Palavras novas e velhas

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Os movimentos sociais e a esquerda anticapitalista no contexto da crise do neoliberalismo capitalista


25-4-09

Adro

No aniversário da Revoluçom dos Cravos é um bom momento para analisar e calibrar a situaçom da esquerda a nível mundial e na Galiza. A presente reflexom nasce das anotaçons tomadas durante a palestra intitulada, se mal nom lembro, «Movimentos sociais perante a crise neoliberal» organizado por AGIR e que contou com a presença do professor da faculdade de História Bermejo, com umha representante da Marcha Mundial das Mulheres e mais com um membro da formaçom da esquerda soberanista Nós Unidade Popular.

1.1.- Umha crise anunciada, umha coarctada para avançar na depauperaçom das classes trabalhadoras do primeiro mundo

«Os pés de Yang Huanyi foram atrofiados na infáncia. Aos golpes caminhou a sua vida. Finou no outono do ano 2004, quando rondava o século de vida.

Era a derradeira conhecedora do Nushu, a linguage secreta das mulheres chinesas.

Este código feminino vinha de tempos antigos. Expulsas do idioma masculino, que elas nom podiam escrever, fundárom o seu próprio idioma, clandestino, proibido aos homes. Nascidas para ser analfabetas, inventárom o seu próprio alfabeto, feito de signos que simulavam ser adornos e eram indecifráveis para os olhos dos seus amos.

As mulheres debuxavam as suas palavras em roupas e abanos. As maos que as bordavam nom eram livres. Os signos si», Eduardo Galeano.

Quando após a II Guerra Mundial se consolida a estrutura mundial em blocos Europa fica entre os dous mundos: o primeiro capitalista e o segundo socialista, cada um sob a bota dum imperialismo, ora o usamericano, ora o russo baixo a camuflage dumha federaçom de repúblicas socialistas.

Durante a ocupaçom nazi as forças reaccionárias dos países ocupados tinham-se situado a prol do fascismo, enquanto os comunistas morriam a centos na resistência. Este facto conduziu a que os PC tivessem um grande apoio entre a populaçom. Aginha o bloco Ocidental se esmerou em conjurar o «perigo comunista» e Churchil foi o primeiro em falar dum telom de aceiro, metáfora comenenciuda, que conduziu à Guerra Fria (Cold War) e a conflitos de «baixa intensidade» em Grécia, Coreia, Vietname, Camboia, Nicarágua, etc. preferindo-se um Trujillo a um «Castro» em palavras de Kenendy[1].

Por todo isto, a existência da URSS e o peso específico dos PC em Europa, os estados europeus apostárom polo welfare state (estado do bem-estar) que permitisse a «pax social» e evitasse a expansom do comunismo, ou seja, que o modelo usamericano nom se pudo aplicar simultaneamente a um outro lado do Atlántico para evitar a quebra do bloco capitalista se toda Europa passava a órbita soviética. Incluso durante a crise do petróleo na década de setenta do passado século a Europa capitalista seguiu advogando polo estado do bem-estar, ao tempo que no Chile de Pinochet se aplicava a primeira grande experiência do neoliberalismo capitalista.

Porém, a partir da quebra em 1990 do bloco soviético e do passo dum capitalismo sem capitalistas a um capitalismo concentrado na antiga burocracia – avivando os nacionalismo para impor governos de Direita e debilitando a força da Federaçom Russa-, o centro do Império tivo maos livres para exportar com garantias o seu modelo a Europa[2]. A actual «crise», em certo modo um invento da grande banca e o capital, já veremos porque, arrincou muito antes.

Nos noventa os ordenados começam a descer e as garantias laborais precarizam-se ao tempo ao tempo que se privatizavam as empresas estatais, o que justifica – no caso espanhol- como umha medida para sanear as contas públicas e assi acadar o deficit cero e entrar em zona euro. As reformas educativas sucedem-se e as humanidades sofrem um contínuo menoscabo à vez que os média se concentram em cada vez menos maos.

Países coma Alemanha sofrem brutais reconversons industriais – desenhadas na anarquia do livre mercado que favorece ao grande capital e à concentraçom do mesmo- e a pequena e mediana indústria liquida-se favorecendo umha concentraçom de capital similar a que sucede em todas as crises (1929, crise do petróleo, etc.). O paro inça-se e milheiros de polacos entram no país e embora o governo de Helmut Kölh os combatesse oficialmente (Polónia ainda nom era da UE) realmente essa mao de obra desesperada contribuía para baixar os ordenados a níveis ínfimos e rematar com os postos de trabalho estáveis e impor um novo modelo onde a precaridade e a incertidume laboral foram normas.

Agora bem, a banca e o grande capital paliárom a descida do nível aquisitivo da classe obreira – evitando umha brutal quebra da demanda- mediante as prestaçons sociais de desemprego – cobridas com os impostos dos trabalhadores-, os contrato-lixo legislados polos governos e, sobretodo, com a galinha dos ovos de ouro: as hipotecas.

O fenómeno das hipotecas nom vai além de provocar que o banco crie dinheiro da nada e que logo o receba do ordenado dos trabalhadores. Qualquer economista minimamente lúcido, incluso os defensores do neoliberalismo capitalista, sabiam da deflagraçom social que isto provocaria, mas como o grande capital controla as democracias de votar e calar sabia qual seria a reacçom dos estados. E qual foi a reacçom dos estados? Pois inventar o plusvalor do plusvalor, o que eles chamam «socializaçom das perdas», ou seja, que a classe trabalhadora sustém com os seus impostos as perdas da banca.

Porém a jogada magistral nom fica aí. Este roubo leva aparelhado que a dívida pública medre até níveis preocupantes, engaiolando aos estados no cárcere da dívida pública, quer dizer, que o seu carcereiro será o mesmo que agora «resgatam». Deste jeito, a banca e o grande capital afundarám no controlo dos governos, debilitarám as condiçons laborais, privatizarám a sanidade e a educaçom[3] e, o melhor de todo, a sociedade demandará-o após as pertinentes mensages alienadoras dos média. Melhor impossível, até um começa a admirar tam grandes arquitectos do verdadeiro Matrix que encobre o governo na sombra.

Todo isto no maravilhoso primeiro mundo, onde Bolonha supom proletarizar aos universitários e apagar a última leira que poda rachar a monolítica mensage do capitalismo vendida com carautas de diferentes cores. Permitam-me falar de leiras ainda que a muitos da Esquerda, incluso da nacionalista, nom lhes goste o minifundismo num curioso pánico a umha massa de pequenos proprietários que até os noventa viviam das suas exploraçons ordenando o território e conservando a cultura entre outras cousas, mas aqui preferimos a terra-tenentes numha curiosa aberraçom de análise de sectores da nossa esquerda.

