Palavras novas e velhas

sábado, 26 de junho de 2010

Os outros


Os homes vivem eternamente constringidos polo medo, de tal jeito que um nom sabe se vivem realmente ou se aguardam ocupadíssimos a morte sem nem sequer reparar nela. Dizia o poeta que “vivir es ir muriendo”. O medo é a alma mesma. Temos medo a deixar de ser crianças e enterramos na crisálida da adolescência o conceito – ideia disso que nunca fomos. Temos medo a olhar para a realidade e enxergamo-la apenas literaturizando-a nos nossos cérebros de empréstimo.


O medo é a alma mesma. Medo a hoje, medo a manhá, medo a sermos nós próprios, medo a nom sermos na morte. As religions som a morfina do cancro de pavor. Levo já quase toda umha vida escapando do sona da razom, entre monstros e sombras pretas e magnánimas. Como Goya, como Poe, na impertérrita espiral de gigantes nemovermes atabacados.


Do teito pendura umha luz e vê-se um quadro velho na parede dum branco apagado pola película das humidades invernais. Um moço e seu pai sorrim com umha maçaroca na mao e por trás o verde das altas canas de milho ainda sem escimar dam ao conjunto um toque de exuberáncia frondosa e mística. Mas o quadro que contem essa fotografia nom di nada. As fotografias som a arte do pobre e encarregam-se de fazer perenes images do mais fútil nas nossas vidas. Nada nos dim da relaçom entre esse moço e seu pai, dos seus medos inconfessados nem das suas fobias. Deveriam existir fotógrafos da palavra, mas já é grande o medo dos homes à fotografia como para atrever-nos a tanto. Quando as fotografias dumha comunidade numha época concreta se juntam até semelha que as palavras saem desses marcos acereijados e que as roupas, os gestos e as miradas falam o que nengum livro de história pode contar-nos. Deve ser cousa do demo ou matéria de poetas que captam a essência do mundo lá onde o filósofo e o físico viram as costas.


O home nasceu para a grei, para suspirar polo onte enquanto imagina passivo o manhá. Do hoje nom se decata porque lhe foge como areia entre os dedos. Só alguns, os mais desgraçados e infelizes, vem o manhá nos sonhos. É terrível lembrar-se dos sonhos em cinemática eterna e inquisitorial que nom para de interrogar-nos. É ainda pior interpretá-los como José com o faraom. As fotografias chegam a ser falsas porque o que as contempla penduradas dum naco de parede só pode olhar nelas, as mais das vezes, frivolidade e hipocrisia de famílias imaginadas que nunca existírom... Os sonhos, em troca, som retratos íntimos do que somos e a diferença dos nossos outros excrementos nom podemos tirar da cadeia para atirá-los ao fundo dum sumidoiro qualquer, porque som espectros dessa personalíssima cloaca em que assenta um artificioso e falso ego criado por requintadíssimas convençons sociais.


Só os mortos deixam de sonhar se é que realmente descansam em paz. Eu já nem diferencio o sonho da alucinaçom neste meu mundo de realidade virtual. Esperto no meio da noite, tento berrar sem que saia a voz dumhas paralisadas cordas vocais. O home tem mais medo a que ninguém o ouça do que aos próprios medos, por isso o bom salvage nom é mais do que isso: um formoso mito burguês para crianças – velhas. A vigília e o sono entrelaçam-se. As figuras dos sonhos passeiam polo quarto entre as tebras. O coraçom encolhe-se. O corpo em posiçom fetal, aguarda a que alguém o toque para que revente esse comboio de corda... Os olhos fam força para nom abrir-se e enfrentar-se ao real.


A razom refuga analisar que é no fundo esse grande medo que me espanta. Nom é nada. Quê que é essa figura gigante que chama por mim com a sua atroadora voz que impede poder laiar-me com a minha própria voz? Como criança temerosa acendo a luz para escorrentar as sombras enquanto arde a lámpada de 60w do meu quarto. Nom olhes debaixo da cama. O milho segue verde e o meu riso congelado é parte dum gesto esquecido na crisálida de criança. Esse nom és ti.


Meu deus! Ou enfrento isto ou é a fim! Ou venço estas sombras, esta sombra criminosa, ou eu próprio me esvaeço succionado a um incerto e desconcertante poço- negro. Somos escravos dos nossos medos e por isso nos encadeamos aos demais. A valentia é a mais fingida das expressons humanas. Jogamos a deuses sem passarmos de bezerros de latom. Nom abras o armário.


Um dia, outro dia. Hoje nom se prenderá a luz. Amarás ao teu pai e a tua mai. Estou sentado numha cadeira qualquer. No protótipo mental de cadeira. Na cadeira abstraída de entre todas as cadeiras do mundo, na cadeira irreal com a que toda via olho e identifico toda as cadeiras rurais. Pensa em cadeira. Quatro patas. L. Madeira. 0 e 1. De frente um home negro dá-me a escolher entre umha pílula azul e outra vermelha. Entre a morfina e o Morfeu, entre sonhar esperto ou espertar sonhando. Hesito e suo, com a condensaçom pola janela entra apenas umha mancha de luz da rua. Vejo novamente o grande monstruo e começo a fotografar a sua contorna e compondo o creba – cabeças reconheço a sua voz. Olha ti que era. Tenho medo.


A azul ensina-me um grande carro desportivo dalgum anúncio. Quiçais o carro oficial do Mundial de futebol da África do Sul 2010. 0 e 1. Sai umha VISA que converte um home magro e grosso num ídolo polo que todos torcem, tal o deus Cristiano, tal o deu Marx. O Groucho Ronaldo, claro. A mulher – conceito de que todos os homes se namoram sem nengum casar-se nunca com ela – porque é a cadeira protótipo que só existe na abstracçom – senta ao meu carom no carro. Eu chamo o carro por ruas nunca navegadas em que campam os novos e grandes prédios, onde todos olham a garota e o carro com a inveja de ver um triunfador. Era um escravo a um carro colado. Eram caixas russas superlativas. Com certeza o azul é a pílula da razom, da vigília, do sucesso... a que me sandará de premoniçons, alucinaçons e sofrimentos. A que substituirá o medo e a noite pola luz, o balbordo, o colesterol e o frenético decorrer dumha vida vivida numha TV.


A grande massa emerge agora nítida e puxa ao home negro. A azul cai. 0 e 1. Volvem as sombras, xoto com suores a terrível dor de comprovar quem é o monstro: som eu, eu mesmo, só eu; em sonhos som o meu próprio pesadelo, o meu mais terrível medo... como é possível? Quê é que me causa perder a consciência e a razom? Por quê é que eu mesmo chamo por mim próprio? Talvez haja umha parte de mim por acaso que ainda nom nasceu porque o ditamem dos outros lhe impede florescer?


O pano cai. Acordo cedo com a primeira raiola de sol. É véspera do solstício de verao. As nuvens fôrom-se do céu e a chuva remeteu. Retomo compulsivamente as folhas deste diário no limbo e a confusom do real e o imaginado. Cheira a sol em todas as janelas do mundo. Desconheço-me. Procuro nos meus escassos livros algum de psicologia freudiana. Rem se achega as minhas misérias nem remotamente. Nom me lembrava de dormir tam bem em anos.


Todo está em orde, na mesa-de-noite um pacote de lenços, o caderno e umha caneta. Por trás umha foto dum dia importante para mim. Na parede um quadro da Liberade de Delacroix, a única possessom que me fica após arder os livros, sorri com concupiscência. Sinto-cho bem amiga, daquela nom havia carros último modelo nem príncipes azuis coma mim. Ceivo umha gargalhada escandalosa, compulsiva e nerviosa. Sayonara baby. Mamá bate na porta e chama por mim forçando a voz para passar por cima da do televisor. Ergue. Vamos. Hoje é o primeiro dia de escola. Já, nom quere que eu, digo os outros, cheguemos tarde. O rapaz abandona o quarto, no chao umha maçaroca ainda verde e fresca fica esquecida.


terça-feira, 8 de junho de 2010

A nova atracçom de Eurolándia: a Hungria



O fascismo financeiro nom colhe em si de contente. Os responsáveis da nova atracçom de Eurolándia anunciavam a abertura iminente dum novo cenário para continuar com o saqueio da classe trabalhadora que permita ao fascismo financeiro continuar a acumulaçom por privatizaçom. Nom se esperam no horizonte, afora a Grécia, que a luita de classes arda Eurolándia. Mas a pantasma é evidente que volta com a estadeia da ilustraçom do socialismo científico.

O representante do governo ultranacionalista e conservador, eleito em Abril, advertia que a gestom anterior do socialdemocrata Gordon Bajnai deixara o Estado ao borde do abismo e dumha suspensom de pagos. Mais lenha para umha banca europeia que volve estar como quando começárom os resgates e as “socializaçons das perdas”. As entidades nom se fiam entre elas porque se sabem todas igualmente podres. Aliás, o facto de que a “economia real” está em crise aguda e os deficit públicos polas nuvens nom permitiriam aos olhos dos “mercados” voltar mais umha vez resgatar a banca e recomeçar com um novo ciclo de encloussers, privatizaçons, e “ajustes” do FMI e as suas receitas de pokereconomia.

