Palavras novas e velhas

domingo, 20 de julho de 2008

Relatos de vidas (II): AR APODRECIDO

Antom Fente Parada, Compostela 2007

Na cidade refugia-se a dor de ser HUMANO. Nos currunchos de tijolo fumam-se puros prendidos com papéis numerados cheios de graxa, porcalhada e unto. Som marraos com levita. Som os donos do capital, quinos. Nos currunchos das fábricas de tijolo da Índia andam nenos de carvom, que deixárom na forja da vida a sua inocência. Som as vítimas do capital.
Manuel Sousa. Moço. Trinta anos. Paga unha letra do piso e outra do carro. Agora seica quere pedir outro para ir de holidays, e o caralho. Trabalha numha grande empresa e trata-no de “Manolito”. Trabalha para os bancos. É umha outra vítima do capital... se ao menos fosse feliz. Quijo voar na sociedade que amputa as asas, nom sabia que era o livre mercado, mas agora vê-se-lhe preocupado porque dis que a sua grande empresa se muda a Marrocos, após chupar bem cartos que gostosamente os democratas neoliberais lhe oferecem a essas grandes benefactoras da naçom burguesa. Grande merda. Quem é o que mata, os que matam ou os que deixam matar? Elementar, querido ar.
Na cidade o ar está apodrecido pola ditadura das maiorias alienadas, polos pastores mediáticos das ovelhas mansas que pastam no bipartidismo, mentres os carneiros andam a erguer pincha-carneiros na costa, turismo de feira. Impunemente. A cárcere é para o paripé e para os pobres, e o caralho.
Manuel Sousa. Pensionista. Setenta anos. Cobra umha pensom de merda que m chega para pagar o aluguer e a comida del e a sua senhora. Que é que foi do piso hipotecado? Nom sei, o banco deveu-lho vender a algum especulador, pois Manuel Sousa ficou na rua Aiquedas sem trabalho e com duas letras. Manuel Sousa coida que todos os políticos som iguais, por isso lhe mete o cacique a papeleta nos petos. “Assí cada quatro anos vem a minha casa”. À sua casa nom vai ninguém. Vive só. A sua dona marchou porque pensava que todos os homes eram iguais, por isso se casou com outro, que tem quatro filhos e toma antidepressivos, mas hai para comer. O filho de Manuel Sousa nom tem curro, nom gostava de estudar e agora cavila em fazer-se militar ou guarda civil... “é um bom choio”. Um porco com levita que o vê respira contente, “esta es la gente joven que conviene a España”.
O filho de Manuel Sousa é maricom – para ser homossexual nesta sociedade comprem estudos-. De pequeno mofavam-se del na escola. Sempre foi o raro e jogava coas rapazas, era o Mariposón. Vestia mal, era pobre, nom tinha amigos. O filho de Manuel Sousa nunca soubo quem era el em realidade só o que diziam del que era: maricom, e dos grandes. Nom se podia duchar cos companheiros nas duchas porque o insultavam, “que nom se vos caia a 'pastilla' do sabom”. O filho de Manuel Sousa chegava tarde a seguinte classe porque se duchava de último. Quem era o filho de Manuel Sousa? Era maricóm, que nom tinha estudos. O filho de Manuel Sousa acumula na tábua do peito frustraçom, ódio e ignoráncia.
Os sousa fumam ar apodrecido da culta e grande cidade. Grande merda. Ar apodrecido que ataca ao liviao e enturba ao siso. O rancho da levita prende cum papel numerado outro puro e pom cara de asco ao ouvir a dous galegos. O rancho quere ser puerco e que todos comam na sua masseira. É um convencido bilingüista, “las lenguas no tienen derecho, los derechos los tenemos los ciudadanos”. Pois o Manuel Sousa, coitado nom deve ser cidadao que nom pode nem tam sequer falar. Será apestado. “Coitadiño, la vida le ha golpeado”. Nem a ignoráncia fai a um feliz, simplesmente fai a um valente.
Já sabemos quem é o filho de Manuel Sousa. É o protagonista dumha nota de imprensa. Morreu forcado. “Tiña debedas”, “drogábase”. Ponto e aparte, seguinte nova, qualquer umha, e o caralho. Os grandes hipócritas alimentam-se necessariamente do ar apodrecido e fá-no baixo a direcçom espiritual dos corvos com sotaina. O corvo é um animal moi listo, inventou a deus, ao seu deus, e mata, rouba e criminaliza no seu nome. O seu deus é o Templo e as palavras “cepillo” e “acepillar”.
O filho de Manuel Sousa já nom é. Manuel Sousa deixou de mirar pola janela a meia manhá, agora é um anónimo filho do seu tempo soterrado num cemitério anónimo “confortado con los santos sacramentos”. E ao lê-la nom pudem deixar se sentir-me um bocado sousa e o ar apodreceu-se um pouco mais. Boas noites Galiza, e boa sorte polo teu aniversário.

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