Daquela, assistimos à vorágine e ao caos. Foi Iñaki Gil de San Vicente o que reformulava aquilo de «socialismo ou barbárie» para «socialismo ou caos» e a maior concentraçom do capital mais nos aproximamos a um único governo mundial na sombra que esquilme e explore à humanidade e aos seus recursos. Bem é sabido que as catástrofes afectam mais ao mundo pobre ou que no Catrina de Nova Orleans finárom pobres e excluídos nom executivos. Assi pois a fronteira Norte-Sul desdebuxa-se cada vez mais para deixar ver com toda claridade o conflito de classes e o abismo, cada vez mais grande, entre o clube dos privilegiados e o dos trabalhadores. O supostamente novo keynessianismo ou o novo New Dehal – que tam só aplicou em parte as receitas de Keiness- nom tem nada a ver com as fórmulas implantadas após a quinta-feira preta de 1929[4]. Aqui nom se «resgata» nada, pois o capital de AIG ou General Motors tem tentáculos em outras muitas empresas que nom quebrarám. Em minha opiniom, é outro xeque-pastor à desinformada sociedade Ocidental, que nada fai tampouco em muitos casos por informar-se por ser um esforço incómodo, o definitivo assalto aos estados que enquanto recortam em gasto social inçam o orçamento militar e dos corpos repressivos para garantir a «orde», ou seja, a ditadura da burguesia auto-denominada «democracia».

Daquela, a actual crise bem pode ser a enésima estratégia do Imperialismo para a concentraçom de capital-dinheiro em cada vez menos maos, um novo catecismo para justificar fusons e monopólios, recortes das condiçons de vida da maioria da humanidade (aos que ainda lhes resta algo por recortar)... A esquerda europeia acredita em que o sistema está fraco e isto é umha asneira de crianças. Um sistema com milheiros de cérebros e arquitectos com todos os meios aos seus favor provoca estas situaçons para retroalimentar-se e para apresentar-se oma o melhor dos sistemas umha vez superada a crise numha espiral continuada de ciclos económicos depressivos, cada vez mais curtos como froito de que 90% da economia mundial seja fumo afastado da economia produtiva real[5].

1.2.- A classe obreira europeia e usamericana como garante do sistema mundial

Para além do dito e como Chomsky aponta já em 1986 a classe operária Ocidental financia aos ricaços do terceiro mundo e, daquela, as suas tiranias, pois apenas deste jeito é possível manter o ritmo do espólio mundial das multinacionais do Império. Este é o verdadeiro motivo polo que Chávez, Fidel Castro Ruíz, Evo Morales ou Correa som inimigos number one do sistema que ensalma a «democratas» como Álvaro Uribe e fai heroínas tam cativeiras como a Ingrid Bentancourt, mas nom me vou passar nom vaia ser que me apliquem algumha sançom por incumprir aquela advertência de Mariano José de Larra e que cito de memória (perdoe-se-me o atrevimento e se mudo algum vocábulo):

«Em España hai libertad de expresión. Mientras se duerme».

Assi pois, o suposto sistema em crise apenas se lhe nota outros sintomas que a blindage do seu sistema imunitário, nom o seu debilitamento, mas oculta-o num verniz que a espiral de ignoráncia que imponhem os meios de incomunicaçom anovada dia-a-dia. A banca e os média som duas caras da mesma moeda[6], instigando aos governos a apoiar à empresa privada:

«Som “privadas” estas empresas no senso de que as ganáncias som privadas ao tempo que a poboación debe pagar os custes de investigación, desenvolvimento, protección dos mercados de exportación e aceso ás materias primas, un nível de produción (xeralmente de armamentos) dabondo para dar umha marxe para as empresas em períodos de declínio económico, etc. Este sistema de subsídios públicos obrigatórios controlados polo Estado é o que se chama “Libre empresa” segundo as formulacións ideolóxicas de Ocidente»[7].

No tocante ao que denantes apontamos para a classe obreira europeia como garante da «orde» mundial, Chomsky é igual de talhante (e brilhante):

«A sonada débeda latinoamericana, agora tema de importante preocupación internacional, é aproximadamente comparábel en proporción as reservas de capital estranxeiro dos super-ricos de América Latina.De novo vemos unha das realidades da axuda estranxeira: é un medio polo que os pobres das sociedades ricas pagan aos ricos das sociedades pobres polos servizos que estes lles prestan aos ricos das sociedades ricas (p.111).

(...) a imaxe propagandística que fora coidadosamente construída polo sistema ideolóxico de Estados Unidos [fala de Nicaragua]. (...) Foi preciso respostar [aos sandinistas] como sempre: co terrorismo internacional, o embargo, presións sobre as institucións e aliados intenacionais para que eles non presten axuda, unha enorme campaña de propaganda e desinformación, manobras militares e vóos ameazantes (113).

Os asesores do presidente [Ronal Reagan] podian ter completa confianza de que os média no ian descubrir o fraude e que seguian a cumprir a sua función nun momento crítico, como asi fixeron, o que representou outra testemuña magnífica das glórias da Prensa Libre (116)»[8].

No meio deste binómio político-mediático situam-se pseudo-economistas (mercenários conscientes ou inconscientes do sistema) que fam análises económicas de pré-escolar na casa e nom podem (nom querem mais bem) oferecer soluçons à quebra do sistema porque suporia reconhecer a necessidade dumha alternativa. Os média, a manipulaçom da linguage que tam bem denúncia Vicente Romano (“danos coletarais”, “crescimento negativo”, “emprendedores”) som a universidade do grande capital, o novo «ópio do povo».

1.3.- A Galiza na UE do livre mercado. Etnocídio e perspectivas. A esquerda na encruzilhada

«Ditosos os pobres porque deles será o reino dos céus», Jesus de Nazareth.

No estado espanhol a crise tem-se visto reforçada por um modelo económico que foi traçado no franquismo e que nengum governo mudou no franquismo sem Franco da II Restauraçom bourbónica. Ainda mais, como assinalou o professor Bermejo, o «milagre económico» de Rodrigo Rato na etapa Aznar nom passou de esquilmar o pouco que ficava do sector público e mais por profundar no turismo de sol e praia e na construçom. A curto prazo a construçom fixo possível o crescimento do emprego em mui diversos sectores e permitiu, ao nom pôr-lhe cotas à especulaçom, amassar grandes fortunas ao tempo que a classe operária era enganada pola publicidade para impulsá-los a endividar-se com os bancos. Essa é a grande política económica do esanholismo mais ranço e cavernário.

