Palavras novas e velhas

terça-feira, 3 de agosto de 2010

A República Centroafricana: estados falidos... estados esquecidos

Nalgumha que outra cadeia aparecia estes dias que a ONU se ia retirar da República Centroafricana quando está se topa imersa numha longeva guerra civil, praticamente desde que atingiu a sua independência em 13 de agosto de 1960. As truculentas estórias que a populaçom civil conta sobre o seu sofrimento nom difere do narrado por vários autores que tenhem desenvolvido trabalho na África, sobretodo nestes estados falidos. Umha deles, Els De Temmerman, jornalista belga, narrou com amenidade, mas sem tapar a crueza extrema da realidade, a vida das crianças-soldado do Norte de Uganda, concretamente dos fugidos do Exército de Resistência do Senhor, no seu breve romance Las chicas de Aboke, da editora Mundo Negro (2002), editora dos missionários combonianos que conta com assaz material sobre a África.

Voltando à República Centroafricana trata-se dum estado muito pouco povoado cruzado por interesses estrangeiros já desde a sua independência, os quais se reflectírom na criaçom ou avivamento de conflitos tribais, já que, como estado falido clássico, nom atingiu o alvo de espalhar um sentimento “nacional”, apenas a identidade de “raça”. O estado conta com algo mais de quatro milhons de habitantes que se repartem entre umhas 80 etnias, cada umha com a sua própria língua, cuja esperança de vida nom chega a 44 anos e com metade da populaçom que nom tem noçons básicas de lecto-escritura.

Após o 13 de agosto da independência começou umha pugna entre Abel Goumba e David Dacko, sendo este último o ganhador ao contar com o apoio da França, a antiga metrópole. Só dous anos depois Dacko impunha a ditadura com um único partido até que em 1965 cai derrocado pola acçom do seu coirmao Jean Bedel Bokassa, quem suspendeu a Constituiçom e o parlamento e se auto-nomeou imperador ao estilo de Napoleom, com nome Bokassa I, imperador do Império Centroafricano. No entanto, Bokassa foi relevado do poder novamente por Dacko, com o apoio galo, até que mais um golpe de estado ergueu até o poder ao general André Kolingba em 1 de Setembro de 1981.

Até 1985 Kolingba dirigiu umha ditadura. Aprovou umha Constituiçom em 1986 e convocou eleiçons para o seu partido único RDC ao ano seguinte, excluindo-se a oposiçom, polo que as eleiçons livres nom chegariam até 1992, porém Kolingba denunciando irregularidades suspendeu-nas para perpetuar-se no poder. Em 1993 Ange-Felix Patasse ganha as eleiçons – encabeçando o MLPC, seguido de Abel Goumba. Em terceiro lugar ficou o incombustível David Dacko e em quarto lugar Kolingba. Os dous primeiros volvêrom bater-se numha segunda volta em que saiu vencedor o primeiro, mas com o voto muito polarizado por regions (noroeste vs sudeste).

O 14 de Janeiro de 1994 promulga-se umha nova Constituiçom, mas em 1996 e 1997 a tensom étnica e os conflitos sociais recrudescêrom intervindo forças de pacificaçom externas. Patasse revalidou em 1999 o seu governo, mas num estado politicamente descomposto e com múltiplos grupos guerrilheiros activos que planejam a incerteza sofre o futuro do país agora que a ONU quer retirar-se desse estado. Após umha violência ininterrupta em 2002 um novo golpe de estado leva a François Bozizé ao poder, suspendendo a Constituiçom e incorporando elementos da oposiçom como Abel Goumba de vice-presidente. Em 2003 aprova-se mais umha Constituiçom e convocárom-se eleiçons, às que Patasse nom pudo apresentar-se. Na actualidade a tensom tem volto subir porque o governo nega a opçom de novos comícios amparando-se em várias excusas.

Este historial político dá boa conta de por quê é um estado sem apenas sistema educativo, comunicaçons deficiente, sanidade só para umha elite e umha Renda per capita de apenas 350 dólares por ano. A sua estrutura económica é a típica dum território colonizado: umha agricultura de subsistência rodeada de indústrias de enclave, ora de extracçom – diamantes, ouro e uránio- ora de cultivo e exportaçom de produtos agrícolas, para além da madeira que gera transtornos profundos na flora e a fauna do estado. Por todo isto, reitera-se mais umha vez que as missons da ONU só servem aos interesses neocoloniais por mais das vezes, e que se retiram agora quando se segue exercendo umha forte violência sofre a populaçom civil: com violaçons, seqüestros, queima de aldeias...

Na República Centroafricana estes jogos de interesse espúreos tenhem o seu reflexo até na religiom: 20% católicos (com seis bispos nativos e dous estrangeiros), 20% de protestantes, 15% de muçulmanos, 35% de animistas e por volta de 10% pertencem a diferentes seitas, hoje quiçais mais já que os dados manejados som de 2003. As seitas e o islamismo crescem a grande ritmo, talvez como reacçom de defesa perante as agressons “globalizadoras”, a uniformizaçom e a subalternidade forçosa da África no tabuleiro mundial. Se um homem nom tiver filhos da sua mulher pode repudiá-la, seja qual for a sua religiom.

As seitas ligam-se com a bruxaria ou a magia preta. Por exemplo, se alguém é mordido por umha serpe é porque alguém lha enviou e recorre-se entom a um bruxo, algo semelhante ao que acontecia na Galiza pré-capitalista com os bruxos, meigas, arresponsadores e peregrinaçons a capelas de santos dependendo da doença. Com 45 anos um já é bruxo e desde os catorze anos as rapazas já começam a ter filhos.

O deficiente, por nom dizer inexistente, sistema sanitário, tanto na sua dimensom preventiva, como na paliativa; fai que doenças como o SIDA e a malária sejam letais, como letais som os confrontos intestinos que só figérom recrudescer desde o golpe de estado de 2002. Sem um claro ganhador as contínuas guerras civis dividem o país entre etnias e senhores da guerra, ainda bom que nom se chegou aos 2.000.000 de falecidos como em Burundi.

O neocolonialismo, ou talvez deveriamos chamar-lhe ultracolonialismo?, do FMI e as forças de governança global tornárom já fai tempo, como no vizinho Congo, a dívida externa em dívida eterna, a força de empréstimos a governos corruptos, apoiados polos EUA e a UE, que desbaratam os recursos do estado, impedindo qualquer activaçom económica e menos ainda algumha amálgama nacionalitária. Entre tanto, a missom da ONU, que se concetra só no Norte e no Leste do país servindo os interesses estrangeiros. Fica à margem do confronto entre o governo e os grupos rebeldes ainda activos, e dispom-se a retirar-se deixando a populaçom numha prostraçom humanitária total... Mais umha vez o Ocidente é um acidente.

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