A cadeia retroalimenta-se. O BCE tem recorde de depósitos, o crédito ao capital-industrial e as economias domésticas nom chega e a recuperaçom ecómica que se anunciava iminente pospom-se cada vez mais. A UE tem, polo menos, para umha década e os focos dos ataques dos “mercados” preparam-se para umha redistribuiçom cara as classes altas com os programas de “austeridade”. O Reino da Espanha está numha situaçom mais do que delicada. As instituiçons de governança global solicitam mais e mais recortes que só inçam o endividamento privado e pejam a recuperaçom. Nom é por acaso que o anúncio de Viktor Orbán, primeiro ministro da Hungria, de que o deficit chegaria a 7'5% (face ao 3'8% previsto polo FMI) disparou os seguros que cobrem a dívida húngara até 23'7%, até os 392'3 pontos. O mesminho do que no Estado espanhol. Dá igualmente que pensar que o Ibex caíra após o anúncio 3'80% e que sustente esta semana essa caída, ou seja, o Ibex caiu por cima ainda do país que anunciava a sua falência: terá algo a ver que a Hungria tem moeda própria e o Reino da Espanha nom?

Trichet e o BCE seguem, contodo, na montanha russa de Eurolándia sem decatar-se de que todo arde arredor. No seu último informe afirma que o deficit é o problema na linha da austeridade. Nom se decatam, ou se se dam de conta desonestamente negam-no, que cada vez que os “mercados” sacodem as bolsas o capital da banca europeia reduze-se e os títulos emitidos por falha de “confiança” nom os merca nem deus. Novamente o ultraliberalismo teme morrer com o euro, o melhor que nos pode passar por certo, já que é evidente que a banca procura umha nova “socializaçom das perdas” perante a falha de solvência. Aqui está o doestado capital público, aqui as naçons de súbditos esperando para tapar os buracos do fascismo financeiro. Vam ganhando a partida: nem taxa Tobin, nem taxa Robin Hood, nem farrapos de gaitas. Aqui o Bilderberg e a oligarquia mundial correm para nengures com a segurança de que a acumulaçom por desposessom dos europeus é a única saída. Um capital já excessivamente concentrado que necessita de fusons e de solvência para quando entre em falência a indústria, a pequena indústria e as empresas públicas fazer-se a preço de ganga com todos despojos. As elites EUA olham refregando as maos para a Europa, aqui implementam-se medidas que lá evitárom e nom por acaso.

A irracionalidade é umha componhente essencial de todo fascismo, nom o ia ser menos no fascismo financeiro. A crise estrutural está relevando como hai umha carreira frenética paralela a que se estabeleceu em 1929. Um salve-se quem poda no capital-financeiro que vai ampliando as turbulências numha espiral que ameaça com abrir a pior depressom económica na Europa dos últimos setenta anos.

Longe ficam as vodas de ouro e mel entre o FMI e Gordon Bajnai quando escrevia esta carta:

Budapeste, 4 de Março de 2010. Caro senhor Strauss-Kahn: O significativo fortalecimento das políticas durante o último ano e meio situárom com firmeza a Hungria no vieiro para a estabilidade e o crescimento. As vulnerabilidades macroeconómicas reduzírom-se por médio dumha melhora da estrutura fiscal, um aumento da supervisom bancária e oportunas injeçons de capital para apoiar o sistema financeiro. Como resultado a confiança empeçou a regressar e a economia está rumo à recuperaçom.


A queda da Lehman Brothers sumira num terramoto a Hungria e o FMI injectou entom 12.300 milhons de euros a prazos, dos quais os dous últimos nom se empregárom polo que o montante desceu até 8700 milhons. Mas, por quê isto afectou tanto ao Reino da Espanha? O Ibex segue o ronsel dos movimentos da Telefónica, o Santander e o BBVA. A imobiliária Sacyr Vallermoso caiu o dia do anúncio 7'73% devido a que mercou solares no centro de Budapeste na sua aposta por diversificar mercados perante a sobreproduçom do mercado interno espanhol. Por certo, Fadesa, já atafegada de dívidas e problemas, tamém apostara por esse mercado. O BBVA e o Santander nom tinham apenas dívida húngara, mas si espanhola na solvência da qual confiam cada vez menos os inversores do fascismo financeiro.

Por enquanto, o Banco de Espanha segue avante com a bancarizaçom das caixas através do FROB para que passem a maos privadas em quanto for possível e deixando em evidência a esquerda galega, enquadrada ainda despois de todo dentro do consenso ultraliberal que a esquerda nom é quem de rachar. Um pergunta-se se as entidades que som saneadas com recursos do Estado nom deveriam pertencer ao conjunto da cidadania conformando umha grande banca pública que resgate a quem realmente o necessite: a classe trabalhadora e as pequenas e medianas empresas do Reino da Espanha.

Pois, nom. Em Eurolándia a “austeridade” conduze para umha refeudalizaçom onde a cada vez mais grande reserva de mao-de-obra permitirá aos senhores que os seus servos trabalhemos mais horas, por menos quartos e com as mínimas medidas de cobertura social. Nom tem a esquerda a obriga de exigir umha renda básica universal para a cidadania que evite esta espiral do fascismo financeiro agora que o Estado espanhol já conta com 10 milhons de pessoas vivendo por baixo do umbral da pobreza e o mercado do emprego negro polas nuvens? Esperamos, contodo, contra toda esperança, aguardando que esta contraofensiva do capitalismo na sua vertente ultraliberal esta descarnada luita de classe permita umha conscienciaçom social que lhe faga frente ao fascismo financeiro. Como rezava um almanaque laboral que caiu estes dias nas minhas maos: Non hai mal que cen anos dure... menos a CNT.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Pós-política e pokereconomia

1.1.- Pós-política pós-industrial e pós-modernista ou a negaçom da acumulaçom por desposesom realmente existente

O Prémio Príncipe de Asturies de Comunicaçom e Humanidades acaba de falhar-se em favor de Alain Touraine e de Zygmunt Bauman, exponentes dumha sociologia crítica que resiste a intrumentalizaçom da universidade e do conhecimento por parte do ultraliberalismo.

Segundo Bauman «a única resposta possível é o surgimento dum espaço político igualmente global» que entendemos que deveria surgir desde as posturas altermundialistas. Bauman, como Tourine, criticam com força a forte crise do sistema ultraliberal. Bauman é o autor do sucedido conceito de «modernidade líquida» que vem a dizer que a nossa época é a instabilidade, a da precaridade e a do destruiçom dos laços sociais como expom nas suas obras, por exemplo Vida de consumo (Paidós, 2007) ou Mundo consumo (Paidós, 2010)[1].

Esta destruiçom dos laços sociais permitem a nova vaga de enclousers sobre o público e a hegemonia da contrarreforma ultraliberal, de noraboa trás atingir todos os seus alvos ainda despois de ter-se encetado umha crise sistémica. Precisamente já Naomi Klein em The shock doutrine alertava para este modo operar e como as crises som o motor de novas privatizaçons e ataques contra os direitos da cidadania.

Alain Tourine pola sua banda incidia na necessidade de «impulsar um novo movimento social cidadao» face a globalizaçom económica e a fragmentaçom / hipnotizaçom da sociedade através dum narcisismo compulsivo que desarma a sociedade civil perante as forças de governança global. Tourine tem chamado a atençom para a sociedade pós-industrial e em L'après socialisme chegava a afirmar no seu começo «o socialismo finou». Quanto à era pós-industrial ou ao pós-fordismo devemos inseri-lo nessa mareia de pós-Polt enfermiços, cujo máximo exponente na superestrutura é o pós-modernismo e que tem o máximo eco na pós-história de Fukuyama e na pós-política, ou a «parapolítica» de que Žižej fala, que tanto sucesso tivo nas mentes dos cidadaos do centro.

De facto, as etiquetas centro e periferia, o materialismo histórico – geográfico de que David Harvey torna-se fulcral para refutar este pós-fordismo, sem esquecer a perspectiva da longue durée da escola do sistema – mundo iniciada por Immanuel Wallerstein (nom é por acaso a crise da UE umha manifestaçom nom apenas da financiarizaçom da economia mas tamém umha amostra das rivalidades no centro capitalista?). A etapa atual, portanto, nom é a das sociedades pós-industrias, mas devemos por contra notar umha deslocaçom dos centros industriais desde o centro para o Leste asiático, ou seja, que na etapa atual o capitalismo mostra a mesma flexibilidade do que noutras etapas já que é umha característica intrínseca do sistema capitalista. Por seu lado, Alex Callinicos, para além da sua crítica demolidora do pós-modernismo em Contra o pós-modernismo (traduçom para o galego em Laiovento), tem igualmente assinalado como nas continuidades estruturais entre a fase fordista e a pós-fordista.

