indicado por Giovanni Arrighi, tamém da escola o sistema – mundo, a financiarizaçom é recorrente na economia capitalista e acontece precisamente quando os processos de acumulaçom do capital produtivo se enfrontam a umha situaçom de rendimentos decrescentes já que nessa tesitura o capital nom topa saída no ámbito produtivo.

Tocante a isto último, Marx falava do estádio superior do fetichismo, onde «umha parte do benefício (...) despega-se completamente da relaçom capitalista em tanto que tal, e parece derivar-se nom da exploraçom do trabalho assalariado, mas do trabalho do próprio capitalista. (...) Se, primitivamente, o capital desenvolvia, na superfície da circulaçom, o papel fetiche capitalista, de valor criador de valor [D-P-M-D], reaparece aqui, sob a forma de capital portador de interesse, a sua forma mais alienada e mais característica». Isto conduze, portanto, a um desequilíbrio lógico, tal e como assinala Marx no livro III de Das Kapital. Quanto a teoria dos rendimentos decrescentes está igualmente em Marx que no livro IIII enuncia a «lei da baixa tendencial da taxa de ganho». Na alínea treze sobre a «natureza da lei» sintetiza que os três feitos principais da produçom capitalista som a concentraçom de capitais em poucas maos, a organizaçom do trabalho social e a sua divisom como trabalho cooperativo, e a constituiçom conseqüente do mercado mundial.

A taxa de ganho é a relaçom da mais-valia divida pola suma do capital constante e do capital constante e do capital variável. Quanto mais se acumula o trabalho morto [c] mais afectado se vê o trabalho vivo [v], quer dizer, mais inça a «composiçom orgánica» o capital [c/v], e mais tende a descer a taxa de ganho [pl/(c+v)] com o que obtemos umha equaçom da baixa tendencial da taxa de ganho: [pl/cv = pl/v / c/v+1].

As análises do socialismo científico mostram-se mais umha vez obstinadamente acertadas, máxime quando a Terceira via vem de sofrer um fracasso sem paliativos, que lho perguntem a Zapatero ou Gordon Brown e aos demais apologistas do «centro radical». A pós-política e as suas violências som cada vez mais evidentes a tal ponto que Noam Chomsky nom duvida em comparar a situaçom dos EUA actuais com os últimos anos da República de Weimar. A continuaçom veremos para o Estado espanhol algumhas chaves que reafirmam a (re)emergência dumha ultradireitizaçom global, com o agravante engadido de que a correlaçom de forças é hoje muito mais fraca no que atinge à parte das forças da esquerda, com umha esquerda social-democrata ou pós-estalinista maioritária perante o altermundismo e a esquerda libertária.

Onde é, portanto, que morreu o socialismo? Será no cada menos Brave New World ocidental de 1984.

1.2.- Pokereconomia em Eurolandia

O Carlos Taibo e muitos outros autores de esquerda tenhem reparado em que é difícil ser de esquerdas e espanhol. E tanto diria eu, aí está José Blanco, representante dessa “social-democracia” da Terceira Via já sem carauta, afirmando sem rubor que «la derecha española ha vuelto a dar una lección de antipatriotismo muy semejante a la que dio en su momento cuando no respaldó el ingreso en la OTAN». Nom viria mal voltar a ler aquel livro do Joan Garcés Soberanos y intervenidos.

Um PSOE em carreira frenética por envolver-se na bandeira do espanholismo e a recentralizaçom do estado. Agora é boa época para subalternar a luita de classes ao nacionalismo como no primeiro terço do XX, como acontece por toda a parte nesta Europa em descomposiçom cujo fedor é a cada hora mais insuportável. Aliás, é um momento imensurável no pátrio Reino da Espanha já em 28 de Maio de 1785 Carlos III adotou a «rojigualda» por Real Decreto. Tamém agora por decreto Zapatero garante os lucros do capital – financeiro passando por cima dos direitos daqueles cidadaos que o elegêrom “democraticamente” para governar. A democracia de votar e calar desta II Restauraçom bourbónica em crise institucional, jurídica, ética e económica.