Pola sua banda, a representante da Marcha Mundial das Mulheres apontava que o paro operário feminino cresceu nos últimos tempos exponencialmente ao deterioro da situaçom económica, muito mais grande se consideramos o alto número das mulheres titulares ou co-titulares de exploraçons de gado vacum já que os maridos trabalham numha segunda actividade (para além das empregadas na extracçom no mar). Ao tempo a UE, ao serviço do mercado e dos seus beneficiários, advoga polo etnocídio e a queima dos sectores produtivos em conivência com o Estado espanhol. Se desaparece o sector agrário o impacto meio ambiental será gravíssimo, ao tempo que a Galiza rural e galego-falante finará e a mocidade será, mais umha vez, puxada a emigrar e servir de mao de obra barata para o Estado espanhol, ao que Fidel Castro denominou recentemente como «imperio en muletas». De novo caminhamos para um claro regime de colónia onde Galiza forneça apenas matérias primas e mao de obra ao capital parasitário espanhol. Este é o destino da periferia dentro da periferia da UE.

A problemática do etnocídio do nosso agro arrinca em 1986 com Felipe González e segue hogano com ainda maior intensidade. O dumping produze a quebra de numerosas exploraçom e atira-se ou regala-se o leite galego enquanto se merca no estrangeiro os excedentes, nom deve primar a soberania alimentar? Para o capital, que nom entende de ética e escrúpulos, resulta evidente que nom.

Por outra banda, o sindicalismo topa-se apodrecido e cooptado polos estados e as formaçons políticas do sistema. Contodo, a UE advoga por debilitá-lo ainda mais, dinamitando a jornada laboral de 8 horas ao negociar as 65 horas semanais com os chefes, ou seja, em condiçons mui desfavoráveis e puxados polo deterioro da situaçom económica da classe operária, que cada vez deverá fazer mais horas por menos quartos.

A contínua precarizaçom do emprego e a proletarizaçom das classes meias é umha oportunidade para a esquerda, mas tamém para os totalitarismos, nomeadamente o de corte fascista. A meio-longo prazo a olhada dos arquitectos do neoliberalismo capitalista passa polo modelo chinês, com mao de obra barata quando nom escrava. Pessoas que apenas vivam para trabalhar e consumir enquanto o terceiro mundo conta cada vez com mais excluídos por causa do proteccionismo do centro do Império (que tanto combatem os EUA, o FMI e o Banco Mundial em governos do terceiro mundo).

Neste terrível panorama é previsível que as mulheres e as crianças recebam a pior parte. Agora já se enxerga a proletarizaçom do estudantado e denantes da chegada do Plano Bolonha já som 300.000 os licenciados desempregados no Estado espanhol. Nota-se igualmente nos ordanados das fêmeas, muito inferiores aos dos varons. No terceiro mundo mulheres e crianças vendem até a vida, quando é o último do que o capitalismo pode tirar proveito, através da economia submergida que o grande capital controla nas suas múltiplas ramificaçons.

No tocante à mercantilizaçom do ensino podemos cotejar o impacto de Bolonha na análise do que acontece nos países com modelos de educaçom neoliberal onde a proletarizaçom do estudantado e os docentes é cada vez mais preocupante, mentres o centro do Império importa investigadores de terceiros países, como a Índia, para poupar em ordenados[9]. Para mostra de tam grave situaçom três títulos apontados polo professor Bermejo durante o bate-papo: A universidade em ruínas, A fogueira das humanidades, Os professores vam-se acabar.

Nom som bons tempos para a poesia, nem som alentadoras as perspectivas. Para a cultura da Galiza, maná da existência da naçom, ainda som piores. Numha sociedade cada vez mais ao mercê dos meios de incomunicaçom som escassas as possibilidades para a língua e, neste sentido nom é por acaso a reactivaçom dos ataques ao galego por parte do espanholismo mais furibundo (La voz de Galicia, Galicia bilingüe ou o filólogo das silveiras Andrês Freire ao serviço de Tan gallego como el gallego, as FAES e Libertad Digital).

Assi pois, ao tempo que a Direita e o neofascismo avançam, ora directamente, ora atra´ves da social-democracia que executa as suas directrizes, a Esquerda, a verdadeira Esquerda, fica coma o Fogar de Breogám dormindo. A comoçom da caída do muro de Berlim ainda nom foi superada e os FSM ainda estám numha fase de reorganizaçom embrionária no amplo abano do altermundismo e com as diversas facçons (anarquismo, socialismo, esquerda capitalista, comunismo, etc.) longe dumha tradiçom de diálogo, retroalimentaçom e apoio. Isto é igualmente notável no estudantado galego.

Dificilmente no meio da crise a esquerda poderá avançar, para o que é fundamental achegar umha linguage desalheada ao povo, ou, polo menos, avançar o suficiente para deter a um sistema que se reforçará umha vez ponha ponto e final à farsa da crise da banca. Emílio Botín seguirá fazendo-se de ouro. A crise é para os cidadaos que perderám o seu fogar e nem assi, em muitos casos, tomarám consciência do seu lugar na luita de classes.

Permita-se-me, pois, e para rematar, mostrar-me céptico com a possibilidade de reagir a esquerda e permita-se-me advertir que o sistema sairá reforçado. Isto nom implica que nom devamos recrudescer a luita, advogando pola auto-organizaçom e a pedagogia social por cima dos partidos políticos que apenas devem ser um meio ou vozeiro dos movimentos sociais, verdadeiro pulso dumha sociedade que pretenda ser democrática e desalheada. Neste sentido a missom do independentismo e encabeçar este processo e apor à demagogia e ao espanholismo, liberdade e socialismo. Nós Sós!

Coda

Para rematar quigera compartilhar com vós umha anedota que conhecim através de Jesus Alonso Montero, numha palestra departida no Telecentro de Chantada e organizada polo Ateneo Republicano de Galicia[10].

Nela contava o professor de literatura, que advertiu do precário futuro do galego hai décadas[11], umha anedota que lhe aconteceu ao socialista e galeguista Rafael Dieste, quando participava das missons pedagógicas da II República.

