Palavras novas e velhas

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

I. Patriarcalismo político e lingüístico na Galiza: história dumha dupla subordinaçom

21

τις ۥεπέσσεται (alguém sobreviverá), Odisseia IV, 756


Sólo creía en aquello que tocaba, salvo la libertad que nunca la tocó, pero creyó, sin embargo, en ella mucho tiempo. Leopoldo Alas “Clarín”: La Regenta.



Ao longo da história negada da Galiza, ao longo das seculares aldrages que padeceu o nosso povo, ao longo da recua de discriminaçons que galegas e galegos padecemos por mor da nossa língua, fôrom várias as vezes em que se vencelhárom ao longo do tempo o futuro do nosso idioma galego–português ao autogoverno da Galiza.

Logicamente, um poder político autónomo e próprio pode reagir perante as betesgas do centralismo, mal que bem, e, de facto, na Galiza existe hoje mais consciência nacional ca nunca, ainda que seja preciso indicar que para alcançar o monolingüismo social em galego é quase totalmente imprescindível exigir o cumprimento total do nosso direito à autodeterminaçom como povo e após umha desalheaçom social, umha catarse colectiva e ordenada ,desde a luita e a memória dos devanceiros à instauraçom normalizada da língua e da República Socialista da Galiza.

As estruturas patriarcais continuam a ser o elemento dominador nas sociedades capitalistas ocidentais. Em todo o mundo 70% dos pobres e dous terços dos analfabetos[1] som mulheres, sem falar já das vítimas de violaçons, guerras, ablaçons, etc. Destarte, a pesar de constituir umha força de trabalho enorme apenas som donas de 1% da terra. Na Galiza, nom som poucas as mulheres titulares ou co-titulares dumha exploraçom gandeira, mas sem possuírem a propriedade da terra, e, portanto, a mulher galega sofre umha tripla discriminaçom: a de ser mulher, a de pertencer a umha naçom oprimida e a de género.

A taxa de desemprego feminina supera com muito a masculina e a diferença nos ordenados (salários) continua viva. A precaridade, a temporalidade e a economia submergida som realidades infelizmente associadas a grande parte das mulheres trabalhadoras da Galiza, que seguem ocupando-se das tarefas domésticas e do cuidado dos filhos e das pessoas dependentes sem o reconhecimento social pertinente, embora só seja polo que poupa a administraçom em prestaçons socias.

Os meios de incomunicaçom, aliados do patriarcado e da glotofaxia espanholista, seguem discriminando à mulher e ampliando os estereotipos e as desigualdades, já desde a infáncia, por exemplo através de joguetes “de chicos” (umha bola, umha pistola de joguete, cromos de futebol...) e joguetes “de chicas” (Barbye, cozinhas, jogo de pinturas e maquilhage...). O aborto e a sua despenalizaçom até as doze semanas foi o último exemplo de campanha criminalizadora da mulher e o feminismo, já que os “guardiáns” da boa moral oponhem-se ao «nós parimos, nós decidimos» in nomine dei. Coma nos bons tempos, «Santiago, y cierra España»[2].

Francisco Rodrigues Sanches num artigo de 1992 intitulado «Conflito cultural e idiomático na Galiza» analisa desde umha óptica marxista a dupla prostraçom, da língua e do povo, que se dá na nossa naçom, a qual pertence a periferia, a «outra Europa» de que já falava Lenine no seu livro O imperialismo: fase superior do capitalismo.

Para o ferrolano [1998: 180] «queren convencer-nos de que non existe problema, porque agora xa existe liberdade individual para expresar-se no que a cada un lle pete. Desta forma, o que é un problema social e colectivo, da estrutura de poder, deixa-se cinicamente a que os indivíduos que están inseridos nesa estrutura de poder, ousen só por propria vontade trastocar. Non se cambian as regras de xogo. Se un non xoga desta maneira é simplesmente porque libremente non quer. Pero, nesta, como en tantas outras problemáticas, nos existe a liberdade individual». Tamém nos querem convencer de que a mulher já tem atingido a igualdade e que as luitas feministas estám fora de lugar no actual “sistema de liberdades” da “democracia espanhola”. «Que todo quede atado y bien atado» deixou dito o ditador antes de morrer.

O histórico dirigente da UPG assiná-la que a diglossia reformulou-se, assi como o machismo se tem disfarçado através de atitudes compensatórias que, no entanto, em nada mudam o status quo do espanhol e do home respectivamente, assi como as esmolas das ONG's e dos estados ricos nom mudam a correlaçom Norte-Sul porque nom se lhes devolve a propriedade sobre os meios de produçom nem sobre os recursos naturais:

A sociedade galega necesita, hoxe máis que nunca, armar-se contra unha ideoloxia dominante empeñada en que aceitemos como única via para o noso país un papel subordinado, case inexistente: sermos agradecidos, porque non pasamos fame e temos a sorte de pertencer a un mundo que se considera o centro previlexiado. Pero sabemos que non existimos, como tal, especificamente, con direitos próprios, dentro da expansión cultural eurocéntrica. Todo o máis, no campo cultural; velai a grande tarefa encomendada á Xunta, crermos que a apariéncia – libros, Tv, rádio, festas..., teórica e limitadamente en galego– son a realidade. Mentres, os demais, outros, deben opinar por nós. A estrutura vai por unha banda, e a superestrutura cultural, e con ela a língua e cultura próprias que subsisten sen o esforzo por unha pragmática próprias, en todos os campos: o económico, o político, o cultural, o informativo, o educativo... A resignación como único mundo posíbel é a aceitación dunha esquizofrénia que nos manterá nunha contradición constante entre o desánimo, e a política de ilusións, de fantasias. Non pode existir nada máis triste nen perigoso para os povos asoballados que acreditar na política de ilusións, moito máis, cando son imperiais, externas, ditadas con total desprezo polos nosos direitos e os da maioria da Humanidade [Rodríguez Sánchez, 1998: 183].