A substituiçom do maurismo e do governo de concentraçom “nacional” torna-se agora no artelhamento dum partido-visagra que lave a faciana do regime UPyD, grande impulsor da direitizaçom do pessoal com a conivência do binómio político – mediático. Eis as palavras de Rosa Díez de Vivar demandando do Zapatero, após a aprovaçom do “tessouraço”, que devolva «a los españoles la autonomia de decidir quién queremos que gobierne y, sobre todo, cómo queremos que nos gobiernen (...). Por patriotismo y por autonomía política, convoque elecciones».

No entanto, o campiom das essências pátrias é o incorruptível Paquinho Camps que fai com a senyera um traje: «Usted se ha acogido as Código Penal. Yo me cojo a la Senyera y a mis conciudadanos para seguir trabajando por el futuro de esta tierra». Quê é que diria o Fuster deste “animal político” – no sentido aristotélico of course? A bandeira por direito que regula as relaçons dos cidadaos, o nacionalismo como dogma e ópio das luita de classes.

Todos somos espanhóis dim-nos, mas cada vez é mais claro que uns mais do que outros. A caverna celtibérica ruge com apestosa força. Em La Razón falavam de “La esperanza de España”.Em ABC o editorial contava-nos que as eleiçons antecipadas som «una necesidad nacional (...) Pedir ahora elecciones generales anticipadas no es antipatriota ni oportunista». Quanto aos “todólogos” do espanholismo consenso ultraliberal e fascistoide total. Isabel San Sebastián em El Mundo punha-se em disjuntivas anti-luxebunguescas: «o refundamos la Nación o nos hundimos con ella». Paso a España!!!

Pola sua parte, o ministro de Economia do IV Reich – euro declarava que «é de celebrar que o Estado espanhol se decidira por medidas duras de aforro» e Ángel Gurría, secretário geral da OCDE, engadia que «lo que ha hecho España en las últimas semanas prueba que hay voluntad política».

Em Itália, Sílvio Berlusconi aprovou um outro “tessouraço” de 24.000 milhons de euros em dous anos que inclui, como nom, a congelaçom de ordenados dos funcionários, restriçons nas jubilaçons e um recorte duro para os governos regionais. No Reino Unido o governo de David Cameron já começou bem, gerando a «confiança dos mercados» a pesar de que isso destruirá o tímido crescimento de três décimas do PIB británico. O executivo aprovou um recorte de 6.700 milhons euros no gasto, que se cargam na conta dos funcionários e das administraçons locais e governos regionais. A originalidade dos economistas e “todólogos” da UE nunca deixará de surpreender-nos. Na França, Sarkozy, entre revista e revista do coraçom, recortará 100.000 milhons de euros. François Fillon reduzirá entre 2011 e 2013 (dous anos!!!) 10% do gasto social útil e da financiaçom local e congelará os gastos de funcionamento do Estado. As moscas mudam, só a merda é que nom varia.

Esta emergência global da xenofobia e o fascismo tem em Hungria um capítulo de seu. O governo da direita liberal de Viktor Orban vem de aprovar no parlamento umha lei que concede a cidadania a 3'5 milhons de húngaros que vivem em Austria, Croácia, Eslováquia, Eslovénia, Romania e Ucraína. A medida nom ajuda demasiado para a sua política exterior mais serve para tirar eleitoralmente partido dum nacionalismo cada vez mais fascistoide. Na Hungria o Jobbik conta com 17% dos votos e esta medida tenta captar votos desse caladoiro da ultradireita. A medida ajudará ao HZDS e ao SNS, a direita fascista de Eslováquia, que explora a xenofobia contra os húngaros (que som 10% da populaçom) com umha campanha que reza assi: «Para que nom tenhamos que alimentar os que nom querem trabalhar». Umha pantasma, a de Goebbels, percorre Europa.