Rafael Dieste chegou a um lugar da Estremadura espanhola em que trabalhava como inspectora Carmen Muñoz Manzano, a que logo seria a sua costela, pois desde aquel dia dixo que ficara com a boca aberta[12]. O lugar em questom era mui pobre. O analfabetismo e a fame davam-se a mao e a gente viu coma senhoritos a aqueles universitários que lhes vinham falar de cultura, quando o único que aguardavam eram umhas senhoras que ensinassem as pernas por baixo dos joelhos.

Os presentes começárom a esbardalhar e fazer caso omisso dos oradores de Madrid. Nessas Rafael Dieste, grande filho da Galiza, ergue-se e toma a palavra:

- Nosotros hemos venido a aprender de ustedes.

Fixo-se o silêncio. Aquelas gentes, com as maos desfeitas polo trabalho, o estômago achicado pola fame e o cérebro sumido pola ignoráncia e o alienante teatro de cabareteiras, nunca foram tidas em conta pola Espanha oficial, mui afastada deles, ficárom emudecidos perante aquelas palavras.

- Digo que hemos venido a aprender de ustedes. Nosotros sabemos de literatura, es cierto, y la literatura es importante, pero de poco valdría sin ustedes que nos sustentan. Nosotros los pasos para hacer el pan los desconocemos, máxime con el arte que ustedes lo hacen. Nosotros somos unos ignorantes en el cultivo del trigo.

Essas missons pedagógicas som o que hoje se deve recuperar, adaptado aos novos tempos, desde os movimentos sociais para sementar um novo espírito crítico e erguer a consciência revolucionária. Hai que voltar ao SAPERE AUDERE da Ilustraçom. Nós Sós!


[1] Noam Chomsky (1993), Sobre o poder e a ideoloxia, Laiovento, Compostela, pp. 79-121. Trujillo foi um sanguinário ditador sustentado polos EUA.

[2] Carlos Taibo (2008), Fendas abertas. Seis ensaios sobre a cuestión nacional, Xerais, Vigo, pp. 147-177.

[3] A conselheira de Sanidade, Pilar Farjas, já advertiu que recorrerá à privada com o pretexto de recortar as listas de espera, nom é possível por acaso atingir isso fazendo mais hospitais públicos e contratando mais médicos? Pola sua banda o governo do nacionalismo central adverte que as pagas (pensons de jubilaçom) devem reduzir-se se baixa o «nível de vida» e, daquela, nom sobe o IPC.

[4] A crise de 1929 parece que foi claramente provocada por banqueiros coma Roquefeller (vejam-se s documentais Zeitgeist ou O dinheiro é dívida). No New Dehal de Rossevelt algo tivo a ver tamém o triunfo em 1917 dim regime socialista no antigo império dos tzares que tentava aplicar a filosofia de Engels e Karl Marx.

[5] Muitas destas questons já as tocou Lénine fai quase um século, em 1917, no seu magnífico livro O Imperialismo, fase superior do capitalismo.

[6] Se bem nom tivem ocasiom de lê-lo, por um artigo sobre el, é recomendável o livro de Eric Toussant Banco Mundial: el golpe de estado permanente (El Viejo Topo, 2006).

[7] Noam Chomsky (1993), Sobre o poder e a ideoloxia, Laiovento, Compostela, p. 144. O autor cita como exemplo os custes de investigaçom dos computadores através do departamento de Defesa dos EUA durante os oitenta.

[8] Op. cit.

[9] A mercantilizaçom do ensino dentro da lógica do livre mercado e o seu impacto na Galiza já foi objecto doutra reflexom publicada neste mesmo blogue sob o título «A língua da Galiza perante o repto dumha educaçom privada e centralizada: as dimensons soterradas de Bolonha como panca do neoliberalismo capitalista e do nacionalismo espanhol».

[10] Como independentista nom me erguim ao sonar o Hino del Riego, mas a presença da bandeira espanhola republicana nom deve impedir o diálogo e as alianças pontuais com a esquerda espanhola mais consciente

[11] Guilherme Rojo, com umha grande contribuiçom ao eido da gramática, criticava daquela a postura alarmista de Alonso Montero. Hoje é membro da RAE e justifica entradas ofensivas para gallego no DRAE já que se empregam acotío. Tamém se di que os madrilenos som chulos e nom se indica no DRAE.

[12] Seria umha figura feminina mui importante no galeguismo do primeiro terço do século XX. Quando Dieste marcha para o frente de Aragom ela toma a direcçom da revista Nova Galiza, a mesma que recolhe o texto de As tres pragas (militarismo, clericalismo e fascismo) de Castelao.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

A língua da Galiza perante o repto dumha educaçom privada e centralizada: as dimensons soterradas de Bolonha como panca do neoliberalismo capitalista

Antom Fente Parada, Assembleia de Estudantes de Filologia

Intróito

As perguntas sobre a iminente entrada em vigor do Plano Bolonha crescem, enquanto o estudantado vive na sua imensa maioria de costas ao mesmo e sem nem sequer enxergar as suas conseqüências a curto e meio prazo. Nesta breve palestra tentaremos expor ao longo de quatro pontos que é Bolonha em linhas gerais, mas soterradas polos meia, para podermos compreender o verdadeiro alcance do Plano e assi poder determinar o futuro que se pode beliscar para o galego, que, em todo caso se presume preto ou mui preto.

I.- Bolonha como fase superior do actual estádio educativo

Ainda a risco de cair numha excessiva simplificaçom podemos afirmar que na história da educaçom, quando menos na Ocidental -a do centro do sistema Imperialista-, se distinguem três fases bem claras com distintos impactos tanto a nível colectivo, na correlaçom ente opressores e oprimidos, como a nível individual, na incidência sobre a própria concepçom do mundo de cadaquém.

A primeira destas fases retrotrai-se à Pré-História e a Antigüidade onde os sacerdotes, ora chamados assi, ora coma druidas ou com qualquer outro nome, que detentavam o saber e a transmissom do mesmo exercendo, aliás, em muitos casos nom apenas como guardiáns do dogma religioso, mas tamém como possuidores dos saberes curativos e por ende medicinais. Tratava-se de castas fechadas onde era difícil entrar e de fazê-lo requeria uns ritos iniciáticos e uns compromissos de por vida como, por exemplo, no críptico culto de Baco; equiparáveis, tomando a licença de transpor até hoje essas realidades, aos votos do dogma católico. Lembremos como os druidas, segundo expom Júlio César em A guerra das Gálias, abominavam da escrita e confiavam na memória, como mecanismo para evitar que qualquer pessoa externa ao seu rito pudesse acceder aos sacros saberes, os mesmos que os dotavam dumha posiçom de pré-eminência nas sociedades em que se inseriam.