Castelao no Sempre em Galiza (1944) advogava igualmente pola necessidade de junguir arredismo e nacionalismo lingüístico e defende a liberdade para todas as pátrias como o fai Ramom Vilar Ponte em «O sentimento nacionalista e o internacionalismo» (1926). Em todo caso, acreditamos que na Galiza o «etnocídio», de que falava o Beiras[3], ou o «crime de lesa cultura», de que falava Castelao, sobrevive do mesmo modo que o patriarcado se mantém ainda que sob umhas aparências remoçadas e com tácticas anovadas. O mesmo cam com distinto colar. Nom se proibe a língua fora do fogar, onde devia estar junto à mulher no franquismo, mas agora defende-se o “bilingüismo” e quando se ponhem em teia de juízo os privilégios do home ou do castelhano entom lançam-se os “cides” e os “santiagos mata-mouros”, os mercenários e sipaios do espanholismo, a falar de imposiçom, quando o único que se pode registar som séculos de opressom de género, nacional e lingüística galega. Os novos movimentos fascistas, o neo-fascismo, fam do espanholismo a sua firme e enérgica bandeira, negando-lhe ao galego, à mulher e ao operário que som sujeitos com direitos colectivos e mesmo na esquerda espanhola esta nacionalismo tem vigorado desde a II República soterrando definitivamente o federalismo pimargalliano embora neste o único referente nacional – ao menos numha etapa inicial- fosse Espanha:

Resulta lastimoso que se fale de imposición cando se trata de restaurar (só simbolicamente) o rostro real do país, desfigurado por unha imposición secular [Rodríguez Sánchez, 1998: 166].

Para pôr fim a isto é imprescindível exigir umha dupla independência que só se pode acadar desde a desalienaçom popular, quer dizer, fazendo realidade aquela máxima de Castelao de que «o povo só se salvará quando deixe de ser massa». Dumha banda Galiza deve-se arredar do Estado burguês espanhol da II Restauraçom bourbónica e caminhar ceive e dona de si, para balizar a sua língua e regenerá-la achegando-a todo quanto for possível, sem perder os traços de seu, ao português com o galho de alcançar a unidade primigénia e histórica galego–portuguesa; doutra banda, um novo sistema sócio–económico deve trair a fim dos preconceitos lingüísticos e machistas que vigoram na sociedade patriarcal de Ocidente. Quando definimos capitalismo “imperialista” e “patriarcal” som adjectivos inerentes assi como a alienaçom e o fetichismo da mercadoria é umha característica intrínseca das sociedades capitalistas:

Existe um grave problema, e eu penso que o povo nom tem muito que dizer ao respeito. E vou pôr vários exemplos: democraticamente nom se pode chegar à conclussom de que 2+2=6, por muito que o diga a maioria. O facto de que umha maioria apoie um feito, nom quer dizer que seja científico nem verdade. Na Galiza: se se lhe perguntar a um camponês ou se lhe di que escreva em galego “MINHO” el escrevera com “ñ”, pois tem sido alfabetizado em espanhol. Por isso na Galiza o problema [da planificaçom lingüística] é muito mais complexo do que parece.

[...]

O que define a situaçom da Galiza é umha alienaçom e para o poder é fácil agir sobre esta esquizofrenia histórica, impondo os interesses económicos, que manipula o sentir dos galegos, que dificulta a descolonizaçom dos espíritos e que manipula até o sentimento lingüístico dos falantes [Peeters, 1991: 88-9].

1.2. Paralelismos entre a discriminaçom lingüística e feminina na naçom galega. Exemplos literários.

Desejamos começar este ponto botando mao dum texto literário que ilustre qual é que era a situaçom da mulher durante boa parte do século XX, sobrevivendo ainda em muitos países e mesmo em Ocidente, e como fôrom as próprias mulheres desde a sua luita abnegada as que conseguírom, aos poucos, ir revertendo a situaçom[4]:

Dérom-me umha folha torpemente impressa em que se olhava umha mulher espida imitando a posse dumha estatua grega. Na contra-capa lia-se:

“O home pobre e trabalhador acha-se oprimido polo que é rico e nom trabalha; mas a este home fica-lhe ainda o recurso, bem triste por certo, de vingar-se da opressom que sofre, oprimindo por sua vez a fêmea que lhe tocou em sorte; a esta fêmea nom lhe fica já nengum meio de desafogo, e tem que resignar-se a padecer a fame, o frio e a miséria que origina a exploraçom burguesa e, como se isto fosse pouco, a sofrer a dominaçom bestial, inconsiderada e ofensiva do macho. E estas som as mais felizes, as privilegiadas, as filhas mimadas da Natureza, porque existe trinta ou quarenta por cento de mulheres que som muito mais infelizes ainda, já que a nossa organizaçom social, até lhes proibe o direito a ter sexo, a ser tais fêmeas, ou, o que é o mesmo, a demonstrar que o som.

>> OU, A MULHER! Eis a verdadeira vítima das infámias sociais; eis o verdadeiro objecto da missom dos apóstolos generosos [Mendoza, 1975: 410-11].

A génese da exploraçom da mulher e do patriarcado é descrito, desde umha óptica marxista, por Iñaki Gil de San Vicente [2009: 4]:

La obtención de energía requiere en la especie humana de un trabajo consciente que no tiene otro sentido que el de reducir el esfuerzo, reducir en lo posible el tiempo necesario para obtener dicha energía mediante el desarrollo de herramientas y de técnicas adecuadas, en suma, de fuerzas productivas. En la medida en que aumentaba la población y se agotaban los recursos meteriales, los grupos humanos desarrollaron, como mínimo, cuatro alternativas: emigrar a otros espacios, aumentar su productividad con mejores herramientas, aumentar el tiempo de trabajo total del grupo y robar los recursos de otros grupos. Las formas más simples y rudimentarias de violencia surgen en este largo período, y son las mujeres las que primero sufren las consecuencias, pasando do ser un sexo-género clave que aporta la mayoría de las energías y que produce la mayoría del conocimiento, a ser el primer grupo humano explotado por otros grupos humanos.

Em Ab urbe condita, Tito Lívio dá-nos umha amostra perfeita do nascimento da escravatura em Roma. A opressom sobre a mulher e a orige dos escravos em mulheres doutros povos vê-se com nitidez no conhecido como «rapto das sabinas». Logo, a escravatura passaria à infáncia e, finalmente, a homes e anciaos. Ainda hoje a mulher segue a ser a principal geradora de energias, sofrendo a opressom de género e ainda a exploraçom sexual, a escravatura sexual por milhons. Como indicava Plauto «homo homini lupus», mas, sobretodo, o home é um lobo para a mulher, já desde a civilizaçom greco-romana «base de la civilización occidental, se cimentó sobre el más inhumano terrorismo masivo aplicado gracias a una aplastante superioridad militar» [Gil de San Vicente, 2009: 5].

A alienaçom e o fetichismo som violências invisíveis aplicadas sobre a mulher e a língua – preconceitos. A cultura e o ser humano passam a ser no capitalismo simples realidades mercantilizadas, e a humanidade anula-se convertendo-a em força de trabalho, umha mercadoria, como a natureza, que se compra e se vende no desejo de converter o máximo valor de cámbio possível e inçar assi a acumulaçom de capital. Nem que dizer tem que quando os explorados se safam da alienaçom entom a violência do estado burguês actua para reprimir e manter o status quo de cada classe social.

