Palavras novas e velhas

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

A derradeira lição do mestre


Esta estampa, quando a vi, recordou-me poderosamente  aquela estampa de Castelao, como se for uma actualização do seu gérnio: "a derradeira lição do mestre".



No capítulo LVIII da segunda parte de El Quixote, Miguel de Cervantes faz dizer ao seu protagonista: ”La libertad, Sancho, es uno de los más preciosos dones que a los hombres dieron los cielos; con ella no pueden igualarse los tesoros que encierra la tierra y el mar encubre; por libertad así como por la honra, se puede aventurar la vida y, por el contrario, el cautiverio es el mayor mal que puede venir a los hombres”. Sabia de que falava quem perdera um braço em Lepanto e vivera anos no cárcere. Algo comum no Reino das Espanha onde sempre os seus génios morreram no exílio, na marginalidade ou no cárcere, enquanto os tiranos o faziam na cama e no poder.



Nos nossos dias confunde-se o que em inglês se diferencia como "freedom" e "liberty". Confunde-se a liberdade de transacção, que reduz os homens a simples mercadorias - já não digamos a mulher-, com a liberdade que vai além do "formal" e "nominal". A autêntica liberdade, e convém lembrar isto agora que Europa está numa involução a passos gigantescos com o visto e praze de boa parte da população em shock, é a liberdade substantiva. 



 Porém a liberdade substantiva, ou a Liberdade, não existe (nem pode dar-se) se não há certos princípios básicos de igualdade (justiça social) e de fraternidade (solidariedade). A igualdade e a liberdade requerem justamente que todos tenham cobertas as bases materiais para a subsistência (algo impossível no que Shumpeter qualificou como proceder do capitalismo: a destruição criativa) e isso, nas coordenadas da sociedade civil e política conquista-se com o exercício da fraternidade. Uma fraternidade que o individualismo atomizador baniu das sociedades actuais, também na militância de boa parte da esquerda faústica infelizmente... Recuperar a fraternidade e recuperar as bases e sentar ilusão e esperança na mudança e na luta comum. Como dizia aquele poema do Miguel Hernández, moto numa cárcere do fascismo, "Para la libertad sangro, lucho, pervivo...".



 As novas gerações, infelizmente, vendemos qual Fausto a nossa Liberdade pela liberdade de consumir e feliz e passivamente deixar que outros teceram a teia do nosso destino. Agora, quando nos retiraram os narcóticos acorda-nos volver aonde Penélope com a esperança de voltar tecer pela noite o que desteceram pelo dia... mas já não há "nostoi" para as nossas gerações.



O cão Argos morre ao ver o seu velho amo regressar após 1945...  quando vivemos no capitalismo mais selvagem retornou o velho amo. Tal e como Brech avisara o 6 de maio de 1945 referindo-se ao capitalismo como causa do fascismo: "Senhores, não estejam tão contentes com a derrota [de Hitler]. Porque embora o mundo se tenha posto de pé e teha detido ao Bastardo, a Puta que o pariu anda quente novamente".  neste tempo e nesta hora só há dois caminhos igualmente dolorosos: socialismo ou barbárie! E os ecos de Prometeu voltam-se ouvir.


1 comentário:

Rosalía Fernández Rial disse...

ler o teu artigo con Labordeta de fondo acaba de resucitarme...