A continuaçom, e com a mudança radical que supom o triunfo da revoluçom burguesa na França de 1789, surdem os estado-naçom e com eles o nacionalismo tal e como o conhecemos hoje, ao menos no tocante aos nacionalismos estatais e centrípetos, nom aplicável do mesmo jeito para os centrífugos, todo hai que dizê-lo. Os estado-naçom substituim a legitimidade divina do poder por umha suposta vontade democrática e universal que se traduze, no entanto, numha democracia censitária onde apenas os grandes capitais decidem realmente o governo e as medidas proteccionistas que este devia tomar para favorecer os seus interesses, mas pessoais do que «nacionais» como eles defendiam (o individual sobre o colectivo, coma nas línguas). Assi as cousas nom está demais indicar que a educaçom se fazia necessária nom apenas para alimentar umha maior demanda de burocracia que todo estado moderno exige, mas tamém com o galho de «educar» aos cidadaos no novo dogma: o nacionalismo do estado polo que os indivíduos devem até morrer se for preciso.

Nom estranha entom que os saberes escolares se reduzissem em muitos casos mais ao reconhecimento dessas superestruturas do que ao conhecimento das mesmas, gerando em situaçons de colonizaçom cultural dinámicas de auto-xenreira. Em resumo podemos determinar que a história, a literatura e todos os demais saberes, tamém a língua estatal como veículo unificador e criador dumha consciência grupal, se fôrom falseando com o fim de criar mitos e relatos de façanhas pretéritas e colectivas, coma o emprego imperialista de El Quixote no caso espanhol, que permitissem sentir-se um mais no magma do estado-naçom. Na medida que estes nacionalismos se afiançam, com a inevitável colaboraçom dos mestres, tendem a camuflar o seu discurso centrífugo e nacionalista, máxime quando desde a periferia se formulam demandas secessionistas, e identificam o nacionalismo como algo terrível nos outros agachando logicamente o seu. Traduzido a retórica mística do século XXI todos os inimigos do estado, e se nom os hai inventam-se como fijo o centro do Império com o 11-S para justificar novos atropelos e barbáries no exterior e no interior, som os maus e denominam-se com palavras que os meia previamente tenhem reformulado e carregado de conotaçons: nacionalistas, radicais, assassinos, e, sobretodo, terroristas. Obviam logicamente que na maioria dos casos toda violência dos discursos centrífugos nasce como resposta à que o estado leva exercendo desde a sua criaçom no seu perpetuo afám centralizador.

Especialmente sangante é, a pouco que se pense, esta realidade no Estado espanhol, já que o deficiente processo educativo do XIX e de grande parte do XX, conduziu, junto a outros múltiplos factores, que agora nom podemos analisar, a umha inusual retardaçom da implantaçom dos dogmas chamados liberais, já que o capitalismo parasitário da Igreja e os terra-tenentes, maioritário, identificava-se mais com o Antigo Régime do que com o Estado Moderno e os processos golpistas que invadem todo o século XIX som umha boa mostra disto. Aquelas zonas com umha burguesia mais forte desenvolvêrom estratégias de defesa perante isto e só assi se explica o nascimento, quase em paralelo à criaçom do Estado espanhol, de nacionalismo que procuravam desligar os seus territórios do estado-parasito espanhol. Catalunya é o exemplo paradigmático e Euskal Herria combinou umha fase evidentemente absolutista, unida neste caso ao parasitismo que defendia os foros por serem garantes do seu estatus sócio-económico, com outra burguesa e secessionista a raiz da criaçom da indústria da fundiçom e da grande banca basca. Por último, na Galiza constata-se como a ausência dumha burguesia forte se traduze num nacionalismo de sesgo culturalista que nom consegue penetrar na sua comunidade e que quando se traduze em formaçons políticas «exige-lhes» derivas para o centro na procura de aglutinar todo quanto voto seja possível, com o qual atraiçoa os seus naturais apoios e explica situaçons como a que se produziu o 1 de Março. O capital fica supeditado em grado sumo à metrópole e como tal o binómio político-mediático dedicou-se a fazer-lhe o jogo sujo ao espanholismo mais cavernário. E nom entremos já na natureza do colonialismo interior e na serôdia entrada da Galiza no capitalismo, o qual nom impede que participe hogano das dinámicas do neoliberalismo capitalista se bem com imperfeiçons.

A terceira destas fases que vimos debulhando, em fim, é a que substitui os mestres polos jornalistas e as escolas e os púlpitos polos tubos catódicos. Séries de ficçom sobre a monarquia e o 23-F tenhem proliferado ultimamente como pancas de controlo da história, adoçando-a, falseando-a e eliminando a memória individual verdadeira por umha colectiva irreal mais aceite por ser a maioritária. O logos soterrado polo mito. Eram estes os mesmos mitos que o franquismo transmitia com o NODO e as escolas, mas com a aparência de pluralidade e liberdade. A santa liberdade que tanto invocam os que adoito lhe ponhem travas e pejas. A televisom é um método muito mais eficaz do que nengum outro para educar e moldar ao cidadao incauto, já que se expom infinidade de horas perante os patrons de família, consumo, pensamento, etc. que esta lhe transmite toda vez que desde um sofá ou umha cadeira dificilmente se podem exercer tentativas de mudar rem. É, destarte, o método mais eficaz de assimilaçom lingüística.

Portanto, o Plano Bolonha pode-se definir como a fase superior, ao jeito que Lenine definia o estádio vigente do desenvolvimento capitalista, do actual entramado educativo. A universidade, reserva crítica e desidente, terá de aceitar de cheio a mercantilizaçom, o saber-mercancia, e a degradaçom dos saberes tradicionais. A substituiçom da aprendizage pola qualificaçom, enquadra-se na lógica de reforçar o privado e os efeitos do amigo catódico, isso si, subestimando em excesso a capacidade cognitiva e de resposta do mundo universitário, ou isso é o que revela a servidume com a que o estudantado e a comunidade universitária em geral aceitam esta reconversom industrial aplicada ao ensino.

II.- Bolonha como a grande reconversom industrial aplicada ao ensino

Em primeiro lugar, devemos sublinhar que o processo de Bolonha nasceu e cresceu num ambiente de mutismo total, que a pouco que olhemos para outros processos de natureza mercantil e impositiva, por exemplo o referendo da infame Constituiçom europeia, dá quando menos que pensar. Ninguém dos seus defensores se molestou em expor claramente em que consiste o Plano Bolonha, para além de acumular mitos, tópicos e falsidades ou meias verdades para ganhar-se a adesom da sociedade desinformada e sem fontes alternativas às que recorrer. Porém dos meios de incomunicaçom já falaremos, centremo-nos polo de pronto no Plano.