Durante a II República a educaçom polira-se e promocionara-se. Aliás, a Constituiçom de 1931 contemplava um ensino gratuito, laico e universal – obrigatório–, que contemplava já a ensinança mista sob os princípios pedagógicos achegados, essencialmente, pola Instituiçom de Livre Ensinança[5] e com a criaçom de numerosas bibliotecas no rural galego. Porém este modelo vai sucumbir desde 1936 com a depuraçom de mestres e livros e com a valoraçom da ensinança mista e os valores pedagógicos republicanos como próprios da anarquia e a libertinage.

A co-educaçom suprime-se porque havia que formar umha mulher para deus, a pátria e o fogar e «esta nova muller debía de servir de correa de transmisión do ideario do nacional-catolicismo ás novas xeracións» [Freitas Juvino, 2008: 485]. Daquela, a submissom ao home e à sociedade eram as ideias–chave da educaçom feminina e socialmente as mulheres eram quase invisíveis. As primeiras mulheres ligadas com a cultura galega irrompem nos anos cinqüenta (Maria Marinho, Pura Vásquez, Mª do Carme Kruckenberg, Luz Poço Garça, Joana Torres, Maria José Queizám...).

A repressom da língua galega foi tamém com muito maior na mulher. Árias Lopes no número 29 de Grial confirma que o abandono do galego é superior entre as mulheres, assi como os preconceitos, pois isso reflectia o inquérito que realizara naquela altura e em que eram mais as mulheres opostas ao ensino do galego:

As actitudes de receo pra a língua galega no insino – e mesmo fora do insino–, dentro de Galicia, son moito máis abondosas e afogueiradas nas mulleres que nos homes. Nen penso que debamos esixir responsabilidades ás donas galegas polo seu anoxamento da nosa língua. Mais ben, entendo que elas son víctimas [Freitas Juvino, 2008: 487].

Atinadamente, Jesus Alonso Montero [1973: 125] atribui este maior abandono do galego na mulher a sua condiçom de género oprimido, quer dizer, à tripla discriminaçom de que já falamos: como mulher, como galega e como trabalhadora. A alienaçom é, portanto, maior e o fetichismo tamém:

Cualquiera que sea la clase social, quien más se entrega a los valores externos, a los valores suntuarios y de apariencia, es la mujer, y ello se debe a su condición de ser enajenado, de ser más alienado que el hombre.

A alienaçom e o fetichismo da mercadoria som, na teoria marxista, aquelas situaçons em que o oprimido acredita ser livre e, aliás, acha que as mercadorias tenhem qualidades humanas, enquanto as pessoas reduzem-se a simples objectos, mercadorias, por exemplo na prostituiçom. Mas, a alienaçom e o fetichismo rematam por reduzir ao próprio indivíduo, nos seus esquemas mentais, a umha mercadoria sem valor, a “cousificaçom extrema”, quer dizer, as causas som vistas como os efeitos e os efeitos como as causas, de modo que a submissom ao sistema é total, máximo porque estamos perante umha violência psicológica e nom física, a fórmula preferida do terrorismo burguês. Em efeito, a guerra de género é a primeira fase da guerra social que nas “democracias” aplica a classe burguesa para o controlo da classe trabalhadora e para a perpetuaçom do sistema.

Desde umha perspectiva feminista tem exposto a discriminaçom correlativa mulher–galego Mª José Queizám dumha forma espantosamente castigada. Segundo a escritora a mulher e a língua sofrérom e sofrem um processo paralelo de desvalorizaçom e submetimento como recolhe em «A lingua galega e a muller», artigo que se recolhe no livro de 1977 A muller en Galicia: análise estrutural de dos feitos represivos. Neste volume bosquesage um paralelismo nídio entre a repressom sofrida polo galego e a padecida pola mulher: «Estamos no ambiente do racismo e a opresión». Freitas Juvino [2008: 489-490] explica assi as achegas de Queizám:

Parte da situación de convivencia diglósica na que se atopa o galego no seu propio país (...) dunha maneira similar ao que ocorre coa muller que, na dicotomía muller/home, sempre se atopa nunha posición xerárquica inferior. Unha lingua, o castelán posúe prestixio social e o galego non; igualmente, o home posúe dentro da sociedade un status superior, o que lle confire prestixio en contraposición á muller, que carece del; así, os homes son máis valorados polo poder e o prestixio que posúen e as mulleres polos seus valores persoais.

Os preconceitos, maiores nas mulheres pola maior opressom a que estám submetidas, relacionam-se com a alienaçom ou, em palavras de Queizám, com o assobalhamento ideológico. A mulher tenta emular as normas e critérios do bando masculino o que reforça a tendência dos galegos, froito do auto-ódio, a emular a língua do opressor:

Non se analizan as circunstancias históricas que provocaron unha e outra situación, simplemente acéptase e dáse por feito que ten que ser así. O galego é unha língua “inferior” debido ás súas características intrínsecas, e o mesmo lle ocorre á muller, que é inferior ao home porque a natureza o quixo así [Freitas Juvino, 2008: 490].

Aliás, o castelhano associa-se com a épica, a valentia e a agressividade –coma os “machos”- e as línguas periféricas, nomeadamente o galego, com a lírica, a beleza, a doçura, o intimismo... A primeira é a língua dos conquistadores a segunda «un patrimonio cultural que será objecto de especial respecto y protección» como recolhe a Constituiçom de 1978, ou seja, retórica burguesa barata made in Spain como outros tantos artigos como o 17, o 20, o 22, o 27, o 31 ou o 35, apenas por citar alguns que se violam sistematicamente. Logicamente, «todos los españoles tienen el deber de conocerla y el derecho a usarla», enquanto que o conhecimento do galego é acessório, secundário ou “complementário” como o é a mulher desde a Génese bíblica [2; 21-24], feita Eva a partir da costela de Adám:

Entonces Yahvé Dios hizo caer un profundo sueño sobre el hombre, que se durmió. Y le quitó una de las costillas, rellenando el vacío con carne. De la costilla que Yavhé Dios había tomado del hombre formó una mujer y la llevó ante el hombre. Entonces éste exclamó:

“Esta vez sí que es hueso de mis huesos y carne de mi carne. Ésta será llamada mujer, porque del varón ha sido tomada”.

Por eso deja el hombre a su padre y a sua madre y se une a su mujer, y se hacen una sola carne[6].