Precisamente para entender que é o que se passa atualmente, no tocante a hegemonia do capital-financeiro através das instituiçons de governança global (FMI, BM, BCE, etc.) hai que ter muito em conta dous elementos cruciais. O primeiro o regime dólar-Wall Street (RDWS) que salientava Peter Gowan, e que com tanta fortuna explicou Beiras em mais dum artigo por certo, que permite a hegemonia do dólar e dos agentes financeiros ianques e ingleses. O segundo o indicado por Giovanni Arrighi, tamém da escola o sistema – mundo, a financiarizaçom é recorrente na economia capitalista e acontece precisamente quando os processos de acumulaçom do capital produtivo se enfrontam a umha situaçom de rendimentos decrescentes já que nessa tesitura o capital nom topa saída no ámbito produtivo.

Tocante a isto último, Marx falava do estádio superior do fetichismo, onde «umha parte do benefício (...) despega-se completamente da relaçom capitalista em tanto que tal, e parece derivar-se nom da exploraçom do trabalho assalariado, mas do trabalho do próprio capitalista. (...) Se, primitivamente, o capital desenvolvia, na superfície da circulaçom, o papel fetiche capitalista, de valor criador de valor [D-P-M-D], reaparece aqui, sob a forma de capital portador de interesse, a sua forma mais alienada e mais característica». Isto conduze, portanto, a um desequilíbrio lógico, tal e como assinala Marx no livro III de Das Kapital. Quanto a teoria dos rendimentos decrescentes está igualmente em Marx que no livro IIII enuncia a «lei da baixa tendencial da taxa de ganho». Na alínea treze sobre a «natureza da lei» sintetiza que os três feitos principais da produçom capitalista som a concentraçom de capitais em poucas maos, a organizaçom do trabalho social e a sua divisom como trabalho cooperativo, e a constituiçom conseqüente do mercado mundial.

A taxa de ganho é a relaçom da mais-valia divida pola suma do capital constante e do capital constante e do capital variável. Quanto mais se acumula o trabalho morto [c] mais afectado se vê o trabalho vivo [v], quer dizer, mais inça a «composiçom orgánica» o capital [c/v], e mais tende a descer a taxa de ganho [pl/(c+v)] com o que obtemos umha equaçom da baixa tendencial da taxa de ganho: [pl/cv = pl/v / c/v+1].

As análises do socialismo científico mostram-se mais umha vez obstinadamente acertadas, máxime quando a Terceira via vem de sofrer um fracasso sem paliativos, que lho perguntem a Zapatero ou Gordon Brown e aos demais apologistas do «centro radical». A pós-política e as suas violências som cada vez mais evidentes a tal ponto que Noam Chomsky nom duvida em comparar a situaçom dos EUA actuais com os últimos anos da República de Weimar. A continuaçom veremos para o Estado espanhol algumhas chaves que reafirmam a (re)emergência dumha ultradireitizaçom global, com o agravante engadido de que a correlaçom de forças é hoje muito mais fraca no que atinge à parte das forças da esquerda, com umha esquerda social-democrata ou pós-estalinista maioritária perante o altermundismo e a esquerda libertária.

Onde é, portanto, que morreu o socialismo? Será no cada menos Brave New World ocidental de 1984.

1.2.- Pokereconomia em Eurolandia

O Carlos Taibo e muitos outros autores de esquerda tenhem reparado em que é difícil ser de esquerdas e espanhol. E tanto diria eu, aí está José Blanco, representante dessa “social-democracia” da Terceira Via já sem carauta, afirmando sem rubor que «la derecha española ha vuelto a dar una lección de antipatriotismo muy semejante a la que dio en su momento cuando no respaldó el ingreso en la OTAN». Nom viria mal voltar a ler aquel livro do Joan Garcés Soberanos y intervenidos.

Um PSOE em carreira frenética por envolver-se na bandeira do espanholismo e a recentralizaçom do estado. Agora é boa época para subalternar a luita de classes ao nacionalismo como no primeiro terço do XX, como acontece por toda a parte nesta Europa em descomposiçom cujo fedor é a cada hora mais insuportável. Aliás, é um momento imensurável no pátrio Reino da Espanha já em 28 de Maio de 1785 Carlos III adotou a «rojigualda» por Real Decreto. Tamém agora por decreto Zapatero garante os lucros do capital – financeiro passando por cima dos direitos daqueles cidadaos que o elegêrom “democraticamente” para governar. A democracia de votar e calar desta II Restauraçom bourbónica em crise institucional, jurídica, ética e económica.

A substituiçom do maurismo e do governo de concentraçom “nacional” torna-se agora no artelhamento dum partido-visagra que lave a faciana do regime UPyD, grande impulsor da direitizaçom do pessoal com a conivência do binómio político – mediático. Eis as palavras de Rosa Díez de Vivar demandando do Zapatero, após a aprovaçom do “tessouraço”, que devolva «a los españoles la autonomia de decidir quién queremos que gobierne y, sobre todo, cómo queremos que nos gobiernen (...). Por patriotismo y por autonomía política, convoque elecciones».

No entanto, o campiom das essências pátrias é o incorruptível Paquinho Camps que fai com a senyera um traje: «Usted se ha acogido as Código Penal. Yo me cojo a la Senyera y a mis conciudadanos para seguir trabajando por el futuro de esta tierra». Quê é que diria o Fuster deste “animal político” – no sentido aristotélico of course? A bandeira por direito que regula as relaçons dos cidadaos, o nacionalismo como dogma e ópio das luita de classes.

Todos somos espanhóis dim-nos, mas cada vez é mais claro que uns mais do que outros. A caverna celtibérica ruge com apestosa força. Em La Razón falavam de “La esperanza de España”.Em ABC o editorial contava-nos que as eleiçons antecipadas som «una necesidad nacional (...) Pedir ahora elecciones generales anticipadas no es antipatriota ni oportunista». Quanto aos “todólogos” do espanholismo consenso ultraliberal e fascistoide total. Isabel San Sebastián em El Mundo punha-se em disjuntivas anti-luxebunguescas: «o refundamos la Nación o nos hundimos con ella». Paso a España!!!

Pola sua parte, o ministro de Economia do IV Reich – euro declarava que «é de celebrar que o Estado espanhol se decidira por medidas duras de aforro» e Ángel Gurría, secretário geral da OCDE, engadia que «lo que ha hecho España en las últimas semanas prueba que hay voluntad política».

Em Itália, Sílvio Berlusconi aprovou um outro “tessouraço” de 24.000 milhons de euros em dous anos que inclui, como nom, a congelaçom de ordenados dos funcionários, restriçons nas jubilaçons e um recorte duro para os governos regionais. No Reino Unido o governo de David Cameron já começou bem, gerando a «confiança dos mercados» a pesar de que isso destruirá o tímido crescimento de três décimas do PIB británico. O executivo aprovou um recorte de 6.700 milhons euros no gasto, que se cargam na conta dos funcionários e das administraçons locais e governos regionais. A originalidade dos economistas e “todólogos” da UE nunca deixará de surpreender-nos. Na França, Sarkozy, entre revista e revista do coraçom, recortará 100.000 milhons de euros. François Fillon reduzirá entre 2011 e 2013 (dous anos!!!) 10% do gasto social útil e da financiaçom local e congelará os gastos de funcionamento do Estado. As moscas mudam, só a merda é que nom varia.

Esta emergência global da xenofobia e o fascismo tem em Hungria um capítulo de seu. O governo da direita liberal de Viktor Orban vem de aprovar no parlamento umha lei que concede a cidadania a 3'5 milhons de húngaros que vivem em Austria, Croácia, Eslováquia, Eslovénia, Romania e Ucraína. A medida nom ajuda demasiado para a sua política exterior mais serve para tirar eleitoralmente partido dum nacionalismo cada vez mais fascistoide. Na Hungria o Jobbik conta com 17% dos votos e esta medida tenta captar votos desse caladoiro da ultradireita. A medida ajudará ao HZDS e ao SNS, a direita fascista de Eslováquia, que explora a xenofobia contra os húngaros (que som 10% da populaçom) com umha campanha que reza assi: «Para que nom tenhamos que alimentar os que nom querem trabalhar». Umha pantasma, a de Goebbels, percorre Europa.

Os bancos e os especuladores podem respirar tranqüilos. A Führer Merkel garantirá o cobro da dívida grega a custa da sua economia e a sua populaçom. Já no-lo advertiram: “Grécia está por toda a parte”. O papel dos estados analisava-o bastante claramente José González Casanova num artigo “Policias y ladrones” que aparecia no jornal do Reino da Espanha Público (28-5-2010):

«El gobernante que ose mover las columnas del templo mercantil hará caer sobre él su derrumbe y se suicidará. Lo menos que debe hacer ese gobernante es reconocer su impotencia frente a las mafias porque ha dejado de ser policia. (...)

La crisis ha sido promovida por los que aspiran a esas reformas (“impopulares” es un eufemismo de “antipopulares” que han de permitir un robo global aún más cuantioso. En su cinismo fingen que les duele una situación provocada por ellos (Aznar, su Ley del Suelo, la burbuja inmobiliaria y la corrupción consiguiente.