A ninguém com um pouco de sagacidade e conhecimento sobre o Plano Bolonha se lhe escapa que sob a capa maravilhosa do Espaço Europeu de Educaçom Superior se agocha a imposiçom dum modelo ao estilo norte-americano, quer dizer, que se procura nom apenas privatizar mas tamém, e isto é ainda pior, mercantilizar o ensino, reduzindo o saber a simples mercancia e o conhecimento a um valor mais do sacrossanto livre mercado. Já digo a ninguém com um mínimo de sagacidade se lhe escapa isto, o problema é quando na sociedade nom existe esta sagacidade porque o espírito crítico já leva décadas sendo assediado e aniquilado através dos meios de incomunicaçom. Aí está o grande êxito de Bolonha face outras reformas, no magistral uso dos meios de incomunicaçom e na mais umha vez completa complementariedade entre as forças do bipartidismo da II Restauraçom, que conduze a esperpentos como o que estám a viver em Euskal Herria, onde os partidos dinásticos apartam o seu teatro de máscaras, em expressom outeirense, para fundir-se num abraço pátrio e espanhol: o novo Vergara.

Dizia o tolo do Beiras, referindo-se a LOU e já nom a Bolonha, cuja consideraçom é ainda pior que

«um dos problemas claves é se a LOU conculca determinados direitos que estám na Constituiçom, como por exemplo o direito ao ensino gratuito, incluindo o nível universitário. Porque com a LOU isso desaparece segue sendo proclamado, mas na prática vai desaparecer em boa medida, e assi sucesivamente»[1].

E daquel bulheiro, acrescentamos nós, este esterco. Com Bolonha o gasto público na educaçom superior fica reduzido a limites insólitos e aplica-se umha reforma muito profunda a custe cero, deixando os masters ao arbítrio da grande empresa, sobretodo nalgumhas licenciaturas, com umha clientela ampla para os seus produtos. A mercantilizaçom chegará à essência do sistema universitário afectando nom apenas ao alunado, mas tamém à docência e a investigaçom. A decência, se me é permitida a brincadeira, acho que é ao que fundamentalmente afecta. A universidade pública e a privada equiparam-se ao tender à auto-financiaçom através dos empréstimos-bolsa, deixando à universidade privada numha evidente posiçom de vantage, ao finacia-la indirectamente com fundos públicos, algo que evidentemente em pouco ajuda à nossa língua.

O rematadamente mais esquizofrénico deste processo é que enquanto naufraga o sistema neoliberal (a intervençom de CCM polo Banco Estatal é o último sintoma junto à crise de General Motors ou Crysler nos EUA) aplica-se umha reforma neoliberal ao ensino que, previsivelmente, trairá ainda mais deficit público para liquidar em poucos anos o sistema de bem-estar privatizando a educaçom e a sanidade, enquanto Obama quer montar nos EUA um sistema de sanidade pública. O mundo às avessas.

Desde logo, Bolonha é um atentado, a barbárie da que Rosa Luxemburgo falava, ao serviço do privado e nas antípodas dumha educaçom pública e já nom digamos socialista. A tam vendida convergência europeia, que de por parte tam boa foi para a Galiza e o seu agro, nom vai além dumha deformaçom perversa do modelo anglosaxom que liquida a educaçom superior pública ou o que quedava dela após sucessivas reformas que deformárom o plano, desde meados dos setenta, em que o estudantado tinha participado, direito ganhado após anos de luita que se adiantárom incluso ao Maio do 68 francês nuns meses.

Bolonha é, aliás, o retorno a estádios pretéritos da educaçom. A esclerose do elitismo e da endogamia, cujos filhos som as passantias, a memorizaçom irracional e a impostura. Umha universidade em Galiza, nom umha universidade galega, feito ainda nunca totalmente atingido no país dos minifúndios. Previsivelmente, haverá três castes de universidades, coma no franquismo: a universidade de províncias, as mais, e simples passantias para criar trabalhadores em precário; as universidades/faculdades meias, com algum master reputado a nível estatal; e as de elite, que serám as de qualidade e prestígio internacional, na sua maioria privadas e em todo caso privatizadoras e mercantilizadas. O panorama para as humanidades e neste senso preto e um pergunta-se como é que sem a análise das ciências sociais a universidade pode estar ao dispor do povo galego e as suas estruturas e superestruturas?

Com a conivência da universidade o binómio político-mediático já poderá reduzir a 90% da populaçom a umha espiral de ignoráncia que lhes permita o espólio, a centralizaçom e o recorte de liberdades nom por imposiçom, mas aguardando a que a desinformaçom e a malinformaçom penetrem na gente, que demandará repressom e todo tipo de atrocidades: energia nuclear, video-vigiánça, pena capital, etc. A comunicaçom como alienaçom.

III.- Bolonha e o binómio político-mediático: a perfeita tutela propagandística dum processo

A pouco que observemos resulta inequívoco que o processo de Bolonha já tem conseguido um grande número de adesons e que os núcleos reticentes de certa entidade som mui curtos e achicam-se, aliás, geograficamente, sobretodo nos Països Catalans, com Barcelona à cabeça, e na capital do Estado. Estas adesons entusiastas revelam ora umha grande hipocrisia, no tocante às capas cimeiras do mundo universitário e do Estado espanhol, ora um absoluto desconhecimento do Plano Bolonha mais alô do que os poderes fácticos desejam que se conheça.

Nem que dizer tem que o controlo do pensamento e da educaçom som dinámicas próprias de qualquer regime totalitário e que se ligam à elitizaçom do ensino. Todo isso encontraremos numha olhada a sério sobre Bolonha, e com nada que aprofundemos decataremo-nos como acelerará a precaridade laboral das capas mais qualificadas da sociedade. Sublinho o de qualificadas à tema, porque já nom serám os melhor formados, mas simplesmente terám um título que os acreditará para exercer como mao de obra barata que ajude ao sistema a auto-regular-se.