A associaçom da Galiza e da sua língua nacional com o feminismo é mui antiga. Miguel de Unamuno no seu ensaio Por tierras de Portugal y de España (1903) expom numha descriçom sua tipicamente barroca:

Las esquinosas sierras, tal como surgen de las roturas y levantamientos, se han ido hundiendo y desmoronando en montes terrosos y chatos, de contornos ondulantes y sinuosos, como de senos y caderas mujeriles, a la vez que han ido rellenando los valles y vagüeras. (...) Y luego la frondosa cabellera de castaños, pinos, robles, olmos y cien otras castas de àboles, abriendo aquellas redondeces y turgencias, dan al paisaje un marcado carácter feminino (...). Es un país feminino [Freitas Juvino, 2008: 490-1].

Esta descriçom da Galiza e as suas virtudes femininas opom-se às virtudes de Euskal Herria, masculinas por suposto, de onde Unamuno era nativo e para reforçar a necessidade de englobar Euskal Herria no Estado espanhol de acordo com a sua ideologia espanholista:

¿Que és eso de ser invasores? ¿No lo somos nosotros? Si no queréis ser invadidos, invadid; sino queréis que os absorban, absorbed; todo menos cerrar las válvulas y permanecer aislados. No guardéis una absoluta virginidad de raza que nos prive de la maternidad, de la paternidad más bien. Padres, sí; que en este inivitable y fecundo encuentro de pueblos seamos el varón y no la la hembra [Freitas Juvino, 2008: 491].

O trecho é indubitavelmente ilustrativo de por si só. Assi, hai povos e línguas “machos”, conquistadores, imperialistas e povos “fêmea” que só estám para ser fecundados, para a funçom reprodutiva, e ainda agradecer pouco menos que haja tam “nobres” impérios que os colonizem e oprimam. Castelao no Sempre em Galiza critica estes preconceitos sem tapulhos:

Afetá que a paisaxe galega é femia porque ten formas redondeadas! (...) Isto é debido á dureza granítica do chan, mais a pesar de todo Galiza é un país moi sério e moi redondo, como é o mundo; sen arquitecturas de escaiola e sen ceos de añil barato.

Xusto é que lle chamemos Nai â nosa Terra (tódalas Terras son Nais); e admitiríamos que Castela fose “macho” - tal arelan os casteláns– se non estivéramos vendo a súa estraordinaria fecundidade; pero non creemos que un pobo sexa mais macho que outro polo feito de volver dunha guerra e amostrar o seu coiro cheo de cicatrices[7].

E quase no começo do seu emblemático livro afirma que Galiza é antes de mais mátria, concretamente afirma que «para nós, os galegos, a Terra (así, con maúscula) é Galiza. O que nos xunta n-unha comunidade espritual é, principalmente, o amor â Terra. E cando decimos “a nosa Terra” queremos decir “a nosa Nación”. A Terra é a Matria» [Castelao, 1944: 40]. Maria José Queizám fala com acerto de «duplicidade compensatoria», a qual consiste numha falsa idealizaçom da língua galega ou da mulher que se opom à denigraçom do home e do castelhano, «pero esta é unha condena hipócrita, porque tanto o castelán como o home seguen simbolizando o poder e o prestixio. Este último é o idioma dos que dirixen a sociedade e o home segue acaparando e mandando na política, na cultura e na economía. (...) A idealización compensadora: a fermosura, o lirismo, o sentimento. Igualmente, as mulleres compensan a súa situación de subordinación ao home adxudicándolles calidades como a intuición, a comprensión, a paciencia etc.» [Fretias Juvino, 2008: 492-493]. Assi, o galego é umha língua preciosa e formosa, como a mulher, doce e que soa bem. O castelhano abonda-lhe com o seu prestígio social e a sua masculinidade.

Tamém existe a idealizaçom da pureza. O castelhano enriquece-se com empréstimos, o galego deturpa-se, porque o galego deve ser 'puro', casto como a mulher, e deixar a promiscuidade para o castelhano. Isto é especialmente significativo quando se ataca a regeneraçom do galego através do português enquanto se gaba a unidade do espanhol argentino e peninsular e a mestiçage do conquistador com o conquistado.

Pilar Garcia Negro falará de «técnina home-opática», segundo a qual é permitido um mínimo de toleráncia com os direitos da mulher e do galego para manter o status quo do home e do castelhano, quer dizer, voltar à máxima de Carlos III e do absolutismo “ilustrado”: mudar algo para que rem troque. Esta técnica engloba tamém a auto-xenreira, causa fulcral do processo de substituiçom lingüística supostamente mais visível entre as mulheres, já que a pretendida igualdade de línguas é igual que a fictícia igualdade de sexos. Noutras palavras, nega-se o conflito lingüístico mediante um falso e inexistente bilingüismo (social) que actua de “unisexo”, como se fai ao atacar à mulher na publicidade e a televisom sob o escudo de que tamém empregam a homes, ou seja, igualdade “unisexo” na denigraçom das pessoas e na image dumha mulher que deve ser perfeita, jovem, parva e entregada ao sexo – ou a satisfaçom do outro sexo mais bem–, a mulher-floreiro.

A mulher abandona a língua como quando tratam de imitar os homes por avergonhar-se de pertencer a um sexo “inferior”. Neutralizam o conflito fugindo del e da responsabilidade de defender os seus direitos e os das demais mulheres. Pilar Garcia Negro fai um resumo genial da analogia entre o patriarcalismo político e o lingüístico [Freitas Juvino, 2008: 495-496]:

a.- As duas fôrom reduzidas a um papel secundário e subalterno, embora houvesse umha evoluçom desde negar a existência de alma nas mulheres até o reconhecimento idealizado de valores da mulher e o galego (intuiçom, formosura...).

b.- Os sectores assimilistas e sexistas, como Galicia bilingüe, empregam recursos variados para perpetuar a discriminaçom, mas aparentando que se fomenta a igualdade e a defesa dos discriminados.

c.- A táctica homeopática, da que já falamos. Outorgam-se direitos com tal que nom se exerçam e quando estes podem finalmente exercer-se lançam-se campanhas demonizadoras, como a que se opunha a despenalizaçom do aborto ou a que atacava a suposta “imposiçom” do galego. E encobre-se com “discriminaçom possitiva” a falha absoluta de actuaçons para alcançar a tam arelada igualdade.

d.- O “complexo de embaixada”. Umha das principais arelas de qualquer ideologia discriminadora e colonizadora é conseguir a internalizaçom da segregaçom por parte dos próprios afectados. Expressou-no verazmente Chomsky em numerosas ocasions ao referir-se ao controlo da opiniom pública para fazer das eleiçons simples farsas na democracia burguesa.

e.- A “síndrome de Estocolmo”. As pessoas reprimidas sentem-se atraídas, hipnotizadas, polos seus opressores.

f.- Espaço privado / espaço público. O galego é umha língua oral, familiar e rural, o castelhano pola contra é língua oficial e dos ámbitos públicos. A mulher para as tarefas do fogar e os homes na cantina, a guerra e os prostíbulos.

