Palavras novas e velhas

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

GALIZA e os países de língua portuguesa no foro social mundial

Intróito

Polo presente crónica faremos umha síntese das achegas de Camilo Nogueira, ex parlamentário europeu polo BNG; Ugia Senlhe, música de reconhecido prestigio; e Elias Torres Feijoo, vice-reitor da USC e professor do departamento de Filologia Portuguesa no primeiro Foro Social Galego celebrado os dias 5, 6 e 7 de Dezembro de 2008 na Faculdade de Filologia e no Auditório de Galiza de Compostela.

Mas, que é que é o FSGal? O Foro Social Galego procurou, procura e procurará ubicar a Galiza no contexto dos Foros Sociais Mundiais (FSM), cuja próxima ediçom será no estado de Pará (Brasil) o vindouro 2009, à vez que tenta pensar e construir alternativas desde Galiza, de jeito que a acçom local das entidades sociais poda exercer umha pressom coordenada contra a vaga neliberal e afundar nas alternativas ao sistema assassino denominado capitalismo, na fase mais desenvolvida do Imperialismo, já retratado por Lenine a começos de século XX. Os FSGal é um espaço de debate democrático onde os diversos movimentos sociais podam trocar experiências e ideias para responder à urgente pergunta do que fazer. As suas principais senhas de identidade som a pluralidade e a diversidade, polo que nem é confessional, nem governamental, nem partidário.

Camilo Nogueira

A diversidade nacional foi-se incorporando ao altermundismo e incorporou-se de cheio ao Foro Social Europeio celebrado em Mälmo (2008) e entrará tamém no próximo FSM de Belém (Pará, Brasil). Isto trai consigo radicar a Galiza no mundo como naçom e nom como um simples apêndice do Estado espanhol, co que rem tem a ver a nossa história e a nossa cultura, e que tam só contribui a esluir os nossos traços nacionais, incómodos para os interesses da classe burguesa espanholista, forma peninsular do Imperialismo mundial.

Galiza é hoje a primeira exportadora e importadora de Portugal e tem mais relaçom co país luso do que co resto de qualquer parte do Estado espanhol. Historicamente, Galiza nom tem nada a ver coa mitologia historiográfica do Estado espanhol e os laços culturais com Portugal som igualmente indubitáveis sendo galego e português duas variantes dum mesmo diassistema lingüístico.

Um dos países emergentes hogano é Brasil, centro de vários Foros Sociais Mundiais o que eliminou qualquer atranco na comunicaçom para Galiza e a sua representaçom. O espanholismo está por detrás das mentalidades isolacionistas que destrói a unidade e a capacidade de intercomunicaçom e umha arma valiosa para balizar e defender a nossa língua. Assí, o galego nom pode considerar-se umha língua minoritária, senom que está no mundo como língua intercontinental, só resta que o próprio povo galego assuma a missom de voltar topar-se coas suas raízes para achar o seu futuro.

Ugia Senlhe

Devemos reconhecer-nos dentro da língua comum, do espaço da lusofonia, e a música é umha boa arma para conseguí-lo. Ainda que em Portugal nom admitem a unidade lingüística polos preconceitos de pertencer Galiza ao Estado espanhol, cujo imperialismo ameaçou a soberania lusa[1], o certo é que revela-se necessário ir-se “confundindo”, como dizia Castelao, e superando velhos anátemas que surgem do desconhecimento.

Cantos na Maré[2], festival da lusofonia celebrado em Ponte Vedra, é um jeito concreto de apostar polo intercámbio artístico e cultural co que a Galiza só pode ganhar. Já som seis anos desta experiência cumha programaçom activa que possibilita a projecçom da Galiza para a lusofonia e como espaço humano e nacional aberto ao mundo. Zeca Afonso foi, neste sentido, um activista que tendeu pontes entre a Galiza e a república de Portugal. Actualmente, estám-se dando importantes passos de achegamento, sobretodo, co Norte do país vizinho.

A cultura galega adquire assí novos horizontes e projecçons e só tem a ganhar, rem a perder. Guardando deste modo os nossos valores identitários e situando-os no mundo.

Elias Torres Feijoo

A Galiza vive umha autarquia moi precária, sobretodo, no mundo cultural que tam só se palia através do mundo cultural espanhol. Isto por vezes nem tam sequer se dilucida por estar a situaçom já interiorizada pola ocupaçom secular da nossa naçom.

Esse espanholismo tem efeitos sobre a nossa identidade, sobre o que nos somos, e tem efeitos sobre a nossa concepçom do mundo que vemos quase com lentes espanhóis: ordenamos o tempo e construímos a realidade desde as directrizes do mundo cultural espanhol. Existem incluso subtis proibiçons para evitar iniciativas ou capacidades de interrelaçom cos países da lusofonia. Subvencionam-se jornais quase integramente em castelhano por apresentar algum que outro paragrafo marginal em galego grafado à espanhola, enquanto o Novas da Galiza nom recebe um peso por apostar pola ortografia históricista.

Hai crenças que a força de serem repetidas acabam interiorizando-se. A norma regeneracionista utiliza todos os instrumentos do nosso diassistema galego e mesmamente foi e é gerada no seio da própria Galiza, umha norma dinámica e dialéctica, carregada de futuro, que se afasta do estatismo e do «separatismo das aldeias»[3] proclamada como sacrossanta, qual constituiçom espanhola, polo binómio autonomista RAG-ILG e o espanholismo personificado primeiro na UCD, logo em Aliança Popular e ainda hoje sob o PSOE fijo todo o possível para frenar qualquer tentativa de permissividade os debate a sério entre isolacionistas e reintegracionistas.

Resulta nesta altura evidente que hai um centro de domínio cultural que os poderes nom querem de nengumha maneira abandonar, pois suporia abrir caminhos e horizontes para Galiza e as suas gentes. Temos de aprender os extraordinários benefícios que pode supor ser a cabeça de ponte da África lusófona e do Brasil em Europa, junto a já assentada relaçom galego-portuguesa.

Só regenerando a nossa língua e inserindo-nos no nosso próprio diassistema podemos superar a nossa autarquia cultural.

Bate-papo

Cumpre umha prática de pedagogia política que faga ver à cidadania que ou reintegramos e regeneramos a língua ou a desintegramos e a patoizamos a respeito do espanhol, como salientava Carvalho Calero. O lusismo é pôr de manifesto como a espanholizaçom fai negar à própria Galiza o seu carácter, de aí a resistência da Galiza e a resistência incluso de Portugal.

O galego moderno, culto, mais cultivado é o português. No novo Estatuto de naçom deveria-se incluir que nas relaçons internacionais se deverá empregar o português cos PALOP's, algo perfeitamente possível no actual marco legal, junto à recepçom das televisons portuguesas na Galiza; no entanto, duvidamos que mesmo o BNG tenha isto como algo urgente na sua agenda política, pois a impostura e a desorientaçom dominam a sua postura perante a língua[4].

Aliás, 17% do PIB português tem relaçom directa coa língua comum, o qual repercutiria positivamente na nossa economia, algo que bate com realidades irrisórias como que na TVG se legendem as intervençons de portugueses e brasileiros. Como tem assinalado o Alexandre Barros «as balizas mais importantes hoje do espanholismo estám nas elites da Galiza».

Camilo Nogueira

A identificaçom entre o galego e o português, já defendida por homes como Murguia ou Castelao, tem como benefício a auto-estima e favoreceria umhas relaçons em galego português e nom em castelhano e isso traduze-se em conseqüências económicas sem depender permanentemente da metrópole. A regeneraçom e a reintegraçom espertaria aos galegos e às galegas e Galiza pensaria-se a si própria e assinalaria-se no mundo sem fazê-lo permanente como província ou colónia espanhola.

O galego é a língua nacional da Galiza e o português é a forma internacional da nossa própria língua, embora sendo iguais sejamos diferentes com traços de nosso. A RAG deveria reconhecer que Brasil e Portugal falam galego (e vice-versa) e hoje nas palestras de língua galega deveriam ensinar-se divergências e semelhanças entre a norma galega e o padrom do Acordo Ortográfico.

Elias Torres

O movimento reintegracionista é um movimento unificador, o isolacionista desagregador, pois tam só afunda nas diferenças e que fai dos geolectalismos a sua bandeira. Os próprio galegos forçam a brasileiros e portugueses a considerar a sua língua como nom válida na Galiza, ao serem tratados em espanhol e como estrangeiros nom apenas nacionais, mas tamém culturais. Na Galiza nom existem estudos da cultura e o seu influxo na economia, porque nom som promovidos. Nos estudos elaborados desde a resistência vê-se como a mentalidade espanholizante reside fortemente na Galiza. Umha comunidade tem umha séria de recursos, a sua energia, e os destinados à cultura autárquica de pouparem-se poderiam inverter-se em publicitar produtos e obter milhons de euros em contrapartida. No entanto, o governo galego nom se tem interessado por estes estudos nem os vai promover, embora sejam essenciais para alentar o bem-estar da nossa naçom.

Galiza hoje poderia promocionar autores literários, musicais, etc. para toda Europa e actura assí como cabeça de ponte cultural e, aliás, ampliar isto logo a todos os produtos dum país emergente como é o gigantesco Brasil, para o que é inevitável desprazar e substituir aos beneficiários da autarquia cultural galega e, já que logo, existe umha desconexom entre as instituiçons da Galiza e a realidade social, cultural e histórica que só paliará a regeneraçom conclusa da língua.

Aliás, na Galiza o problema é duplo, ora a falha de visualizaçom de produtos culturais da lusofonia, ora a falha de recepçom desses produtos vivendo de costas aos sotaques brasileiros, portugueses, moçambicanos, caboverdianos, angolanos, timorenses, etc. e resultando-nos alheia a nossa ortografia comum enquanto abraçamos a estranha. No fundo, o desprezo ao português parte na Galiza da auto-xenreira que os próprios galegos sentimos cara nós mesmos.