(...) La izquierda crítica sugiere que “pague quien contamina”, que se reforme de raíz el sistema fiscal, que se suprima la banca privada y las bolsas, que se obligue a los empresarios a reinvertir en sus empresas, que se rebajen por ley los sueldos de los ejutivos privados, etc. ¡Pero eso sería el socialismo! En realidade, no tanto: sólo una pequeña aproximación, basada en un mínimo de justicia que permita dejar claro quién have de policia y quién de ladrón»[2].

Garantir apenas o básico: que o estado exerça o seu imperium perante as relaçons assimétricas de dominium que operam entre os axantes que opeam no marco das suas fronteiras. As cousas de mais sentido comum postas como diria o Galeano patas arriba. Com razom Domènech, Nadal, Búster e Raventós indicavam com precisom de cirurgiao que o recorte de “Zapatero maos tesouras” consistia numha «hierarquizaçom as conseqüências da crise “para abaixo”, tanto em termos sociais como de centro – periferia geopólitica»[3]. Precisamente este artigo intitulado “La UE y Zapatero se superan, o cuando los locos son los lazarillos de los ciegos” é fundamental para entermos onde é que está o farol dos pokereconomistas de Eurolándia.

Nom fai muito tempo aparecêrom dous artigos de Michael R. Krätke intitulados “Eurolandia converte-se em coto de caça”[4] e “Arde Eurolándia”[5]. É esta Eurolandia onde «os culpáveis nom som os bancos freneticamente entregados à especulaçom: som os gastadores Estados sociais de corte europeu! A image ultraliberal do mundo volve quadrar». Talvez como o fidalgo aquel do conto de Outeiro Pedraio que abria as vilhas dos pipos para que o seu filho risse? A dilapidaçom da casa comum sem benefício, ainda com agrávios, para as maiorias sociais. Os estados como garantes da liquidez dos bancos, os novos conversores de dívida externa em dívida eterna, os políticos como reféns das forças de governança global que nom passam polas urnas da espantosa democracia formal burguesa.

As forças de governança global como o FMI pedem a bancarizaçom das caixas e o despedimento livre na lógica ilógica dumha suposta reativaçom económica. Os partidos dinásticos da II Restauraçom bourbónica em crise respondem apelando ao “patriotismo español” para acochar detrás dum trapo a depauperaçom dos seus súbditos – consumidores. O de sempre. O capital – financeiro joga à pokereconomia sempre com o mesmo farol que o binómio político – mediático se encarrega de fazer digerível para a sociedade. E lembro-me daquel velho cartaz em que Lenine varria desde a URSS o mundo... contra a pokereconomia a sociedade civil galega tem que volver ao seu jogo tradicional: a escova.



[1] Para umha análise mais demorada do conceito de modernidade líquida veja-se http://letras-uruguay.espaciolatino.com/aaa/herrera_jeanie/modernidad_liquida.htm

[2] http://www.blogs.público.es/dominiopublico

[3] “La UE y Zapatero se superan, o cuando los locos son los lazarillos de los ciegos”, disponível em http://www.sinpermiso.info

domingo, 16 de maio de 2010

Língua, economia e paradigma







Na dialéctica entre a res pública e o privi legium, onde o segundo é hegemónico hogano, insire-se o novo decreto do galego e a nova estrategia da glotofaxia da caverna celtibérica. Os mesmos que clamam contra a politizaçom da língua subvertem e denunciam umha "ditadura lingüística" subvertem o carácter social univóco da linguage argüindo que nom existem direitos colectivos, mas apenas o privi legium. Politizam a língua e ainda se atrevem a dilucidar que devem decidir os pais individualmente a educaçom colectiva e pública dos seus filhos.

Que decidam os pais e que decidam bem. O carácter público da educaçom deve ficar supeditado à vontade privada dos pais ou, melhor dito, de grupos de poder glotofáxicos como o Clube financeiro de Vigo ou Galicia bilingüe. Na retórica ultraliberal parte-se dumha interesada confusom: os ataques contra a liberdade só venhem por parte do Estado - do imperium - e nunca no seio da vida social, quer dizer, das relaçons de poder que se dam na sociedade - o dominium. Porém, a pouco que a realidade seja analisada esta afirmaçom olhamos de contado que é falsa. O ultraliberalismo procura adelgaçar o estado - o imperium - precisamente para permitir que as relaçons de poder que se estabelecem entre particulares beneficiem particularmente sempre aos mesmos: os patronos, os banqueiros, os espanholistas da caverna celtibérica e o seu direito sagrado à ignoráncia.

A vida social inclui no seu interior assimetrias de poder que nutrem relaçons de dependência que estám na base do domínio dos uns sobre os outros. Estas existem em qualquer espaço geográfico e em qualquer tempo histórico (materialismo histórico-geográfico), por muito que a ontologia social que emprega o liberalismo negue que no mundo exista dominium, estabelecendo um dogma insustentável do ponto de vista científico, mas que se acha instalado no horizonte de expectativas de grande parte da sociedade galega, porque a hegemonia, em termos gramscianos, é deles e nom dos que procuramos um outro mundo possível. Como é possível sem o dominium explicar que enquanto um banqueiro bebe champanha de 3000€, centos de pessoas durmam sem teito? E como é possível com um imperium supeditado ao, teoricamente, dominium inexistente garantir o direito consitucional a um teito?

A ditadura do dominium dumha minoria impom-se a todo o corpo social, toda vez que o imperium se reduze simplesmente a favorecer as comenências das forças globais de mercado e a uniformizaçom e autocolonizaçom global. Precisamente esta primacia do dominium, do privado e privativo, nom tem conduzido à obtençom de mais liberdade, mas, a contrário, por toda a parte conduziu para estabelecer mais pobreza material, cultural, etc.

A negativa a reconhecer direitos colectivos e simplesmente fazer fincapé nos direitos individuais -algo claríssimo nas línguas- vai na única direcçom de favorecer as línguas fortes, as multinacionais, e esfarelar por canibalismo lingüístico a 90% das línguas que hoje existem no planeta. Neste sentido, a esquerda mundial e o altermundismo deveriam para já pôr acarom do ecologismo o ecolingüismo que autores como David Crystal levam tempo e tempo defendendo. Claro que isto é para o pensamento global. No local, os actores mais conscientes devemos ir ao que Henri Boyer denominava o nacionalismo lingüístico, mas nom deve confundir-se isto com retóricas maximalistas que trunquem o desenvolvimento de estratégias comunicativas que permitam reverter a situaçom actual da língua, pois, mal que bem, seguirá pertencendo ao sistema Occidental só se incorpora a um bom número de neofalantes e mantém os falantes que hoje tem.

O galego tem que ser desde já um direito é um dever pois todo cidadao da Galiza deve poder desfrutar dum produto social histórico gerado colectivamente como povo e, portanto, inalienável desde supostas "libertades individuales" que som associais. Porém é preciso fazê-lo com inteligência para poder incorporar ao máximo número de sujeitos, desde abaixo operando em redes abertas (nom fechadas) e densas (nom disperas e anónimas) em que a língua se associe com outros valores positivos desenvolvidos por esses colectivos que actuam a prol da língua.


A prédica canibal do bilingüismo equilibrado nasce da lógica do livre mercado ultraliberal aplicado às línguas: umha língua A e outra língua B competem em desigualdade de condiçons num mercado sem aranceis nem proteccionismos e os oprimidos devemos aguardar a que a mao invisível do mercado o regule todo. Claro que esta ideologia perversa do nacionalismo lingüístico espanhol, que tam luzidamente denunciou Moreno Cabrera por certo, comporta-se bem diferente quando é o inglês o que ataca os territórios do império em muletas em Porto Rico. O o chauvinismo espanholista mais ranço e retrógrado disfarçado de constitucionalismo está em voga.

Desta volta o verniz para que traguemos o anzol de algo infumável é o inglês, a "liberdade", o "consenso" e sabe deus que mais. Em aras dum cosmopaifoquismo requintado e exangue. propom-se o etnocídio planificado sobre umha cultura. Nom devêrom ler aquilo de Joám Vicente Biqueira: “A pessoa cosmopolita é aquela que nada humano lhe é alheio, nom aquel que até a sua terra lhe é estranha”.

A economia e a mudança de paradigma da Lingüística Política galega

No entanto, na Galiza podemos optar por explorar umha vantage comparativa com respeito ao català, o astur-llionês, o aragonês ou o basco. Nós nom estamos sós como já advertira Murguia, Castelao, Biqueira, Vilar Ponte ou Ricardo Carvalho Calero - ao que este dia o estudantado organizado na Assembleia de filologia lhe dedica a homenage no centenário do seu natalício que a RAG lhe negou por certo- e contamos com materiais de todo tipo na segunda língua romance com mais falantes: o galego-português.

A estrategia do isolacionismo operou desde os oitenta com um resultado claro e palpável: a desgaleguizaçom contínua e constante da sociedade. É claro que o modelo de normalizaçom lingüística, dominado pola desorientaçom e a impostura em grande parte, nom funcionou e na ciência quando a experiência nega com feitos o método empregado abre-se um período em se lançam e adoptam novas hipóteses e estratégias. Na ciência religiosa de academias e demais templos da língua dependentes do Estado espanhol directa ou indirectamente nom se muda nada, só se perfuma bem a morte do idioma para que a mómia nom apodreça. Por nom falar da galopante dialectalizaçom da língua.