No entanto, a língua galega foi ganhando terreno na vida pública assi como a mulher se fai inserindo na vida laboral. Porém nom é menos certo que o castelhano segue a ser a língua de mais prestígio, urbana, de profissons liberais e associada com o poder e o dinheiro. Tamém os directivos adoitam ser homes e os ordenados femininos som 30% inferiores aos masculinos, para além de que se ouve amiúdo o de nom se pode contratar umha mulher pola baixa por maternidade. Para umha e para outra receita-se discriminaçom possitivo, eufemismo que encobre à perfeiçom a existência mesma da desigualdade e camufla de bondadosos e dadivosos aos que em realidade som em exclussiva verdugos. Nom hai discriminaçom possitiva que vala, apenas umha luita entre os opresores e os oprimidos o resto é fumo de palhas.

1.3. Coda

Como conclui Freitas Juvino [2008, 498] a língua galega só se salvará se assi o decidem as galegas e os galegos adoptando atitudes de luita e compromisso lingüístico. O mesmo é aplicável à mulher, que deve assumir a sua valia em pé de igualdade com o home, exercendo a sua plena “autodeterminaçom”, já que ao igual que nom hai rem na estrutura interna que faga umha língua superior a outra, tampouco hai nada no ser humano chamado home que o faga superior ao ser humano chamado mulher, a contrário, o patriarcalismo fai dos homes os máximos responsáveis das atrocidades e barbáries cometidas ao longo da história.

A cultura heterocéntrica e patriarcal nom deve deixar de ser revisada em todo momento e atacada sem piedade. O falocentrismo, que nom deixou de aumentar nos últimos decénios, é ao tempo a expressom da debilidade masculina, polos complexos inúmeros que o cánon do ideal criou. Agora tem chegado à mulher umha versom ainda mais deturpada deste feito. O porno é o modelo que criar cánon em inúmeros jovens com o conseguinte trastorno e distorçom da realidade: se nos 90 causavam furor as tetas de plástico de Jena Jameson e Nacho Vidal era o referente masculino, no XXI causam furor as operaçons vaginais na procura da cona “perfeita”. A alienaçom sexual está a chegar no primeiro mundo a limites até fai umha décadas insuspeitados e enfermidades como a anorexia e a bulímia dam igualmente fé disto, quanto ao cánon estético.

O culto ao corpo perfeito e a mocidade era umha das máximas do nazismo, polo que nom é por acaso que parelho a estas aberrraçons ince a genofóbia e a discriminaçom, embora nalguns casos tenha um rosto novo.

Por último, lembrar que tamém os homes somos vítimas do patriarcado e das suas estruturas. Neste sentido, o feminismo “exclusivista” que se cinge só à mulher e impede a participaçom do home evita que os homes mais conscienciados com a causa da igualdade podam “despatriarcalizar-se” corectamente, respondendo a necessidades inconscientes criadas polas técnicas grupaloides, adoito exploradas na publicidade e a propaganda política. O apoio do home é vital para lograr a vitória na guerra dos sexos, já que nom som poucas as mulheres afectadas pola “síndrome de Estocolmo” e a táctica homeopática de que antes falavamos. Vós, as mulheres devedes encaminhar a luita pola igualdade em cada umha das frentes sociais em que actuades, fazê-lo fechando-se em pequenos grupúsculos e de costas ao mundo tem sentido em determinados processos históricos, mas acho que nom é mais que firmar a acta de perpetuidade do patriarcado na actualidade. Coerência, consciência, formaçom, constáncia e incidência social som as chaves da vitória, tanto para a mulher como para a língua.

Antom Fente Parada, Santa Cruz de Viana, 2009.

BIBLIOGRAFIA

ALONSO MONTERO, Xesús (1973), Informe – dramático– sobre la lengua gallega, Akal: Madrid.

CASTELAO, Afonso Daniel Rodríguez (1944), Sempre en Galiza, Akal: Madrid, 4ª ediçom, 1994.

FREITAS JUVINO, María Pilar (2008), A represión lingüística en Galiza no século XX. Aproximación cualitativa á situación sociolingüística de Galiza, Xerais: Vigo.

GIL DE SAN VICENTE, Iñaki (2009), La violencia y lo militar en Marx. La combinación de todas las formas de lucha, Euskal Herria, http://www.lahaine.org

KAMEN, Henry (2006), Del imperio a la decadencia. Los mitos que forjaron la España moderna, Temas de Hoy: Madrid.

MENDOZA, Eduardo (1975), La verdad sobre el caso Savolta, Six Barral: Barcelona.

PEETERS, Yvo JD (1991), editor, Poder, ideologia e língua, Associaçom Galega da Língua: A Crunha.

RODRÍGUEZ SÁNCHEZ (1998), Conflito lingüístico e ideoloxia na Galiza, Laiovento: Compostela.


[1] Aqui nom se contam, por suposto, os analfabetos funcionais que som inúmeros no “mundo civilizado”. Na Galiza seis de cada dez galegos afirma nom ler NUNCA e muitos som incapazes de desenvolver as técnicas de leito-escritura com correcçom, já nom entrando na interpretaçom do sentido dum texto onde o número se inça até cifras estremecedoras. Isto todo em espanhol, naturalmente. Para o galego o número de analfabetos funcionais quiçais supere 60% da populaçom. Isto naturalmente convém a quem detecta o poder, pois de pouco serve a “liberdade de imprensa” se as mensages nom som compreendidas nem apreendidas pola massa submetida.

[2] Esta citaçom, com umha ilustre prosápia, é um bom exemplo da manipulaçom histórica do espanholismo. Autores como Pérez-Reverte, por exemplo em Las aventuras del capitán Alatriste, apresentam-na pouco menos que como umha afirmaçom da naçom espanhola já na Idade Média (quando o conceito de naçom tal como o entendemos hoje data do século XIX e das revoluçons burguesas). Na realidade nem existiu no imperial Reino das Espanhas como umha única arenga nem sequer se vencelhava com a naçom no sentido moderno, mas apenas com a procedência geográfica e no caso dos estrangeiros com a coroa a que serviam:

«Durante las guerras italianas, alrededor del año 1500, todos los soldados al servicio de los tercios estaban obligados a utilizar el grito de guerra “Santiago, España”. Los cronistas castellanos narraron que, en la batalla, los soldados cantaban “¡España, España!” y “España, Santiago” a medida que se lanzaban contra sus enemigos. Puede ser que ni siquiera hayan conocido el significado de esas palabras, pero era una frase que los ayudaba a concentrar su ferocidad.