Camilo Nogueira

A nom recepçom das televisons portuguesas parte da própria mentalidade do Estado e desde o nascimento dos estado-naçom estes artelham e articulam as mentalidades e combatem pola cima umha UE democrática e dos povos e pola base os direitos nacionais das naçons sem estado, para manter as cadeiras douradas do Imperialismo burguês. O espanholismo nom pode permitir que Galiza tenha por si mesma capacidade de situar-se e relacionar-se co mundo por mor dumha língua comum.

O achegamento deveria fazer-se paulatinamente e sem perseguiçons nem imposiçons sobre os que quigerem continuar a empregar a norma actual. Neste sentido, desde a metrópole acutará-se com energia contra o regeneracionismo, como se desprende do terrível artigo II da Constituiçom espanhola em que se resume todo o espanholismo herdado do liberalismo burguês do XIX acrescentado polos deixes e achegas fascistas do franquismo.



[1] Estes preconceitos nom existem no Brasil ou noutros PALOP's, para a construçom do padrom português veja-se o livro de Fernando Vasques Corredoira: A construção do português frente ao castelhano. O galego como exemplo a contrário, Laiovento, Compostela.

[2] A ediçom 2008 celebrará-se mais umha vez em Ponte Vedra neste mesmo mês de Dezembro, o dia treze às 21:00h

[3] Etiqueta empregada num artigo por Rafael Dieste em que advoga por umha língua franca galego-portuguesa.

[4] Sarilhe, José Manuel (2007), A impostura e a desorientaçom na normalizaçom lingüística, Candeia Editora, Compostela, pp. 37-51.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

A impostura e a desorientaçom no desenho e aplicaçom do Plano Bolonha. As eivas na resposta do estudantado


Tomando como empréstimo o título do moi recomendável livro de José Manuel Sarilhe[1] podemos afirmar que o que predomina no denominado processo de Bolonha é a impostura e a desorientaçom, afectando a mesma aos níveis mais insuspeitados e com conseqüências nem sempre previsíveis nem por isso menos traumáticas. Nom será esta umha análise a fundo do Plano, nem tampouco a visom dum experto conhecedor do novo plano. Nom é essa, desde logo, a nossa pretensom e ainda que assí fosse o nosso desconhecimento evitaria qualquer possibilidade de atingir sucesso em tal empresa. Portanto, as reflexons que aqui se vam verquer sobre Bolonha som simplesmente observaçons como membro da cadeia do sistema educativo nesta altura em que o processo nasce e, sobretodo, som consideraçons obrigadas como cidadao e pola ética de esquerdas que nos leva a rejeitar o Plano Bolonha na sua formulaçom actual que é a que passará a materializar-se. Por isso mesmo, corre o risco de nom gostar a ninguém o que aqui se exponha porque as carências, as mentiras e a ficçom atravessam todas as camadas da engranage política e académica chegando até o coraçom mesmo do estudantado, mas vaiamos a modinho.

Nengumha pessoa que julgue o Plano cum mínimo de rigor e objectividade pode deixar de topar luzes e sombras. Efectivamente, e isto deve ficar bem claro, Bolonha tem cousas boas ou possibilidades que de reformarem-se ou explorar-se atinadamente dariam moito de si e significariam um grande progresso. Algumhas som a tam publicitada convergência europeia, a racionalizaçom dos horários e os conteúdos ou umha maior achega ao mercado de trabalho. Mas entom, de que é que nos queijamos? Nom vou aqui a desenvolver nengumha virtude do Plano porque disso já se encarrega o binómio político-mediático da II Restauraçom e a maioria dos reitores que procuram legitimar a reforma. Só se dá a conhecer o que interessa e do modo mais adoçado possível, enquanto se oculta a «universidade à bolonhesa» da que falava no Galicia Hoxe Miguel Anjo Fernám-Velho.

A convergência exigirá planejar umha maior presença dos idiomas, nomeadamente do inglês nas carreiras, já que mobilidade laboral[2] e convergência som o mesmo e aí já hai dous problemas a priori, como é que responderám os nacionalismos lingüísticos dalguns estados perante a preeminência absoluta do inglês e como é que as línguas minorizadas e minoritárias podem ficar com direitos e presença veicular no ensino (algo que na Galiza o galego-português desde logo nom tem polo de pronto). A racionalizaçom dos horários trairá consigo a impossibilidade de compaginar trabalhos e estudos e os préstimos-bolsa veremos como se outorgam e em que quantidade, mas de saída suporám contrair umha dívida desde os dezoito anos cumha entidade bancária, para além de supor um aforro para o Estado que deixa e nom dá, o qual dá ideia da grande importáncia que no Ocidente tem a educaçom. Quanto aos conteúdos, a reestruturaçom trairá como conseqüência imediata a falha de garantia de oferecer docência nos dous planos, esperpentos como o da faculdade de políticas, froito da irresponsabilidade da decana, e a longo-meio prazo o recorte dos plantéis docentes e nom docentes em todos os centros universitários. Por último, achegar-se ao mercado laboral, que em princípio é bom, evidência mais umha vez a preeminência na educaçom de formar mao de obra mais ou menos qualificada e o desleixo contínuo das humanidades... mesmo pode concluir numha universidade subalterna aos interesses e directrizes do grande capital. Em todo caso, quere-se fazer ver que nem todo é tam formoso como o vendem nem o processo garante passos para umha educaçom universal, pública e de qualidade[3].

Em primeiro lugar, conviria dizer que a impostura e a desorientaçom som, em minha opiniom, umha constante que se dá numha tripla dimensom: na classe política, na docência – equipas reitoras nomeadamente- e no estudantado, mal que nos pese. No geral, cumpre assinalar que o processo de Bolonha é na forma e no fundo umha reviravolta coerente co neoliberalismo salvage e, daquela, nom passa de ser umha reconversom industrial aplicada ao ensino, de aí o mutismo, o silêncio e os adoçantes em meio de verdades a meias para tapar umha nova forma de elitismo para o ensino por meio dumha jogada duplamente magistral: dumha banda, apresenta-se como modelo insuperável de democratizaçom pola convergência europeia, que veremos até onde fica garantida, e doutra aplica-se a privatizaçom ao ensino com custe cero para as arcas do Estado espanhol. Melhor impossível. Portanto, é dever das camadas mais conscientizadas advertir das conseqüências do Plano, mas tamém da ideologia que a sustenta, a mesma que socializa as perdas da banca e liquida aos poucos o estado do bem-estar que o imperialismo criara para evitar a conflituosidade entre classes.

A casta política espanhola entom, limita-se aplicar as directrizes da UE, a Europa dos estados e do mercado como se pode comprovar ao ler a Carta Magna, fanada na letra, mas nom na aplicaçom. Desorientado, limita-se a privatizar o ensino e reconvertê-lo sem gastar um peso e deixando no ar aspectos fundamentais. Vai-se aplicar umha das reformas mais profundas e brutais sobre o ensino a custe cero e sem que nengum partido político erga a voz, no meio do silêncio e a mentira cumha sociedade desconhecedora do alcance, a magnitude e as repercussons da, permita-se-nos a palavra, estadunizaçom de Europa... e nom falo dos Estados Unidos de Europa que o bom olfacto político de Castelao vaticinara anos antes do Tratado de Roma. Para o ensino e a educaçom nom hai quartos, para tapar os despropósitos da banca e o grande capital sobram. É umha pena que os nossos reitores nom podam ir de paparota a Mónaco e pagar 3000 € por garfo, coma os banqueiros porque aqui nom se injecta liquidez nem hai nada que celebrar. O seguinte será a sanidade? Já ninguém duvidará que só se querem formar operários e nom cidadaos cum sempre aceso espírito crítico, criar um vazio ideológico ainda maior do já existe. A elitizaçom do ensino permite amais recortar o número de pessoas com intitulamentos universitárias e permite, aliás, potenciar os ciclos meios e superiores, já que na maioria dos casos estes intitulados podem cobrir as praças, ponhamos por caso dum engenheiro, recebendo um ordenado moito menor. Um passo mais na democracia de votar e calar, onde a comercializaçom da universidade supom a sua morte como advertiu Federico Mayor Zaragoza[4].

Logo estám os docentes e as equipas reitoras. Recebem ordes, acatam e aplicam, hai bons e generosos que ainda nom tragam toda a lama que lhes botam, completando o verniz oficialista, sem elevar apenas nengumha objecçom. Onde hai mais sorte, e neste sentido filologia nom se pode queijar, tenta-se que o trago seja o menos traumático possível e professores coma Bermejo ou a decana de História em todo momento se opugérom ao Plano; onde nom é tam assí geraçons de estudantes ficam paralisados e desorientados perante a aplicaçom da noite para o dia dum Plano sobre o que pouca ou nula informaçom recebêrom e, por vezes, mesmo perdendo cursos inteiros, veja-se o acontecido em Ciências Políticas. Nos últimos cinco anos pouca ou nengumha informaçom foi pública, e por pública entende-se transmitida aos afectados nom publicada em recantos e às agachadas, e o estudantado ficou e fica, em grande parte, no desconcerto e o desconhecimento mais absoluto. Umha espiral perversa de ignoráncia que já só pola falta de transparência e acesso a fontes diversas e plurais fai desconfiar ao mais inocente e confiado.

Destarte, a universidade perde umha oportunidade para exigir, amparando-se na nova reforma, a auto-suficiência financeira da instituiçom e prolonga a sua precaridade económica coa possibilidade de ficar perigosamente supeditada ao lucro e os interesses do capital e, portanto, perdendo o espírito crítico do que historicamente fixo gala[5].

Infelizmente, é impossível rematar este percurso sem reflexionar sobre nós mesmos, o estudantado que se ergue contra o Plano e o que nom o fai porque ou bem nom quere ou bem a cousa semelha nom ir com el. Aqui a desorientaçom e a impostura som igualmente nítidas e agravosas, roçando até o ridículo por duro que seja dizê-lo. A maioria do estudantado fica na alienaçom do ni fu ni fa à toa, sem reconhecer as origes do problema e apenas visualizando problemas imediatos e apêndices do sistema, confundindo o que é Bolonha, co que é o novo master em pedagogia para poder departir aulas, o novo CAP, froito dumha Lei da etapa Aznar, etc. A sua frustraçom manifesta-se, como aconteceu na Praça Roxa neste mesmo 2008, em concentraçons de madrugada polo feche às seis da madrugada dumha discoteca, enquanto as concentraçons contra Bolonha contavam cumha presença testemunhal. Ver para crer. As jornadas de greve som umha excusa para fazer ponte, nada de ladainhas reivindicativas. E somos em teoria a camada melhor formada da sociedade... os futuros educadores, científicos, directivos, etc. da sociedade; já deitaremos as maos à cabeça quando nom haja marcha atrás.