O argumento numérico para as línguas é umha vertente mais da "utilidade", do argumento económico tam do agrado do imperialismo. Nom gosto del e ataco-o, ainda sendo comum dentro do regeneracionismo. Ora bem, dentro das cidades e entre os segmentos mais desgaleguizados a interesse polos galego pode vir desde os mesmos argumentos que nom o fam hoje atractivo: milhons de falantes, possibilidades laborais... Os mesmo que hoje ponhem no curriculum nível de português alto por saberem português som os que se resistem a reconhecer o evidente: que , como dizia o Carvalho, "o galego ou é galego-português ou é galego-castelhano nom há outra opçom. Ou somos umha variante do sistema central ou somos umha variante do sistema ocidental".

Dizia-o o brasileiro Júlio César Barreto Rocha com claridade mais recentemente: "O Brasil fala a língua galega", e o Brasil é umha potência emergente e um mundo de possibilidades económicas e lingüísticas para a Galiza. Enquanto a Junta lhe paga a Microsoft por traduzir para o galego o Windows já que nom hai mercado, num inútil dispéndio, o Brasil pola sua imensidade conta com todo o software em galego. Que é que compensa mais? Nom é melhor centrar a normalizaçom e os seus investimentos em garantir umha educaçom para os galego - falantes que lhes permita sair da escola com segurança lingüística em galego-português e vivendo numha esfera cultural própria e nom alheia? É melhor o modelo dos 50, 70, 25 para todos que nem garante que os que falam galego o falem bem, nem consegue que os que falem castelhano dominem tam sequer minimamente o galego oral? É tempo de mudar o paradigma, é tempo de reflexom.

A Estremadura espanhola implementou em todos os liceus o português e Andaluzia acaba de dar esse mesmo passo. Na Galiza por questons evidentemente políticas tanto estranhos como acomodados negam-se a optar pola que seja quiçais a única via de futuro. Comecemos implantando o português em todos os liceus da Galiza e as televisons portuguesas e ainda brasileiras por todo o território. Recebamos imprensa, livros e filmes na variante extensa da nossa língua. Sejamos galegos, nom parvos.

Muitos empresários galegos começam a ver o galego como ferramenta útil nom tanto com Portugal, mas sobretodo com o Brasil. Empresários castelhano falantes, mas nom som poucas as empresas que estám escolhendo a galegos para operar nestes territórios... cada vez a via a seguir é mais clara. Manoel Santos indicava-o com claridade e dureza:

"Na miña opinión non temos reflexionado dabondo sobre este papel central da economía no galego. Falo, claro, do modelo capitalista, e especialmente o neoliberal, por canto a exterminada economía tradicional familiar e autónoma -disque a dos pailáns- si tiña o galego como idioma vehicular.

E moito menos temos desenvolvido unha estratexia seria e acaída para inserir, ou forzar a inserción, da lingua na economía do país, nas súas empresas, nos seus comercios, nos seus números.

E lastimosamente somos unha sociedade máis de números que de persoas que falan linguas. Ou cambiamos a economía, o modelo, ou mudamos, como tristemente xa estamos a facer, de lingua. Mais as dúas cousas non parecen compatíbeis".

A economia e o modelo, o decrescimento, nom é ainda para manhá, mas a assunçom do galego como sistema ou variante do diassistema luso-brasileiro-africano-timorense pode ser para hoje mesmo.

A ortografia poderia manter-se durante um período mais ou menos dilatado e que a sociedade informada e formada decidira e nom os filólogos que tanto mal lhe temos feito ao idioma. Se as normas nom conseguirem ser aceitadas unanimemente, pode até se dar o caso de que podam emergir várias tentativas de codificaçom, como é o caso da Noruega, estado lingüisticamente coabitado polas variedades estándares nynorsk e bokmal após idependizar-se de Dinamarca e as duas som de obrigada aprendizage nas escolas (se bem é a segunda a que mais se emprega em registos cultos). Ora bem, os inimigos da língua e os que se negam a conhecê-la e empregá-la seriam na Galiza os primeiros em atacar esta duplicidade de normativas. Como indicava Goretti Sanmartín Rei a propósito da última modificaçom normativa :

"En que medida a posibilidade de recuperarmos certos trazos xenuínos e de estabelecermos con clareza como principios básicos o achegamento ao portugués influíu no cambio de rumbo a respecto da lingua da posición dunha parte relevante da dereita galega, e non só? (...) Como se están a utilizar preconceptos intrínsicos sobre as linguas para elaborar argumentos contrarios ao emprego do galego?

(...)o galego, e só o galego, é cualificado de artificial e antinatural e en que a defensa da dialectalización da lingua dominada se dá por feita ao se situar sempre no ámbito privado e ao reducir os seus usos permitidos ao rexistro da coloquialidade" (1).

Semelha que os de fora tenhem-no mais claro do que os de dentro. Sem umha burguesia nem umhas instituiçons que prestigiem o idioma só pode caminhar-se para o etnocídio desde um isolamento contra natura. É mais, que tenhem em comum as falas de Estremadura, o galego da Galiza e as zonas espanholas fronteiriças onde os velhos ainda falam português? O documentário Entre Línguas é bastante revelador ao respeito. O comum no sotaque, nos castelansmos, a gheada, etc. indica-nos que o que separa o galego e o português nom é lingüístico - nunca o foi - é político e, em definitiva, tem nomes e apelidos: o Reino da Espanha.

CodaNegrito

Toda lingüística é sóciolingüística, em tanto em quanto, a língua é um produto natural das sociedades e até se identificárom recentemente os genes da fala entre os Neendertais no que parece reforçar o argumento chomskiano. No entanto, desde o estruturalismo a (sócio)lingüística xebrou a língua da sociedade produzindo-se um curioso efeito: um artefacto abstracto e analisável de costas a sua existência, como quando os Chicago boys faziam dogma económica adaptando a realidade económica as suas teorizaçons. O social da língua nom pode xebrar-se nunca do estudo da gramática. A fonética do bairros periféricos das cidades nom é a mesma do que dos seus núcelos e assi seguido.

Aguardemos que este seja o século que lhe dê umha labaçada a um século de idiotizaçom e fragmentaçom artificial das ciências sociais no seu conjunto e tamém da lingüística e a filologia. Ainda mais, para diferenciar a lingüística propriamente dita, a (sócio)lingüística, da rama que se centra nas políticas lingüísticas, análises sociais, etc. (o que hoje se entende por sócio-lingüística) deveriamos empregar o termo Lingüística Política, assi como existe umha economia política, umha história política, ou umha filosofia política (hoje negadas com invençons como as Ciências Políticas xebradas delas).

Os que procuram a morte dos direitos colectivos e dos povos, som os mesmos profetas estafadores da fim da história e da fim da política. A (re)politizaçom da sociedade, o confronto público - privado e o controlo do dominium recuperando o estado para a cidadania som os alvos da esquerda republicana, altermundista e libertária do século XXI, como o fôrom no XIX. Vale.




(1) Goretti Sanmartín Rei (2009) "(Re)Lexitimando a seguranza lingüística. Sobre a necesidade de afianzarmos un modelo culto para o galego" em Sobre o racismo lingüístico, Laiovento: Compostela p. 130

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Os trabalhadores nom votam a traidores



Onte fum ao teatro, com a que está caindo o corpo social pede teatro, teatro calderoniano. O grande teatro do mundo, com as suas tragédias, comédias, autos de fé e farsas para títeres. Primeiro fum ver umha tragédia Zapatero-rei logo umha comédia Feijoo nas nuvens e tivem que chorar nas duas, nem pola gravidade do assunto, nem polo bufonesco do actuar do reparto. Chorei pola catarse e pugem-me a escrever a minha própria obra com o pouco tino, sisso e saber que eu tenho. 'I have a dream', avonda-me com isso para fazer este Requiem por um povo.

A doutrina do shock caiu nas maos zetapepistas, ou aplicamos este pacote de medidas ou alia iacta est e Grécia estará por toda a parte. O estado social, como muitos apestados levamos advertindo tempo e tempo por certo, entrou na UVI. Eu já merquei a coroa para o passamento para este “Maio” velho do irmao Curros. O velho preto monstro de lama e bosta já meteu a sulfurosa patinha por debaixo da porta. Eis a Rosa de Espanha, Díez de Vivar, a dizer-lhe ao Zpeta que dimita e que decidam “los españoles el futuro de la nación española”. Espanha espanholea com a luita de classes espanholadamente, a tal ponto que ergue espanholofóbia, como os iletrados comentaristas desportivos da Cuatro. Madre fui eu em romaria a ver o fascismo que aí vem!