Durante los siguientes cincuenta años, el grito de guerra “¡Santiago, España!” comenzó a escucharse en toda Europa. Lo utilizaban todos los soldados que peleaban en nombre de España, ya fueran castellanos, italianos, alemanes o flamencos. Vale la pena hacer hincapié en este punto, debido al malentido generalizado de que las tropas gritaban por España por el hecho de estar compuestas por españoles. Dada la composición internacional de los ejércitos de España, la verdad es que la mayoría de las veces no eran españoles los que la aclamaban. Los gritos de guerra “¡Santiago!” o “¡Cierra España!” no eran prueba de que las tropas tuvieran sentimiento alguno por la nación española. En la batalla de Mühlberg, en Alemania, en 1547, la deslumbrante caballería húngara del ejército imperial tuvo que elegir entre los gritos de guerra oficiales alemanes y españoles, y en vistas de su antipatía por Alemania, no dudaron en elegir gritar “¡España!” al arremeter contra sus enemigos en la batalla» [Kamen, 2006 : 50-51].

Lembre-se igualmente que até o século XVII Espanha era sinónimo de Península Ibérica porque ainda guardava o sentido do Hispánia romano.

[3] Em vários dos seus artigos indica isto, nós remarcamos o recolhido no discurso sobre o estado da naçom galega de 5 de Novembro de 2004, intitulado «15 anos de goberno do PP, 15 anos perdidos».

[4] Na II República, por exemplo, atingiu-se o Sufrágio Universal com a incorporaçom da mulher nas eleiçons de 1933, jogando um papel crucial na sua aprovaçom as deputadas Victoria Kent, Margarita Nelken e Clara Campoamor. Antecedentes tinham-nos nos postulados do federalismo burguês mais radical do XIX, embora fosse um sufrágio que exigia um nível de estudos que mui poucas mulheres tinham na altura – o que nom se lhe exigia aos homes curiosamente, ou nem tanto-. A traduçom do trecho literário é nossa.

[5] Trata-se dum instituto criado na metrópole, Madrid, segundo o estipulado polo real decreto de 16 de Agosto de 1876 e orientado, num princípio, a ensinança secundária. Os seus estatutos aprovam-se a 31 de Maio de 1876 pola acçom de professores e intelectuais apartados da ensinança polo Decreto Orovio de 1875. Entre os seus integrantes topavam-se Francisco Giner de los Ríos, Nicolás Salmerón, Azorín, Antonio e Manuel Machado, etc., que logo seriam os predecessores do krausismo. Quanto instituiçom, ensaiou a aplicaçom do neutralismo religioso e ideológico, a coeducaçom e os métodos pestalozzianos e froebelianos, que conduzírom à renovaçom da ensinança meia e superior influindo na reforma escolar republicana e na organizaçom e posta em marcha da Residência de estudante de Madrid, em que coincidiriam Buñuel, Dalí ou Lorca. Logicamente, a Guerra Civil esborralhou todas estas experiências.

[6] A cultura judia, e portanto tamém a cristá nada dela, é fortemente patriarcal como tem retratado Saramago no seu Evangelho segundo Jesus Cristo. Hai muitas passages bíblicas lesivas para com a mulher que se explicam polo contexto social em que esses textos fôrom produzidos e o Deuteronómio é um autêntico código legislativo da época onde se recolhem herdanças doutras civilizaçons como a mesopotámica: «vida por vida, ojo por ojo, diente por diente, mano por mano, pie por pie» (19; 21). Umha destas passages di «si un hombre toma una mujer y se casa con ella, y resulta que esta mujer no halla en gracia a sus ojos, porque descubre en ella algo que le desagrada, le escribirá un acta de divorcio, se la pondrá en su mano y la despedirá de casa. Si después que ella ha salido y se ha marchado de casa de éste se casa con otro hombre, y luego este segundo hombre la aborrece, le escribe el acta de divorcio, se la pone en su mano y la despide de su casa; o si se muere este otro hombre que se ha casado con ella; el primer marido que la repudió no podrá volver a tomarla por esposa después de haberse hecho ella impura. Pues sería una abominación a los ojos de Yavhé, y tú no debes hacer pecar a la tierra que Yavhé tu Diós te da en herencia» (24; 1-4).

[7] Citado por Freitas Juvino [2008: 491-2].Noutras passages nom parece tam afortunada a sua escolha léxica – compreensível polo contexto histórico-. Por exemplo no capítulo XXIV do livro terceiro recolhe-se:

«Hoxe o irrintzi vasco, o renchillido montañés, o ijujú astur, o aturuxo galego e o apupo português están vencidos pol-o afeminado olé... Pois ben; os galegos (...) somos a antítesis da golferancia e do señoritismo, da gitanería e do toureirismo. Que resucite a Castela asesiñada en Villalar. Que Castela deixe de ser o que Antonio Machado lle botou en cara: “Castilla miserable, ayer dominadora, envuelta en sus andrajos, desprecia cuanto ignora”. Entón Castela sería cicáis unha Hespaña, e con ela nos entenderíamos. Cos golfos e os señoritos non» [Castelao, 1944: 367].

