Palavras novas e velhas

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Europa, do paraíso racista à utopia socialista




Antom Fente Parada

O vanguardista Sílvio Berlusconi – na cabeça da implantaçom do neofascismo na Europa ocidental seguindo o ronsel de Benito Mussolini– começou com o ataque aos imigrantes, aos de fora, aos outros com o modelo suíço ao lado da casa. O Estado espanhol toma nota e tenta executar umha política de imigraçom assentada em leis que fam dos estrangeiros sem quartos delinqüentes e dos estrangeiros com quartos turistas, limitando-lhe aos primeiros de modo arbitrário os seus direitos mais elementares.
Mentres Europa cala e outorga no parlamento italiano ouvem-se propostas da Liga Norte ou do Partido Fascista que pulam por afundir em alta mar qualquer barco com emigrantes a bordo. É comovedor comprovar a fina e sofisticada cultura de Ocidente, sempre civilizando com sangue ao resto do mundo.
Nom se chegou ainda a tanto no Estado espanhol, ainda que nesta Finisterra em que vivemos o ministro do fascismo Manuel Fraga Iribarne – agora exemplar democrata, seica– prometia “pepinazos” aos buques com monocasco que passem pola costa galega (para ter vários Prestige cada dia, mas o coitado nom devia pensar nisso). Porém nom é menos certo que na actualidade a repressom e restricçons das liberdades só fixo ir em aumento, neste «franquismo sem Franco» de que falava recentemente o irmao José Manuel Beiras Torrado.
Esta Europa tam plural, democrática e amiga da mestiçage e a globalizaçom capitalista ergue muros e fecha portas todos os dias. A livre circulaçom das pessoas nom existe, apenas a livre circulaçom do capital e quanto menos esteja controlado este melhor.
Mas, na Galiza, ninguém é racista, ou quando menos racista confesso. Aqui vem-me a cabeça umha anedota que vivim na aldeia. Meu pai mercara umha ovelha totalmente preta e quando a juntou com o rebanho as outras ovelhas, que nunca tal cousa viram, escapavam dela como do lobo; > será racismo como na gente, concluiu meu pai. Infelizmente os europeus nom corremos perante os estrangeiros, batemos-lhes, torturamo-los física e psicologicamente, perseguimo-los, deportamo-los, insultamo-los ou mofamo-nos deles. O europeu, coma o espanhol, desprecia quanto ignora, como se recolhia na redondilha de Antónia Machado:
Castilla miserable
ayer dominadora
envuelta en sus andrajos
desprecia cuanto ignora.
O pior é que a esmagadora maioria ignora-o quase todo neste mundo ultraliberal de analfabetos funcionais e “hanalfabetos”, que som grosso modo os ignorantes com estudos, os iscariotes da Galiza. Os romaneses, os equatorianos ou os senegaleses som os responsáveis dos nossos males, que nem som umha décima parte dos que eles sofrem todos os dias. Como antes fôrom os judeus, os massons ou os comunistas. Troca o estribilho, a cançom segue a ser a mesma.
Ninguém é racista. O governo nom o é, por suposto, mais aumenta os muros recorta direitos e fai obrigado que os cidadaos sejam cúmplices dum crime: as deportaçons à miséria e a terra onde nada fica porque lhe lo entregárom às máfias para pagar a passage até o “paraíso europeu”, o qual subsiste, por certo, graças a séculos de colonizaçom, exploraçom e genocídio; e obrigado ao trabalho dos imigrantes, que som para mim emigrantes, tam emigrantes todos coma os galegos que marchamos polo mundo adiante, muitos com umha mao por diante e outra por trás. Precisamente “gallego” é o líder dumha oposiçom que prometia um “contrato de imigraçom” ao Berlusconi para obrigar-lhes a aprender a cultura e a língua espanhola. Estranhou-me porque eles que nom som racistas, defendem o “bilingüismo” e atacam a “imposiçom” do galego na Galiza.
Os emigrantes coidam os nossos maiores e os nossos filhos, limpam a nossa merda e trabalham em condiçons de escrevismo muitas vezes. Ninguém é racista, mas parece claro que o processo de enriquecimento material das sociedades ocidentais nom foi parelho dum enriquecimento da cultura, o humanismo e a solidariedade. Mais bem ao revês. Racista é o que ódia e despreza a sua língua ou o que lhe fecha a porta a um vizinho que necessita ajuda. Quando na pós-guerra se comiam patacas secas dia após dia os pobres agochavam os fugidos, a resistência antifascista, a risco de perdê-lo todo, até a vida, mas por consciência e/ou amizade. Que saberemos nós, meros consumidores, dessas palavras esquecidas. Hoje as galegas e os galegos só vemos o nosso embigo e passamos de homes a porcos, embora nos saibam mais as notas numeradas ca as landras das devesas.
O racismo é, por cima de todo, ignoráncia. Assi de simples. E é ignoráncia porque, como se via no romance 1984 de George Orwell, o inimigo nom vem de fora, está dentro. Nom o vemos na nossa cegueira do desconhecimento, mas vive entre nós ou melhor sobre nós, a classe operária. Eis o inimigo, o de onte, o de hoje, o de sempre: o que vê nos trabalhadores o inimigo; o que ataca qualquer melhora social ou transformadora por tímida que seja; o que nom aceitou a democracia até que lha impugérom pola força nas luitas obreiras, e que agora tripa-a, prostitui-a e bota-a por terra dia-a-dia. O inimigo som os que em pouco tempo e com contínuos e pequenos 23-F destruírom os logros políticos, económicos e sociais e culturais dos povos do Estado, arrincados na luta contra o franquismo com sangue vermelha de operários e aos que finalmente se lhes impujo, pola traiçom dos dirigentes da esquerda espanhola, um home de sangue azul que jurara lealdade aos princípios fundamentais do “Movimiento”. Sangue vermelha como a que correu em Vitória quando Fraga ordenou que massacrara aos operários que se refugiaram durante umha greve numha igreja; porém logo fijo-se democrata a parenta inchou o fole, morreu o conto, e presidiu a nossa naçom, ou quando menos a parte dela dentro do engendro espanholista da Comunidade Autónoma, magnífica reinvençom do centralismo nesta II Restauraçom bourbónica que já parece um “frankestein” do franquismo.
Eu nom som racista, ou isso tento quando menos. Eu som socialista, dos poucos que de verdade ainda quedam, ou isso tenho como utopia vital. Os “outros” para mim som “irmaos” como advertira Celso Emílio Ferreiro no seu célebre poema de Longa noite de pedra, porque comum é a frátria por ser a luita a mesma: transformar a sociedade, acreditar na utopia e no sonho dum mundo justo, solidário e de todas as pessoas. Nom era racista Espartaco, nem Jesus de Nararet, nem Ghandi, nem o Che Guevara o era.
Como advertiu Chávez no Conselho de Seguridade das Naçons Unidas cheira a esperança. África cheira a esperança. Europa a xofre. Se desejamos que cheire a esperança, que ula a humanidade e nom a masseira teremos de convencer-nos que Europa nom é de ninguém porque toda a Terra é das mulheres e dos homes. Galiza nom é de ninguém, nem tam sequer dos galegos, Galiza é de todos os homes e de todas as mulheres: dos que estám e dos que ainda virám. Numha sociedade avelhentada e com um rural abandonado, o futuro, a esperança e talvez até a salvaçom e conservaçom do nosso património cultural e material passa polos que ainda virám.
Quiçais a Galiza próxima seja preta. Os nossos avôs fôrom tamém pretos e emigrárom por todo o mundo, porque tamém nós vinhemos de África e a utopia, até que o sol mudou a nossa cor para adaptar-nos ao meio. O socialismo passa por umha Galiza diversa; pluricultural, pluriidentirária e plurisemiótica. Irmaos, a luita polo socialismo nom finou nem na traiçom de Suresnes nem no muro de Berlim. A luita polo socialismo nom rematou ainda... acaba de começar.

