Palavras novas e velhas

terça-feira, 2 de junho de 2009

Esperamos companheiras, esperamos... contra toda esperança. Sonata , fuga e pranto pola morte dumha criança



No devalar dumha noite quente aprendim que um, na sua imesa soidade, vive no medo. O medo a Ser é por vezes o pior dos medos, porque significa aprender o difícil caminho de saber-se só. De viver rodeiado e seguir ficando só. A "feira sem gente" do irmao Curros que esperou, até que em Cuba se fundiu com a negra sombra, essa na que vivemos os que tivemos a desgraça de conscientemente esperar contra toda esperança.

Nunca olhara o luar com estes olhos cansos e desenganados, compreendendo que ela é tamém soa e que tam só recebe das sociedades "avançadas" terrons de lixo e esterco espacial, para que as barre no pam dos asteroides da auto-estrada láctea. Alô nalgum ponto desse cativo e ruim universo ainda se ergue a profunda mirada do irmao Carvalho el que foi ficando só coma o pailebote de Manoel António enquanto os novos o deixavam numha beira, enquanto os companheiros de geraçom renegavam del, mas si Carvalho, ti e mais eu, "esperamos contra toda esperança" porque assi no-lo impujo a ética de esquerdas e o dever pátrio.

Tenho a certeza de que ainda por trás do balado do manhá se agocha um outro medo. O medo que desde a infáncia se arrastra polas ladeiras, misturado com indómita poalha arrincada das cordas dum coraçom velho que repousa num corpo, dim, que ainda novo. Já só espero, e coma o mestre "esperamos contra toda esperança" o tanger do sino nas igrejas anunciando um outro dia, melhor, igual ou pior ca o de hoje, talvez igualmente estúpido, ranço e passado. Porque quando um home começa a caminhar aguarda um futuro de promessas e esperanças, mas quando um home paila e já nom caminha, no imenso oceano do infinito indefinido, entom já nom aguarda o futuro, porque sabe que esse futuro já o viveu, ou que outros o vivérom por el. Eu "macaco de macacos", o último boniface que se esparege num esquecido teatro de títeres, na pena eterna da antiga feira de Santa Susana... e "esperamos contra toda esperança".

Coma de criança acocho a testa entre as sabas, sabas de gelo e ginebra, fugida estúpida cara o ronsel da inconsciência. Quero ser um desconhecido para mim próprio, é a única novidade que podo compreender, porque nom gosto do progresso de adefésios com gravata e mala má. Eles nom esperam, exploram, enriquecem-se. Quigera poder ser tamém eu um simples explorado, sem saber-me pequeno, insignificante, inexistente. Poder viver por inércia enlatando-me em telelixo e na borralha da espiral consumista dos mártires primeiromundistas desconhecidos. Tantos e tam próximos... mas eu nom, meus irmaos, tivem a vossa desgraça de "esperar contra toda esperança" como aquel velho-jovem que conhecim em Gontám, na aldeia onde a minha mai biológica cresceu, aquele ao que um retaco espanholfalante vindo da Alemanha chamava "viejo-joven", porque compreendim mui de neno o que alguns nem de mortos entendem; a idade vai no coraçom, meus irmaos, e o velho do pelo branco que pariu aquela frente de frentes tamém aguarda ainda, contra toda esperança, o que já nunca volverá. Porque tamém na política a infáncia é o mais formoso. O mundo dos adultos é um caldeiro cheio de vómitos.

Deixo, canso e velho, que me alouminhe o vento tépedo umhas facçons que já nom reconheço, porque eu quigem ser criança e nom me deixárom, quigem amar e nom soubem, quigem correr e caim. Erguim-me si, e ainda me voltarei a erguer umha e mil vezes porque desde o fundo da cova em que se projectam os filmes das platónicas ficçons, a demiurga da Terra reclama com um AGUANTA. Eu aturo. Aturo aturuxando mui baixinho para nom espantar essa lua que me entende, com o riso dumha velha pantasma que quijo ser mulher e nom passou de ser dona de. Quijo nom ter medo, mas dixérom-lhe que o mundo era um mal lugar, que havia homes pretos dos que desconfiar, que havia pobres que a podiam roubar, que havia pestes e guerras que a podiam matar e ela coitada e galega... emigrou. Agora ela exilada e eu no meu exilo interior "esperamos contra toda esperança" toda vez que sabemos que o nosso grao de areia nom trocará nada e que os nossos corpos deitaram o seu derradeiro bafo na mesma terra comesta polos vermes em que os assassinos, tiranos e malditos apodrecem, heróis e anónimos.