No tocante, aos que fazemos moito ruído, mas colhemos poucas nozes, ainda que o fagamos de boa-fé, nom pinta moito melhor a cousa. Os estrategas militares conhecem bem aquel dito velho do «divide e vencerás», os que agora implantam Bolonha ficam moi tranqüilos porque sabem que a unidade de acçom entre o estudantado e a dia de hoje impossível. Vários factos apontam nesta direcçom. O ano passado funcionou umha Assembleia Geral que rematou sendo um circo onde cadaquém tentava tirar partido para a sua agra ideológica na naçom dos minifúndios por excelência. Que outros queimem os dedos tirando as castanhas do lume. Debatia-se se era acertado ou nom levar símbolos nacionais ou quem era mais radical e menos amarelo. Em nengum momento se construiu a sério um plano de acçom e se marcárom objectivos políticos claros, o infantilismo político afundou na desorientaçom enquanto os sindicatos fôrom incapazes de dialogar e formular manifestaçons, petiçons e acçons conjuntas co conseguinte descrédito perante a sociedade, entre ela o próprio estudantado, reduzindo as possibilidades de formar e chegar à sociedade e minimizando o impacto dos protestos sobre as instituiçons que em nengum momento se vírom coagidas. Perante as repercussons de Bolonha era tam bem esquecer-se dos horizontes revolucionários de cada um e operar cum mínimo de pragmatismo e solvência, mas a parcelária ainda nom nos colhe na cabeça e tropeçamos de dia para dia por levar os sapatos sem amalhoar e nom olhar para eles.

Igualmente notável é a impostura. Desde alguns sindicatos estudantis atacárom-se elementos superficiais e moitas vezes desligados de Bolonha, o que rebela ou bem limitaçons nas possibilidades de manobra ou bem um desconhecimento que roça o intolerável. Esquecem-se os problemas de fundo, estruturais, e perdem-se em suba de taxas ou em retórica de pseudo-comunismo, de loita de classes ( o disfarce do espanholismo de centro-esquerda) sem oferecer alternativas viáveis e sistemáticas; o perfeito diálogo de surdos que conduze a simples captaçom ideológica, legítima por suposto, mas insuficiente para dar resposta aos problemas cos que se enfrenta o sistema educativo - cada vez menos público, menos galego e de pior qualidade-, enquanto os integrantes do mesmo olhamos cada um para nós na posse narcisista da inconsciência e o derrotismo, alheios a que a felicidade nom é para manhá, mas a infelicidade pode ser para hoje mesmo.

Antom Fente Parada

Na Galiza ocupada a primeiros do Nadal de 2008. Nós Sós!


[1] Sarilhe, José Manuel (2007), A impostura e a desorientación na normalización lingüística, Compostela, Candeia Editora.

[2] Aqui um tamém pode ser mal-pensante. Recentemente o governo espanhol aprovou em Roménia um experimento para evitar a emigraçom massiva desde esse país, o qual se planejava desde o PSOE, contrário ao contrato de emigraçom do PP, como um grande avanço que deveria fazer-se extensível a toda a UE. Se a umha pessoa que gasta em formar-se os melhores anos da sua vida lhe dam praça fora do seu país (porque nom em Quénia e temporal a poder ser?), da sua própria terra, porque nela nom hai simplesmente futuro, isto é um grande avanço? Um Estado forma para pagar-lhe a elite cultural a outro... onte era brain drain hoje flexibilidade laboral e progresso. Aliás, quem pode permitir-se estudar no estrangeiro? Desde logo o grosso do estudantado nom.

[3] Veja-se tamém o artigo de A. Benítez “Sobre la declaración de Bolonia de 1999” do ano 2005 e disponível na rede.

[4] Na IV Conferência Internacional de Educaçom Superior celebrada em 2008 em Barcelona.

[5] Nos acordos da Assembleia Geral de Reitores das Universidades Espanholas (CRUE) rem achei na direcçom de apor impedimentos ao processo nem tentativas de solventar a situaçom financeira amparando-se nas necessidades económicas dumha reestruturaçom. Entre as consultadas topava-se a do 8 de Julho de 2002, intitulada «La declaración de Bolonia y su repercusión en la estructura de las titulaciones en España», onde se recolhe, no entanto, ainda que sem medidas concretas o respeito pola diversidade nacional e lingüística, isso si, do espaço europeu nom do Estado.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Jovem e rebelde? A necessidade da acçom política na mocidade galega

Antom Fente Parada, Galiza, 2008

Intróito

Mediante umha série de reflexons interdependentes, mas fraccionadas por questons didácticas, tentaremos analisar a situaçom da mocidade galega actual, a nossa situaçom, e demarcá-la no contexto sócio-político presente para poder outorgar baças contra o binómio político-mediático e contra o sistema dominante a fim de fornecer às jovens e aos jovens de ferramentas para atingir cimentos teóricos que sustenham a prática social a prol dum outro mundo.

I.- To be or not be

Na actualidade assistimos de dia para dia a contínuos bombardeios do binómio político-mediático (1) entre cujos fins principais se topa, por descontado, a desactivaçom da consciência juvenil e, portanto, a alienaçom que leve a aceitar passivamente as receitas do sistema: dependência, incultura, egoísmo, apoliticismo, racismo, machismo, drogadiçom...

O hiperconsumismo da etapa actual é um dos sintomas mais claros de alienaçom massiva e passiva, evoluímos desde «a fase dos caçadores-recolectores à dos compradores-consumidores» (2). A criaçom de contínuas e falsas necessidades é um mecanismo perfeito para desactivar a reflexom e a loita juvenil. Neste intre, o capitalismo potencia o «consumismo compulsivo de baixa qualidade e de relativamente fácil satisfaçom. Cria-se assí umha espiral absorvente de criaçom de necessidades falsas, de ánsias de compra e de rápida frustraçom ao vermos que após a compra surgem novas “ofertas” que som na verdade novos mandatos e exigências de consumo» (3).

É o método mais doado para procurar certo nível de bem-estar interior, quer dizer, que procuramos inconscientemente seguridades, ora em artigo de consumo inecessários, ora em crendo todo quanto vomita a caixa-boba, ora recorrendo a empaches de álcool e demais drogas que nos sirvam como vias de desconessom e escape perante a adversa realidade histórica que nos tocou (em sorte?) viver. Como se poderá deduzir os mecanismo que o poder tem para perpetuar a alienaçom som múltiplos e criam umha complexa rede tecida para agochar as suas manobras de perpetuaçom do sistema imperialista, formas de converter o indivíduo de ser racional e racionador a 'eu aterecido', ou seja, a indivíduo passivo. Coa propaganda do imperialismo, co emprego abusivo da persuassom chega-se ao que Pratkanis e Aronson tenhem denominado como «espiral de ignoráncia» (4):

«Isso [o emprego de induçons emocionais ou os razoamentos simplistas da persuasom da publicidade e da política burguesa] pode ter calamitosas conseqüências para a democracia. A medida que cresce o número de propagandistas que recorrem à persuassom simplista aumenta as presas por competir na utilizaçom de técnicas de persuassom cada vez mais burdas e elementais. Conforme cresce o emprego desse tipo de persuassom, a gente está tamém cada vez menos informada e é menos exigente nos assuntos que concernem à comunidade. A medida que desce a informaçom do cidadao de a pé, o propagandista vê-se na precisom de dar saída a formas de persuassom ainda mais burdas. O resultado é umha espiral de ignoránica, quer dizer, umha cidadania cínica e escéptica [passiva] à que se bombardeia com mais e mais propaganda superflua e cada vez tem menos tendência e desejos de comparar e menos faculdades de entender. Assí pois, a conviçom de Adolf Hitler de que as massas som ignorantes cobra o carácter dumha profecia que pola sua própria natureza tende a materializar-se».

II.- A geraçom reallity

Poderia-se pensar, vendo o número de publicaçons existentes e os anos de escolarizaçom obrigatória, que o nível cultural da Galiza é bom e que o aceso à cultura é hoje um bem universal. Já digo, poderia-se pensar. A pergunta é: que cultura é a que querem que consumamos? O sistema procura por todos os meios a imposiçom dumha cultura que volva inócuos aos sujeitos, construir umha sociedade de “eus aterecidos” a conta de reallitys e cultura de tele-lixo... ainda que isto só é a ponta dum icebergue cuja base descansa em mecanismos moito mais subtis. Vejamos algum.

a.- O processo de socializaçom (5)

Por processo de socializaçom entendemos o acceso do indivíduo ao seu meio social constando dumha fase inicial, primária, que transcorre na família (e hoje, infelizmente, praticamente perdida cos conseguintes perigos para as crianças desprotegidas desde o berço perante a bazófia dos meia), e umha outra secundária que se dá no entorno social imediato e particularmente na escola:

«Toda a estrutura de formaçom da personalidade humana está pensada para, desde as primeiras horas de existência, fazer do sujeito um ser dependente. Desde que nasce, o ser humano é submetido a toda série de ditados, exigências, disciplinas, ameaças, castigos, recompensas, prémios, gabanças... para anular-lhe qualquer possibilidade de pensamento próprio, crítico e independente» (6).

Ponhamos um exemplo. Um estudante de direito bem pode rematar a sua carreira, inclusso com resultados aceitáveis, sem questionar-se quem é que fai esta lei? Com que objecto fai esta lei? Para quem se promulgou esta lei?

«O sistema educativo que a juventude padece nom lhe ensina nem forma para ler com orde e sistemacidade, para pensar criativamente e ordenar e planificar os nossos pensamentos e expô-los efectivamente. Nom nos educárom para compreender os avanços científicos, mas apenas para malviver na ignoráncia dependente e dogmática. (...) O nosso vocabulário meio é estremadamente limitado e simples. Nom sabemos como procurar um livro numha livraria, e tampouco nos ensinárom a fazer um seguimento das publicaçons novidosas».

b.- O hiperconsumismo e a desactivaçom cognitiva através dos meia (ver ponto I).

c.- Redes de dependência polo emprego sistemático do medo.