Viva Galiza ceive e socialista! Nós Sós!


4 comentários:

xOsse dorrío disse...

Esta sociedade é, por riba de todo, eco racista. Despreza ó pobre, adora ó rico (independentemente da súa cor ou procedencia).

Impresionante artigo, parabéns!

Unha aperta!

Xan disse...

Durante anos militei nun partido comunista e patriótico de liberación nacional.Vín no marxismo á explicación política, económica e cultural para a consecución dunha sociedade fecunda na que todos os seus membros teñan igualdade de oportunidades "Cada un según as suas capacidades, cada un según as suas necesidades". Pero cheguei a conclusión de que non soñamos co que dicimos(falo en xeral) senon, con ser por exemplo persoeiros ricos con centos de cousas inutiles,moitos coches grandes como funerarias e moitas mulleres( mellor loiras) frorero para demostrar o noso poder, o noso dominio. Comparto parte da tua teoria outra xa se demostrou nefasta. Quizais habería que trazar obxetivos máis modestos, pequenos pasos que resolverón as necesidades máis acuciantes das persoas e das socidades as que pertenecen. Debemos soñar ca utopía pero cos pés na terra.
Unha aperta

Anónimo disse...

Maravilhoso texto coma sempre nos tes acostumados!
O mundo nom sei se cheira a esperanza como dizia chavez no conselho de seguridade, pero quedo-me com o que dizia Chomski no texto aquel que pugeches no "cara-livro" e que é moi facil melhorar a bush, é moi facil dar palmadas no peito e seguir com os feitos como dizia o autor em questom.

Quizais seria útil fazermos grupos de debate ó estilo da fouce na nossa zona. nom é? pero bom, a ver se arrincara primeiro o CS.

umha aperta!

P.D. o outro día tivem a sensaçom de que quedaches um pouco enfadado da nossa dialectica, desculpa se te ofendim, nom pretendia...
Como rematastes?

AFP disse...

O dos grupos de debate é fundamental, hai que recuperar as tertúlias do XIX e começos do XX (coma os simpósios do 3ºD). Do do outro dia se che digo a verdade nom me lembrava já, nom sei exactamente de que falamos, a ver se repasamos o temário para o próximo simpósio xD. Umha aperta irmandinha e sabes que nom me enfado com o diálogo, a contrário seria mao que que as conversas se reduzissem a dizer-nos os uns aos outros Amen, Amen, Amen.