domingo, 18 de outubro de 2009

Eleutério

Na pesada noite do mês da recolheita os insectos latejavam arredor das luzes como borboletas entolecidas por um passageiro sol de volfrámio. Por baixo os transeuntes caminhavam polo passeio em mangas de camisa alheios aos irritantes rigores dum ainda escorregadiço inverno. Os carros que por vezes abafavam o silêncio ocultavam o rechouchio morno e estridente dos grilos no moinho da Alameda e da campia estrelada do firmamento descia um cheiro indelével a terra esfrangulhada polos rigores do calor. Eram os dias de apanhar as patacas e nas ribeiras repintavam os ácios que ventavam a vindima com o seu mouro traje de madurez.
Na vila, o caminhar rejo e ríspido do Eleutério acochava as matinaçons vitais dum home feito velho antes de tempo. Era o tempo das patacas; e com elas no palhar cavilava no jeito de dar pago o crédito contraído para pagar a quota láctea. Seu pai trabalhara as veigas farturentas do Asma, coma seu avô. Nasceram e morreram com o espinhaço dobrado e a sacha na mao, regando as leiras com a suor dos anos e da secular experiência camponesa acumulada. Seu avô casara e criara a sua fruge com quatro vacas. Era umha casa boa, sempre fora. Agora o Eleutério com mais de vinte vivia sob a presença constante do embargo, tenebrosa espada de Damocles no menos comum dos mercados. Na noite latejavam os insectos e os pensamentos iluviazavam-se num tolo remoinho. Os grilos calárom e o croar dos sapos perdia-se no rebumbio atolado do devalar da vila. “O velho e o sapo”.
O lugar, noutra hora inçado de gente e casas, era umha sombra do que fora, um ermo em que as silvas lhe ganhavam a batalha aos foucinhos. As maos dos velhos aferravam-se aos caiados como a vida e aguardavam nas solainas e nos corredores a chamada entusiasta da Terra. Os nenos extinguiram-se como os carambelos empoleirados as telhas nos rigores invernais. As casas figeram-se velhas por vez primeira em séculos e as janelas cediam com os teitos e as paredes. Nada é igual a nada. Os grilos já nom cantavam no triste esmorecer do lugar porque nom havia pequenos para í-los tirar das suas tobeiras com umha palhinha. Os ecos da malha e das estivadas perderam-se para sempre mais alô do mundo dos homes.
Eleutério entrou a outro bar e recuncou com a soidade dos vencidos na batalha dum mundo esmorecido. As jugadas foram mudadas polos tractores e os homes polo monte e o abandono. O lugar morria e ele sabia que nom poderia sustentar mais aquela morada naquelas condiçons. “Todo mortal”, todo mortal. Se el nom fosse um mortal correria polos bacelos com as estrelas na procura de bágoas candentes de Sam Lourenço e receitaria-lhe às suas inquedanças meio ferrado de pam ferrado, dous de pam panado e muitas sopas de burro cansado. “Burro cansado blues, blues del burro cansado”. Se el nom fosse mortal aguardaria impertérrito um novo florescer das uzes, os codessos e os carpaços no monte da Purreira e enxergaria os campos do Alto de Ramos na procura de lebres e coelhos, esculcando os seus tovos no prado da Coelheira. Se nunca fora morrer e o tempo nom fora mais ca o devalar das estaçons, aprenderia de corrido o nome de todos os agros, morteiros, lamas, bacelos, veigas, prados, passares, devesas, pinheirais e lugares da comarca; o nome de todas as casas, dos vivos, dos mortos que já ninguém recorda: Eleutério, filho de Aguenor, neto de Martinho, filho e pai de gandeiros, o último da caste campesinha dum reino que esmorece por volta do século XXI, porque já nom é deste mundo. Guerreiro sem saga nem fuga, apenas com um JB.
Eleutério se nom for mortal, qual Prometeu, ergueria umha escada rumo ao céu e apanharia estrelinhas nas alboradas para retelhar as casas dos pobres. Levaria-lhes ao Olimpo codelas e pam duro, descendo com os manjares da alegria, a esperança e o futuro. Tende por certo que o Eleutério, se nom fora mortal, até lhe tiraria a venda a justiça dos olhos, para que vira como a sua balança leva desequilibrada mais anos ca romana do demo.
Porém o Eleutério é humano, doído polos golpes da vida, doente por safar-se de ver um fim que os seus olhos nom aturariam. “Onde esteja o teu tesouro, lá está o teu coraçom” e no abrente dos desejos e a esperança refresca-se dia-a-dia o coraçom, até que a fonte seca e murcha, o musgo desaparece e as rás, os cágados e os tritons voam com as andorinhas. Já nom hai crianças que vaiam pescar troitas entre as oucas nem moças para guindá-los nos passares ao rio, já nom hai vizinhos para buscar a auga para a Caleja no verao. Já nom hai futuro nem esperança para o lugar e umha “noite de vorazes sombras” baixa desde os castelos dos dias de treboada ao compás do vento do norte, o cortante Sarandom da natureza erma e morta, soterrada sob a torada de neve na espera dumha raiola de sol, dumha loaira. “Arrabaldo do Norte”.
Cai a névoa sobre a noite na vila e os sapatos do Eleutério vam tastarilhando ao compás do vinho mouro. “Viver e ir morrendo”, no campo sobretodo. Cairá a casa. Os valados. O palheiro. O estábulo. Que será dos eidos sem o alouminho do trabalho? Mas, o que mais lhe dói é a família que tem de deixar, porque é mortal, e as vaquinhas com os olhos atenáceos aguardando a oferecer-lhe o ouro branco dos seus ubres. Que será dum povo que se esqueceu de si próprio no meio do barulho de afastadas falas e modas de oco pedigrí? Tanto tem Eleutério, ao cabo todos sabemos que o que ardeu queimou-se e que o carvalho ou endireita de novo ou jamais o fai. O mundo dá muitas voltas e o centeio quiçais volva aos montes, e os tojos volverám estrar-se para logo semear as cortes com eles. Tanto tem, todo mortal. “Na ponte sobre o rio Asma” chuspiu com a raiva e a carrage e o Eleutério e a noite, lene e mansa coma um boi, ficárom na intimidade. O Eleutério ao cabo compreendeu despois de tanto tempo que só recebera de seus pais umha herança: o nome e a vida que o sustentava. De seu agora só tinha a vida, umha calaça, umha carga para outros. Eleutério renegou de ser Eleutério e com o punho fechado guindou-se ao rio. Eleutério é hoje memória e tenho fé em que nalgum recuncho do universo, onde nom haja homes e só haja justiça, nasceu umha estrela de cándida e eterna labareda. Permitide-me, homes e mulheres de ciência, que a baptice antes de que vós a descubrades com os vossos utilíssimos saberes: poria-lhe Eleutério, mas como lá nom hai homes, chamarei-lhe simplesmente LIBERDADE. “Deica logo Eleutério”.


quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Europa, do paraíso racista à utopia socialista