Temos medo a ficar sem o nosso trabalho precário e nom se nos ocorre loitar por trocar a barbárie neoliberal, porque o medo paralisa. Temos medo a nom emancipar-nos até os quarenta e nom cavilamos em que a vivenda é um bem do que deve dispor todo ser humano, porque o medo paralisa. Temos pánico a botar anos e anos na faculdade para logo ouvir um «vuelva usted mañana», mas aceitamos silandeiros o processo de Bolonha e nom nos molestamos por informar-nos desta reconversom industrial do ensino, da mercantilizaçom extrema da educaçom. Já nom querem sujeitos com voz própria, só mao de obra qualificada e máxima mobilidade para preconizar ainda mais o emprego. Daquela, comprovamos como os efeitos das estratégias político-económicas da burguesia conduzem à depauperaçom mais absoluta da mocidade galega, material e intelectualmente, «um dos maiores obstáculos para a auto-organizaçom juvenil», posto que «a precaridade e inseguridade no posto de trabalho» e «a incertidume sobre do futuro pessoal que se padece durante a época de estudos» som só dous exemplos de como é que o sistema pretende fanar que a mocidade seja capaz de organizar a sua vida, isto é de acadar a INDEPENDÊNCIA.

Aliás, só é possível falar de independência cognitiva quando a pessoa se desenvolve na sua colectividade, na sua classe social e na sua naçom, ou seja, quando se deixa o egoísmo, o narcisismo injectado pola propaganda consumista e burguesa de culto ao eu, para passar à loita e à rebeliom, quer dizer, à insurgência arredista. O ser humano é político por natureza e já Aristóteles o viu assí, portanto, quem afirme que é apolítico ou que «todos os políticos som iguais» nom está afirmando que el de dia para dia nom actue politicamente, ou seja, civicamente, mas simplesmente que nom acredita ou que está desencantado do politiqueio da democracia de baixa intensidade do Estado espanhol:

«sem referentes críticos e alternativos externos, nom é estranho que moitas [pessoas joven] esqueçam as suas dúvidas e queixas e se desintegrem como pessoas no magma do conformismo passivo» (7).

Demais, a propaganda oficial «insiste em que o futuro está já fixado e determinado pola orde actual, nom sendo possíveis “aventuras” de nengum tipo, de modo que apenas fica como única possibilidade a reforma lenta do existente. Sem ilusom política nengumha, ignorando a história e as razons da sua malvivência, domina o apoliticismo (...). Como moito, repetem-se sem entendê-los tópicos ao uso como “toleráncia”, “solidariedade co terceiro mundo”, etc., quando na prática diária nom se fai nada disso» (8). Entom, nom deve surpreender-nos que a mocidade ceive essa impotência e raiva, inconscientemente, em actos denominados “botelhons”, hipocritamente demonizados pola propaganda oficial quando é o poder mesmo quem indirectamente os promove.

d.- Divide e vencerás

Quando um corpo tem gangrena para este nom remate por corromper-se por completo amputa-se o membro. Quando num grupo social hai um germolo revolucionário isola-se, esmaga-se e elimina-se. A mocidade arredista segue, hoje coma onte, criminalizada e tenta silenciar-se com propaganda espanholista. E mais doado que moitas moças e moços aceitem a opressom, vencidos e desorganizados, sem conhecer que outros coma eles si exercem umha loita contínua e sem aceder nunca às suas sem-razons e propostas.

No entanto, cumpre assinalar que o problema estende-se tamém à formaçom da militáncia arredista, pois hoje mais do que nunca saber comunicar é essencial, sobretodo quando o comunicador deve opor a sua informaçom de boa fé à propaganda massiva do sistema. Moitos militantes, da esquerda galega até, coidam que avonda cumha militáncia prática, que, porém, remata praticamente em nada, ou numha virage ideológica, se nom hai umha profunda base teórica que permita dar resposta interiormente às complicaçons que surdem na loita por subverter a orde vigente. Aliás, a verdadeira cultura diferencia ao radical do sectário, e aqui empregamos o termo no sentido de cultura política, revolucionária, e, já que logo, socialista. Naturalmente, as massivas cissons na esquerda arredista impossibilitam qualquer frente de loita comum coa suficiente força como para calhar mais alá do seu núcleo natural, quer dizer, hai gralhas de base que impedem a artelhaçom de frentes amplas que respostem com contundência aos constantes atropelos do poder, algo semelhante ao que Lenine descrevia em A doença infantil do comunismo. Como indica Gil de San Vicente (9):

«Nom pode existir capacidade de auto-organizaçom emancipadora e de afirmaçom da própria personalidade colectiva e individual, sem um simultáneo esforço de enriquecimento cultural. (...) Moitas pessoas moças empeçam a emancipar-se e até a militar politicamente sem formaçom nengumha, incluso desprezando este esforço e centrando-se exclusivamente “no prático”. A experiência geral confirma, no entanto, que estes casos tam freqüentes a desinchar-se se esse pragmaticismo nom vai acompanhado, reformado e, a partir de determinado momento, guiado por umha concepçom teórico-político».

Isso explica como moitos bons e generosos som incapazes de examinar coa necessária frialdade o contexto sócio-político e agir em conseqüência, ultrapassando a simples agitaçom de brocha, pintura e auto-colantes. Isto tamém vem reforzado polo analfabetismo funcional geralizado que existe hoje em dia e que nom convida em absoluto à formaçom, já que escoita-se antes a um adulador farsante do que a um orador ético e cultivado.

e. O apparheid sexual

O patriarcado burguês tem mudado a carauta nos últimos anos sem que, na verdade, isso se tenha traduzido numha desarticulaçom do patriarcalismo. De facto, os pré-juízos machistas ficam inclusive entre militantes do arredismo, pois som múltiplos os mecanismos do patriarcado burguês para perpetuar-se. Neste sentido «nom deve surpreender-nos que sectores juvenis nom sejam apenas “apolíticos” e indiferente e passivos em questons que lhes afectam crucialmente, mas tamém que existam jovens consciente e abertamente reaccionários e fascistas» (10).

De facto, às mulheres marca-se-lhes desde a sua nascença, marginando-as e alheando-as com estereótipos que se repetem de dia para dia na televisom e na publicidade e que longe de remitir vam em aumento, apresentando mulheres-mercadoria, na fechitizaçom completa do ser humano que agora tamém se aplica ao home, ainda que com resultados de valorizaçom social diferente. Aqui cumpre-se o que para as línguas. No Canadá levou-se a termo um estudo em que um mesmo indivíduo falava em francês, língua minorizada, e em inglês. Pois bem, perguntava-se-lhes aos sujeitos que dixessem qual voz pertencia a um sujeito alto, loiro, etc. e qual a um moreno, baixo, etc., evidentemente o inglês era o bom, o alto, e o loiro.

f.- O apparheid lingüístico

Tamém é especialmente a discriminaçom que seguem padecendo os falantes de galego, já nom digamos na Galiza irredenta, e ainda mais ameaçante é a progressiva depauperaçom da qualidade do galego oral e escrito, cada vez mais contaminado polo espanhol e submetido a modelos netamente espanhóis, começando pola fonética e o vocabulário que manejam os escassos meia que empregam a língua nacional. Isto reverte para a mocidade, tanto na comprometida na cauda idiomática coma na que nom. Hoje, mais do que nunca polo etnocídio cometido no agro galego, torna-se fundamental a extensom do galego e nos grupos com maior conscienciaçom um esforço por manejar umha língua aceitável, com conhecimentos básicos de gramática que permita exercer um “apostolado lingüístico” contínuo. Aliás, os cada vez mais fortes e contínuos embustes do espanholismo contra os direitos colectivos do povo galego e a sua cultura de seu fam ainda mais atractivo, paradoxalmente, o cultivo e uso continuado do galego-português na Galiza, já que reforçam o seu carácter de língua de loita, de língua progressista, de língua de liberdade e, em definitiva, de língua proletária em poética image de Celso Emílio Ferreiro.

Em definitiva, falar galego nom é apenas exigido quanto que galegos, mas tamém é um bom método, se se fai de maneira coidada e consciente, de apartar-se dos eufemismos e das categorizaçons maniqueias do império, coa conseguinte componhente de libertaçom individual e colectiva:

«Nengumha língua, negumha cultura, sobrevive se paralisa a sua capacidade de interpretaçom da realidade sempre cambiante. No nosso caso para além dos ataques repressores exteriores, tamém devemos ter em conta as opçons autonomistas que pretendem “despolitizar” a nossa cultura coa excusa de nom dar razons ao inimigo, quando em realidade consegue, dumha banda, criar umha cultura débil, pobre, sem capacidade crítica e em conteúdo progressista e, doutra banda e junguido ao anterior, essa cultura é umha simples traduçom literal da cultura ianque como cultura dominante a escala planetária» (11).

g.- A repressom

Evidentemente todos estes meios de imposiçom dumha cultura que volva inócuos aos sujeitos tamém descansa numha repressom mais directa, especialmente sensível nos grupos que mais se resistem a aceitar os embustes do binómio político-mediático. Para isso, pretende-se agir com mecanismo psicológicos variados, destacando o do “consenso social”: se todos estám de acordo eu tamém, e que foi umha e outra vez empregado por Joseph Goebbels, chefe da propaganda nazi desde 1933:

«A propaganda nazi valeu-se generosamente da heurística para lograr a concordáncia coa mensage que pregoava. Assí, por exemplo, nas assembleias multitudinárias e nos filmes propagandísticos sempre apareciam umha pleíade de prosélitos nazis que aplaudiam, vitoreavam e saudavam braço em alto. Denominamos a esse fenómeno a heurística do consenso social» (12). Nom é por acaso isto o que se fai quando se ensinam a moços com bandeiras de Espanha celebrando a vitória do combinado «rojo y gualdo»? Recalca-se bem que se trata de múltiplos indivíduos, e procura-se citar nos festejos cidades como Barcelona, Donosti ou A Crunha, por razons evidentes, ainda que nom se emitam images de tais acontecimentos ou se publicitem como massivas concentraçons em que nom hai mais dum cento de pessoas e que nom estám, na sua maioria, reunidas para afirmar a naçom espanhola, mas tam só para celebrar a vitória do seu combinado desportivo favorito (ainda que à fechitizaçom do futebol poderia-se adicar um livro). A ideia dos grupos de poder é simples, confiam deter coa manipulaçom das massas e o apelo aos sentimentos o imparável ascenso da mocidade arredista e galego-falante conscienciada que se inça de dia para dia e que pola sua incansável loita e agitaçom atrai cara si grupos a priori afastados do galego e da causa nacional galega.