Na Galiza as festas da Ascensom trouxérom-nos um inesperado agasalho. Nom foi a virge de Fátima nem a revelaçom do terceiro segredo, nem os Reis Magos, nem tam sequer o Apalpador. Cuido que mesmo deveu ser o espírito do Barrigaverde do castro de Santa Susana. “Ahí los tienes rodeados de oropeles!” Fusom por fusom má fusom será. Eu som-che mais da fussom dos trabalhadores, do proletários de toda a parte unide-vos! Gayoso mestre de cerimónias da massonaria financeira em régio e barudo castelhano. Feijoo anotando-se os trunfos da baralha tanto na Galiza como em Madrid. Na Galiza porque o BNG lhe ajudou a apresentar-se com um novo defensor da galeguidade – pois, pois-, no Estado porque se fixo a fusom que demandava o Banco de Espanha e o próprio capital financeiro. Nom hai mais cera da que arde.

Nom importa a pátria do capital, ainda que a esquerda (sic transit gloria mundi) nom pareça entendê-lo. A nova entidade é umha caixa bancarizada, um banco mesmo. É curioso olhar para a Caixa Rural Galega que nom se meteu em leias especuladoras nem em manganchas de feira. Nom precisa FROB nem resgate, nem que os putridirigentes lhe riam as graças ao seu presidente, como figérom com Gayoso.

Gayoso, o José Ramón nom, o outro. O especulador, o facinoroso, aí o tés, um filisteu da cabeça aos pés: ascendeu de porco a marrao e Feijoo inchou o fole. Umha fusom para fazer a Goldman Sachs fisterrá, um bangster com licença para matar. Mais capital, mais lucro, mas especulaçom... até a vindoura fusom sempre!

Algum dos traidores vendeu-lhe ao povo que isto era a galeguidade das caixas, que criava consciência nacional... Que lho perguntem aos milheiros de desempregados, aos bancários que despedirám agora, as sés que ocuparám entidades financeiras nom galegas – porque em galego nunca se escrevêrom os recibos das contribuiçons, aos funcionários -5%, aos jubilados destonados (0% matéria graxa), aos dependentes relativos, und so weiter. Que lho pergunte a esquerda superlativa.

Era umha esquerda a um Estado espanhol colada,

era umha esquerda superlativa

era a esquerda fetichizada.

Era a homenage ao bom Moncho em .es,

eram os sociolistos zetapeperos,

as quarenta masseiras sindicais eram.

Era umha burocracia ideologizada.


O Capital. Livro 1 do Antigo Testamento. Que di o velho Marx? O capital é trabalho morto congelado em propriedade. Cismar em cavilar em termos de propriedade é como pensar a propriedade como umha cousa per se, nos termos mesmos do fetichismo. Aceitar de facto os termos da dominaçom. A propriedade privada dos meios de produçom (e de troca olho) é essencial para os que desde o escano vem ao trabalhador como formigas desde o cristal abafado desde o que o Ferro nos relata aquel genial limiar. Aguardo que a sociedade civil mais consciente se ponha a escrever já O Crepúsculo dos parasitas.

A luita dos “pollitos bien” nom tem mais objecto que fazer “galega” e “nossa” os meios de produçom (nem isso, pois, pois). Nom tem como objecto dissolver tanto a propriedade como os meios de produçom como criar a umha socialidade consciente, umha sociedade civil que contrua desde abaixo o fujo social da transformaçom altermundista e revolucionária.

Autoenagenaçom. A política como religiom com dogmas de Terceira Via imutáveis. Marx concentra a crítica da sociedade burguesa na noçom – conceito de fetichismo e desbarata mesmo a teoria burguesa ( a economia política). Construe socialismo CIENTÍFICO, nom religioso, antecipa essa teia de aranha com os fios dos Soviets, do Comité Centras de Milícias de Catalunya, dos zapatistas, os movimentos sociais... ou já antes a Comuna de Paris. As luitas sociais em definitiva. Umha rede com espaços baleiros por onde se estabelece no tempo e no espaço a dialéctica, a construçom da revoluçom, o materialismo histórico – geográfico como ferramenta de elaboraçom das diagnoses e respostas para transformar e nom limitar-se a observar o obsceno tempo de silêncio em que nos tocou viver.

Porém o fetichismo como a superstrutura jurídico – política do estado é estável, umha nasa onde a Terceira Via, os aparatos sindicais e políticos acabam berrando contra o home e a natureza ao grito de guerra The economy stupid! O fetichismo é estável porque os objectos (dinheiro, máquinas, mercadorias – onde se insirem, por certo, escanos e poderes nos aparatos recluídos nas prisons da miséria estatais) se convertem em sujeitos, enquanto os sujeitos, o proletariado, se converte num objecto. A tragédia de Zapatero-rei, o complexo de Edipo da esquerda, é inevitável: quanto mais urgente e necessário (social, ambiental e economicamente) é desenvolver mudanças revolucionárias mais afastam os traidores autocolonizados pola fetichizaçom essa inflexom do horizonte de expectativas social.

As vanguardas convertem-se em retaguardas, vanguarda – fetiche com carta outorgada (nom se sabe por quem) de consciência de classe, messias de futuros excélsimos desde presentes assegurados polo Estado que se di combater. A nosa nobre e harmoniosa working class hero, o nacional – populismo que vê aos trabalhadores e ao povo como massa à que redimir e nom como cidadaos um por um aos que conscienciar para que actuem como tais com discursos afastados do marco constringido polo binómio político – mediático da II Restauraçom bourbónica.

A teia de aranha horizontal, que avança perguntando e a partir da coesom das revoltas locais, é a única tecedeira para superar a fetichizaçom do fetichismo. A contrário nom é “dous passos adiante e um outro atrás”, mas “um passo adiante e outro atrás Galiza”. E a teia dos sonhos da classe trabalhadora já lha marca a direita, com a hegemonia em termos gramscianos absoluta, com o seu horizonte de expectativas ultraliberal por baixo do casco em cada um dos moradores da incubadora associal – cibernética do pós-modernismo.

Os que antes de Suresnes, do eurocomunismo e de nom se sabe quando (ou si mas nom convém dizê-lo) se contentavam com ignorar o fetichismo – coma o marxismo da “ortodoxia” estalinista sempre fixo – e pretendiam unicamente resolver a relaçom antagónica entre capital e trabalho trocando o proprietário do Estado, mediante a proletarizaçom inconclusa do estado burguês; rematárom por ser parte subvencionada desse mesmo Estado, o qual, no caso das forças soberanistas da periferia, é duplamente deprimente quando é esse mesmo instrumento de dominaçom burguesa o que safa as mais terríveis implementaçons da glotofaxia e o etnocídio dos símbolos de identidade em que se reconhecem essas periferias rebeldes e, o que é quiçais mais importante para os “assegurados”, o que possibilita a existência dessa vanguarda fetichizada-subvencionada.

O idioma é um exemplo mais. Nom se tem umha ideia normalizadora clara desde nengum partido galego para reverter décadas de caída livre. Nom se atacam as causas apenas se reage contra as conseqüências. O castelhano e Espanha – que é um estado e os seus centros de dominaçom e poder- seguem levando a iniacitiva.

Na Galiza, o socialismo leva caminho de morrer de anorexia e o capital financeiro de morrer bulímico. A classe dirigente fará-o por obesidade. No entanto, Die Linke na Alemanha, o Bloco de Esquerdas em Portugal, os anarquistas gregos, a Esquerda Anticapitalista na França dam motivos para a esperança. Republicanos e libertários de toda a Galiza, unide-vos!

terça-feira, 4 de maio de 2010

The show must go on

Onte cavilava aqui sobre o nível de desempredos ligando-o com o nível da dívida familiar e advertindo da necessidade de rachar desde a esquerda altermundista com o "consenso ultraliberal" do binómio político-mediático da II Restauraçom bourbónica. Nom me resistia a fazer um levantamento do que é que di essa esquerda altermundista quando fai o diagnóstico da crise actual, ainda que seja suscintamente.


Como indica Robert Brenner (1) em torno a 2000 produze-se umha explosom no mercado de valores pola borbolha tecnológica onde uns empréstimos desorbitados batiam com umha economia real dessas empresas de mui baixa rendabilidade, mas as injecçons eram possíveis em privisom da subida da suas acçons. Esta dinámica produze investimentos massivos que agudizam a sobrecapaciade do mercado, baixando custos, aumentando a competência e, em última instáncia, reduzindo os benefícios. A borbolha estoupou e a única razom de que o período nom rematara num colapso foi o crescimento da dívida das economias domésticas, permitindo um boom do consumo e do mercado imobiliário que hoje foi ultrapassado num cenário onde cresce o desemprego e a dívida das economias em proporçom ao PIB alcançou cifras insostíveis anunciando umha recensom muito mais profunda, umha auténtica crise do sistema-mundo, na visom de Guovanni Arrighi, umha nova correlaçom na hegemonia mundial e, daquela, nom hai saída ao meu ver, polo de pronto, à crise como se pronostica no artigo de Óscar Ugarteche (2).