Antom Fente Parada

O vanguardista Sílvio Berlusconi – na cabeça da implantaçom do neofascismo na Europa ocidental seguindo o ronsel de Benito Mussolini– começou com o ataque aos imigrantes, aos de fora, aos outros com o modelo suíço ao lado da casa. O Estado espanhol toma nota e tenta executar umha política de imigraçom assentada em leis que fam dos estrangeiros sem quartos delinqüentes e dos estrangeiros com quartos turistas, limitando-lhe aos primeiros de modo arbitrário os seus direitos mais elementares.
Mentres Europa cala e outorga no parlamento italiano ouvem-se propostas da Liga Norte ou do Partido Fascista que pulam por afundir em alta mar qualquer barco com emigrantes a bordo. É comovedor comprovar a fina e sofisticada cultura de Ocidente, sempre civilizando com sangue ao resto do mundo.
Nom se chegou ainda a tanto no Estado espanhol, ainda que nesta Finisterra em que vivemos o ministro do fascismo Manuel Fraga Iribarne – agora exemplar democrata, seica– prometia “pepinazos” aos buques com monocasco que passem pola costa galega (para ter vários Prestige cada dia, mas o coitado nom devia pensar nisso). Porém nom é menos certo que na actualidade a repressom e restricçons das liberdades só fixo ir em aumento, neste «franquismo sem Franco» de que falava recentemente o irmao José Manuel Beiras Torrado.
Esta Europa tam plural, democrática e amiga da mestiçage e a globalizaçom capitalista ergue muros e fecha portas todos os dias. A livre circulaçom das pessoas nom existe, apenas a livre circulaçom do capital e quanto menos esteja controlado este melhor.
Mas, na Galiza, ninguém é racista, ou quando menos racista confesso. Aqui vem-me a cabeça umha anedota que vivim na aldeia. Meu pai mercara umha ovelha totalmente preta e quando a juntou com o rebanho as outras ovelhas, que nunca tal cousa viram, escapavam dela como do lobo; > será racismo como na gente, concluiu meu pai. Infelizmente os europeus nom corremos perante os estrangeiros, batemos-lhes, torturamo-los física e psicologicamente, perseguimo-los, deportamo-los, insultamo-los ou mofamo-nos deles. O europeu, coma o espanhol, desprecia quanto ignora, como se recolhia na redondilha de Antónia Machado:
Castilla miserable
ayer dominadora
envuelta en sus andrajos
desprecia cuanto ignora.
O pior é que a esmagadora maioria ignora-o quase todo neste mundo ultraliberal de analfabetos funcionais e “hanalfabetos”, que som grosso modo os ignorantes com estudos, os iscariotes da Galiza. Os romaneses, os equatorianos ou os senegaleses som os responsáveis dos nossos males, que nem som umha décima parte dos que eles sofrem todos os dias. Como antes fôrom os judeus, os massons ou os comunistas. Troca o estribilho, a cançom segue a ser a mesma.
Ninguém é racista. O governo nom o é, por suposto, mais aumenta os muros recorta direitos e fai obrigado que os cidadaos sejam cúmplices dum crime: as deportaçons à miséria e a terra onde nada fica porque lhe lo entregárom às máfias para pagar a passage até o “paraíso europeu”, o qual subsiste, por certo, graças a séculos de colonizaçom, exploraçom e genocídio; e obrigado ao trabalho dos imigrantes, que som para mim emigrantes, tam emigrantes todos coma os galegos que marchamos polo mundo adiante, muitos com umha mao por diante e outra por trás. Precisamente “gallego” é o líder dumha oposiçom que prometia um “contrato de imigraçom” ao Berlusconi para obrigar-lhes a aprender a cultura e a língua espanhola. Estranhou-me porque eles que nom som racistas, defendem o “bilingüismo” e atacam a “imposiçom” do galego na Galiza.
Os emigrantes coidam os nossos maiores e os nossos filhos, limpam a nossa merda e trabalham em condiçons de escrevismo muitas vezes. Ninguém é racista, mas parece claro que o processo de enriquecimento material das sociedades ocidentais nom foi parelho dum enriquecimento da cultura, o humanismo e a solidariedade. Mais bem ao revês. Racista é o que ódia e despreza a sua língua ou o que lhe fecha a porta a um vizinho que necessita ajuda. Quando na pós-guerra se comiam patacas secas dia após dia os pobres agochavam os fugidos, a resistência antifascista, a risco de perdê-lo todo, até a vida, mas por consciência e/ou amizade. Que saberemos nós, meros consumidores, dessas palavras esquecidas. Hoje as galegas e os galegos só vemos o nosso embigo e passamos de homes a porcos, embora nos saibam mais as notas numeradas ca as landras das devesas.
O racismo é, por cima de todo, ignoráncia. Assi de simples. E é ignoráncia porque, como se via no romance 1984 de George Orwell, o inimigo nom vem de fora, está dentro. Nom o vemos na nossa cegueira do desconhecimento, mas vive entre nós ou melhor sobre nós, a classe operária. Eis o inimigo, o de onte, o de hoje, o de sempre: o que vê nos trabalhadores o inimigo; o que ataca qualquer melhora social ou transformadora por tímida que seja; o que nom aceitou a democracia até que lha impugérom pola força nas luitas obreiras, e que agora tripa-a, prostitui-a e bota-a por terra dia-a-dia. O inimigo som os que em pouco tempo e com contínuos e pequenos 23-F destruírom os logros políticos, económicos e sociais e culturais dos povos do Estado, arrincados na luta contra o franquismo com sangue vermelha de operários e aos que finalmente se lhes impujo, pola traiçom dos dirigentes da esquerda espanhola, um home de sangue azul que jurara lealdade aos princípios fundamentais do “Movimiento”. Sangue vermelha como a que correu em Vitória quando Fraga ordenou que massacrara aos operários que se refugiaram durante umha greve numha igreja; porém logo fijo-se democrata a parenta inchou o fole, morreu o conto, e presidiu a nossa naçom, ou quando menos a parte dela dentro do engendro espanholista da Comunidade Autónoma, magnífica reinvençom do centralismo nesta II Restauraçom bourbónica que já parece um “frankestein” do franquismo.
Eu nom som racista, ou isso tento quando menos. Eu som socialista, dos poucos que de verdade ainda quedam, ou isso tenho como utopia vital. Os “outros” para mim som “irmaos” como advertira Celso Emílio Ferreiro no seu célebre poema de Longa noite de pedra, porque comum é a frátria por ser a luita a mesma: transformar a sociedade, acreditar na utopia e no sonho dum mundo justo, solidário e de todas as pessoas. Nom era racista Espartaco, nem Jesus de Nararet, nem Ghandi, nem o Che Guevara o era.
Como advertiu Chávez no Conselho de Seguridade das Naçons Unidas cheira a esperança. África cheira a esperança. Europa a xofre. Se desejamos que cheire a esperança, que ula a humanidade e nom a masseira teremos de convencer-nos que Europa nom é de ninguém porque toda a Terra é das mulheres e dos homes. Galiza nom é de ninguém, nem tam sequer dos galegos, Galiza é de todos os homes e de todas as mulheres: dos que estám e dos que ainda virám. Numha sociedade avelhentada e com um rural abandonado, o futuro, a esperança e talvez até a salvaçom e conservaçom do nosso património cultural e material passa polos que ainda virám.
Quiçais a Galiza próxima seja preta. Os nossos avôs fôrom tamém pretos e emigrárom por todo o mundo, porque tamém nós vinhemos de África e a utopia, até que o sol mudou a nossa cor para adaptar-nos ao meio. O socialismo passa por umha Galiza diversa; pluricultural, pluriidentirária e plurisemiótica. Irmaos, a luita polo socialismo nom finou nem na traiçom de Suresnes nem no muro de Berlim. A luita polo socialismo nom rematou ainda... acaba de começar.

Viva Galiza ceive e socialista! Nós Sós!