«Querem fazer-nos crer que somos poucas pessoas, que estamos isoladas, que somos umhas relíquias dum passado já extinto. Simultaneam estas afirmaçons contra-fácticas, quer dizer, que som negadas polos factos, com ameaças de todo tipo, com advertências de desastres catastróficos se avançamos na independência e no socialismo [nom contrastadas nem demostradas dito seja de passo]. Recorrem à política do medo que reforçam co medo à política. Buscam, mais do que nunca, umha mocidade passiva, acobardada, dependente e, por suposto, espanhola (...). Porém nom perdêrom apenas a batalha, mas tamém a guerra em si mesma»(13).

III.- Antes de mais nada

Chegados a este ponto podemos tirar várias conclusons, que dependerám em todo caso do grau de atençom que lhe prestemos a estes factos e ao peso de cada um deles. Contodo, semelha que é inevitável achar necessário umha involucraçom mais forte do que nunca coa causa nacional e revolucionária, que se deve assentar em piares e visons que desterrem na medida do possível os velhos anátemas e pré-juízos da sociedade consumista, capitalista, patriarcal e racista em que vivemos. Para isso, cumpre nom apenas encetar medidas práticas e de agitaçom, no melhor sentido da expressom, mas por igual torna-se de vital importáncia o cultivo dos nossos ideologemas para rejeitar com êxito os do adversário e para poder comunicar os postulados da nossa causa com esperanças de sucesso a outras moças e a outros moços que querem erguer os seus laios de esperança, liberdade e igualdade. Daquela, resulta evidente que moitos dos valores actualmente incluídos na doxa do capitalismo som por inteiro rejeitáveis e é necessário desprender-nos deles mediante a consciênciaçom. O nosso caminho nom é, portanto, doado, mas hoje cos níveis de dependência e precaridade juvenil, já nem sequer a ignoráncia é feliz e a passividade só cria mentes alienadas, figuras de barro que malvivem para satisfazer necessidades que lhe venhem ditadas polos órgaos de poder do sistema. TERRA A NOSSA!

Na Galiza ocupada a 24 de Outubro de 2008. Nós Sós!




(1) Para a noçom de binómio político-mediático consulte-se Gil de San Vicente, Iñaki (2008), «Concienciación social contra “comunicación social”. Autoorganización, contrapoder e identidad», http://www.lahaine.org

(2) Pratkanis, Anthony e Elliot Aronson (1994), La era de la propaganda, Paidós, Barcelona, p. 27.

(3) Gil de San Vicente, Iñaki (2008), «Presente y perspectivas para la juventud vasca» em http://www.lahaine.org

(4) Pratkanis, Anthony e Elliot Aronson (1994), La era de la propaganda, Paidós, Barcelona, p. 356.

(5) Mediante este processo o indivíduo incorporá-se a um grupo social, apreende e aceita as normas sociais válidas para esse colectivo, assumindo tamém os seus valores ideológicos, ou seja a superstrutura que legitima a estrutura económica.

(6) Op.cit

(7) Op. cit. O sublinhado é nosso.

(8) Op. cit

(9) Op. cit.

(10) Op. cit.

(11) Op. cit.

(12) Pratkanis, Anthony e Elliot Aronson (1994), La era de la propaganda, Paidós, Barcelona, p. 341.

(13) Gil de San Vicente, Iñaki (2008), «Presente y perspectivas para la juventud vasca» em http://www.lahaine.org

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

MANIFESTO LITERÁRIO DO CARALHO: vanguarda ou compromisso político?

ATENÇOM: desaconselha-se às mentes constritas e fechadas a leitura de qualquer umha das seguintes linhas. Só para EUS e algum que outro YO que ainda sobrevivem a pesar de tanta TV e tanto reality show. O que avisa nom é traidor.

Som poetarra.
Como a auga, como o vento,
como a natureza mesma de todas as cousas.

Som poetarra
ainda que cante às treboadas
e nom à bela flor onde a mosca deixa a cagada.

Som poetarra
e por estranho miram-me mal: IMIGRANTE IDEOLÓGICO!
SEDE BENÉVOLOS,
NOM VEDES QUE SÓ SENDO DIFERENTE PODO SER EU?
As pingas do rio nom tenhem nome
porque som todas iguais,
assí que Heráclito nom tinha NPI. Ryen de ryen.
«O povo só se salvará quando deixe de ser massa»
dixo outro poetarra
no seu poemário (sic.) Sempre em Galiza.

Já o sabedes,
todo lho devemos ao nacional-catolicismo:
sobretodo as ganhas de mejar e ir ao futebol a ver a “roja y gualda”./
Ai! E nom me tomedes isto a mal desde o vosso escano burguês/
(lembrade que som poetarra
... de barra americana...).