A crise das economias domésticas actual é comparável a conversom da dívida externa em dívida eterna na década de oitenta, quando se abandonou o keynessianismo e se advogou por um dólar alto e taxas de juros igualmente elevadas, o que favoreceu inebitavelmente a financiarizaçom da economia, a primacia unívoca do capital-financeiro sobre o capital-mercadoria e o capital-industrial, que passou do centro para a periferia (3). Esta primacia do capital-financeiro abriu-lhe novos mercados, por exemplo o sector imobiliário, mas constrigiu a manufactura. A subida do paro e o endividamento familiar nom produzirám mais excedentes de capital-trabalho até um ponto de deflagraçom social inevitável.

Está já em Marx (4), quando afirma que "o roubo do tempo de trabalho alheio sobre o que funda a riqueça" aparece como umha esterqueira toda vez que "o trabalho deixa de ser, necessariamente, a sua medida, e, por ende, o valor de troca deixa de ser a medida do valor de uso". A propriedade privada solidária com a lógica mercantil do capital-mercadoria e com a acumulaçom do capital do leviatám do capital-financeiro ispe pouco a pouco o nível de vida das maiorias sociais. O eixe Norte - Sul desdebuja-se na base da pirámide social, as relaçons centro - periferia tambaleam-se. Os meios de produçom substraim-se aos trabalhadores, o privado inça o fetichismo da mercadoria e a reificaçom das relaçons sociais. Estamos aviados, como no XIX, quando na Inglaterra privatizárom a propriedade comunal camponesa, prometem-nos que a privatizaçom e a mercantilizaçom das sementes, a auga, a sanidade, o ar, a educaçom e a supresom de todo o público arranjará todos os nossos males: a fame no mundo, a falta de trabalho... Os indicadores vam no outro sentido: 1.000 milhons de pessoas morrem de fame no mundo, milhons e milhons morrem porque nom podem pagar a vacina contra o SIDA, os labregos perdem os meios de produçom a prol da empresa privada (até no Norte), o desemprego alcança cifras de infarto... Como dizia o Cícero:

"Quousque tandem, Catilina, abutere patientia nostra? Quam diu etiam furor iste nos eludet, quem ad finem sese effrenata iactabit audacia?" (5).

Mudando apenas umha palavra, até quando, Capitalismo, vas a abusar da nossa paciência? Por quanto tempo é que se burlará de nós este teu furor? Onde é que estará o final aonde se lançará a tua audácia desenfrenada?.

Em conseqüência, podemos afirmar que os desenvolvemntos financeiros som mui irracionais e sempre precedem as grandes depresons, porque o capital-financeiro nom produze nada e o único que lhe interessa é especular com os lugares de onde poda tirar o máximo lucro possível. Daquela, a acumulaçom por expropriaçom deu-se com os empréstimos ao Terceiro Mundo, onde o holding da banca do Norte através do FMI e o BM permitiu a ausência de competência e a incapacidade de negociaçom da dívida, que passou de externa a eterna.

No entanto, a banca permite-se seguir avante com este processo de destruçom criativa porque sabe que os estados sempre estarám aí para socializar as perdas que provocam os seus desmans. Dumha banda os estados salvam a muitas companhias e bancos da queda, e por outra banda o seu processo de acumulaçom dispara-se fazendo-lhe empréstimos a esses mesmos estados que os resgatárom, inçando a dívida pública e convertendo o estado num espaço privado do capital-financeiro e nom do trabalhador-consumidor que perde a sua condiçom de cidadao.

Com Clinton a finança viveu o seu apogeu, período imediatamente precedente a entrada em recesom. Quando a borbolha dos noventa, que em nada beneficiou a classe operária, caiu, os avoitres da antropologia da corrupçom perguntavam-se de onde iam sacar os quartos agora que Brasil, Argentina e o mercado de valores ianqui estavam praticamente exangües. A quem podiam expoliar num momento em que nom existem ganhos na economia real? E de repente surgírom das cinsas os estados sociais: Grécia, Eurolandia e o iem. The show must go on até um novo 29.

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(1) Mariño Beiras, Martiño e Araceli Varela Sánchez (2004): Á man esquerda, Laiovento: Compostela, pp. 69-87.

(2) Óscar Ugarteche (2010): "Grecia e a cuarta etapa da crise" em http:revoltairmandinha.blogspot.com/2010/05/grecia-e-a-cuarta-etapa-da-crise.html

(3) Por exemplo a transferência do naval galego quando a sobrecapacidade o fai perder competitividade com um país da periferia como a Coreia do Sul.

(4) Marx, Karl (1989), Manuscritos de 1857-1858, Siglo XXI, tomo II, p. 228.

(5) Catilinam, I, I, 1.



segunda-feira, 3 de maio de 2010

Mucha policia, poca diversión.

"A crise actual nom é só umha crise económica, é umha crise 'política e moral', um crise de civilizaçom inerente, às contradiçons próprias da lei do valor. Como já o preveu Marx, a reduçom de todo, incluso das relaçons sociais, a tempo de trabalho abstracto, a medida que inça a socializaçom do trabalho e medra a incorporaçom do trabalho intelectual ao processo de trabalho, devem cada vez mais miserável e irracional. Esta crise social e ecológica traduze-se em fenómenos de exclusom e desemprego massivo devido à incapacidade do mercado para ordear a longo prazo as relaçons da especie humana e as suas condiçons de reproduçom naturais", Daniel Bensaïd: Cambiar o mundo (2004).



Já é oficial. A taxa de desemprego no Reino da Espanha da II Restauraçom bourbónica atingiu a cifra de 20'5%, percentage inédita desde o quarto trimestre de 1997 e isso tendo em conta que os diversos governos levam anos inventando requisitos para adelgaçar as cifras de parados em centenas de milheiros. De por parte cada vez a "espantada" grega galopa mais perto do Estado espanhol: Grécia aguarda chegar aginha a 20% de desempregados que aqui já existem, temos um nível de dívida catalogado pola agência Standard & Poor's mais negativamente do que em anteriories ocasions e recomendando o de sempre "flexibilizar o mercado de trabalho". Mais indicadores poderiam adjuntar-se como que a dívida familiar do Estado espanhol já supera a grega e representa 87% do total do PIB, umha bagatela vamos.


No último ano o número de desempregados aumentou em 602.000 pessoas e chega a 4'6 milhons de pessoas, contando já com um 1'3 milhons de lares onde todos os seus integrantes estám desempregados, 230.000 mais do que fai um ano e 78.500 mais do que no trimestre anterior. Até quando? Os parados de longa duraçom, mais dum ano desempregados, incrementárom-se em 72% e atingem já a cifra de 1'7 milhons de pessoas. As taxas de desemprego juvenil (20-24 anos) roçam 40% e poderiam até superar essa cifra, 604.200 desempregados a dia de hoje. Já hai mais um milhom de desempregados crónicos, esses que por idade toda vez que perdem o seu trabalho é-lhes impossível conseguir outro. O nível dos autónomos sem assalariados desceu brutalmente (109.700 no último ano).

Os partidos políticos, esquerda ou que criamos que era esquerda, seguem jogando ao "consenso ultraliberal", uns cargam mais o bombo, outros adereçam-no melhor. "La culpa es de los inmigrantes". No mundo pós-Berlim onde existem mais muros do que nunca o racismo e o ultranacionalismo som a melhor pílula para agochar umha recrudescida luita de classes, onde por certo a classe trabalhadora se topa mais desorientada e débil do que nunca antes em todo o século XX. As cifras desmentem isto, o desemprego nos estrangeiros aumentou em 55.200 pessoas no trimestre anterior, com umha taxa de 30'9%. Enquanto para os moradores do Reino a taxa de actividade desce sete décimas para os estrangeiros sube 1'16% até 77'28%.

Nom é por acaso que a destruiçom de emprego seja mais acusado entre os varons e os estrangeiros. A queda do boom imobiliário, que junto à indústria concentram a destruiçom de emprego maioritariamente, explica à perfeiçom isto. O sector serviços pola demanda de bens de consumo resiste... por agora. O carácter de acumulaçom por desposesom da primacia do capital financeiro está por trás do aumento dramático da dívida familiar e com a nova reforma laboral a estagnaçom e queda no consumo podem afundir-nos numha grande depresom de gravíssimas conseqüências. Com umha esquerda de férias nom é defícil adivinha que é o que vai impor-se no Reino da Espanha.

A recentralizaçom galopante tolerada pola esquerda e encabeçada pola direita nom fará mais do que agravar o eixe Norte-Sul do Estado - cada vez mais nítido até nas taxas de desemprego (Estremadura 23'4%, A Mancha 21'6%, Andaluzia 27'2% e Canárias 27'7%). O modelo de tixolo e sol quedou e finiquitou o dinamismo económico no Sul ainda mais do que no Norte, por nom falar dum reparto da terra muito diferente ao do Norte (os camponeses em crise permanete na Galiza durante décadas perdem quartos e mais quartos e muitos som realmente desempregados já que trabalham para o francês).