Um holocausto de cem vacas para umha terra sem leite, enquanto a velha se jungue a uns tetos "esperando contra toda esperança" porque é o único que leva fazendo nos últimos setenta anos. Às gaivotas nom lhe dói essa história que nom vem nos livros, que nom fala de impérios, mas de tragédias cotiás. Nom hai lugar no mundo para os románticos porque os cemitérios e o amor já só se conhecem pola televisom. Porém, eu, coma o último moicano, acendo lumes nos curutos por ver se ainda me ouve algum Ser Humano, preto ou branco... e "espero contra toda esperança" empoligrando num eterno Faro que deita a olhada compasiva sobre umha terra de homes mortos, que atafega aos poucos que ainda nom queremos ir na estadeia, mas caminhar para um novo vencer. E "esperamos contra toda esperança".

Ai, minhas pequenas, novamente fitando-nos, sem que ninguém nos entenda. Umha outra vez rindo-nos do velhos que somos e do prazer imenso de saber-nos sós, um prazer amargo que sabemos inevitável e que sempre nos acompanhará. Porque este amor que nós temos e que alguns chamam nacionalismo nom é racional, é sentimento num tempo onde nom hai mais sentimentos que os sentidos por outros. A coraça que nos rodeia nom nos ajuda tampouco, somos frios, distantes e afastamo-nos voluntariamente porque nom sabemos existir entre eles, porque o nosso mundo só existe no universo lonjano no meu coraçom e no peito abre e fecha-se no lusco-fusco o desejo eterno dumha companha para este fogo gelado das noites de verao. Fitaremos, mihas pequenas, novamente as estrelas baixo os lenços aterciopelados da lua, em silêncio para nom molestar aos que ainda sabem e podem viver neste mundo. Criei mundos com palavras desde o meu cérebro e agora rebelam-se e perseguem-me nos sonhos porque eles, a contrário do que eu nom esperam, simplesmente existem e vivem.

Sabemos agora, companheiras, que deus é um home velho e triste. Compreendemos a sua soidade porque el fixo com barro a terra e com bosta e bulheiro ao home. Vive desde entom só e sabe-se eternamente só. Nós, quando menos, temos data de caducidade, tamém el esperará contra toda esperança?

Companheira soidade, companheira pena... esperamos, nom imos esperar! Esperamos contra toda esperança, vós porque sempre caminhas-tes comigo, eu porque nom sei caminhar sem vós e no canto final da derradeira ópera, Galiza e mais nós, esperamos contra toda esperança.

4 comentários:

Anónimo disse...

Querido Antóm, Nós "presentamos a testimunha das aldraxes e damonos ao medo dos primeiros homes que alcenderon lumieiras nos curutos e creron na liberta dos sonhos"
NÓS sempre agardamos e acreditamos na esperanza, última que ficou na terra apos pandora abriu a caixa. Tem fé companheiro! O medo marchará e os nuos que che atam o peito desfaran-se tudos, sabes porque?
Porque ti si que es dos bons e generosos.

Umha aperta irmandinha forte!

(A ver se ves um dia polo sul e tomamos-lhe umha xD9

AFP disse...

Grande o irmao Celso, sempre com o dedo na ferida dos que nos assobalham, e corramos pois para a caixa e resgatemos essa esperança. E si, a ver quando me passo um dia polos "sul" e combinamos mas ultimamente anda mui liado com os exames. Umha aperta irmandinha

Unknown disse...

Una abraçada!

Parabéns !

Xan disse...

Son moi importantes os soños. Son a semilla do froito que a frorecer.
Unha aperta