Umha aperta com escárnio e maldizer do Garcia de Guilhade

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Sursum Corda

A enfermeira mirava de esguelho para as duas mulheres que acompanhavam à Eutímia, após calmar-lhe a dor com morfina, a droga da morte. O ruído das chancletas daquela quase recém graduada ouvia-se por cima dos besbejos apenados da duas mulheres e um home já co cabelo encanecido botava umha vista de olhos através dumha janela de dimensons jeitosas.
A Eutímia escoitava sorrindo o que umha das mulheres lhe ia dizendo. Figem-che um quarto-de-banho e merquei-che umha cozinha económica, contava-lhe; enquanto, ela enxergava cos olhos da imaginaçom a sua casinha em Monterroso, longe, moi longe daquel hospital de Vila Garcia onde o branco só era a cor de agulhas, dor e morte e onde um bafo pesado e tépido incidia na presença continuada da perturbadora portadora da gadanha.
Lembrava, coa morrinha de que se sabe vencido, a sua casinha e a sua infáncia nas florestas do interior da Galiza, onde coidava do seu irmao, menor do que ela, que desde moço padecera umha enfermidade psicológica. A sua entrega nom lhe permitiu procurar o seu vieiro, a sua felicidade. Quem é que agora coidaria del? Sobreviveram com duas paguinhas e nom sabia quem lhe ia pagar o passamento até, mas sorria quando a sua vizinha lhe contava os arranjos que lhe figera à sua morada. Todos necessitamos acreditar em algo para seguir loitando e os sonhos eram a corredoira infinda pola que bulia deixando atrás o medo à morte. Os sonhos e a memória como áncora coa que amparar-se perante o furacam da vida.
Nos últimos dias, a dor era insuportável até e sentira já achegar-se o final dos seus dias. Quijo testar o que nom tinha e perante umha cruz deitou as suas derradeiras bágoas, tremendo coma um vimeiro de medo, e mesmo hai quem di que pediu perdom, pois seria ela merecente do inferno? Nom matara e sempre que a deixárom contara verdade. Nom roubara e o pam sempre lho arrincara à terra coa suor, procurando os poucos leiros que tinha, atendendo a casa e servindo em casa de quem a olhava por cima das ombreiras. Nunca desejara o que nom era dela e quase nom tivo tempo de querer buscar a sua felicidade por entregar-se aos demais, pois coma a Nina galdosiana de Misericordia passara polo caminho da vida cumha integridade moral que tam só se atinge quando um nom tem mais propriedade que o seu próprio coraçom.
Nom acreditara em nengumhas siglas endejamais e recebera de seu pai a doutrina do amor e o anarquismo. Sob o franquismo partilhara o seu pam com outros vencidos coma ela, “os bandoleros”, e mesmo chegara a pedir esmola para eles puderam mercar as balas que lhes permitiram guardar a pelica frente as forças repressivas. Na Transiçom ninguém a chamou para ser mai da Constituiçom da II Restauraçom bourbónica, porque numha sociedade de machos só pode haver “padres”. Nom votou um texto que pariram os mesmo que assassinaram a seu pai numha coneta, como tampouco o figérom 55% dos galegos. Nom acedeu a chantage entre ditadura ou democracia de baixa intensidade com toda a esquerda ilegalizada agá a castrada polos dogmas do eurocomunismo e a refundada para a ocasiom no Congresso de Suresnes (1974) pola social-democracia alemá e a CIA. Ela nom formara parte de nengum consenso “entre españoles” já que nem era burguesa, nem terratenente, nem empresária, nem pactista, nem “tecnócrata”, nem cria na naçom espanhola... era ninguém, umha cifra num naco de papel coas siglas “DNI”; mao de obra fornecedora de plusvalor.
Ninguém na “reconciliación nacional” lhe pediu perdom por metê-la no cárcere e rapar-lhe a cabeça. Ninguém lhe dixo que a língua da que renegara, “porque los hijos de los señorios tienen que hablar bien”, era na que alguém se lembraria dela; um outro vencido, um morto em vida, que, no entanto, prefere vagar assí polos caminhos a traiçoar o ronsel que vós, loitadoras e loitadores galegas, abristes por meio do combate social e o exemplo cívico de solidariedade que as vossas acçons impugérom, a vossa ética de esquerdas. Vós acreditastes numha outra sociedade e numha outra Galiza, ainda que o nosso nome, infelizmente, nunca aparecerá nos livros do império, porque os grandes heróis só aparecem nos ecos épicos da vitória... e os tempos Eutímia, Adela, Rodolfo, Maria, António, Rosalia, Rafael, Ugia, Afonso Daniel, Ugia, Alexandre, Maria, Ramom, Manuel, Henriqueta, Anxel, Joám Vicente, Tareixa, Celso Emílio, Sabela, José Manuel, José Luís, Ricardo... serám chegados.
A enfermeira mirava de esguelho para as duas mulheres que acompanhavam à Eutímia, após calmar-lhe a dor com morfina, a droga da morte. O ruído das chancletas daquela quase recém graduada ouvia-se por cima dos besbejos apenados da duas mulheres e um home já co cabelo encanecido botava umha vista de olhos através dumha janela de dimensons jeitosas.
A Eutímia escoitava sorrindo o que umha das mulheres lhe ia dizendo. Figem-che um quarto-de-banho e merquei-che umha cozinha económica, contava-lhe; enquanto, ela enxergava cos olhos da imaginaçom a sua casinha em Monterroso, longe, moi longe daquel hospital de Vila Garcia onde o branco só era a cor de agulhas, dor e morte e onde um bafo pesado e tépido incidia na presença continuada da perturbadora portadora da gadanha.
Lembrava, coa morrinha de que se sabe vencido, a sua casinha e a sua infáncia nas florestas do interior da Galiza, onde coidava do seu irmao, menor do que ela, que desde moço padecera umha enfermidade psicológica. A sua entrega nom lhe permitiu procurar o seu vieiro, a sua felicidade. Quem é que agora coidaria del? Sobreviveram com duas paguinhas e nom sabia quem lhe ia pagar o passamento até, mas sorria quando a sua vizinha lhe contava os arranjos que lhe figera à sua morada. Todos necessitamos acreditar em algo para seguir loitando e os sonhos eram a corredoira infinda pola que bulia deixando atrás o medo à morte. Os sonhos e a memória como áncora coa que amparar-se perante o furacam da vida.
Nos últimos dias, a dor era insuportável até e sentira já achegar-se o final dos seus dias. Quijo testar o que nom tinha e perante umha cruz deitou as suas derradeiras bágoas, tremendo coma um vimeiro de medo, e mesmo hai quem di que pediu perdom, pois seria ela merecente do inferno? Nom matara e sempre que a deixárom contara verdade. Nom roubara e o pam sempre lho arrincara à terra coa suor, procurando os poucos leiros que tinha, atendendo a casa e servindo em casa de quem a olhava por cima das ombreiras. Nunca desejara o que nom era dela e quase nom tivo tempo de querer buscar a sua felicidade por entregar-se aos demais, pois coma a Nina galdosiana de Misericordia passara polo caminho da vida cumha integridade moral que tam só se atinge quando um nom tem mais propriedade que o seu próprio coraçom.
Nom acreditara em nengumhas siglas endejamais e recebera de seu pai a doutrina do amor e o anarquismo. Sob o franquismo partilhara o seu pam com outros vencidos coma ela, “os bandoleros”, e mesmo chegara a pedir esmola para eles puderam mercar as balas que lhes permitiram guardar a pelica frente as forças repressivas. Na Transiçom ninguém a chamou para ser mai da Constituiçom da II Restauraçom bourbónica, porque numha sociedade de machos só pode haver “padres”. Nom votou um texto que pariram os mesmo que assassinaram a seu pai numha coneta, como tampouco o figérom 55% dos galegos. Nom acedeu a chantage entre ditadura ou democracia de baixa intensidade com toda a esquerda ilegalizada agá a castrada polos dogmas do eurocomunismo e a refundada para a ocasiom no Congresso de Suresnes (1974) pola social-democracia alemá e a CIA. Ela nom formara parte de nengum consenso “entre españoles” já que nem era burguesa, nem terratenente, nem empresária, nem pactista, nem “tecnócrata”, nem cria na naçom espanhola... era ninguém, umha cifra num naco de papel coas siglas “DNI”; mao de obra fornecedora de plusvalor.
Ninguém na “reconciliación nacional” lhe pediu perdom por metê-la no cárcere e rapar-lhe a cabeça. Ninguém lhe dixo que a língua da que renegara, “porque los hijos de los señorios tienen que hablar bien”, era na que alguém se lembraria dela; um outro vencido, um morto em vida, que, no entanto, prefere vagar assí polos caminhos a traiçoar o ronsel que vós, loitadoras e loitadores galegas, abristes por meio do combate social e o exemplo cívico de solidariedade que as vossas acçons impugérom, a vossa ética de esquerdas. Vós acreditastes numha outra sociedade e numha outra Galiza, ainda que o nosso nome, infelizmente, nunca aparecerá nos livros do império, porque os grandes heróis só aparecem nos ecos épicos da vitória... e os tempos Eutímia, Adela, Rodolfo, Maria, António, Rosalia, Rafael, Ugia, Afonso Daniel, Ugia, Alexandre, Maria, Ramom, Manuel, Henriqueta, Anxel, Joám Vicente, Tareixa, Celso Emílio, Sabela, José Manuel, José Luís, Ricardo... serám chegados.

terça-feira, 22 de julho de 2008

Contribuiçons do franquismo à diglossia por meio do imperialismo e o racismo lingüísticos: repercussons na actualidade

Antom Fente Parada, Chantada, Julho 2008


«(...) o Estado, se pudesse faria que ninguém falasse nem escrevesse na nossa língua, porque sabe que quando um povo coma o galego nom deixa de falar nem de escrever o seu idioma é que ainda nom se deixou someter de todo, e qualquer dia pode rebelar-se para que se lhe conceda a liberdade que lhe foi quitada contra a sua vontade(...)», V. Risco (1935).

1.1.- Intróito: um duplo vieiro

Quando em Julho de 1936 estala a Guerra Civil as línguas da Península, diferentes do espanhol e do galego no seu padrom lisboeta, começavam a erguer o rumo da sua normalizaçom, especialmente no caso do catalám. Portanto, o franquismo truncou as conquistas das naçons assobalhadas polo Estado espanhol e contribuiu para a descida de falantes do eúskara[1], do galego-português (na Galiza logicamente) e do catalám-valenciano[2].
O Nuevo Estado, terminologia fascista tirada do Estado Novo Salazarista, apontoou a diglossia e os pré-juízos lingüísticos como método assimilacionista, co objectivo último da glotofaxia ou canibalismo lingüístico. Por isso, o regime seguiu um vieiro duplo encardinado no imperialismo e o racismo lingüístico. Dumha banda legislou para restringir e agochar a visualizaçom social das línguas nom oficiais, negando-lhe no possível o aceso a qualquer registro culto; doutra advogou por intensas campanhas de promoçom e exaltaçom do castelhano, ao que se denominava espanhol como se for a única língua existente no Estado, ao tempo que se doestavam no ensino as “jerigonzas regionales” co fim de que os escolares reconhecessem qual era a língua legítima[3].

1.2.- Breves aclaraçons terminológicas[4]

Para os profanos em matéria sociolingüística coidamos que é bem aclarar-lhes alguns termos dos até agora mencionados e que seguirám aparecendo co galho de facilitar a compreensom desta descriçom sobre as contribuiçons do franquismo à diglossia na Galiza.

1.2.1.- Diglossia
O termo diglossia foi inserido por Charles Ferguson, mas o seu significado nom se corresponde co actual. Ferguson aplicou esta etiqueta ao grego clássico e mais ao árabe. Naquela altura, no árabe isto mantem-se ainda hoje, conviviam dous códigos com diferentes dimensons funcionais, um reservado para os usos cultos (A) e outro para os baixos (B) por exemplo o árabe clássico ou o grego kaθηrouda reservavam-se para a escritura e a vida religiosa face os geolectos do árabe ou do grego demotikή. Porém nom se tratava de duas línguas em contacto, senom de duas variantes dum mesmo código, um sincrónico e outro diacrónico. Isto é o que hoje se conhece como «diglossia clássica ou funcional», pois atinge as diferentes funçons de cada código.
No entanto, a etiqueta acadou um grande predicamento e em 1967 Joshua Fishman acunha o que logo se conhecerá como diglossia social. Fishman demonstrou que as diferenças de estatus social eram mais importantes que as funçons usurpadas pola língua A em situaçons de contacto lingüístico. Entom, Fishman nega já a possibilidade de bilingüismo social e, já que logo, o bilingüismo só pode ser individual, pois a convivência entre duas línguas numha comunidade é necessariamente assimétrica e o bilingüismo converte-se em subtractivo e nom em aditivo, quer dizer, deturpa-se o conhecemento da gramática da própria língua quando nom se deixa directamente de falar, noutras palavras, o bilingüismo social é colonialismo.

1.2.2.- Assimilacionismo e glotofaxia
O assimilacionismo ou substituiçom lingüística[5] é um froito da imposiçom dumha língua sobre doutra co resultado final, se a sociedade prejudicada nom reage, de glotofaxia e morte, portanto, da própria língua.
Galtung e Phillpson tenhem assinalado três jeitos de impor umha língua: pola força, mediante a negociaçom e mediante a persuasom [Freitas Juvino, 2008:90]. Podemo-los resumir do seguinte modo:
A) Força:
foi a fórmula que empregárom os portugueses e os espanhóis em América ou na África, e é tamém própria das ditaduras ou de Estados fortemente centralizados como o francês[6]. Contodo, no caso da expansom colonial compre indicar que os fitos fôrom mais bem cativos e assí o demonstram aimaras, quechuas, maias... Hai que falar daquela do mito dumha língua universal que palia a decadência política e cultural do Estado espanhol num momento dado (o desastre do 98 sobretodo) [Kamen, 2006: 231-263].
Nesta forma de imposiçom pode chegar-se a exercer a perseguiçom sobre dos falantes e inclusive o assassinato, coma no genocídio arménio perpetrado por Turquia ou na trata de escravos onde, co fim de reduzir os riscos de rebeliom, se misturavam indivíduos de diversa procedência para impedir a comunicaçom e obrigá-los a aprender a língua dos captores.
B) Negociaçom:
«é um método menos drástico, mas que persegue o mesmo fim. Acostuma produzir-se umha oferta directa ou indirecta de melhoras sociais, económicas e de progresso individual e colectivo se todos se esforçam em utilizar umha mesma língua que conduze inexoravelmente à unidade, à civilizaçom e ao progresso» [Freitas Juvino, 2008: 91]. Precisamente, ao galego recriminava-se-lhe a condiçom de língua de atraso e incultura, como recolhe na introduçom de Aires da miña terra Curros Enriques quando fala da «língua dos párias», algo que o franquismo aproveitou e empregou amiúdo como combustível ideológico para a diglossia.
C) A persuasom:
o terceiro tipo de táctica assimilativa é certamente a mais subtil e, a longo prazo, moi eficaz. No canto de impor tenta-se convencer, através de campanhas (ensino, mass meia, círculos culturais, etc.) que submirjam à populaçom num clima de admiraçom e emulaçom da língua dominante. Com este método a populaçom nom percebe apenas a imposiçom e mesmo coida que troca a sua língua motu proprio.
É, logicamente, a táctica que hogano segue preferentemente o Estado espanhol, por exemplo co bombardeio diário de espanhol que recebem os galegos dos mass meia (jornais, livros, publicaçons periódicas, rádio, filmes, música...). Aliás, a identificaçom de língua com naçom tem sublinhado a incomodidade das línguas dos povos sem estado de seu.
Por último, «na primeira e na segunda estratégias podem gerar-se ideologias de resistência como reacçom perante umha imposiçom pola força, na terceira, ao ser menos perceptível, pode passar mais inadvertida e nom criar atitudes de oposiçom» [Freitas Juvino, 2008:96].