Pola contra, onde a desentralizaçom foi nom só no gasto mas tamém nos ingressos a cousa muda. Em Euskal Herria, ainda que com um governo nefasto, vê-se que o dinamismo económico da comunidade e a pluralidade do seu sector industrial dam liçons ao resto do Estado. E o mesmo em Nafarroa. Euskal Herria reduziu o número de desempregados em 9.400 com respeito ao trimestre anterior e conta com um "tolerável" 10'9% face o 12'3% de Nafarroa. Galiza, lembremos os empregos no campo e no mar, o nível chega a 15'5%, inferior a Madrid e Catalunya, mas com umha populaçom activa infinitamente menor. O agente Feijoo que ia pôr fim ao paro num mês olha impotente a como se dispara o desemprego.

Elena Salgado anunciu o enésimo plano de estímulo económico, a partir de 26 medidas com as que conta criar 350.000 empregos, que ainda que fora certo supom unicamente atender 8% do paro actual. Surrealista para um modelo da Terceira Via cada vez mais desdibujado e chavacano. Dixérom-lho os que nunca se repregárom as distorsionadas images dumha socialdemocracia cada vez mais ultraliberal e desnortada. A linguage, análises e conceptos da esquerda clássica fôrom apagadas por umha linguage próxima ao cidadao, umha linguage ideotizadora que bota nas maos do ultranacionalismo espanholista ao proletariado. De por parte, a vicepresidenta económica do (des)governo dinástico anunciou que perante estes dados económicos os orçamentos de 2011 terám de ser mais retroactivos. Se nom tocam a sanidade, a educaçom e os serviços públicos onde é que vam reduzir? A suba do IVA, em Grande Bretanha hai quem suspeita que atingirá 20%, nom é mais do que um imposto directo que beneficia aos que mais tenhem e reduzer o poder aquisitivo dos que menos tenhem, com, no melhor dos casos, congelaçons salariais. Arde-lhe o eixe Norte-Sul, arde-lhe o carro burguesia-proletariado.

Umha pantasma percorre a Península. A dos especuladores que intoxicárom estados desfazendo-se dos seus bonos tóxicos e passando-lhe a podrémia ao público. Grécia é a ponta do iceberg. A banca alemá e francesa quedará com essa dívida e necessitará socializar novamente perdas, con dos cojones. O Yen está no ponto de mira, o volume de dívida do Reino Unido passa muito por cima do grego, e os mercados já nem disimulam que venhem para Portugal, Irlanda, Itália e o Reino da Espanha. Os EUA refregam as maos, porque a sua primazia económica mundial consiste em recolocar a sua falha de crédito em terceiros, no controlo do capital-financeiro mundial. Porém, a sua hegemonia está tocando fundo. Quando a Grande Bretanha se viu obrigada a manter a sua hegemonia mediante o capital financeiro e o militar a sua hegemonia rematou abrindo um período de 70 anos em que outras potências daquela "emergentes" ocupárom o seu lugar. China, Índia e Brasil aguardam o momento dumha recomposiçom do organigrama mundial. Quiçais seja precipitado fazer estas prediçons mais alguns indicadores parecem sugerir esta possibilidade.

No Estado espanhol a meirande preocupaçom é fazer umha nova reforma laboral que avive o lume da acumulaçom por desposesom, da destruiçom criativa de que falava David Harvey. Umha cirugia-de-ferro que só fará piorar a situaçom e incrementar os níveis de desempregados... alguém lembra quantos milhons de desempregados havia na Alemanha da República de Weimar no imparável ascenso do NSDAP? Alguém lembra como em 2001 as facilidades para o despedimento aprovadas polo PP causárom agora em 2009 900.000 de 1'1 milhons de postos de trabalho destruídos? Alguém acredita em sindicatos de "classe" seqüestrados polas ajudas do Estado que servem para liberar aos" seus", que nom som o conjunto da classe operária desde logo?

O governo Zapatero pretende aforrar 280 milhons, a tam manida austeridade (mas já se sabe que o barato sai caro), congelando o funcionariado - um dos mais baixos da UE-. Ou nom apredêrom nada do que se passa no Reino Unido (lá tampouco o figérom porque ganhe quem ganhe seguirám-no recortando) ou sabem e calam que com isso medrará o fraude fiscal e crescerá ainda mais a economia submergida que logo atingirá cifras de escándalo. Porém dá-me a mim que saber sabem-no porque a substituiçom do estado social polo penal praticam-na com eficiência:

"Las 1.989 plazas de nuevo ingreso se concentran especialmente en las Fuerzas de Seguridad del Estado y en las Fuerzas Armadas. Se reparten así: 222 para la Policía Nacional; 232 para la Guardia Civil; 754 para las Fuerzas Armadas y 781 para la Administración General del Estado".

"Mucha policia, poca diversión", já o dizia a cançom. Tamém planejam como em Grécia congelar os ordenados dos funcionários a vez que os investimentos em educaçom e sanidade seguem descendo. O New Dehal e o velfarismo morrérom, e o ultraliberalismo volta com fôlegos renovados e com a segurança de que fagam o que fagam a cidadania nom reagirá perante a globalizaçom/mundializaçom ultraliberal descendente dependendo de se nos atemos à terminologia anglófona ou francófona. A nova reforma laboral entregará-lhe as mútuas a decisom de outorgar baixas por incapacidade laboral absoluta, a Seguridade Social ficará para socializar perdas, coma o Estado no seu conjunto. O trabalhador-consumidor nem sabe nem suspeita que as luitas e conquistas de mais dum século poderiam perder-se em duas décadas. A esquerda segue cega e nega-se a assumir a realidade.

O "consenso ultraliberal" como dogma penetra por igual em todas as forças políticas da II Restauraçom bourbónica. O problema nom foi a especulaçom dos mercados financeiros, desesperada baça por manter um sistema-mundo em descomposiçom social, moral e económica. O problema é dos "despilfarradores" estados sociais da UE. O problema é que os ordenados som mui altos (quando levam desde fai anos medrando por baixo do IPC maiormente) e impedem o processo de acumulaçom do capital que perde de ganhar milhons de euros. Perder de ganhar? Nom perde de ganhar o trabalhador estafado polo capital financeiro com a suba das suas hipotecas? Atafegado polo consumismo que o consome? A mais valia da mais valia, boa mais valia será.

O republicanismo, a defesa da res pública perante o privi legium, é cada vez mais exíguo. O BNG sem temom, nem Norte afunde a cada novo inquérito e parece que a ninguém lhe importa o mais mínimo. As canles de codecisom, participaçom e aproximaçom entre a sociedade civil e a instáncia política estám tam desmanteladas como os centros industriais em que se concentrava o proletariado nos 90. Nom se extinguiu o proletariado combativo e mais facilmente identificável. Simplesmente emigrou. Que lho perguntem ao sindicalismo de Coreia do Sul, as massas proletarias de China, aos países do terceiro mundo que seguem a Terceira Via (ainda que se qualifiquem como socialistas) e tentam retomar o estado para as maiorias sociais.

"Na trastenda destes fenómenos está a operarse un proceso que, de proseguir, conduce á crise da xa referida "correspondencia necesária" entre base económica e superestruturas ideolóxica e política -que, por certo, ten como correlativo fenómeno crítico o percibido polo común como "divorcio" entre a "sociedade civil" e o aparello de poder político. Históricamente, se a correspondencia entre base e superestrutura acada o punto límite da creba, ábrese unha transición sistémica de longa duración, na que se "remudan", digámolo así, as tres instancias das formacións sociais, e non só o modo de produción stricto sensu", Beiras Torrado.

Enquanto todo isto se passa, a esquerda altermundista e anticapitalista do Bloco de Esquerdas, do Die Linke ou a seguidora do Daniel Bensaïd na França segue sem aparecer claramente perante os olhos da cidadania. Seguimos numha cárcere esperando que volva ser o que foi o BNG. Nom volverá, jamais. Som demasiados os vampiros e as lapas que vivem do aparato, que medrárom na sua sombra e que nunca vírom a luz do sol fora del. Convidam ao seu analista e intelectual mais lúcido a marchar. Aqui o único problema é que as caixas tenham sé na Galiza - nom que sirvam ao povo e sejam públicas realmente- e o decretaço do galego. E este discurso que é para os nacionalistas com emprego ou para o comum da ciudadania desempregada?

Um modelo, o do BNG, que se adiantou à recomposiçom da esquerda mundial em mais de duas décadas já só é parte do passado. Um modelo que superava o maximalismo, que tendia posturas na divergência, que integrava movimentos da sociedade civil mais consciente no seu interior. O mismo para o sindicalismo. O fascismo volta camuflado e com subtileça, a ideotizaçom da massa nom tem parangom, o franquismo sem Franco é a democracia realmente existente (cada vez mais: estatut de Catalunya, impossibilidade de condenar o nacional-catolicismo e os seus sicários, a corrupçom como norma...). Isto nom o arranjamos entre todos, isto arrajamo-lo com esquerda real, ou com esquerda real. Muito politiqueio e poucos políticos. Nom avonda com dizer que quando se ameaçam massivamente os postos de trabalho baixa a combatividade dos trabalhadores. Hai que descer a ágora, hai que partilhar a dor e a raiva dos explorados, hai que fazer ver aos cegos e andar aos cojos... hai que, em definitiva, ouvir ao povo que lhe di à esquerda institucionalizada que "com as bragas enjoitas nom se pilham as troitas". Atentos!