Os bancos e os especuladores podem respirar tranqüilos. A Führer Merkel garantirá o cobro da dívida grega a custa da sua economia e a sua populaçom. Já no-lo advertiram: “Grécia está por toda a parte”. O papel dos estados analisava-o bastante claramente José González Casanova num artigo “Policias y ladrones” que aparecia no jornal do Reino da Espanha Público (28-5-2010):

«El gobernante que ose mover las columnas del templo mercantil hará caer sobre él su derrumbe y se suicidará. Lo menos que debe hacer ese gobernante es reconocer su impotencia frente a las mafias porque ha dejado de ser policia. (...)

La crisis ha sido promovida por los que aspiran a esas reformas (“impopulares” es un eufemismo de “antipopulares” que han de permitir un robo global aún más cuantioso. En su cinismo fingen que les duele una situación provocada por ellos (Aznar, su Ley del Suelo, la burbuja inmobiliaria y la corrupción consiguiente.

(...) La izquierda crítica sugiere que “pague quien contamina”, que se reforme de raíz el sistema fiscal, que se suprima la banca privada y las bolsas, que se obligue a los empresarios a reinvertir en sus empresas, que se rebajen por ley los sueldos de los ejutivos privados, etc. ¡Pero eso sería el socialismo! En realidade, no tanto: sólo una pequeña aproximación, basada en un mínimo de justicia que permita dejar claro quién have de policia y quién de ladrón»[2].

Garantir apenas o básico: que o estado exerça o seu imperium perante as relaçons assimétricas de dominium que operam entre os axantes que opeam no marco das suas fronteiras. As cousas de mais sentido comum postas como diria o Galeano patas arriba. Com razom Domènech, Nadal, Búster e Raventós indicavam com precisom de cirurgiao que o recorte de “Zapatero maos tesouras” consistia numha «hierarquizaçom as conseqüências da crise “para abaixo”, tanto em termos sociais como de centro – periferia geopólitica»[3]. Precisamente este artigo intitulado “La UE y Zapatero se superan, o cuando los locos son los lazarillos de los ciegos” é fundamental para entermos onde é que está o farol dos pokereconomistas de Eurolándia.

Nom fai muito tempo aparecêrom dous artigos de Michael R. Krätke intitulados “Eurolandia converte-se em coto de caça”[4] e “Arde Eurolándia”[5]. É esta Eurolandia onde «os culpáveis nom som os bancos freneticamente entregados à especulaçom: som os gastadores Estados sociais de corte europeu! A image ultraliberal do mundo volve quadrar». Talvez como o fidalgo aquel do conto de Outeiro Pedraio que abria as vilhas dos pipos para que o seu filho risse? A dilapidaçom da casa comum sem benefício, ainda com agrávios, para as maiorias sociais. Os estados como garantes da liquidez dos bancos, os novos conversores de dívida externa em dívida eterna, os políticos como reféns das forças de governança global que nom passam polas urnas da espantosa democracia formal burguesa.

As forças de governança global como o FMI pedem a bancarizaçom das caixas e o despedimento livre na lógica ilógica dumha suposta reativaçom económica. Os partidos dinásticos da II Restauraçom bourbónica em crise respondem apelando ao “patriotismo español” para acochar detrás dum trapo a depauperaçom dos seus súbditos – consumidores. O de sempre. O capital – financeiro joga à pokereconomia sempre com o mesmo farol que o binómio político – mediático se encarrega de fazer digerível para a sociedade. E lembro-me daquel velho cartaz em que Lenine varria desde a URSS o mundo... contra a pokereconomia a sociedade civil galega tem que volver ao seu jogo tradicional: a escova.



[1] Para umha análise mais demorada do conceito de modernidade líquida veja-se http://letras-uruguay.espaciolatino.com/aaa/herrera_jeanie/modernidad_liquida.htm

[2] http://www.blogs.público.es/dominiopublico

[3] “La UE y Zapatero se superan, o cuando los locos son los lazarillos de los ciegos”, disponível em http://www.sinpermiso.info

2 comentários:

Anónimo disse...

Un pouco longo pero desde logo acertada reflexión.Aquí achéganse algúns datos que inciden no que expós no artigo: http://www.resistir.info/crise/whitney_21mai10.html#asterisco

Xan disse...

Comparto as túas reflexións que son interesantes como sempre.
Unha aperta