1.2.3.- Imperialismo e racismo lingüístico
O imperialismo foi definido por Lenine como a fase superior do capitalismo, sendo o imperialismo lingüístico umha conseqüência directa do imperialismo político e económico.
O imperialismo pratica acotío a glotofaxia e tem no racismo umha componhente fundamental, pois o império leva a “civilizaçom” às tribos ou povos “bárbaros”. Mediante o racismo lingüístico «um novo sistema de valores penetra nas comunidades, e pressons sociais, económicas e ideológicas invadem e usurpam a base da lealdade lingüística da comunidade falante» [Freitas Juvino, 2008: 45], moitas vezes mediante falácias, pré-juízos e mesmo atitudes claramente racistas como a afirmaçom do francês Jules Huret:
«El gallego es el animal que más se parece al hombre» [Freitas Juvino, 2008:248].
Anxo Tarrio [1988:240] recolhe como na Asamblea y exposición escolar, que tivo lugar em Ponte Vedra em 1893, se afirmou:
«El dialecto es causa grave que se opone grandemente al aprendizaje del armonioso, rico, inimitable y melodioso idioma de nuestra España»[7].
De facto, o franquismo só recolheu velhos anátemas e sam-benitos que se aplicaram a las “jerigonzas regionales” e, de facto, intelectuais como Ramón Menéndez Pidal, Miguel de Unamuno ou Ortega y Gasset doestárom às línguas da periferia do Estado e mesmo consideravam ao castelhano superior ao galego-português na Idade Média por ser a língua da literatura épica e guerreira, quer dizer do imperialismo, face a vertente amorosa e satírica da produçom galaico-portuguesa [Freitas Juvino, 2008: 266].

1.3. Contribuiçons à diglossia do franquismo através da exaltaçom do castelhano e da perseguiçom e desprestígio do galego

Como já indicamos denantes, o regime fascista resultante da sublevaçom militar empregou dous métodos de reforço da diglossia, ora através da legislaçom e repressom, ora por meio da exaltaçom do castelhano (língua A) em actos públicos, no ensino e nos meia[8].

1.3.1. Legislaçom repressiva sobre o galego
Para a direita fascista que se ergueu contra o regime democrático da II República a erradicaçom das línguas da periferia era umha prioridade na unidade e na uniformidade do Estado nacional-católico, pois eram os “separatismo regionales” e os partidos políticos os responsáveis das divisons da sua Espanha centralista, xenófoba, unitária e uniformizadora.
O 18 de Maio de 1938, ainda em plena Guerra Civil espanhola, sai umha orde ministerial em que se impom o castelhano como única língua válida do registro civil. O 12 de Agosto o ministro de Justiça adverte da invalidez legal de qualquer documento que nom esteja em castelhano e o 21 de Maio impom-se o espanhol no Registro de Pessoas Jurídicas, com cenas esperpénticas em que os Andoni e os Patxi se riscavam para “españolizarlos”.
O primeiro de Março de 1939 o Ministério de Educaçom Nacional apresenta como texto escolar o Catecismo patriótico español e nel recolhe-se que «la lengua castellana es hermosa y apta cual ninguna otra de las lenguas vivas, pues es la que mejor conserva el carácter del latín del que procede» e, aliás, «tiene una literatura clássica hermosísima y abundatísima, la más hermosa y original de todas las modernas literaturas». O autor do texto, um Nostradamus do século XX, chega a vaticinar que:
«La lengua castellana tiene un porvenir inmenso, pues además de ser hablada por el mayor número de naciones. Tendrá que venir a ser la lengua de la civilización del futuro (...) porque el inglés y el francés, que con ella pudieran compartir esta función, son lenguas tam gastadas, que vam camino de la disolución completa» [Freitas Juvino, 2008: 292][9].
O 16 de Março de 1939 postula-se que os idiomas “regionales” devem proibir-se, segundo a Subsecretaria de imprensa e propaganda. O 8 de Abril de 1939 o Ministério de Governaçom proibe o emprego de palavras nom espanholas em estabelecimentos de hospedage e o 18 o governador civil de Tarragona publica umha circular no BOP exigindo que nom fique nas ruas nem um só rótulo que nom esteja em castelhano. O 23 de Junho segue o seu exemplo o chefe de serviço de ocupaçom de Barcelona.
Em 1940, a 20 de Maio, dá-se a conhecer no BOE umha orde que arremete contra os anúncios e rótulos que nom estejam na língua oficial e perdurará até 1963. O 28 de Julho desse ano o governador civil de Barcelona obriga a todos os funcionários a empregar o castelhano e isso ampliará-se a mestres, professores e inspectores municipais de sanidade.
Um ano despois, o 23 de Abril, umha orde ministerial restringe a projecçom de filmes e só poderám visionar-se em castelhano, assí coo o 24 de Julho se proibe o uso de línguas distintas da oficial no novo regulamento de telégrafos. O 2 de Junho de 1944 aprova-se o novo regulamento do notariado e no artigo 148 do mesmo exige-se que todos os documentos se redijam em espanhol[10] e o 24 de Janeiro de 1945 proibe pôr nomes a barcos que nom sejam espanhóis. O 14 de Julho o Estado bota mao das escolas municipais de Euzkadi e Catalunya argumentando que «fue precisamente en las escuelas de estas regiones donde más daño se hizo a la unidad de la patria» [Freitas Juvino, 2008:294].
O 17 de Fevereiro de 1953 o Ministério de Comércio ratifica que todos os nomes genéricos devem ser em castelhano e um projecto de lei do 8 de Junho de 1957 recolhe que «tratándose de españoles los nombres deberán consignarse en castellano». Nom podia faltar neste repasso o ex-presidente do governo autonómico da Galiza. A “Lei Fraga” (18-3-1966) traia consigo ordes verbais amiúdo e entre elas umha recomendava que as línguas nom oficiais nom superassem 20% do total de nengumha publicaçom.