Os processos económicos desta regularizaçom do sistema com a privatizaçom do ensino som três, quando menos numha análise superficial e deixando a um lado a liquidaçom paulatina do welfare state ou estado do bem-estar:

a) Endividamento do Estado e do estudantado com a banca blindando a privatizaçom e a mercantilizaçom do ensino perante qualquer futura ingerência. O Estado contrai débito para poder aplicar o processo e manter a universidade pública a pesar do recorte continuado de gasto e de meios meterias, posto que concederá bolsas ou assegurará o pago das bolsas-crédito à banca, ao tempo que com essas bolsas-crédito se financiará a privada que irá ganhando em prestigio a passos agigantados. O estudantado contrai desde o seu primeiro ano de carreira umha dívida com a banca ao ter que recorrer as bolsas-crédito e cada vez a quantidade será maior, pois a medida que as bolsas convencionais se reduzam e as taxas universitárias subam (como conseqüência do aumento de custos e da baixada de inversom do Estado) isto irá a pior. Em resumo, a universidade terá que necessariamente recorrer à auto-financiaçom ou, noutras palavras, o estudantado financiará à universidade que funcionará no futuro como pouco menos do que umha academia cujos benefícios recairám sobre as empresas de forma mediata ou imediata. Isto levará com o tempo a umha deflagraçom social terrível a nível europeu, que apagará especialmente às classes meias do funcionarado e contrairá o consumo inçando os embargos, como expugérom os catedráticos em estrutura económica, Javier Vence e Beiras numha palestra impartida na faculdade de Ciências Económicas, intitulada «Crise financieira e imobiliária. Crise do sistema neoliberal» de 2008.

b) Precarizaçom da mao de obra, baixada dos ordenados e despido a custo cero. A medida que a crise vai evolucionando imos comprovando como a patronal ensina os dentes e solicita o abaratamento do despido perante uns sindicatos completamente inseridos na dinámica do capitalismo e, portanto, do neoliberalismo capitalista. Bolonha criará um espaço europeu de competência com as suas vantages e inconvenientes. As universidades europeias conhecerám umha grande hierarquia e agá uns poucos privilegiados a maioria serám operários precários ora dum Estado cada vez mais débil para legislar perante o capital e mais endividado com este, ora dumha empresa qualquer à que lhe sobrará a oferta de mao de obra podendo, em virtude da salvage lei do livre mercado e da lei da oferta e da demanda, proletarizar ainda mais a sociedade, baixar os salários e fazer da precaridade, a inseguridade laboral e o medo ao manhá umha máxima que permita manter ao rebanho no redil. Acho que isto responde à definiçom que ainda recolhem os dicionários para terrorismo.

c) Mercantilizar o saber e fazer do conhecimento umha mercancia da que obter o máximo lucro no mínimo tempo possível em virtude da lógica do capitalismo. Os estados irám cedendo atribuiçons, e já nom apenas na educaçom, cada vez em maior medida às empresas enquanto o discurso nacionalista dos estados se inçará para poder manter-se como instituiçom repressiva que garanta a orde e o lucro das empresas, ou seja, nom teria muito sentido manter sinais de identidade de grupos étnicos diferenciados, caso dos ciganos ou dos muçulmanos e demais comunidades imigrantes no Estado espanhol[2]; nem muito menos dar asas às naçons da periferia para que tomem ainda mais consciência do seu estado de prostraçom. Aqui é que se insire-se a questom lingüística.

Naturalmente, todo este entramado nom é o que o binómio político-militar publicita e no Estado espanhol as campanhas de lavado de cara de Bolonha sucedem-se enquanto o movimento de oposiçom, nomeadamente capitalizado pola esquerda altermundista, tam só aparece nos meios de incomunicaçom em actos violentos ou em protestos, nunca em palestras expondo as suas ideias e refutando a retórica oficial. As instituiçons da II Restauraçom bourbónica, e os restantes poderes fácticos que controlam os meios de massas, encarregam-se de promocionar Bolonha como a construçom dumha universidade sem fronteiras, nesse falso e vazio cosmopolitismo do que tanto gostam as mentes alienadas pola globalizaçom capitalista. Perguntar-nos em primeiro lugar se a globalizaçom tem traído consigo um mundo melhor, ou simplesmente um mundo cada vez mais desigual, mais ameaçado ecologicamente e mais poupado culturalmente. Perguntar-nos se um espaço superior europeu cuja brújula seja o lucro e o mercado vai reforçar a formaçom e o espírito crítico da sociedades dos povos europeus ou diluí-los numha incultura onde os tubos catódicos determinem junto a universidades-academia que é o que devemos pensar, como fazê-lo e que consumir ao tempo que a vaga autoritária e eliminaçom de direitos e liberdades se justificará para combater um inimigo invisível: o terrorismo. Qualquer que se oponha à globalizaçom capitalista, e ao capitalismo conseqüentemente, é inimigo dos poderes na sombra, e inimigo da naçom e do estado e, em definitiva, é um terrorista. Os jornalistas som sem dúvida os catedráticos do século XXI.

Como indica Inácio Ramonet a divisom de poderes de Montesquieu entre legislativo, executivo e judicial passa à tríada de poder económico, poder mediático e poder político:

«Nos seus esquemas o poder político nom é mais ca o terceiro poder por diante atopa-se o poder económico e o poder mediático, e em quanto se posuem estes, fazer-se com o poder político nom é mais que um simples trámite»[3] .

IV.- Língua e naçom. Bolonha e a desgaleguizaçom do ensino para a definitiva assimilaçom lingüística

O Plano Bolonha caminha para um espaço europeu de educaçom, o plano educativo dos estados, na UE dos estados e nom dos povos, como ficou bem claro no fanado projecto de Constituiçom Europeia, carta outorgada finalmente que o mercado nos impom aos europeus, embora tenha sido rejeitado em Holanda, na França e mais recentemente em Irlanda[4].

Logicamente, neste contexto pouco ou nada que dizer tenhem as naçons da periferia e ainda menos as que nom contam com instituiçom estatais próprias por muito débeis que estas sejam, ainda os estados perderam atribuiçons face as entidades super-estatais. Daquela, apenas se afirmarám as línguas estatais e o inglês como língua franca, na medida em que os nacionalismos francês, espanhol e alemám o permitam. Aliás, o nacionalismo espanhol centrípeto advoga por umha nova estratégia, por comenência e apenas nalguns contextos, de idealizaçom do que chamam «liberdades». Afirmaçons de Galicia bilingüe como «las lenguas no tienen derechos» nom vam além de consagrar a concepçom individualista liberal que fai fincapé nos direitos do cidadao perante a concepçom socialista que advoga, em geral, polos direitos sociais e colectivos, quer dizer, que enquanto para uns o que tem muito é porque o merece ou porque arriscou capital, para outros é porque o espoliou a partir da especulaçom e da única mercancia da que milhons de pessoas disponhem: a sua força de trabalho.