1.3.2.- Exultaçom da língua oficial: de castelhano a espanhol
Freitas Juvino [2008:294] fala de «campanha penegirica do castelám e estigmatizadora das outras línguas» e propom vários exemplos de imprensa que imos citar aqui, alguns deles tamém apontados polo professor Ramom Marinho[11].
O 1 de Outubro de 1936 Franco fai umha locuçom radiada em que sublinha a existência de «una sola lengua, el castellano, y una sola personalidad, la española». Porém é mais interessante recorrer a exemplos tirados de publicaçons afectas ao regime. Em Unidad topamos vários artigos desta índole, um deles de Ángel Escaño Ramírez (19-3-1937) intitulado “Para completar el imperio, una España de habla española” onde afirma que Falange espanhola «tem vontade de império cultural com América e o idioma será o embaixador, mas para completar esse império antes hai que fazer umha Espanha de fala espanhola» [Freitas Juvino, 2009:295]. Aqui rastreja-se como «o sucesso incuestionável do idioma espanhol em praticamente todos os continents do mundo, e especialmente na mesma Espanha, deu moitíssimo lugar para o consolo quando as façanhas do império começárom a esluir-se» [Kamen, 2006:254], quer dizer, o mito do idioma universal, ainda que «na verdade resulta duvidoso que o castelhano fora falado por mais do que um décimo da populaçom do Novo Mundo colonial» [ibidem].
Assí, pois o hispanismo após 1898 dirigiu-se contra os EUA e o inglês, mas alimentou o espanholismo e atentou contra contra as restantes línguas da Península veículos, segundo o nacionalismo espanhol essencialista, do separatismo [Kamen, 2006:256]. O próprio Ortega y Gasset afirma em España invertebrada que «sólo las mentes castellanas tienen la capacidad adecuada para percibir el gran problema de una España unida» posto que se Castela criara a Espanha, só o castelhano podia ser o verdadeiro idioma de Espanha, ou seja, espanhol [Kamen, 2006:257]. Quem é que exerceu, pois, o separatismo desde sempre?
Amais, este mito nom topa correlato noutros imperialismos, ou quando menos, nom ao mesmo nível, posto que é estranho que os falantes de galego-português, inglês ou russo fagam estas mesmas afirmaçons de universalidade [Kamen, 2006:260], por nom falar da negaçom do genocídio indígena e do racismo lingüístico que destilou Castela-Espanha; para exemplo as palavras do bourbom Joám Carlos I que afirmou em Abril de 2001, na entrega do Prémio Cervantes que «nunca fue la nuestra lengua de imposición sino de encuentro. A nadie se le obligó nunca a halar en castellano» e que revela que o redactor do discurso devia ser um analfabeto ilustrado em matéria lingüística.
No ABC de Sevilha (13-5-1937) aparece um artigo intitulado “Hablar español es custión de buen porte y elegancia” cuja autoria corresponde a Luís de Galisonga e Luís Hurtado Álvarez escreve “Si eres español, habla en español” na já citada revista Unidad (18-5-1937). Na linha está outro artigo do primeiro autor intitulado “Hablar como Franco” que apareceu no jornal La Vanguardia (8-6-1939):
«Todos los españoles debemos hacer tres cosas: pensar como Franco, sentir como Franco y hablar como Franco, que hablando, naturalmente, en el idioma nacional, ha impuesto su victoria» [Freitas Juvino, 2008: 296-297].
Portanto, o que une aos espanhóis é a imposiçom dum modelo moi concreto de Espanha, o que corrobora a invençom e construçom até inconclusa da naçom espanhola, ainda palvável na ideologia de moitos partidos políticos, como se observa no lema das Gerais de 2008 de UPyD: «lo que nos une», sinónimo de centralismo, imposiçom do castelhano (do que se di contra toda evidência que periga) e negaçom das vítimas do terrorismo de estado (presos políticos, torturados, cooptaçom das desidências ideológicas mediante o controlo dos mass meia pola elite económica adita à II Restauraçom bourbónica...); perante os valores de democracia, pluralismo e consciência de classe que é o que une ao proletariado de todas as naçons da Península.
O jornal Extremadura publica o 15-6-1939 “Mal síntoma hablar otro idioma” que pode perfeitamente cotejar-se mutatis mutandis co “Manifesto pola língua” assinado por Sabater, Álvaro Pombo e outros membro da mais refinada intelectualidade espanhola:
«Para que España sea una es necesario que así sea también el idioma publicamente. No debe hablarse más idioma que el castellano, enenaEspaña, entre españoles de verdad. ¡Si el mayor orgullo de un español debe ser siempre hablar su idioma! (...) Hay idiomas que suponen una ofensa para los que los oyen» [Freitas Juvino, 2008:297].
Pola sua parte, José Montagut publicou em Solidaridad Nacional (6-9-1939) umha defesa moi acesa do emprego exclusivo do castelhano no ensino e mesmo acha que aginha se falará umha soa língua em todo o Estado, a língua do império, sintonizando à perfeiçom coas atitudes chauvinistas descritas por Henry Kamen quando descreve o mito dum idioma universal:
«se puede asegurar que dentro de veinte años se habrá realizado el imposible de que una nación, castigada por la coexistencia de varias lenguas, sin perseguirlas ni ultrajarlas[12], llegue a comunicarse gozosa y radiante, consciente de que la lengua es el Imperio, según Nebrija[13] a través del idioma que se habla en veinte naciones por nosostros descubiertas y conquistadas»[14] [Freitas Juvino, 2008:297].
A Josep Maria Planes envia-lhe umha missiva (30-3-1945) o delegado provincial de Educaçom Popular da Crunha, Miguel de los Santos, atacando-o por fazer a holía em catalám o que, ao seu juízo, fomentava «el regionalismo» posto que «en Galicia, Valencia o Vascongadas se hablan dialectos de mayor o menor rango histórico» e, portanto, nom serve bem a Espanha e elude responsabilidades [Freitas Juvino, 2008:297].
No entanto, compre sublinhar que a difusom destes artigos foi, contodo, limitada e nom chegavam a maioria da populaçom analfabeta, mas som um bom exemplo dos ideologemas que estavam afincados ou que se desejavam induzir às sociedades do Estado espanhol e que, à vista dos resultados, por vezes fôrom moi eficazes.

1.4.- Conclusom

Na actualidade o castelhano esparge-se por toda a Galiza a costa do bilingüismo, que é transitório e conduziu sempre, de nom pôr-lhe freio por meio do ecolingüismo e do nacionalismo lingüístico, à assimilaçom lingüística da língua B pola língua A. Aliás, sobrevivem velhos tópicos e pré-juízos que voltam com força pola acçom de associaçons como Galicia bilingüe, orquestradas desde o Partido Popular e que repetem o modelo de confrontaçom já despregado em Euzkadi e Catalunya como resultados bem pobres.
O franquismo assentou moitos dos piares e ideologemas destas correntes imperialistas e racistas através do que o professor Henrique Monteagudo denominou como «repressom difusa» e os dados sociolingüísticos assí o corroboram, posto que 70% dos galegos som ainda analfabetos na sua própria língua e a perda de falantes entre 1939 e 1978 apresenta umha descida em picado, por isso 76'5% dos maiores de 65 anos tivo como língua inicial o galego perante 20'6% dos menores de 16[15].
Por outra banda estas acçons tivérom maior difusom e sucesso no mundo urbano, sempre mais castelhanizado, com folhas voandeiras como a da imprensa sindical da Crunha:

«Hable bien
Sea patiota-No sea bárbaro.
Es de cumplido caballero, que VD. Hable nuestro idioma oficial o sea el castellano. Es ser patriota.
Viva España y la disciplina de nuestro idioma cervantino. ¡¡Arriba España!!».

Isto repercutiu na anulaçom de qualquer motivaçom para empregar o galego-português por parte dos monolingües em castelhano que reduzírom ainda mais as suas competências na língua do país à recepçom passiva e alimentou, aliás, dinámicas diglóssicas motivadas por ofensivas periódicas do espanholismo, com apoios na própria sociedade segregada e oprimida lingüisticamente e que ainda hoje se percebe na nossa naçom, como conseqüência de alteraçons psicológicas que produzem auto-xenreira e complexo de inferioridade em moitos galegos aos que desde crianças se lhes negou a possibilidade de crescer na língua do seu país ou aos que se perseguiu por empregá-la.



1.5.- Bibliografia consultada

FREITAS JUVINO, Maria Pilar (2008), A represión lingüística en Galiza no século XX, Xerais, Vigo.

GALEANO, Eduardo (2008), Espejos. Una historia casi universal, Siglo XXI, Madrid.

KAMEN, Henry (2006), Del imperio a la decadencia, Temas de Hoy, Madrid.

PENA RODRÍGUEZ, Alberto (1998), El gran aliado de Franco. Portugal y la Guerra Civil española: prensa, radio, cine y propaganda, Ediciós do Castro, Sada.

TARRIO VARELA, Anjo (1988), Literatura gallega, Taurus, Madrid.


[1] A situaçom do eúskara era diferente e já se topava quase extinto, reduzido a casarios, o qual fala bem das políticas lingüísticas do governo basco perante as desastradas políticas dos governos de Fraga Iribarne e Tourinho na Galiza. O franquismo reconhecia ao eúskara como língua, ainda que arcaica e nom apta para os tempos modernos, mas língua ao fim algo que se lhe negava ao português da Galiza e ao catalám. Resulta evidente que o basco é umha língua por distáncia, o que Kloss denominou abstandsprache. Contodo, o regime tomou precauçons a ondas e a imprensa lusa tem abundante no sul da Galiza durante a Guerra civil espanhola foi drasticamente banida após esta[veja-se PENA RODRÍGUEZ (1998)].
[2] Nom imos analisar aqui a situaçom do astur-llionês nem do aragonês ou do occitano (aranês) posto que os direitos que alcançaram na II República eram ínfimos. Assemade, no caso do astur-llionês segregou-se a variante do sul (Miranda do Douro) coa ortografia portuguesa face a do norte coa ortografia castelhana e cos direitos moito mais constringidos.
[3] Pierre Bourdieu diferenciava entre conhecemento e reconhecemento, ou seja, a criança pode que nom seja capaz de manejar-se (conhecer) a língua A, mas será quem de reconhecê-la como boa, útil e prestigiosa fronte à sua própria a baixa, ruim e desapreciável.
[4] Para aqueles que estejam familiarizados cos termos sociolingüísticos este apartado é por inteiro prescindível.
[5] Em sentido estrito estas duas etiquetas apresentam diferenças, de aí a sua existência, mas para esta aproximaçom empregaremo-las como sinónimos quase-perfeitos.
[6] Quando estala a Revoluçom burguesa da França apenas um terço da populaçom do Estado francês empregava acotío a suposta língua nacional do novo regime.
[7] Nom se pode falar de línguas “ricas” ou “pobres” nem de “línguas de progresso” ou línguas “primitivas” porque todas as comunidades humanas tenhem umha língua igualmente desenvolvida e adaptada a sua cultura, posto que o desenvolvemento cerebral é o mesmo para toda a humanidade, por isso, jamais se topou nengumha comunidade que nom tivesse umha língua de seu.
[8] Veja-se a análise mais profunda e rigorosa que fai Freitas Juvino [2008, 291-297], cujo livro é por inteiro recomendável para as pessoas interessadas na defesa da língua, da diversidade cultural e dos direitos políticos da nossa naçom.
[9] Note-se como esta eminência nada di do alemám, que na altura era a língua de cultura nas humanidades, mas Hitler era o exemplo a seguir para Falange e o fascismo espanhol.
[10] É célebre a anedota que refere como um taxista que escrevia “Rianxo” foi sancionado polo regime totalitário do general Franco.
[11] Veja-se Marinho Paz, Ramom (1998), Historia da lingua galega, Sotelo Blanco, Compostela.
[12] Haverá que perguntar-se que é umha ultraje entom e trocar a definiçom nos dicionários. O imperialismo sempre sublinha que a língua A se estende “naturalmente” sem imposiçom nem violência (física e/ou psicológica) recorrendo a um darwinismo lingüístico semelhante ao que empregárom para submeter aos povos africanos e ameríndios.
[13] O judeu-converso Nebrija decalcou a cláusula «el idioma siempre acompaña al imperio» do humanismo italiano de Lorenzo Valla e reflectia «o interesse de Nebrija por avantar na sua carreira graças a estar a bem co governador de turno. “Idioma” nesse contexto, nom estava limitado unicamente ao vocabulário e à gramática, mas implicava tamém a imposiçom da cultura, os costumes e especialmente a religiom sobre os povos submetidos. Idioma era [e é] poder» [Kamen, 2006: 234].
[14] Ao respeito tem Eduardo Galeano um conto moi atinado intitulado “Americanos” [2008:120] do que reproduzimos apenas um trecho (a traduçom para o galego é nossa):
«Conta a história oficial que Vasco Núñez de Balboa foi o primeiro home que viu, desde umha cima de Panamá, os seus oceanos. Os que alí viviam, eram por acaso cegos? (...)».
[15] Segundo o Mapa Sociolingüístico de Galicia.