O nacionalismo espanhol emprega qualquer meio a sua disposiçom para deteriorar as identidades nacionais alternativas à estatal e etiquetas como a de «fascista» aplicam-se agora à esquerda soberanista de Euzkadi, Catalunya e Galiza, polo geral na boca dos que colaborárom com o franquismo ou dos seus herdeiros (im) morais e ideológicos. Que ninguém hesite, Bolonha será empregado para recortar ainda mais a presença do galego na universidade, para volver fazer da universidade umha instituiçom colonial. O espanholismo, como nacionalismo central, tem como característica principal, tal e como assinala o Carlos Taibo, a sua «instalaçom cómoda, e silenciosa, nos aparatos centrais dum estado, de tal jeito que as suas demandas principais ficam genericamente satisfeitas. Bem é verdade que esses mesmos nacionalismos mostram outro carácter, muito mais agressivo e perfilado, quando as elites correspondentes estimam que a sua situaçom está repentinamente em perigo»[5].

Um destes grandes democratas é o vitalício chefe de estado e lingüista, Joám Carlos I, quem afirmou que «nunca fue la nuestra lengua de imposición, sino de encuentro. A nadie se le obligó nunca a hablar en castellano. Fueron los pueblos más diversos los que hicieron suyo por libre voluntad el idioma de Cervantes». A asseveraçom do bourbom destila tópicos e imperialismo a partes iguais[6]. Em primeiro lugar, nega a repressom sobre as línguas nom oficiais durante séculos e nomeadamente durante o franquismo, regime que o catapultou ao poder, nom o esqueçamos[7]. Em segundo termo, revela o mito de Cervantes e o emprego dumha obra literária apenas castelhana e para nada espanholista, no sentido nacionalista do termo, como mito da grandeza da língua e da Hispanidade, invençom chauvinista para manter umha metrópole cultural toda vez que a política se tem extinto.

Na USC actual o galego apenas chega a 20%, sendo a universidade onde tem maior uso das três da Galiza. Um perfeito bilingüismo harmónico sem dúvida ao que Bolonha nada terá que engadir se acaso restar, ao degradar a categoria das Humanidades e de muitas «faculdades de províncias». Para o nacionalismo espanhol bilingüismo é a carauta que adopta o canibalismo lingüístico do espanholismo do século XXI, quer dizer, que se tolera que as gentes sejam bilingües por enquanto nom é possível fazer outra cousa[8], mas sublinhando desde os meios de incomunicaçom que «nom hai piores espanhóis que aqueles que nom abraçam com alegria a língua espanhola, sobre a base, claro da intuiçom de que umha naçom lhe corresponde, por necessidade, umha soa língua (intuiçom que nom é senom a mesma que – sugere-se entom com reprovaçom e severidade- abraçam os nacionalismos periféricos»[9].

Com o exposto, fica bem claro que existe umha língua A, a oficial, a do Estado espanhol, e umha série de línguas B. Na Constituiçom de 1978 isto sanciona-se sem tapulhas e poucas som as cartas magnas que indicam que conhecer a língua estatal é obrigatório. O galego, o catalám e o eúskara som apenas «um dever» nos territórios em que som co-oficiais e, daquela caim numha séria e lesiva contradiçom com o artigo 139.1: «todos los españoles tienen los mismos derechos y obligaciones en cualquier parte del territorio del Estado». A contrário do que poda pensar-se, e como ocorre com tantos outros artigos, a ninguém se lhe ocorre recorrer isto por inconstitucional e aos castelám-falantes da periferia, especialmente a pseudo-intelectuais que vam medrar a conta de estilar o seu auto-ódio a Madrid, apresentam-nos coma «mártires y valientes patriotas frente a la intolerancia de los nacionalismos». Todo seja pola «lengua común», símbolo da sua «unidad de destino en lo universal».

Coda

Para rematar retomar o lema que Manuel Rivas expunha em El País [10] na passada sexta-feira em que lhe pedia a Feijoo que fechasse a caixa de Pandora da língua, que abriu por demagogia, e onde, amais, afirmava que nos próximos anos nom haverá apenas que sacar a língua, mas tamém ensinar os dentes perante qualquer agressom contra a língua nacional. Ao pé Henrique Monteagudo, eminente sócio-lingüista, embotado quiçais polo seu quintanismo (nada para além disso justifica ao meu ver certas afirmaçons do texto), pede-lhe ao nacionalismo que renuncie ao monolingüismo social algo que redunda em dar-lhe a razom aos inimigos da nossa cultura, o qual nom quere dizer que nom acerte quando defende a necessidade de políticas lingüísticas efectivas e nom simples defesa retórica da língua.

Sacar a língua e ensinar os dentes. Organizar assembleias, campanhas de agitaçom, conferências de ilustres altermundistas para a formaçom, concentraçons e greves. Paremos Bolonha ou, quando menos, demonstremos que neste Finisterrae ainda fica dignidade, ainda ficam bons e generosos. NÓS SÓS! Dixem.



[1] Beiras Torrado, José Manuel (2008), Por unha Galiza liberada e novos ensaios, Espiral Maior, Culheredo, p. 306.

[2] Veja-se a proposta de Mariano Rajoy sobre o «contrato de inmigración».

[3] Op. cit. 307.

[4] Já hai anos, quando o referendo sobre a “Constituiçom” do Estado espanhol alguns já indicamos o aberrante daquela consulta «à bulgara», onde os partidários do “nom” fomos totalmente marginalizados por umha campanha de desinformaçom apoiada polo matrimónio tam bem levado dos partidos da restauraçom [«Introito iñantes do entroido» em Revista IES Lucus Augusti, Maio 2005.

[5] Taibo, Carlos (2008), Fendas abertas. Seis ensaios sobre a cuestión nacional, Xerais, Vigo, 158.

[6] El País, 24 de Abril de 2001.

[7] Freitas Juvino, Maria Pilar (2008), A represión lingüística en Galiza no século XX, Xerais, Vigo, pp. 13-14.

[8] Em Asturies ou Aragom nega-se incluso a co-oficialidade para as suas línguas nacionais, sendo o aragonês a língua románica mais ameaçada do mundo, mas ao Império apenas lhe dói o espanhol de Filipinas.

[9] Taibo, Carlos (2008), Fendas abertas. Seis ensaios sobre a cuestión nacional, Xerais, Vigo, pp. 110-112.

[10] Em 27-3-2009; curiosamente na cabeceira o jornal inclui a legenda «El periódico global en español» em afirmaçom claramente chauvinista para umha ediçom supostamente galega.